Capitulo XVI





- Oh, Harry, o que posso fazer agora? – ouviu-a queixar-se de novo, tirando-o dos pensamentos. Levantou-se da cama e aproximou-se chorosa. – Você precisa me ajudar!

- E como posso fazer isso?

- Não sei, mas faça.

- Lembre-se de que será um choque para Ginaa também. E depois, já que ela vive muito bem em Nova York, o que a faz pensar que vai querer desfazer-se de Penmadoc ou tirá-la daqui?

- Acha que ela...

- Não acho nada, mãe. Quero apenas que perceba que pode ser para seu próprio bem fingir não saber da existência desse testamento. Ginaa não é nenhum monstro e está sofrendo muito também. Pode até vir a ser caridosa...

- Caridosa! Não quero a caridade dela! Esta é minha casa!

- Não, não é. E precisa aceitar isso também. Não vai ser destituída do que tem, mãe. Vai receber apenas o que é seu de direito, nada mais.

- Quarenta mil por ano! Como Arthur pôde imaginar que posso sobreviver com essa esmola?

- Essa quantia é suficiente para qualquer pessoa viver muito bem, mãe. Muita gente sobrevive com muito menos do que isso. Nós sobrevivemos, esqueceu-se?

- Isso foi no passado. Agora é diferente. Não estou acostumada a trabalhar duro e economizar para qualquer coisinha que queira comprar! E você sabe muito bem disso! Achei que você, principalmente, fosse entender tal coisa.

- E entendo, mãe. Como entendo também que você viveu além dos limites durante anos.

Lilian respirou fundo. Pensou por instantes, depois afirmou, decidida:

- Vou contestar esse testamento. É isso que vou fazer!

- Mãe, não pode fazer isso. Em que base agiria?

- Estou no meu direito!

- Não, não está. Qualquer juiz vai achar que quarenta mil por ano são mais do que suficientes para viver!

- Isso seria uma vergonha!

- Sabe, ao certo, quanto dinheiro Arthur deixou?

- Não, não com certeza. Mas sei que há esta casa, e ela deve valer muito. Talvez meio milhão. Havia seguros também.

Harry assentiu. Sabia que não tinha o direito de especular sobre coisas que nem sua mãe fora informada a respeito. Ainda assim, tentou acalmá-la:

- Escute, é melhor esperarmos. Pelo menos, até que o testamento seja lido.

- Mas você estará aqui comigo, não? – Ela mudava de tática agora, tocando-lhe o braço e recostando a cabeça em seu ombro, mostrando-se frágil. – Não sei o que faria se não tivesse você, querido.

Harry não queria parecer rude, mas sentia-se tenso e queria afastar-se dela. Sempre sentira-se assim em relação a sua mãe. Sabia que ela muitas vezes se esquecia completamente de sua existência por meses, até que viesse a precisar de alguma coisa, algo que considerasse uma emergência, para pedir-lhe ajuda como se tivessem um relacionamento normal entre mãe e filho, o que, porém, jamais acontecera.

- Olhe, não podemos fazer nada antes dos funerais – disse ele, na esperança de que Lilian se afastasse. – Por que não vai para seu quarto, troca de roupa e depois conversamos sobre tudo o que precisa ser feito? O que acha?

- Não sei se vou conseguir pensar nessas coisas agora... Fale com Nell. Ela poderá tratar desses assuntos com você, e lhe dirá o que ainda precisa ser feito.

- Acho que não, mãe.

- Você já me chamou assim pelo menos umas dez vezes desde que conversamos por telefone! Sabe muito bem que não gosto!

Harry tornou a assentir.

- Estarei no estúdio, caso queira conversar – disse seco.

- Não, lá, não.

- Na biblioteca, então. – E quando sua mãe já se encaminhava para a porta, decidiu perguntar: - A propósito, onde estava quando Arthur sofreu o ataque?

- Onde eu estava? – Ela parou, a mão na maçaneta, olhando-o sem parecer estar vendo-o. – Como assim? Sabe onde eu estava, eu já lhe disse. Aqui em casa, é claro.

- Mas exatamente onde?

- Em que isso pode importar?

- Quero apenas saber.

- Estava aqui em cima. Deitada. Eu estava muito cansada.

- Por causa das compras?

- O quê? Ah, sim... é claro.

- E não ouviu quando Arthur entrou?

- Não sei... talvez...

- Mas não desceu para ver como ele estava...

- Escute, o que é isto? Está me interrogando ou algo parecido? Acha que já não me torturei o bastante imaginando que, se tivesse descido, poderia tê-lo ajudado de alguma forma? Foi terrível, Harry! Terrível! Jamais quero passar por uma situação daquelas novamente!

Harry hesitava.

- E estava sozinha quando... quando o encontrou? – insistiu.

- Mas é claro que eu estava sozinha! O que mais quer saber? – E, de repente, seus olhos cerraram-se um pouco mais. – O que Nell esteve lhe dizendo?

- O que ela poderia dizer?

Lilian ergueu mais a cabeça, irritada e altiva.

- Espero que use sua mente ágil para achar uma solução para meus problemas ao invés de ficar me interrogando sobre o que não pode mais ser mudado! – declarou fria. – E lembre-se bem de que lado deve ficar!

Ela se foi, batendo a porta atrás de si. Já não havia cuidados para que ninguém a ouvisse. Harry respirou fundo. Era só isso que lhe bastava acontecer: que sua mãe imaginasse que estava contra ela. E sabendo quanto Nell detestava Lilian podia, de fato, dar credibilidade ao que ouvira dela?

Voltou-se mais uma vez para a janela. Nevara antes e parecia que nevaria novamente. Imaginou se as condições do tempo atrasariam os funerais ainda mais e então lembrou-se de que os Weasleys tinham seu próprio mausoléu no antigo cemitério local. Arthur seria colocado lá, para descansar eternamente ao lado de sua primeira esposa. Era estranho pensar nisso agora, mas Harry sabia que as preocupações do padrasto estavam terminadas, enquanto as suas pareciam estar apenas começando...



Continua...

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