Duas faces [100%]
Narrado por: Richard Conner
Vários humanos atravessaram ao meu lado, todos em correria e euforia, com as suas vidinhas insignificantes a subir-lhes à essência, era surpreendente existirem criaturas tão fúteis e banais neste mundo.
Risadas histéricas, gritaria, ainda se armavam estes feiticeiros em muito, ridículos.
Olhei de cabine em cabine inspirando aquele ar impuro, à procura dela, da única que me conseguia pôr, literalmente, água na boca. Procurei pelo seu belo rosto de traços perfeitos, mas de novo tive que me contentar com os rostos e cheiros vulgares carregados com os seus problemas banais.
Risadas, novidades desinteressantes, e mais risadas acompanhadas de histerismo.
Onde é que ela estava?
Sorrisos cobiçosos das garotas mais ridículas, garotas que punham embalagens de perfume para esconder o cheiro repugnante que as acompanhava, cheiro, que tal como as suas mentes, só metia nojo a quem realmente o cheirasse. Poucas eram as vezes que as caçávamos, procurávamos o melhor dentro do que havia de mau -e nós poderíamos considerá-las umas das piores presas que por aí andavam - possivelmente só as caçávamos por misericórdia do mundo que fora-nos injusto. Limpávamos lixo como aquele, claro que sempre havia algum pior, mas quanto a esse deixávamos para diversão e proveito dos humanos, não éramos misericordiosos a esse ponto. Esse lixo não nos dava o prazer que caçar aquelas garotinhas parvas que acabavam sempre por seguir os caminhos umas das outras quando fugiam de nós.
Parvas, sem miolos, sem descrição. Estava farto dessas, eram humanas que, tal como os outros humanos, nada entretiam. Ouvia os outros queixarem-se do mesmo, talvez fosse por isso que Andrey planeasse o que quer que fosse que estava a planear, talvez se quisesse abstrair da tediosa imortalidade.
Ri-me interiormente da minha própria ideia. Andrey não procurava abstrair-se de nada, Andrey só procurava o poder. Era obcecado pelo poder, muito mais obcecado por este que qualquer um de nós. O seu desejo pelo poder era tal que quase o levava a vender a sua alma aos demónios.- Virei o meu rosto para olhar para uma das janelas, e ver que já nos encontrávamos longe da estação.- Possivelmente era o que ele estava a tentar fazer, vender a sua alma para alcançar os seus fins.
Para Andrey havia apenas o poder, nem sequer existia a diversão. Caçava para se alimentar, isso nada o satisfazia. Apenas o poder lhe daria a eterna alegria e era exactamente por isso que ele nos levava a pequenas batalhas onde, como íamos em um minúsculo grupo, éramos quase dizimados por um grupo maior. Mas no final acabávamos por vencer, trazendo mais glória a Andrey, que poucas vezes ajudava-nos, éramos um dos melhores clãs, se é que não éramos mesmo o melhor.
O objectivo de Andrey era muito maior que esse, eu sabia-o, muitos de nós sabiam-no. Mas para meu pesar, Andrey tinha a capacidade de maravilhar o clã, impossibilitando-me de arranjar alguém que fosse contra ele, e sendo eu o único a detestá-lo pelo que ele nos fizera, fazia e ir-nos-ia fazer. A popularidade de Andrey era crescente, e seria um suicídio tentar matá-lo. Andrey poderia tentar ver-me como um filho, mas eu sabia que se eu tentasse algo contra ele, o mesmo não teria problemas em matar-me.
Os corredores tornavam-se aos poucos vazios, com ninguém para poder incomodar-me. Muitos já dormiam, tornando-se presas fáceis para predadores como eu. Percebi que deveria estar a caminhar naquele corredor pelo menos durante uma hora, devido às paragens que eu fazia.
Fui obrigado a torcer o nariz devido ao nojo que aquele cheiro humano causava-me. Humanos repugnantes com cheiros ainda mais repugnantes
Podia ouvir as suas conversas, as suas risadas, as suas mentes fúteis. Conversas sem contexto, sem senso e por vezes parvas. Raro era o humano sensato que aspirava algo mais interessante que as últimas banalidades que haviam acontecido. Quer fossem muggles, quer fossem feiticeiros, tudo em ambos era ridículo. A cada geração que passava, menos era a pouquíssima realeza que ainda lhes restava no sangue. Tudo o que havia de bom na mente humana- que era muito pouco- deixara de existir com o passar dos séculos.
Talvez por eu ser um vampiro, talvez por ser a triste verdade. Matá-los deixara de ser um crime e passara a ser uma ajuda à humanidade. Infelizmente, para eles, matávamos sempre os humanos mais intelectuais, pois eram esse que tinham um sangue mais apelativo.
Depois sempre havia os caçadores, os que tinham o melhor dos sangues, os que nos divertiam mais quando eram caçados. Mas infelizmente eles, tal como os intelectuais, eram um número reduzido que tendiam a ficar cada vez mais pequenos. Por isso tínhamos que nos contentar com a vulgaridade humana, divertindo-nos apenas com as suas fugas idiotas e previsíveis, e com a reacção que tinham aos nossos joguinhos.
Triste a vida de um imortal.
