Capitulo XVII



Marcus Venning chegou na segunda-feira pela manhã. Gina praticamente passara o fim de semana tentando evitar qualquer contato com Harry e com sua mãe, e ficou surpresa quando tia Nell entrou na sala, avisando que o advogado estava a sua espera na biblioteca.

- Imaginei que preferiria vê-lo lá, ao invés de no escritório de seu pai – disse ela, gentil, tocando-lhe os ombros. – Acho que ele quer discutir algumas providências a serem tomadas após o funeral, querida.

- Mas... comigo? Tem certeza de que ele não veio para falar com Lilian? – Gina sabia que Harry passara boa parte dos últimos dois dias tratando do funeral e não conseguia atinar o que o advogado poderia querer.

- Ele deixou bem claro que quer falar com você. Vai recebê-lo? – insistiu Eleanor.

- Bem... é claro que sim. – E, deixando de lado o jornal que apenas começara a folhear, levantou-se. – Onde estão os outros?

- Ela está em seu quarto. – Tia Nell evitava dizer o nome de Lilian sempre que podia. – E Harry, parece-me que saiu logo após o desjejum.

Mesmo tentada a indagar para onde ele fora, Gina conteve-se; afinal, os negócios dele não eram de sua conta, imaginou. E, além de esparsos comentários sem maior importância, ambos não tinham conversado desde a manhã de sábado. Ela sabia que era melhor assim.

Seguiu Eleanor pelo corredor e depois afastou-se, dirigindo-se à biblioteca. Aquele era um dos seus cômodos favoritos na casa, com todas as prateleiras carregadas de livros e as grandes poltronas de couro escuro.

Parou à porta, quase que esperando ver seu pai parado diante da enorme lareira, aquecendo as mãos elevadas em direção às chamas, mas afastou depressa o pensamento. Felizmente, a terrível experiência alucinatória do outro dia não mais se repetira e agora tinha certeza de que imaginara tudo aquilo devido a seu estado de espírito. Quando viu o advogado debruçado sobre vários papeis que tirara de sua valise, Gina logo sorriu e aproximou-se, oferecendo-lhe a mão direita.

- Como está, sr. Venning? – cumprimentou.

- Oh, minha cara! – O advogado levantou-se e veio a seu encontro, tomando-lhe as mãos entre as suas. – Sinto tanto por seu pai! Ele era um bom homem, sem sombra de dúvida! Vamos sentir muito sua falta!

- É verdade. – Gina procurava disfarçar as lágrimas que lhe tinham vindo aos olhos diante do cumprimento emocionado do velho amigo da família. – É bom revê-lo, sr. Venning. Devem ter-se passado quase oito anos desde que nos vimos pela última vez, não?

- É. E em circunstâncias muito mais alegres, devo dizer. Em seu casamento, para ser mais preciso. Seu marido veio com você?

- Não, não. – Ela apontou para a cadeira em que ele estivera sentado e sentou-se também, a sua frente. – Papai não lhe contou? Draco e eu nos divorciamos há três anos.

- Oh... – Ele pareceu embaraçado. – Sinto muito. Não teria dito nada caso soubesse...

- Não tem importância. – E estava sendo sincera. Detestava admitir, mas, desde que revira Harry, a separação de Draco parecia-lhe ter sido o melhor que lhe pudera ter acontecido...

- Bem, se é assim, minha cara, fico feliz. Não por seu divórcio, é claro, mas por estar bem, quem sabe, com outra pessoa.

- Bem, não, de fato...

O advogado encarou-a, sem saber ao certo o que dizer.

- Não? Está ainda vivendo em Nova York?

- Sim, porque trabalho lá. Mas... o que o traz aqui?

- Ah, sim! – Ele se voltou para os documentos que tinha examinado antes. – Bem, querida, sei que isso deve ser difícil para você, mas quero que saiba que sempre poderá contar comigo para o que precisar.

- Obrigada. – Ela se sentia lisonjeada por alguém ter se deslocado desde Rhosmawr, em tão más condições climáticas, apenas para oferecer-lhe apoio. Mas Venning continuou, fazendo-a reconsiderar o que acabara de pensar:

- Deve saber que recebi um telefonema de sua madrasta ontem, não?

- Não... – admitiu surpresa. – Algum problema?

- Parece que sim, minha querida. E já que ela está presa a sua cama...

- Presa a sua cama? – Ela estranhou ainda mais. – Mas eu não sabia disso! – Procurava lembrar-se de quando fora a última vez em que vira Lilian pela casa; talvez no sábado a noite...

- Bem, de acordo com ela – prosseguiu o advogado -, o médico disse-lhe que seu estado atual se de ao que vem passando nos últimos dias. Talvez ela nem esteja apta a participar do funeral...

- Mas isso não é possível!

- Mas se sua madrasta está prostrada, exausta devido à dor...

- Prostrada devido à dor?! – Gina mal podia crer no que estava ouvindo. Não notara tanto sofrimento assim em Lilian. Muito ao contrário, percebera que, embora os demais mal houvessem tocado o jantar no sábado à noite, ela comera com bastante apetite, parecendo animada.

- Sei que nunca foi, digamos, muito amiga de sua madrasta, Gina – iniciou Venning, deixando-a indignada por perceber que, aos olhos dele, ela era quem se mantinha frontalmente contra Lilian -, mas, diante das circunstâncias, querida...

- Lilian não está de cama – afirmou convicta. – Por que diria tal coisa ao senhor?

- Talvez ela esteja mais afetada pela morte de Arthur do que possa parecer... – O comentário veio desde a porta, e Gina se voltou para ver Harry.

Ele acabara de chegar, e suas botas ainda estavam marcadas de neve. Trazia um agasalho sobre os braços, displicente como sempre e estava com a barba por fazer, como se mal tivesse tempo para si mesmo nos últimos dias.



Continua....


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