Faça uma Boa Ação



Hemmaione caminhava rápido pelos corredores de Hogwarner, empurrando quem estivesse no seu caminho. Usando uma boina Diesel, andava sacudindo a metade dos seus cabelos loiros que ainda era visível. Depois de subir três lances de escada finalmente chegou à tapeçaria onde os trasgos dançavam balé. Passou em frente ao local três vezes, mentalizando seus desejos. Preciso de um local seguro, um local pra eu poder fazer o que eu quero. Hemmaione parecia fazer um esforço enorme para se concentrar. Um local onde Gambondore não possa entrar. Uma porta se materializou e ela entrou quase correndo. Ela havia conseguido.
– Graças a Merlin – gemeu contente.
Acabara de entrar em um banheiro completamente cor-de-rosa. Um grande espelho ocupava metade da parede e ao lado dele havia um armário decorado com flores e corações. Perto do armário, uma penteadeira cheia de escovas, pentes e maquiagem chamou a atenção de Hemmaione.
A garota tirou a boina e a jogou em um canto junto com sua bolsa Jimmy Choo, indo sentar-se em frente ao espelho.
– Estou horrível – comentou admirando sua própria imagem por alguns segundos – Lilá ainda me paga!
Da última vez que vira seus cabelos naquele estado, ela havia acabado de voltar ao castelo depois de um jogo de xadrez de bruxo gigante para recuperar a pedra filosofal. Estava parecendo um ninho de ratos.
Hemmaione apontou a varinha para o armário, de onde saíram dois secadores e três chapinhas. Pouco tempo depois, ela estava recostada confortavelmente na cadeira enquanto os objetos mágicos faziam o trabalho por ela; os pentes desembaraçavam seus cabelos, os secadores e as chapinhas o alisavam com o auxílio de escovas, esponjas e pincéis voavam pela sala enquanto faziam sua maquiagem e alicates e esmaltes cuidavam de suas mãos e pés.

Hemmaione estava quase pronta quando a porta se abriu violentamente e alguém entrou fazendo barulho. A garota se virou e teve o maior susto de sua vida, pois Lilá estava parada, olhando-a fixamente. Hemmaione notou que ela também usava um chapéu para esconder os cabelos.
– O que você está fazendo aqui, sua bisca? – perguntou Hemmaione indignada.
– A pergunta é o que você está fazendo aqui, trouxa suburbana! Esse banheiro mágico me pertence! É aqui que eu venho vomitar depois das minhas refeições. Fora já! Largue as minhas coisas!
– Ah, é? Pois agora quem manda aqui sou eu! Saia você!
– Quero ver você me tirar daqui – Lilá empunhou a varinha e teve seu gesto imitado por Hemmaione.
As duas pareciam prontas para se matar quando pela terceira vez naquele dia a porta do banheiro se abriu e outra pessoa entrou. Era Colin Creevey.
– Colin? – perguntaram ao mesmo tempo.
O garoto ficou muito vermelho e tentou esconder a sacola que carregava.
– O que você está fazendo aqui? – quis saber Lilá – Esse é um banheiro mágico feminino! Só garotas podem entrar!
– Desculpem, meninas – disse ofegante – Foi um engano.
– Um engano? – zombou Hemmaione – Você passou três vezes na porta pedindo um banheiro feminino por engano?
Colin ficou parado em silêncio.
– O que você tem na sacola, garoto? – Lilá perguntou apontando para o embrulho vermelho que ele achatava contra a parede.
– Nada! – gritou Colin – Não tem nada aqui, eu juro! Eu...
Colin olhou para os lados e tentou fugir, mas foi impedido pelo feitiço estuporante que Hemmaione lançou do fundo da sala.
– Meu Merlin, eu sou boa! – falou baixinho agitando o punho fechado no ar.
Ela e Lilá se entreolharam e abriram juntas a sacola.
– Oooh! – fizeram as duas.
– Lilá, estou passada de Arno! Não acredito no que vejo!
De dentro da sacola, as garotas tiraram uma pilha de CDs da Cher, uma fita de vídeo de um curso por correspondência que ensinava todas as coreografias das músicas de Bruxiney Spears e um pôster de Justin Bruxerlake de sunga e sem camisa.