Procurei-a por todas as cabines por onde passava. Procurava pela bela criatura com a melhor essência que eu já havia cheirado. A humana que de cheiro humano nada tinha.
Uma das portas de uma das cabines abriu-se, expulsando um odor desagradável. Um garota de cabelos castanhos claros e com um cheiro muito desagradável- pelo menos para um vampiro- saiu da cabine para o corredor.
Eu reconheci-a. Uma miúda de dezassete anos que costumava pavonear-se pelos corredores com as suas amigas, sem muita razão para tal. Andava sempre com um sorriso falso e atenta às últimas fofocas, amiga falsa que só sabia atirar-se para quem mais lhe convinha e ser uma boa amiga falsa de quem necessitasse. O seu cheiro nojento indicava todo o ser psicológico daquela garota. Um cheiro comum e muito desagradável que quase queimava-me o nariz, e até conseguia demonstrar o quão intriguista aquela garota, e as suas amigas eram.
A garota aproximou-se com um sorriso que tentava, sem muito sucesso, ser sedutor.
- És o Richard Conner, não és?- Perguntou-me com um falso tom doce, não escondendo as suas intenções. Fui obrigado a fazer um sorriso devido à ironia daquela situação. A garota aproximou-se mais.- Estás sozinho? Se quiseres podes vir para a nossa cabine.
Olhei para a cabine que se encontrava com a porta aberta. Todas tinham o mesmo cheiro repugnante, o cheiro que infelizmente afectava a maioria dos alunos daquela maldita escola.
Conti uma cara de nojo e sorri.
- Não obrigado.- Respondi-lhe retirando-lhe rapidamente o sorriso do rosto.- Já tenho uma cabine.
Ao dizer isto afastei-me da garota e o prossegui o meu caminho pelo corredor. Pude ouvi-la resmungar desapontada, queixando-se, de seguida, completamente desgostosa ás amigas.
Esbocei um sorriso satisfeito. Não ir-me-ia sujeitar a ter que cheirar aquele mau cheiro nas horas de viagem que teria pela frente.
Talvez Andrey tivesse razão, talvez eu fosse mesmo implicativo no que se referia à comida, mas eu sempre gostara de me alimentar com o que havia de melhor, e aquela garota e as suas "doces" amigas não estavam incluídas na minha lista.
Vernot era diferente de todos eles, a sua fragrância era a fragrância mais tentadora que eu já alguma vez havia cheirado, em quase quinhentos anos de vida. Uma fragrância diferente de todas as outras, uma fragrância tão provocante que era capaz de me tirar o juízo, a mim e creio que a todos os outras da minha espécie. Ainda sentia as doces marcas da sua rara essência gravadas na minha memória. Tão misteriosa...como poderia uma humana possuir um mistério tão grande? Especialmente sendo ela assim tão jovem?
Aquele grande mistério deixava-me completamente fascinado. O fascínio que tinha pelo seu mistério alimentava toda a enorme sede que tinha pelo seu sangue. Não poderia matá-la enquanto não soubesse o que ela tanto escondia de mim, enquanto não soubesse quem afinal era aquela garota.
Não poderia matá-la...ainda. Teria que esperar para saborear o seu precioso sangue.
Mas o fascínio que eu tinha pelo seu sangue e pelo seu mistério era completamente ultrapassado por um outro desejo sedento, um desejo que me era completamente desconhecido e que era completamente insano. Nem o meu sadismo e a minha loucura chegavam a esses limites. Esse sadismo era o que deveria pertencer a Andrey e não a mim. Andrey que quando caçava conseguia transmitir toda a sua loucura às suas vitimas.
Alex ir-se-ia com toda a certeza surpreender por eu ainda não ter morto aquela criatura que continha um sangue que eu considerava valioso.
Por vezes interrogava-me de como seria a reacção de Vernot se fosse colocada no lugar da presa numa caça. Agiria como todos os outros ou, tal como o seu sangue indicava, iria agir de um modo diferente?
Vernot...aquele nome era-me estranhamente muito familiar. Tinha quase toda a certeza de que já o ouvira algures.
Parei e olhei, através de uma janela, para a pouca vida que se desenrolava no exterior do comboio. Alguns dos poucos animais que me observaram esconderam-se nas suas tocas e esconderijos. Não pude evitar um sorriso frio, mostrando os meus dentes que cresceram para aterrorizá-los ainda mais.
Alguns raios solares bateram-me na cara causando-me um grande ardor na pele e sobretudo nos olhos. Fechei os últimos com uma enorme força deslocando-me de seguida para uma zona que era coberta pelas sombras.
Observei os reflexos solares, que haviam coberto o chão do corredor, desaparecerem aos poucos enquanto o sol era coberto pelas nuvens.
Pude sentir fragrância dela adentrar-me pelo nariz, fraca e reluta de início devido à distância que a sua portadora se encontrava de mim.
Comecei a caminhar pelo corredor a passos largos olhando atentamente para todas as cabines por onde passava.
A sua fraca fragrância tornou-se aos poucos mais forte.
A sede começou a apoderar-se de mim aos poucos. Fechei os olhos e tentei controlar-me.
Uma garota de cabelos negros encaracolados e olhos grandes e azuis passou por mim fazendo um sorriso de gratidão por tê-la deixado passar.
