Capitulo XIV



 mcfly - Too close for comfort


Harry não queria levar a conversa adiante. Então achou melhor concordar, esclarecendo que não tinha planos para deixar Londres em um futuro próximo. Então, querendo desligar antes de dizer alguma coisa mais embaraçosa, despediu-se depressa, dizendo que precisava falar com Thomas e acertar alguns detalhes para sua mãe. Cho pareceu aceitar suas explicações com relativa calma, até que, de repente, lembrou-se:

- Ah, tive uma grande idéia! Por que não convida sua mãe para vir a Londres com Gina? Seria bom para ela também, não acha? Poderia distrair-se, esquecer a perda de Arthur por algum tempo... E depois, eu estou ansiosa para conhecer sua família, como sabe.

Harry sentiu um aperto no estomago diante da possibilidade.

- Vou pensar a respeito, está bem? – prometeu, certo de que Cho não tinha a menor idéia do que estava propondo. – Mas agora preciso mesmo desligar, querida. Até logo! Conversaremos em breve!

- Espero que sim! Eu... eu o amo.

- Também a amo. – A resposta foi automática, mas Harry sentiu-se um tanto culpado assim que recolocou o fone no gancho. Não conseguia definir quando sua vida se tornara tão complicada. Antes, não era assim. Ao partir para a Malásia, tudo lhe parecia tão simples!... Tinha um emprego no qual fazia o que gostava, possuía uma casa que era invejada por grande parte de seus amigos, e estava apaixonado por uma mulher linda que o amava também. Achava que nada poderia mudar sua vida tão organizada e perfeita. Mas estava enganado, como podia ver agora...

Entretanto, sendo honesto consigo mesmo, percebia que, de fato, nada mudara. Pelo menos, não na aparência. Ainda tinha seu emprego, sua casa, sua namorada, mas sentia que algo mudara irremediavelmente...

E a imagem de Gina estampou-se diante de seus olhos mais uma vez, obrigando-o a cerrá-los por instantes. Não precisava procurar muito para encontrar uma resposta. Seria a maneira como ela o olhara naquela manhã que estava desencadeando tais sensações em sua mente? O que Gina estava sentindo? Compaixão? Desprezo? Repulsa? Fosse o que fosse, fora como se ela lhe houvesse tirado o chão de debaixo dos pés.

Ela o desprezava, isso parecia-lhe obvio, e era impossível esperar que esquecessem o passado. Mas Gina não podia colocar toda a culpa sobre seus ombros, afinal ela também tinha culpa no que acontecera. Ele apenas responder ao que lhe parecera provocação demais, mas não iniciara nada entre ambos... E Gina tinha que parar com aquela mania de querer condená-lo por algo que lhe parecera inevitável desde o momento em que ela abrira a porta de seu banheiro...

As recordações foram interrompidas de repente por batidas na porta do quarto. Passou a mão direita nos cabelos, sentindo-a ligeiramente trêmula e aborreceu-se. A história não podia estar se repetindo, dizia a si mesmo.

Já se levantava quando sua mãe colocou a cabeça para dentro da porta.

- Está decente? – perguntou ela, naquele seu jeito rígido de ser. Mas não esperou pela resposta, entrando logo em seguida.

Harry apenas a olhava, imaginando se ela teria entrado da mesma forma caso estivesse nu. Com certeza, sim, já que Llian sempre fazia o que bem entendia. Suas prioridades vinham sempre antes das dos outros.

- Estive procurando por você – disse ela, fechando a porta com o que Harry considerou excesso de cuidado. – O que está fazendo aqui em cima?

- Será que preciso mesmo responder? – ele rebateu. Mas, tentando ser gentil, completou: - Estava dando um telefonema.

- Para Cho? – Por motivos próprios que Harry desconhecia, Lilian decidira apoiar o relacionamento dele com a moça. Talvez para mantê-lo ainda mais afastado de Ginaa, imaginou ele. – Precisa trazê-la a Penmadoc para me conhecer qualquer dia destes. É uma garota muito bonita. Na verdade, ela me faz lembrar de mim mesma quando mais jovem.

- Verdade? – Ele não conseguiu evitar o sarcasmo.

- Verdade, sim! – Lilian juntou as duas lapelas de seu roupão de seda sobre o peito. – Puxa, está frio aqui! Bem que eu disse a Arthur que os aquecedores não estavam trabalhando a toda força. Mas ele sempre vivia dizendo que não tinha dinheiro para trocá-los...

- Talvez não tivesse, mesmo. – Harry caminhou até a janela e espiou para fora. Aquela conversa com sua mãe não parecia estar levando a lugar algum e começava a aborrecê-lo. – Este lugar é grande demais, e os gastos devem ser grandes para manter tudo em ordem.

- Nem tanto. – Ela olhou para a cama e sentou-se onde ele estivera enquanto telefonava. – Ah, aqui está bem melhor! – exclamou. – Então, o que Cho tinha a dizer?

Harry voltou-se. Encarou a mãe por alguns segundos antes de responder.

- Não me diga que está, realmente, interessada. – E mudando de assunto: - Bem, já decidiu o que vai fazer agora?

- Não, ainda não. Não tive tempo para pensar no futuro! Ando ocupada demais tentando lidar com o presente!

- Então... o que quer?

- Ora, Harry, não seja tão rude! Será que não posso vir ao quarto de meu filho para conversarmos um pouquinho sem que ele pense que estou querendo alguma coisa?

Ele assentiu de leve, pensativo, e replicou:

- Quer mesmo que eu responda?

Ela o encarou e apertou os lábios um contra o outro.

- Você não se importa, não é? Sou sua mãe, e você não se importa com o fato de eu estar a ponto de ser enxotada de minha casa!

- Você nem sabe se isso vai acontecer. Está apenas imaginando o que Gina poderia fazer.


Continua...

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