Capitulo XI



Gina parou sob um imenso cipreste coberto de neve e enfiou as mãos enluvadas por baixo dos braços, procurando aquecê-las mais. Estivera a ponte de entrar no jardim, mas percebera Harry parado por trás da janela da cozinha e voltara automaticamente. A expressão séria no rosto dele era como um aviso de que não deveria estar no melhor dos seus humores.

Seu coração se apertou. Por que ele tinha de estar ali? Parecia razoável, já que seu padrasto morrera e sua mãe devia querer que o filho estivesse por perto para dar-lhe apoio moral, mas Gina sentia-se constrangida demais. Chegara até a pensar em hospedar-se em um hotel em Rhosmawr, que era a cidade mais próxima a Penmadoc, mas logo descartara tal idéia. Não seria justo para com seu pai e nem para com tia Nell, pensou. Além do que, estaria comportando-se como se não fosse parte da família. E, mesmo não sendo Penmadoc seu lar atual, isso não justificava que não pudesse permanecer ali por qualquer razão que fosse.

Imaginava se Harry e seu pai haviam se tornado mais íntimos nos últimos anos. Era provável. Sempre soubera que seu pai se ressentia pelo fato de não querer mais visitar Penmadoc e, com todo o oceano Atlântico entre ambos, era certo que se viam muito menos do que ele queria.

Para Gina, porém, fora muito melhor afastar-se e ir para a América. Em Nova York, conseguira deixar o passado para trás e cuidar das feridas, embora elas lhe tivessem causado grande sofrimento.

Respirou fundo e espiou por entre os galhos do cipreste. Precisaria entrar em breve. Ia começar a nevar de novo, e seus pés estavam gelados. Não estava mais acostumada a viver o inverno tão intenso. O frio em Nova York era sempre melhor suportado com o aquecimento de casas e lojas, e ruas limpas durante a noite... Além do mais, seu apartamento era aconchegante, muito diferente de Penmadoc.

Olhou para a mansão de longe e suspirou. Não devia reclamar. Houvera uma época em sua vida em que considerara aquela a mais bela casa do mundo. Não que a construção fosse, de fato, bonita, mas era sóbria, imponente e as inúmeras chaminés sempre a tinham fascinado. Lembrava-se de dizer às outras crianças, quando pequena, que tinha sorte porque Papai Noel teria muitos lugares para escolher quando fosse a sua casa no natal para deixar os presentes...

Era melhor voltar agora, pensou, sentindo-se ainda mais gelada. Caminhou até o portão, para abri-lo, imaginando que precisava enfrentar quem estava dentro daquela casa. Afinal, seriam poucos os dias em que ainda permaneceria ali, e nada de mal poderia lhe acontecer. Seu pai estava morto e devia apenas se preocupar com o funeral dele.

Recomeçou a caminhar em direção a casa, mas parou novamente, ao notar que Harry ainda estava junto à janela. Devia estar ficando louca, pois poderia jurar que a expressão dele se modificava, como se desse lugar a outra, mais jovem, mais suave. E então, paralisada pelo medo, Gina teve a nítida impressão de rever as feições do pai nas dele. E era como se estivesse frustrado e aborrecido ao mesmo tempo...

Um arrepio terrível sacudiu seu corpo diante da visão. Jamais fora sensível a ponto de ver coisas. Sua mãe, talvez, com toda sua sensibilidade aguçada. Sua avó, com certeza, pelas inúmeras histórias que ouvira contar sobre ela... Mas não ela própria. Nunca!

No entanto, a imagem continuava ali, nítida, diante de seus olhos assustados. Seu pai estava ali, parado, atrás da janela, usando a mesma blusa de lã que lhe enviara em seu último aniversário. Os cabelos grisalhos, mais brancos do que no último verão, mas sempre muito bem penteados. O bigode militar sobre os lábios firmes e uma certa sombra de cansaço sob os olhos, como se ele não houvesse dormido muito bem... Dormir! Gina abafou o soluço que lhe subiu da garganta, nas constatação repetida de que seu pai estava morto!

Gemeu em voz alta, incapaz de compreender o que lhe estava acontecendo. Devia ser uma espécie de alucinação provocada pelos pensamentos que tivera ao voltar da aldeia. Estivera pensando tanto no pai que acabara por ter a impressão de revê-lo. Ainda porque não havia a menor semelhança física entre ele e Harry.

Piscou várias vezes e, como para provar sua teoria, a imagem de seu pai se desvaneceu. Lá estava Harry outra vez, os ombros muito mais largos, o suéter de cor diferente da que ela pensara ter visto no pai, a expressão calma no rosto um tanto bronzeado.

Com os joelhos trêmulos, Gina entrou no jardim, disposta a não mais pensar no que acabara de acontecer e que não deveria passar de cansaço emocional.

Harry a viu de imediato e sentiu-se aliviado. E, pela primeira vez, Gina sentiu-se feliz por vê-lo. Sabia que, na verdade, iria se sentir assim por ver qualquer pessoa depois da experiência bizarra pela qual acabara de passar. Até mesmo Harry, um homem pelo qual não deveria sentir nada além de desprezo.

Quando alcançou a casa, ele abriu a porta e recompensou-o com um breve sorriso de agradecimento ao entrar.

- Eu já estava começando a me preocupar – Harry observou, erguendo as mãos para ajudá-la a tirar o casaco pesado. Gina afastou-se e retirou o casaco sozinha.

- Por que? – perguntou, sentando-se em um banquinho para tirar as botas. Suas mãos tremiam e pedia a Deus que Harry não percebesse. Detestaria se ele achasse que estava com receio de alguma coisa.

- Porque vai nevar de novo. – Harry seguiu-a até a cozinha e ficou observando enquanto a via estender primeiro um pé e depois o outro em direção ao fogareiro. – Além do mais, você me parece muito pálida.

- Estou com frio – Gina tentou explicar. – Mas aqui dentro está bem melhor.

Harry apenas assentiu. Pouco depois, perguntou:

- Conseguiu dormir melhor?

- Consegui, sim – mentiu. – E você?

- Eu, não.

Gina ergueu a cabeça para encará-lo, tentando imaginar se ele falava a sério. Percebia as olheiras, mas Harry lhe parecia muito bem. Na verdade, estava bem demais em sua concepção, já que sempre o considerara o homem mais atraente que já conhecera na vida.


Continua...

Geneviève W. Potter: Sim a fic é uma adaptação de um livro.
Gah Aluada: Mais dois cap. como presente!

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