De novo surpreendi-me. A jovem que aparentava ter uns dezassete/dezoito anos também tinha um cheiro invulgar, muito agradável e também muito apetitoso, mas que não possuía metade do interesse do de Vernot. Era uma fragrância doce, suave, sensual e exótica- que combinava com ela.
A garota abriu a porta de uma das cabines.
De dentro dela saíram vários cheiros diferentes, cada um com a sua essência, e entre todos esses cheiros pude finalmente cheirar a essência de Rose.
Vi a garota de caracóis cumprimentá-la.
Pena estar acompanhada por aqueles humanos. Iria ser interessante passar a viagem com a minha futura vitima, ver se era tão misteriosa como a sua essência indicava. Mas para meu grande pesar, ela encontrava-se acompanhada.
O meu pequeno sorriso alargou-se.
Sempre poderia matá-los.
Vi o seu rosto erguer-se na minha direcção. As suas expressões ficaram rígidas e o seu rosto pálido demonstrando algum receio, receio que já me havia habituado a ver na natureza e nos próprios humanos.
Não poderia matá-los sem despertar a atenção dos humanos na minha direcção. Iria ter que esperar para estar um momento a sós com e ela e,. quem sabe, depois atacá-la.
Cortei a ligação que havia entre os nossos olhares e comecei a dirigir-me de novo para a minha cabine.
O meu objectivo já havia sido concretizado. Já a havia encontrado, apesar de não ter sido nas condições que desejava encontrá-la.
Entrei na minha cabine e sentei-me num dos bancos. Estava sozinho, como gostava de me encontrar.
Fiquei parado durante algum tempo a observar o banco que se encontrava à minha frente.
Tediante imortalidade.
Odiava andar em transportes humanos, eu era muito mais rápido a pé, mas Andrey obrigava-me a tal devido aos planos que não queria nem tencionava partilhar connosco.
Fechei os olhos. Sempre havia formas de animar a imortalidade.
Corri um pouco mais depressa. Ela não se encontrava muito longe, o seu cheiro era cada vez mais forte.
A minha garganta começou a arder e a minha boca tornou-se ao poucos mais seca. Os meus olhos, assim como a minha garganta, também começaram a arder. O meu corpo tremeu ligeiramente. Fui obrigado a fazer um esforço para abstrair-me das dores que a sede começava a trazer ao meu corpo.
Estava sedento.
A mulher corria a alguns quilómetros de mim. Tinha um cheiro ligeiramente agradável, mesmo assim este não deixava de ser vulgar. Mas naquele momento qualquer humano satisfaria a minha enorme sede.
Corri com mais velocidade.
Iria jogar ou não?
Fiz um pequeno sorriso. A sede aguentar-se-ia para um pequeno jogo.
Parei junto a uma árvore, e escondi-me atrás desta, sabia que a mulher não tardaria a passar por ela.
Fazia quatro dias que não me alimentava com sangue, e isso prejudicava todas as funções do meu corpo, tornando-me descontrolado no que se referia a caçar humanos.
Ela estava próxima. Pude ouvir o palpitar acelerado do seu frágil coração. Os passos rápidos e pesados da mulher também eram audíveis. A sua respiração estava acelerada.
Possivelmente estava a fazer uma corrida por aquele bosque e isso surpreendeu-me, era tarde para uma pessoa correr. Era muito fácil perder-se e acima de tudo, era muito fácil ser caçada por algum predador como eu.
Os últimos raios da tarde foram desaparecendo aos poucos e eu pude sentir um certo nervosismo da mulher.
Todos os sons da natureza a assustavam, apesar desta tentar esconder isso, desde o som do vento a bater nas folhas das árvores até ao som dos pequenos animais a esconderem-se nas suas tocas. Tudo isso fazia o pequeno coraçãozinho daquela criatura acelerar descontroladamente.
O seu cheiro tornou-se mais forte e eu tive que arranhar o tronco de madeira para poder controlar a minha necessidade de beber o seu sangue até à última gota.
Era uma mulher que aparentava ter uns vinte e poucos anos. Loira, com os cabelos presos, bonita. Tentava manter um ar tranquilo, mas podia ver o receio que esta tinha no seu olhar, por muitas vezes olhava para trás de si, sempre que ouvia um som que considerava ser mais suspeito.
Deixei-a correr um pouco, para manter uma certa distância, depois levantei-me e corri atrás dela.
Aos poucos pude notar nos pormenores do seu cheiro. No seu cheiro vulgar encontrava-se um outro misturado. Um cheiro que logo vi que não lhe pertencia, um cheiro doce e infantil, ingénuo. Um cheiro que era facilmente identificado como sendo um cheiro de uma criança ainda muito pequena, possivelmente com três anos. O mais provável era que fosse a sua filha.
Não pude conter pena pelo destino que a mulher ia ter, em especial o destino que a sua menina teria sem ela. Mas o meu instinto de monstro era mais forte, e por mais que não quisesse a sede ir-me-ia obrigar a matar aquela pobre criatura. E eu como monstro das trevas que era iria brincar um pouco com a sua situação. Porque infelizmente era isso que eu era, um monstro temível que aprendera muito do que sabia com o mais louco de entre todos os monstros.
