Capitulo X
- Entendo. – A dor de cabeça de Harry estava começando a desaparecer e agora podia raciocinar melhor. – Então, minha mãe estava sozinha na casa quando encontrou Arthur morto. Pobre Lilian! Deve ter ficado transtornada!
- Parece que sim.
Harry olhou-a desconfiado. Parecia haver alguma coisa no tom de Eleanor que o deixava alerta.
- Parece duvidar... – comentou. – Pelo amor de Deus, acho que deve sentir certa solidariedade em relação a ela, não? Que vantagem pode haver, afinal, em encontrar o marido morto?
- Eu não disse que havia alguma.
- Não, mas... – Ele se interrompeu, percebendo que se exaltava. Depois continuou, mais calmo: - Escute, sei que jamais gostou de minha mãe, mas acredito que, nas atuais circunstâncias, todos aqui devemos nos unir.
Ela tornou a erguer os ombros.
- Se diz assim... – anuiu séria. – Sua mãe lhe disse que estava sozinha quando encontrou o corpo de Arthur?
Harry ergueu os olhos para vê-la mais uma vez. Mas Nell estava de costas, lidando com alguma coisa no fogão. As perguntas que ela lhe fazia soavam estranhas... Por que queria saber uma coisa assim?
- É claro que estava sozinha – rebateu. – sabe muito bem disso. A senhora acabou de dizer que estava em Cardiff...
Nell olhou-o por sobre os ombros ao comentar:
- Por que não pergunta a Lilian o motivo de só ter encontrado Arthur duas horas depois de sua morte. Se estava em casa, devia tê-lo ouvido chegar, não acha?
- Talvez tenha ouvido. – Harry recomeçava a se irritar. – Perguntou a ela?
- Não. Não é da minha conta.
- É claro que é!
- Não, na visão de sua mãe. Agora, se me der licença tenho muito trabalho a fazer.
Harry queria conversar mais, saber mais. Estava aborrecido e queria saber porque Nell parecia imaginar que havia algum segredo quanto à morte de Arthur. Não havia, ele tinha certeza disso. Homens na idade de Arthur tinham ataques do coração com certa freqüência, isso não era difícil de acontecer... Além do que, ele cavalgara a manhã toda, poderia estar extenuado.
Quando Nell deixou a cozinha, ele se aproximou da janela e olhou para fora. Como sempre acontecera, a conversa que tivera com a tia de Gina não o deixara bem. E, embora sabendo que ela não tinha motivos para mentir, sabia que faria tudo para atrapalhar a vida de Lilian.
Enfiou as mãos nos bolsos, pensativo, observando o chão coberto de neve. Era uma paisagem bonita, imaginou, com sua visão de fotografo, prestando atenção aos galhos secos e retorcidos das árvores sem folhas. Muitos de seus trabalhos eram resultado de fotos tiradas espontaneamente e poderia conseguir uma bela imagem ali.
Mas logo seus olhos notaram as pegadas que seguiam em direção ao portão externo e que tinham ficado marcadas na neve espessa. A frustração tomou lugar da composição fotográfica que imaginava. Gina estava lá fora, em algum lugar. Imaginava o que ela poderia estar pensando sobre o episódio da noite anterior. Teria ela alguma idéia de que, caso Lilian não os houvesse interrompido, ele poderia ter-se deixado levar mais uma vez e voltado a cometer a ofensa que, muitos anos antes, acabara por separá-los?
Cerrou os olhos. Devia estar ficando louco por pensar tal coisa. Não quisera Gina naquela época e não a queria agora. O que acontecera fora apenas uma reação às circunstâncias, nada mais, e devia ser grato a sua mãe por evitar que cometesse um erro ainda maior e fizesse de si mesmo um tolo.
Mas era um tolo! Um grande tolo! O quê, porém, não explicava sua necessidade de beber tanto uísque antes de dormir, apenas para esquecer...
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