Piscinão de Hogwarner - O Reto



Os nove membros restantes do FANLIPWA continuavam em Londres. Agora eles tinham que batalhar ainda mais por dinheiro pois além das despesas de casa ainda havia as três mensalidades de Hogwarner para pagar, que com a queda dos rendimentos do mercado de galeões e a valorização repentina do sicle tornaram-se caríssimas.
O plano original de Pandora, logo se descobriu, não funcionaria na prática. Ademilton sozinho com Lissa em Hogwarner seria a gota d’água que faltava para a falência do grupo. Pedro fora enviado com os dois para controlar a situação e também ajudar a solucionar o mistério; afinal, como disse Lídia, “duas cabeças e meia pensam mais do que uma e meia”.
Carol e Érika conversavam alegres enquanto comiam seus sanduíches duros com uma fatia de mortadela empurrados pelo achocolatado mais barato da última prateleira do supermercado quando uma belíssima coruja negra entrou voando pela janela e pousou delicadamente sobre a mesa carregando um envelope no bico.
– Que linda – suspirou Érika.
– É – concordou a amiga – Mas de onde será que ela veio? Não recebemos corujas há dias, nenhuma delas aparece por aqui desde que paramos de dar gorjetas para economizar. Estranho!
– Não importa, olha a carta.
Carol estendeu a mão para o envelope e a coruja o soltou automaticamente, levantando vôo logo em seguida. A garota arrancou um pesado selo de cera roxa com um brasão e leu a carta em voz alta:

Venho, por meio desta, dizer-lhes que já ouvi falar de vocês, FANLIPWA, e de como são fãs de Harry Potter. Compartilho de sua indignação para com o que está sendo feito com a obra, um símbolo britânico do mais alto gabarito que não deve ser tratado desta maneira tão leviana como está ocorrendo. Por este motivo, preciso dizer-lhes algo que sei – algo que muito lhes interessa; coloquei meus guardas pessoais da Scotland Yard para pesquisar e descobrimos que a empresa Warner Bross está registrada no nome de Tom Marvolo Riddle, que vocês já devem saber (e através de escutas eu mesma fiquei sabendo) tem um plano para continuar enfraquecendo Harry até a sua destruição. Continuarei minhas buscas e os manterei informados de qualquer novidade.

Ass.: Elizabeth Alexandra Mary of Windsor II, Rainha e Chefe de Estado do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, de Antígua e Barbuda, da Austrália, das Bahamas, de Barbados, de Belize, do Canadá, de Granada, da Jamaica, da Nova Zelândia, de Papua-Nova Guiné, de São Cristóvão e Névis, de Santa Lúcia, de São Vicente e Granadinas, das Ilhas Salomão e de Tuvalu; Chefe da Comunidade Britânica, Governante Suprema da Igreja da Inglaterra, Comandante-Chefe das Forças Armadas do Reino Unido, Lorde de Mann e cinco vezes vencedora do concurso de melhor torta de galinha da Escócia.

– Estou impressionada – disse Carol com a voz fraca.
– Eu então nem se fala! Quem diria que a rainha sabia cozinhar?!
– Nossa, é verdade! Eu nem tinha me tocado. Mas não é só por isso, o Voldemort é o dono da Warner e a rainha Elizabeth quer nos ajudar a acabar com ele! Kika, me empresta seu celular para eu avisar aos outros!
– Ih, Carol, nem vai dar. Meus créditos do OI ligador acabaram, amiga.
– Maldição. É como diz a Yana, que fim de carreira!