A mulher voltou-se assustada. Parou e observou-me com desconfiança.
Eu fiz um sorriso calmo e bondoso, livre de más intenções- ou pelo menos que aparentava isso.
A mulher deu um passo para trás assustada.
- Calma.- Murmurei tranquilamente.
A mulher olhou-me ainda mais desconfiada.
- Quem és tu?- Perguntou-me com algum receio.
- Apenas um rapaz que quer lhe fazer companhia na sua corrida nocturna.- Disse com um sorriso amigável.
Vi-a olhar-me ainda receosa. Depois aos poucos aproximou-se com cautela.
Os seus olhos pararam no meu rosto e ao ver que este ainda era jovial e aparentemente livre das trevas, aproximou-se segura.
- Desculpe-me.- Pediu-me ligeiramente envergonhada.- É que sinto-me sempre nervosa quando já é tarde. Este bosque é muito vazio.
Fiz-lhe um sorriso compreensivo, não podendo deixar de sentir uma pequena pena pelo triste destino que a mulher teria.
- Eu compreendo.- Respondi-lhe começando a correr muito devagar, deixando-a acompanhar.- Este bosque pode ser perigoso a estas horas da noite, para uma senhora.
A mulher riu-se.
- Não só para uma senhora, meu rapaz.- Disse rindo-se.- Também pode ser perigoso para um rapaz novo. Aliás acho que pode ser perigoso para qualquer um.
Fiz um sorriso.
- Não para qualquer um.- Pensei.
- Mas mesmo assim o que faz um rapaz tão novo aqui sozinho? Os teus pais sabem que estás aqui sozinho?- Perguntou-me com alguma preocupação.
Fiz um olhar triste. A mulher abrandou o seu passo e olhou-me com mais preocupação.
- Disse algo de errado?- Perguntou-me.
- Não.- Apressei-me a responder.- É só que os meus pais já faleceram á muito tempo.
Os olhos da mulher brilharam com uma grande piedade.
- Coitadinho.- Disse tristemente.- Lamento ter tocado num assunto tão delicado.
Fiz-lhe um sorriso triste.
- Não faz mal.- Respondi-lhe. Pude ver um sorriso formar-se no seu rosto.
Começamos a correr de novo a um ritmo mais acelerado, mas eu fazia questão de não ser muito rápido. Não pretendia cansá-la antes de tempo.
Por vezes, mesmo comigo ao lado, a mulher assustava-se com os pequenos ruídos que provinham das árvores ao nosso lado.
Encontrávamo-nos num caminho no meio do bosque, um caminho feito por humanos que depois do bosque levava as pessoas a uma estrada que iria levar por fim a uma cidade. Antes da entrada do bosque havia uma pequena vila, que eu calculava ser o local onde a mulher morava.
- Vais até onde?- Perguntou-me a mulher.
- Não sei, e a senhora?- Perguntei-lhe educadamente.
A mulher fez um sorriso gentil.
- Até meio do bosque.- Respondeu-me.- Depois volto para trás. Tenho pessoas à espera do jantar.
Riu-se e eu acompanhei-a educadamente. Possivelmente eram os filhos que a esperavam.
- Como te chamas?- Perguntou-me curiosa.
- Richard. E a senhora?
A mulher sorriu-me.
- Catherine.
- Belo nome.- Catherine corou ligeiramente.
- Também tens um belo nome.- Respondeu-me envergonhada.
O receio que esta parecia ter pelo bosque desapareceu.
- Quantos anos tens Richard?- Perguntou-me parecendo querer abstrair-se do local onde se encontrava a correr.
- Dezassete.- Respondi-lhe sorridente.
Catherine retribuiu-me o sorriso.
- Eu tenho vinte cinco.- Respondeu-me vendo que, por educação, eu não lhe iria perguntar o nome.
- Uma idade muito jovem.- Disse com um pequeno sorriso.
A mulher fez um sorriso envergonhado.
- A tua idade também é bastante jovem.
- Posso fazer-lhe uma pergunta indiscreta?- Perguntei-lhe.
- Podes.- Respondeu-me com simpatia.
- É casada, ou comprometida?- Perguntei-lhe.
Vi-a erguer uma sobrancelha, surpreendida com a minha pergunta.
- Sim, sou casada.- Respondeu-me com um sorriso.- E tu? Alguma namorada?
- Não.
- Surpreendente!- Exclamou.
- Porquê?- Perguntei-lhe admirado.
- Porque és sem dúvida um rapaz muito atractivo, duvido que não tenhas um monte de miúdas atrás de ti.- Disse-me.
Eu ri-me.
- Sou capaz de ter.- Respondi-lhe.- Mas não ando a prestar muita atenção a isso.
Catherine riu-se.
- Tem filhos?- Perguntei-lhe.
- Sim. Tenho uma filha.- Respondeu-me, e de novo não pude deixar de sentir uma certa pena.- Tem três anos. Está em casa com o meu marido à espera que eu chegue.
Olhei-a com alguma tristeza, mas logo substituí-o por um olhar alegre.