– Hemmaione, me amarrota que eu estou passada! Colin é uma bichona louca e caricata! Quem diria que um menino tão tímido e reservado – Lilá olhou para o garoto estuporado no chão como se prestasse atenção nele pela primeira vez na vida – poderia ser assim? Vou espalhar essa fofoca agora mesmo! – e saiu desembestada do banheiro.
– Quê?! Eu é que vou espalhar essa história!
Hemmaione saiu correndo atrás da rival e lançou um feitiço que fez ela cair.
– Perdeu, cachorra! – gritou quando estava ultrapassando Lilá no corredor, mas esta segurou seu tornozelo fazendo-a cair também.
– Acho que não, meu bem! – Lilá se levantou e continuou correndo.
Hemmaione também levantou e acompanhou a garota com toda a velocidade que seus saltos de agulha Louis Vuitton permitiam.
– Joyce! Alone! – berrou Hemmaione para duas garotas que vinham na direção oposta – Segurem essa bitch!
Mas Lilá foi mais rápida e petrificou as duas antes que pudessem fazer qualquer coisa.
– Você nunca vai me deter, Hemmaione!
– Gina, me ajude! – gritou a loira desesperada avistando a amiga.
– Reducto! – gritou sem emoção atingindo o feitiço nos seios de Lilá e derrubando a garota no chão.
– Valeu, amiga! – gritou Hemmaione por cima do ombro, finalmente alcançando o Grande Salão.
Mas no momento em que Hemmaione estava prestes a revelar o segredo de Colin e Lilá entrava capengando logo atrás dela, Gambondore apareceu.
– Que diabo está acontecendo aqui?! Ninguém pode agir dessa maneira no meu castelo a não ser eu! Hemmaione Grantson e Lilá Vacander, as duas estão a partir de agora e até o fim do ano de castigo! E vocês terão que participar das malditas campanhas para ajudar os pobres miseráveis das favelas de Newyorksmead!
– Mas senhor, só os nerds sem vida social participam do clube de boas ações! Inclusive, esse é o único clube de Hogwarner que não faz seleções para admitir quem entra, tem todo tipo de gente feia e bizarra lá, eu não posso ser vista na companhia de pessoas assim ou vou perder status como presidenta do clube da popularidade!

– Cale a sua boca, senhorita Grantson, antes que eu faça isso por você! Não gostou do que eu preparei para você? Estou pouco me lixando! É por isso que se chama castigo! Agora, as duas, escutem bem pois não pretendo repetir! No próximo sábado, as favelas de Newyorksmead vão receber a visita de Bruxelina Jolie. Vai haver dezenas de repórteres de vários lugares do mundo e eu quero que vocês façam uma boa imagem dessa pocilga – Gambondore sacudia a mão violentamente apontando o indicador para o chão de pedra – Se algo sair errado e a imprensa fizer um comentário negativo que seja sobre Hogwarner, então se preparem para sentir a minha fúria! Estamos entendidos?!
As duas sacudiram a cabeça afirmativamente.
– E estão esperando o quê para sumir de uma vez da minha frente? Vão agora! – berrou Gambondore fazendo as estátuas de bronze vibrar.
As duas meninas foram mais do que depressa para a sala comunal da Grifinória. Lilá subiu direto para o dormitório, na correria seu chapéu caiu e os seus cabelos que mais estavam parecendo com uma vassoura de piaçava ficaram à mostra. Hemmaione porém foi se sentar ao lado de Runpert e Harrycliffe perto da lareira.
– Meninos, preciso da ajuda de vocês.
– O que foi, Hemmaione? – perguntou Runpert.
– Gambondore me colocou na detenção, e...
– De novo?! O que você fez dessa vez? – quis saber Harrycliffe
– Não importa! O caso é que eu e a Vacander temos que ir ajudar os pobres das favelas de Newyorksmead.
– E daí?
– Daí que eu quero que vocês venham comigo. Eu não quero entrar naquele buraco sozinha!
– Tudo bem, Hemmaione – disse Runpert – Nós vamos com você. Quando é que vocês vão lá na favela se confraternizar com os pobres?
– Ai, obrigada, Runp! Vai ser nesse sábado. Muito obrigada aos dois!
Hemmaione abraçou os dois e largou-se aliviada e sorridente em uma poltrona.
– Ah, sim! Eu já mencionei que Colin é gay?
– Colin é o quê?! – gritou Harrycliffe afetadamente.