Em Hogwarner já estava rolando a maior balada no Piscinão. Como acontecia todo ano, a festa dos jogadores de pólo abria o calendário social da escola e aquela era a festa mais importante do ano. Antes de vir a próxima, é claro. Harrycliffe que era o aluno mais popular da escola tinha um lugar exclusivo que dividia com seus melhores amigos, Runpert e Hemmaione – a enorme tenda dourada
– Harrycliffe, esta festa está melhor do que a do ano passado – elogiou a garota – Olha só pra todo mundo se divertindo! O único problema são os nerds feios e as gordas que você foi obrigado a convidar.
– Ah, Hemmaione, relaxa! – respondeu Harrycliffe – É só não olhar para a jaula onde os prendi que já já você esquece que eles existem.
– Você não devia ter feito isso, Harrycliffe – disse Runpert indignado.
– Quê? Mas por que não? – perguntou o garoto confuso.
– Ah... bom... – Runpert procurava por uma resposta – Gambondore vai ficar irritado!
Harrycliffe procurou o diretor com o olhar e o logo o descobriu com sua habitual toquinha e uma sunga amarela com estelinhas azuis, estirado em uma toalha enquanto ralhava com o elfo que trouxera sua bebida.
– Ele parece não estar ligando muito. Além disso, ele me obrigou a convidar os loosers, não a tratá-los bem! Já basta eu ter deixado os três novatos esquisitos soltos por aí.
Em algum lugar no piscinão, naquele mesmo instante, Lissa servia cerveja amanteigada aos dois garotos e passava óleo bronzeador em suas costas.
– Aquela menina é estranha – comentou Hemmaione – Eu venho notado que ela faz tudo que os outros dois mandam. Será que no Nicarágua ainda existe escravidão?
– Hemmaione – chamou Harrycliffe – eles não vieram do Nicarágua, vieram da Argentina.
– Brasil! – gritou Runpert.

– Tanto faz – continuou Hemmaione – Só sei que eu fiquei com pena da coitada! Ela não escova os cabelos, não usa batom. Deve ter uma vida muito triste. Querem saber? Acho que vou fazer uma boa ação para esta alma perdida, vou falar com ela!
Hemmaione levantou-se e colocou seu chapéu branco de abas largas confeccionado por Philip Treacy, a saída de banho de seda por cima do seu biquíni Dior, os óculos Chanel e as sandálias de salto Louboutin. Andou entre os alunos à procura de quem evitara por dias. Finalmente, avistando uma nuvem negra e embaraçada que reconheceu como os cabelos da garota estrangeira, Hemmaione parou e disse:
– Olá, Josefa.
Lissa ficou paralisada por alguns segundos e depois derramou acidentalmente o copo de cerveja amanteigada na cabeça de Ademilton.
– Clarissa, sua estú...! – mas emudeceu ao ver a garota loira.
Os dois garotos levantaram rapidamente e Pedro deu um passo à frente.
– Senhorita Hemmaione! A que devemos a honra de sua presença?
Hemmaione não estranhou seus modos, estava acostumada com as pessoas a mimando o dia inteiro.
– Na verdade eu queria a Gerusa emprestada por uns minutinhos. Será que eu posso falar com ela?
– Quem?
– A coisinha! A amiga de vocês – e apontou para Lissa.
– O meu nome é Clarissa – a voz da garota saiu em um tom grave e ameaçador que não lhe era comum – E não preciso da permissão deles para conversar com alguém.
– Ótimo!
E as duas se afastaram.
– Isso aconteceu mesmo? – perguntou Ademilton beirando o desespero.
– Acho que sim – falou o amigo.
– E nós deixamos?
– Acho que sim.
– O que essa louca quer com a nossa Clarissa?
– Sei lá, mas vai ser bom se ela conseguir se enturmar.
Hemmaione e Lissa sentaram em um banco que ficava no caminho de pedras portuguesas azuis e vermelhas que decoravam o chão. A loira pegou as duas mãos da estrangeira e olhou para o seu rosto com interesse.
– Então, Antônia...
– Clarissa
– Que seja. Então, Clarissa, lá na Colômbia, de onde vocês vieram...
– Brasil. Viemos do Brasil.