Vi que já havia depositado toda a sua confiança em mim. Primeiro erro humano, confiavam na beleza sobrenatural que nós tínhamos em nosso redor, esquecendo-se do perigo que era passearem à noite sozinhos, esquecendo-se que as trevas dominavam sempre à noite. Confiavam na nossa beleza, charme e mesmo na nossa educação, tornando-se presas extremamente fáceis de serem caçadas.
- Pensou que eu fosse algum assassino?- Perguntei-lhe. Vi que esta olhou-me assustada.
- Como?- Perguntou-me sem entender a minha questão.
- Quando me viu a correr atrás de si, a Catherine pensou que eu era algum tipo de assassino?- Perguntei-lhe com um sorriso doce.
A mulher sorriu e soltou um risada.
- Quem não pensaria?- Perguntou-me.
Lancei outro sorriso, mais sádico, enquanto a via rir-se.
- Ainda pensa que sou algum assassino?- Perguntei-lhe.
Catherine olhou-me surpreendida.
- Claro que não Richard.- Respondeu-me. Ouvi o seu coração acelerar enquanto as suas expressões demonstraram algum desconforto.
- Por ser muito jovem?- Perguntei-lhe.
- Não.- Respondeu-me apressada.- É por se ver que tens um coração bom e nobre.
Subitamente ela parou e olhou para o caminho que se encontrava atrás de si.
- Consegue ver corações, Catherine?- Perguntei-lhe.
- Talvez esteja na hora de voltar para trás.- Murmurou para si mesma.
- Consegue ver corações?- Perguntei-lhe mais alto.
Ela olhou-me assustada, depois soltou uma gargalhada nervosa.
- Claro que não.- Tornou a olhar para o caminho por onde havia vindo.- Já jantaste Richard?
Eu ri-me friamente.
- Não.- Disse aproximando-me.- Ainda não.
Catherine substituiu o seu olhar assustado por um doce.
- Se quiseres podes vir jantar comigo e com a minha filha e o meu marido.
Eu ri-me e aproximei-me lentamente dela.
- Diga-me Catherine, se não consegue ver corações como pode ter tanta certeza que eu não sou um assassino.- Sentia tremer levemente. Encontrava-me agora poucos centímetro do seu pescoço.
- Que pergunta ridícula.- Disse rindo-se bastante nervosa.- É claro que não és um assassino, nota-se pela tua maneira de ser. Não é preciso ver-se corações para saber-se que não és um assassino, Richard.
- Então como sabe?- Insisti, pondo-a ainda mais nervosa.
- Eu apenas sei.- Respondeu-me fazendo um sorriso falso.
- Instinto?- Perguntei-lhe.
- Isso.- Ela fez um pequeno sorriso.
- Por exemplo, eu também posso ser uma assassina.- Disse-me tentando afastar-se, mas para sua infelicidade já se encontrava encostada à árvore.
- Sim pode ser.- Respondi-lhe calmamente.
- Mas tu sabes que eu não sou.
- Não, não sei.- Respondi-lhe.
Ela olhou-me surpreendida.
- Então porque te aproximas tanto de mim?- Perguntou-me incrédula.
Eu ri-me cruelmente, assustando-a ainda mais.
- Porque eu sei que não vai matar-me.- Respondi-lhe tranquilamente.
A mulher riu-se.
- Como podes ter tantas certezas?- Perguntou-me apreensiva.
Aproximei-me do seu ouvido.
- Eu sei.
- Se eu for uma assassina eu posso matar-te agora.- Tentou assustar-me, mas a sua voz saiu completamente tremida.
- Não, não pode.
- Como podes ter tantas certezas?- Perguntou-me. Podia sentir todo o seu corpo tremer enquanto que o seu coração palpitava loucamente
- Porque é impossível matar-me.- Sussurrei-lhe ao ouvido.
A mulher olhou-me assustada.
- Para com a brincadeira, Richard.- Disse-me tentando manter-se calma.
Eu ri-me.
- Catherine- eu disse calmamente- eu não estou a brincar, muito pelo contrário, a brincadeira ainda mal começou.
Num simples pulo, subi até a um dos ramos da árvore que se encontrava atrás de nós.
A mulher procurou-me por toda a parte, aterrorizada, e quando encontrou-me tentou substituir o terror por admiração, mas sem grande sucesso.
- Como conseguiste chegar até aí?- Perguntou-me surpreendida.
Eu ri-me. Aquilo não poderia continuar por muito mais tempo, estava a sentir o meu corpo gelado interiormente devido à sede que sentia.
- Fácil.- Respondi-lhe.- Saltei.
- Tão alto?- Perguntou-me com o pavor a subir-lhe à flor da pele.- Deves ser um atleta.
Ri-me com uma enorme crueldade.
- Faz parte de mim.- Dizendo isto saltei de novo para o chão.
A mulher que tinha andado para longe da árvore caiu no chão com o susto.
Aproximei-me dela e erguia com uma enorme facilidade.
- Qu..quem és tu?- Perguntou-me gaga com lágrimas a surgir-lhe nos olhos.
Ri-me de novo.
- A pergunta não é quem sou e sim o que sou.- Respondi-lhe.
A mulher olhou-me apavorada. O seu coração parecia quase sair-lhe do peito de tão acelerado que se encontrava.