– Pois é, descobri hoje! Agora deixem eu ir, preciso terminar de fazer a minha chapinha, aquela Vacander me atrapalhou quando eu já estava quase no final.
Hemmaione saiu pelo buraco da Mulher Gor... digo, pelo buraco de Pamela Anderson e deixou Harrycliffe espalhando a fofoca para quem quisesse ouvir na sala comunal.

Um passarinho surgiu do nada, voando pelos terrenos, e foi morto por uma lapada do salgueiro lutador no meio do campo de quadribol. Era manhã de sábado. Runpert estava esperando Harrycliffe e Hemmaione no pé da escadaria quando ouviu uma voz conhecida.
– Runpert! Ham... Aluno querido... ham... Como você está?
– Oi, professora Lopes! Eu estou bem. A senhora também vai para o dia de boa ação nas favelas?
– Vou sim, claro! Ham... Eu sou uma mulher muito, muito boa!
– A senhora não quer vir com a gente?
– Não, aluno querido, eu vou num bom carro. Porque se eu for num fusquinha... ham... nada contra os fusquinhas, acho ótimo, mas se eu for em um... ham... eu não chego!
– Mas nós não vamos em um...
– Quer biscoito?
– Quê?!
– Ham... biscoito! – e enfiou o saco de biscoitos que carregava sob o nariz de Runpert.
– Não, professora, obrigado! Bom, nos vemos lá então.
– Ham... sim, sim! Eu acredito totalmente que é pra lá que eu vou... quando for o momento. Tchau, Runpert, aluno querido e menino lindo... ham... não mais menino, mas ainda lindo.
Leila Lopes já estava distante dali quando Harrycliffe e Hemmaione finalmente apareceram.
– Qual foi a parte de “visitar os pobres numa favela” vocês não entenderam? – berrou Runpert ao avistar os dois.
– Como assim, Runpert? – Harrycliffe perguntou confuso.
– Olhem as suas roupas!
Hemmaione usava uma saia até o joelho coberta com desenhos florais em paetês, um casaco estilo paletó masculino super decotado, sapatos Scarpin, um colar de rubis e uma bolsa tipo carteira, enquanto Harrycliffe estava vestindo um terno de veludo azul.