– Ah, certo. No Brasil ainda existe escravidão?
Lissa arregalou os olhos. Não acreditava que tinha sido levada até ali só para ser interrogada sobre a história do Brasil.
– Não, a escravidão já foi abolida há muito tempo.
– Oh! – gemeu Hemmaione dramaticamente – É que aqueles dois tratam você como se estivessem falando com um elfo doméstico! Eles deixam você um trapo.
– Eles o quê?
– Olhe só para você! A sua aparência.
– Minha...? Minha aparência não tem nada a ver com eles, eu...
Mas Hemmaione levou deu indicador à boca da garota, pedindo silêncio e sorrindo.
– Está com uma garota agora, não precisa ter vergonha e nem se culpar pelo que eles fazem com você.
– Mas...
– Eu sei, é horrível! Quero dizer, olhe só seu cabelo!
– Hemmaione, eu não tenho vergonha e nem me culpo por... – e como se só agora tivesse se dado conta da última coisa que ouvira – O que tem meu cabelo?
– A pergunta é o que ele não tem. Brilho, maciez, caimento. Além disso você não usa um batom, nem um rímel... E sabe o motivo de tudo isso? Sabe por que você não se cuida?
Lissa fez que não com a cabeça.
– Porque seus amigos são uns falsos exploradores que fazem com que você perca todo o seu tempo os servindo e por isso não cuida de você mesma!
– Senhorita Hemmaione – sussurrou Lissa.
– Sim, querida?
– Essa... foi... a coisa... mais... mais idiota que já ouvi na minha vida!
Hemmaione se assustou, suspendendo os braços e soltando um gritinho quando Lissa levantou-se abruptamente.
– Não vim até aqui para ser julgada por uma paty perua que nem você! Passar bem! – e saiu correndo sem rumo.
– Louca! Grossa! Mal agradecida! – repetia Hemmaione enquanto respirava fundo segurando na parede para se recuperar do baque.
Minutos depois ela estava de volta à tenda dourada.
– Então, como foi com a Lissa? – quis saber Runpert.
– Quem?
– A estrangeira.
– Ah! Aquela estúpida! Acreditam que ela me deixou falando sozinha?
– Hemmaione, tem certeza que...

Promiscuous Girl. O som voltou a tocar, e agora estava mais forte do que antes. O sangue de Hemmaione gelou e ela olhou em volta, procurando.
Lilá acabava de sair da piscina. Com a maquiagem impecável, mesmo depois de muito cloro, ela sacudia os cabelos pra se livrar do excesso de água. Seu biquíni minúsculo ressaltava as curvas sinuosas de seu corpo e seus seios fartos. Os alunos se afastavam para dar passagem enquanto ela se encaminhava para a tenda onde estavam Runpert, Harrycliffe e Hemmaione. Mais uma vez a garota ignorou Hemmaione e falou apenas com Runpert.
– Oi, Runpert – enquanto ela falava, sua língua acariciava os lábios.
– Oi, Lilá... hum... Está gostando da festa?
– Ah, tipo assim, ela está muito legal. Fiquei super excitada com algumas coisas, não tenho do que reclamar.
– Que coisas? – quis saber Harrycliffe.
– Não foi nada da festa propriamente dita. É que esse calor todo me deixa quente, quase fervendo. Eu fico com um fogo tão grande que só algo muito gostoso pode apagar.
Dizendo isso, Lilá apertou a mão de Runpert que segurava um sorvete e começou a lamber.
Hemmaione não agüentou aquela visão e começou a gritar:
– Você está fazendo o quê aqui, minha filha? Esta tenda é apenas para pessoas de classe, pessoas sofisticadas, que se dão ao valor!
– Opa! Então o que você está fazendo por aqui, querida?
– Vagabunda!
– Piranha!
– Sua vaca oferecida!
As duas começaram a se estapear na frente de todo mundo e logo um grupo se formou em volta das duas gritando “briga, briga, briga!”
– Parem! – Runpert entrou na briga para separar as duas e tudo ficou calmo novamente.
– Foi ela que me provocou – apontou Hemmaione.
– Eu sempre soube, Hemmaione! – berrou Lilá.
– Soube do quê?
– Que por baixo dessas roupas de marca ainda existia a suburbana trouxa e desqualificada!
Silêncio mortal.
– Do que você me chamou? – sibilou Hemmaione depois de vários segundos.
– Trouxa! Trouxa desqualificada!

Hemmaione voou no pescoço de Lilá e começou a sacudi-lo violentamente enquanto chutava todas as partes do corpo da garota que conseguia.
Nesse momento Gambondore se aproximou com sua sunga estrelada.
– O que está acontecendo na minha piscina?!
O velho conjurou uma parede invisível entre as duas, obrigando-as a recuar vários passos.
– Ela me atacou! – gritou Hemmaione.
– Me segura que eu vou dar na cara dela – Lilá lutava contra a barreira invisível.
– SILÊNCIO! As duas vão receber detenção! E estão proibidas de freqüentar os salões de beleza de Newyorksmead por um mês inteiro!
O grito de ódio das duas pode ser ouvido ecoando em todo o castelo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.