- Não adivinhas?- Sussurrei.
A mulher continuou a olhar-me estática.
Fiz um sorriso e mostrei-lhe os meus dentes que devem ter ficado brilhantes à luz do luar. Depois deixei que os meu olhos ficassem escarlates.
- Impossível.- A mulher berrou. Lágrimas e soluços foi tudo o que se seguiu.- Isto é um pesadelo.
- Quase todos dizem o mesmo, mas depois conformam-se com a ideia.- Respondi-lhe calmamente.
A mulher afastou-se e começou a caminhar pelo o caminho por onde tinha vindo.
- Vampiros não existem.- Murmurou.
Corri para a sua frente. Assustando-a ainda mais.
- Onde pensa que vai?- Perguntei-lhe.
Os seus olhos brilharam intensamente.
- Por favor!- Começou a suplicar-me caindo de joelhos.- Deixe-me ir.
- E o que é que eu como?- A mulher olhou-me aterrorizada.- Eu bebo sangue humano, assim como os vampiros das histórias.
- Por favor!- Suplicou.- Porque faz isto?
- Ora minha querida, exactamente por estar sedento.- Respondi-lhe.- Além disso isto é como uma lição que espero que a sua filha não siga os mesmos passos que a senhora: nunca se corre à noite, especialmente se for num bosque. Chama-se sobrevivência
Fiz um sorriso, mas este saiu triste.
- Como hoje estou muito simpático dou-te dez segundos para fugires para onde quiseres.- Disse-lhe falsamente comovido.
- Não tem nenhuma piedade no coração?- Perguntou-me agarrando-me as calças.
Eu ri-me friamente.
- Perdi o meu coração no momento em que me roubaram a alma.- Depois ergui o dedo e comecei a contar.- Um... aconselho-a a fugir. Só tem dez segundos.
A mulher ergueu-se.
- Que jogo quer brincar?- Perguntei-lhe.- Às escondidas? Muito bem eu vou para àquela árvore contar. Aconselho-a a correr depressa.
Dirigi-me à árvore e cobri os meus olhos.
- Um...dois...três- Pude ouvir a sua correria apressada. Dirigiu-se para o bosque, na direcção por onde tinha vindo.- Quatro...cinco...seis...sete...oito...nove...dez! Aqui vou eu!
O seu odor e os batimentos cardíacos indicavam-me exactamente o local onde se encontrava, mas eu não iria acabar com aquilo tão cedo.
Sentia pena dela, em especial da sua filha, mas eu era aquele monstro e por mais que lutasse contra isso a natureza obrigava-me sempre a seguir naquela direcção. Era um monstro por mais que lutasse e por mais que não quisesse. Mas já era um monstro à muito tempo e acabara por me habituar àquele modo de vida.
- Cathy onde estás?- Perguntei em voz alta e comecei a dirigir-me na direcção oposta a onde ela se encontrava.
O som do seu coração distinguia-se do som da natureza. Era alto e bastante audível. Sabia que pelo terror que Catherine deveria estar a sentir esta não se atreveria a correr e a sair do seu lugar.
Podia ouvir as suas doces lágrimas caírem na terra, enquanto suplicava silenciosamente ao seu Deus por misericórdia, um Deus em quem eu acreditara mas que à muito deixara de acreditar. Sabia que se ela tivesse forças teria gritado e corrido, mas eu cansara-a antes de a começar a caçar. Era uma presa fácil e uma presa de dar dó.
Mas eu era um monstro e sentiria prazer na sua dor e no seu sofrimento psicológico e físico. O psicológico já havia começado, sabia que a cada passada que eu dava que era suficientemente alta para ela ouvir, ela tremia interior e exteriormente, sabia que se aterrorizava pelas minhas risadas e pelo eco que estas faziam no bosque. Para ela aquilo era um pesadelo, um pesadelo que para mim começara á cinco séculos atrás.
Sentia um enorme prazer com a dor das minhas vitimas, eu admitia-o, tal como os outros eu torturava as minhas presas. Os humanos deixaram de ser só a nossa fonte de alimento, passaram a ser também a nossa fonte de entretenimento. Tirando essa pouco mais nos restava, para além de nos matarmos uns aos outros e de matarmos lobisomens.
- Onde estás Cathy?- Tornei a perguntar para o ar.
Enquanto dirigia-me na sua direcção.
Pude ouvir o seu coração ganhar um ritmo ainda mais descontrolado. Estava desorientada e eu sabia o que é que as pessoas desorientadas faziam.
- Talvez não vás fazer o jantar para a tua filha.- Disse. Aquelas palavras fizeram ter de novo algum dó.
Ouvia-a erguer-se e começar a correr rapidamente. Dava uma queda seguida de outra queda, mas erguia-se e continuava a correr.
Ri-me.
- Podes fugir mas não podes esconder-te.- Disse-lhe.
Comecei a correr na sua direcção, subi a uma árvore e observei-a correr aterrorizada dando pequenos berros com tudo o que lhe aparecia à frente.
Ri-me ainda mais friamente.
- Humana estúpida.- Murmurei.
Dei um salto e parei à sua frente fazendo-a cair para trás.
Soluçou e gritou pedindo auxílio a quem quer que passasse por ali. Mas infelizmente para ela eu era o único que se encontrava ali.