– Runpert – falou Hemmaione com toda calma do mundo – Pobre adora ver gente rica! Eu não vou negar a eles a alegria de poderem chegar perto de roupas que valem mais do que todos os barracos daquela invasão.
– Estamos atrasados – disse Runpert desistindo de argumentar – Vamos logo!
Os três saíram do castelo e foram para o jardim, onde uma carruagem negra puxada por dois cavalos bretões brancos o aguardava. Harrycliffe pareceu muito excitado ao ver os belos animais. A viagem durou mais do que eles estavam acostumados e aos poucos a paisagem começou a mudar do lado de fora da carruagem. As árvores frondosas e os arbustos cortados em forma de anjos tocando trombetas eram sendo substituídos por casas feitas de varinhas velhas e terrenos cheios de lixo. As elegantes bruxas que faziam suas compras em Newyorksmead não eram mais visíveis, e por toda parte era possível ver as garotas gordas vestidas de dançarinas do Calypso. Depois de mais alguns sacolejando em uma estrada de barro esburacada a carruagem parou.
– Eu acho que chegamos – disse Runpert descendo do veículo.
A comunidade se chamava Cidade de Merlin. Era um favelão de palafitas que se erguia um pouco acima do lago que cortava toda a Newyorksmed e ia terminar em Hogwarner.
Harrycliffe, Hemmaione e Runpert dirigiram-se à única construção do local que não era de madeira, o Galpão de Distribuição de Sopas e Pães do Clube de Boas Ações de Hogwarner. Os três deram suas identificações na porta de entrada e receberam seus aventais de serventes. Hemmaione não tardou a enfeitiçá-lo para deixar o pano de uma cor que combinasse com seus sapatos e os garotos foram servir a sopa.
– Vergonha... decadência... fundo do poço – murmurava Hemmaione sem parar.
Depois de alguns minutos, a garota avistou algo que a animou no mesmo instante. Lilá estava vestida de faxineira e varria uma das pontes da palafita.
– Meninos – chamou Hemmaione – Segurem as pontas aí! Eu volto em cinco minutinhos.
Hemmaione caminhou em direção a Lilá com um enorme sorriso estampado no rosto.

– Oi, Vacander – saudou animada – Parece que finalmente você encontrou o seu lugar, não é mesmo?
– Digo o mesmo de você, queridinha.
As duas pareciam prestes a começar uma nova briga, mas um barulho infernal desviou a atenção das meninas. Os pobres da favela haviam se amontoado no meio na ponte e cada vez mais pessoas apareciam. Bruxelina Jolie havia chegado em sua limusine e agora todos tentavam conseguir um lugar decente para ver a atriz, inclusive os repórteres que apareceram do nada.
– Ai! É hoje que eu fico famosa! Com todas essas câmeras, não tem como eu não ser notada!
– Vai sonhando, Grantson! Quem vai sair daqui famosa hoje sou eu!
Dizendo isso, Lilá saiu em desabalada carreira, se jogou em cima de Bruxelina dizendo que a amava e deu nela um beijo de língua. Os fotógrafos foram à loucura. Os flashes eram tantos que Hemmaione nem conseguia enxergar direito o que acontecia. Todos os jornalistas só queriam uma coisa – saber quem era a louca que havia atacado Bruxelina Jolie.
– Pois é guerra que você quer? – gritou – Quero ver você superar isso!
Hemmaione conjurou uma garrafa de whisky de fogo e virou-a de uma vez só.
– Ai – gemeu olhando pra cima – Tô bêba!
Hemmaione tirou os sapatos e a calcinha e começou a fazer pole dance num poste em frente aos fotógrafos. A confusão foi ainda maior. Agora, todos queriam saber quem era aquela vagabunda que despontava no cenário das celebridades internacionais. No meio de um dos passos em que Hemmaione tinha que ficar toda arreganhada no poste se segurando apenas com as sobrancelhas, a bruxa caiu e uma das faveladas que estava próxima tentou ajudar, mas a garota gritou para que ela saísse dali, pegou os sapatos no chão e jogou na cara da mulher.

A imprensa foi mais uma vez à loucura. Os repórteres escreviam tão rápido em seus bloquinhos que não se conseguia nem acompanhar seus movimentos, alguns perguntavam aos berros se Hemmaione já tinha algum agente para poderem marcar entrevistas. Não demorou muito para que os aurores a prendessem por agressão e atentado ao pudor e a levassem para a cadeia. Se havia alguma duvida ela se desfez, nascia ali a mais nova celebridade modelo dos adolescentes. Runpert assistia a tudo horrorizado e Harrycliffe parecia muito animado em ficar amigo de uma estrela famosa. Já Lilá parecia que ia desmaiar a qualquer momento. No dia seguinte, Hemmaione era capa de todos os jornais bruxos e revistas de fofoca que anunciavam “presa mais uma adolescente de Hollywood". Era a glória.

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