- Por favor.- Suplicou-me.- Tenho uma filha.
- Como muitos dos animais que tu comes têm crias.- Respondi-lhe friamente.
A mulher olhou-me com tristeza.
- Não temas.- Murmurei.- Como já te havia dito, hoje estou simpático.
Baixei-me e aproximei os meus lábios do seu pescoço.
- Doente.- Sussurrou fraca.
- Todos nós somos.- Respondi-lhe com amargura.
Coloquei os meus lábios sobre o seu pescoço, e talvez por compaixão pela filha daquela mulher, cravei os meus dentes no seu pescoço, abafando o grito que tencionara formar-se na delicada garganta desta, mas que desapareceu mal os meus dentes perfuraram a sua veia principal sugando de seguida todo o sangue que tendia-se a espalhar pelo corpo e pelo chão.
A relutância de Catherine desapareceu e deixou que eu bebesse o seu sangue soltando apenas gemidos fracos de dor. Vi o seu corpo tremer e depois esta soltou apenas um sussurro fraco que nem eu mesmo consegui ouvir, um sussurro que foi acompanhado por uma lágrima triste.
Passei a mão pelos seus cabelos loiros assim que acabei de me alimentar, mal a sede desaparecera.
Estava fria e morta, enquanto que eu aquecera-me através do seu sangue.
Não se debatera como teriam feito a maioria dos humanos e eu também não a despedacei como fizera com muitos outros.
Após ter-me saciado ergui-me, limpei os meus lábios e fui colher um flor que se encontrava ao lado do seu corpo flácido.
- Descansa em paz.- Disse depositando a flor sobre o seu corpo pálido e partindo de seguida, já saciado.
Narrado por: Rose Vernot
Observei as camas ao lado, para verificar se todas já dormiam. Para minha infelicidade não poderia sair aquela noite, e segundo a carta de Jack ainda iria ter que esperar algumas semanas para poder ir ter com eles.
Lancei um suspiro triste e dirigi-me até à janela.
Jack parecia não querer dizer-me ao que o meu pai se referia naquela manhã e eu sabia que precisava de investigar por conta própria se o queria saber.
Observei a lua.
Não faltava muito para ser Lua Cheia, talvez esperar um pouco não faria mal.
Lembrei-me de novo no que o meu pai se referira naquela tarde, da guerra vampírica. Nem os livros de Povor tinham algo sobre esse assunto.
Um vulto atravessou os pátios e dirigiu-se até à Floresta Negra.
Sacudi a cabeça para certificar-me que não passara de uma ilusão, preparando-me para sair do quarto caso fosse necessário, mas para minha tristeza o vulto desaparecera.
Talvez por ser somente uma ilusão.
Fechei os olhos com força. Fazia muito que não dormia, desloquei-me lentamente até à minha cama e deitei-me nesta.
No dia seguinte iria procurar algo sobre guerras vampíricas na biblioteca de Hogwarts.
Lancei um suspiro desiludido.
Fazia duas horas que me encontrava naquela maldita biblioteca à procura de informação sobre vampiros, mais especificamente sobre uma guerra vampírica, mas claro que ainda não havia encontrado nada. A ideia de encontrar algo sobre vampiros em Hogwarts era ridícula, e eu claro fui parva o suficiente para perder tempo com isso.
Olhei para o livro que se encontrava à minha frente. Era o mais interessante que havia encontrado até agora, mas mesmo assim não tinha nada daquilo que eu precisava.
- Com trabalhos de casa já?- Uma voz perguntou fazendo-me erguer os olhos do maldito livro.
Uma das minhas mãos foi directamente para o local onde havia guardado a estaca.
O rapaz fez um sorriso.
- Um pouco cedo não achas?- Perguntou-me.
Olhei-o desconfiada. O meu coração começou a acelerar.
- Presa na biblioteca num dia tão bonito.- Disse com um sorriso.- Posso sentar-me?
Eu anuí com a cabeça. O rapaz sentou-se rapidamente à minha frente.
- Não sou a única aqui sentada na biblioteca, creio.- Murmurei fechando o livro e preparando-me para sair.
- Pois creio que não.- Respondeu-me Conner rindo-se.
Fiz-lhe um pequeno sorriso.
- Porque te encontras aqui presa?- Perguntou-me curioso.- Sozinha, no escuro?
- A solidão agrada-me.- Respondi-lhe secamente.- E tu?
- O sol não me agrada muito.- Respondeu-me sereno.
Senti um arrepio atravessar-me a espinha, de novo dirigi as minhas mãos à estaca que havia guardado por de baixo do uniforme numa liga.
Fiz um pequeno sorriso.
- A ler sobre vampiros?- Perguntou-me fazendo uma indicação para o livro que tinha à minha frente. Pude ver um sorriso estranho formar-se nos seus lábios.- Gostas desse assunto?
Dei de ombros e comecei a levantar-me.
- Acreditas que eles existem?- Perguntou-me divertido.
Olhei-o desconfiada. O que é que ele queria?
- Eles quem?- Fiz-me desentendida.
- Vampiros.- Disse-me num silvo.
Fiz-lhe um sorriso misterioso.
- Os lobisomens existem, não é?- Perguntei-lhe. Um sorriso formou-se nos seus lábios.
- Então acreditas que eles existem?- Perguntou-me.
A conversa começava a desagradar-me. Ele não era normal, e as suspeitas que tentava apagar do que ele era começavam a aumentar.
- Há pouco tempo diziam-me que feiticeiros não existiam e pelos vistos existem!- Respondi-lhe.
Vi-o fazer um sorriso provocador.
- Vampiros.- Sussurrou.
- Sim. Nunca se sabe.
- Como nas histórias?- Perguntou-me.
Vi um enorme interesse no seu olhar, por vezes parecia que nos seus olhos haviam reflexos vermelhos, e isso aumentava a minha insegurança e a vontade de retirar a estaca.
- Nada é como nas histórias.- Respondi-lhe convicta.
Ele sorriu.
- Pois não.- Respondeu-me.- Costumam ser muito piores na realidade.
- Que queres?- Perguntei-lhe irritada.
Conner levantou-se e sentou-se ao meu lado.
- Conversar. E como vejo que tens um grande interesse em vampiros, porque não?- Disse-me com um sorriso que eu acreditava ser falso.
- Ah também acreditas em vampiros?- Perguntei-lhe sarcástica. Ele encarou-me por uns segundos depois sorriu.
- Não.- Murmurou.- Acredito que sejam apenas…histórias para miúdos.
Não pude evitar uma gargalhada seca.
- Assério?- Perguntei-lhe incrédula.- Mas existem lobisomens…
- Ah pois!- Exclamou rindo-se.- Os eternos inimigos dos vampiros.
Não o podia atacar ali, e além disso nada me garantia o que ele era. Devia ser só mais um humano armado em parvo.
- É claro que os vampiros os ultrapassam.- Murmurou.
De novo ri-me.
- Ultrapassam? Os vampiros são monstros sádicos e…
- Os lobisomens não?- Perguntou-me parecendo ofendido com o comentário.
Aproximei-me um pouco dele olhando-o com irritação que de alguma forma pareceu diverti-lo.
- Os lobisomens não se controlam enquanto que os vampiros matam por puro prazer.- Respondi-lhe irritada.
- Afinal é amor a lobisomens e não a vampiros.- Disse num sussurro.- Interessante.
- Mas não acreditas…
Vi os seus lábios aproximarem-se do meu pescoço o que me fez afastar-me dele olhando-o com agressividade.
- Rose- arrepiei-me, não podendo reprimir a imagem do vampiro do meu sonho- vampiros não existem.
- Como podes ter tanta certeza?- Perguntei tentando provocá-lo.
- Como era possível manterem-se escondidos durante tanto tempo se existissem?- Perguntou-me.
- Escondendo-se.- Respondi-lhe calmamente.- Como os feiticeiros e os lobisomens.
- Impossivel.- Murmurou.
- Porque?- Perguntei-lhe.
- Tens um cheiro demasiado bom.- Sussurrou.
- Como?- Perguntei-lhe sem entender ao que se referia.
- Se houvesse vampiros a esta hora não estavas aqui pois o teu cheiro já teria atraído algum.- Conner começou a levantar-se.
Olhei-o assustada. Como poderia ele saber da atracção do meu sangue sob os vampiros.
- Como sabes que eles são atraídos pelo cheiro humano?
- Calculo.- Respondeu-me, depois fez um sorriso malicioso.
De novo afastei-me dele.
- Para alguém que não gosta de vampiros pareces saber muito sobre eles.- Sussurrei.
Ele riu-se.
- Eu não disse que não gostava deles, pelo contrário acho-os fascinantes.- Respondeu-me calmamente.
Levantou-se parando de seguida atrás de mim.
- Fascinantes?- Perguntei surpreendida.
- Sim.- Disse.- Imortalidade, beleza, o que poderia ser mais interessante?
- Eles matam humanos!
- Mesmo aí são fascinantes.
Senti-o segurar-me por trás com uma força surpreendente impedindo-me de debater-me. Depois senti que este colocou os seus lábios no meu pescoço, impedindo-me de debater.
- Um beijo da morte.- Murmurou.- Um beijo da imortalidade. Até tu te negarias a isso Rose?
Senti os pêlos da minha nuca erguerem-se enquanto que o meu ritmo cardíaco aumentava.
- És louco?- Perguntei-lhe incrédula libertando-me dos seus braços.
- Tens realmente um cheiro muito bom.- Disse para si, depois sorriu.- Por desejar a imortalidade, creio que todos nós desejamos, Rose. Faz parte do homem não é?
Olhei-o com alguma ira, levantando-me de seguida.
- Não me digas que és algum deles.- Disse irónica.
Ele riu-se.
- Como tu mesma disseste, nunca se sabe.- Respondeu-me calmamente.- Mas como os vampiros não existem creio que podes estar descansada.
Levantei-me e dirigi-me para a saída da biblioteca.
- Mas se houvesse vampiros e eu fosse um deles, Rose, podias ter certezas que a esta hora estavas morta.- Murmurou.
Eu sorri-lhe.
- Ou não.- Respondi-lhe calmamente.
Obrigada Chell :) tornei a actualizar!
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