Sacerdotisas da Lua
Harry e Lince viajaram a pleno galope por toda a estrada, eles tinham pouco tempo e duas pessoas para avisarem, o reino do pai adotivo de Arthur o Barão de Antor era o mais distante de todos os reinos aliados do rei, mas as Sacerdotisas da Lua ficavam ainda mais distantes, no limiar entre o mundo real e a misteriosa ilha mística de Avalon, os dois estavam se aproximando da metade do caminho quando algo chamou a atenção de Lince, um enorme buraco no meio do caminho.
- Madrinha, é só um buraco. – falou Harry irritado, ele sempre ficava de péssimo humor separado de Gina, principalmente quando não podia nem ao menos entrar na mente dela para saber se ela estava bem, estava muito preocupado com ela, e só sossegaria quando ela estivesse segura novamente em seus braços.
- Harry! – Lince o chamou um pouco alto, já que o afilhado estava tão mergulhado em seus pensamentos por Gina que não a ouvira. – Em primeiro lugar isso não é só um buraco, é uma pegada de um gigante, se estivesse prestando atenção o suficiente teria visto isso rapidamente, e como eu não estou vendo a outra pegada, só posso supor que ele ou ela estava correndo, e sua próxima pegada está muitos metros a frente da estrada, o que quer dizer que temos um gigante indo para o mesmo lugar que nós, e caso você ainda não saiba ou não tenha percebido a Gina é perfeitamente capaz de se defender sozinha, afinal ela recebeu treinamento de mim, Merlin, Shinaya e Atalon, acho que isso faz com que ela tenha autorização de fazer uma viagem sozinha, não acha?
- Desculpe. – pediu Harry envergonhado, vendo Lince montar Ônix e continuar a galopar, eles pareciam um borrão branco e preto pela estrada de tão velozes que estavam. – Eu não consigo não me preocupar com a Gina, mesmo sabendo que ela pode se proteger sozinha às vezes eu me sinto culpado dela ter que fazer isso, se não fosse eu…
- Ela teria lutado na guerra contra Voldemort do mesmo jeito, e seria pior já que se não fosse você ela não teria treinamento suficiente para lutar. – interrompeu Lince, sua voz agora era condescendente. – Harry, você tem que parar de se culpar por coisas que não são sua culpa, as pessoas são responsáveis pelos seus próprios atos, Gina é corajosa demais para ficar em casa sem fazer nada, será que você não entende isso? Você realmente vê Gina ficar parada enquanto Voldemort matava e destruía tudo que ela amava, se ela não te conhecesse?
Harry suspirou fundo, sabia que a madrinha estava certa, ele tinha que parar com a super-proteção, Gina já reclamara muitas vezes com ele sobre isso, e ele realmente não conseguia ver Gina ficar em casa quieta e segura caso nunca o tivesse conhecido, provavelmente se conheceriam no meio da batalha, que poderia ser fatal para ela, pois não via os super-protetores Weasleys treinando Gina.
- É isso mesmo Harry, você está começando a entender, entendo que você se preocupe com Gina, mas você tem que entender que Gina é uma pessoa muito especial e ela é perfeitamente capaz de fazer suas próprias escolhas e arcar com as conseqüências. Ela sabia muito bem o que a estava esperando ao começar a namorar você, ela sabia que correria perigo o tempo todo e ela está disposta a correr esse risco se estiver ao seu lado, ficar se culpando por essa escolha dela é diminuir o que ela escolheu. – Lince falava calmamente, queria fazer Harry entender de uma vez por todas que ele não era o culpado por tudo de ruim que acontecia no mundo.
Fire e Ônix tiveram uma viagem dura, eles mal paravam para se alimentarem e já começavam a galopar novamente, Harry e Lince sabiam que estavam forçando muito seus cavalos, mas não podiam fazer nada, a medida que voavam pela estrada (a velocidade que eles estavam parecia realmente que estavam voando e não galopando) mais e mais pegadas eles encontravam, perceberam que agora eram dois gigantes que estavam se encaminhando para o lar do Barão de Antor, eles fizeram o que faltava do caminho em tempo recorde.
Quando puderam avistar o castelo do Barão não puderam evitar, pararam de galopar imediatamente, dois gigantes com enormes clavas na mão estavam destruindo os muros do castelo, Harry e Lince se olharam e foram a pleno galope ajudar os guardas que tentavam deter os gigantes com arcos e flechas e espadas, os que estavam no chão tentando matar os gigantes com espadas estavam sendo pisoteados sem piedade, e os guardas com arcos e flechas não conseguiam fazer nada, a pele dos gigantes era dura demais.
- Porque as flechas estão ricocheteando? Os centauros conseguiram acertar o Grope com flechas uma vez. – gritou Harry em meio à corrida desesperada para chegar a tempo de ajudar aquelas pessoas.
- Os centauros têm sua própria magia! Eles provavelmente a usaram em suas flechas para que elas ultrapassassem a pele do Grope, se fossem flechas normais eles nem o arranhariam. – respondeu Lince em pensamento, era mais fácil que gritar.
Quando os dois estavam próximos de um dos gigantes eles sacaram as espadas e começaram a atacar as pernas do gigante, que uivou de dor e tentou os acertar com a clava ao mesmo tempo em que os tentava pisotear, a sorte dos dois bruxos era que Fire e Ônix eram muito rápidos e desviavam rapidamente dos ataques do gigante, Lince preparou-se para projetar sua espada na cabeça do gigante, mas para isso precisava de um pouco de espaço, por isso galopou para longe, enquanto o gigante uivava feliz achando que ela fugira, o outro gigante já vinha em direção do outro para ajudá-lo, Lince chegou a uma boa distancia de onde a luta estava e lançou o feitiço sobre sua espada, ela foi parar na cabeça do primeiro gigante, o outro ficou furioso quando viu o outro tombar morto e esquecendo Harry correu até Lince, que estava agora desarmada, ela ficou desviando do gigante até Harry usar o mesmo feitiço derrotando-o.
Os guardas que estavam olhando a batalha gritavam em triunfo, mal acreditando que apenas duas pessoas ganharam dos gigantes, mesmo que essas duas pessoas fossem bruxos, era um feito incrível.
- De uma coisa temos certeza, nossa chegada não podia ser menos discreta. – afirmou Lince observando a festa dos guardas, ela e Harry se mantinham um pouco afastados do castelo, tentando definir o que fazer.
- Concordo, mas não adianta nada ficarmos aqui, vamos logo. – Harry e Lince tinham optado por usar as capas do avesso assim como Gina e Hermione, mas agora isso já não era necessário, sendo assim eles viraram as capas para deixar a mostra a marca da Armada de Merlin.
Lince tinha adotado um estilo de roupa mais discreto do que o que ela chegou, ela estava usando uma saia longa e vermelha e uma blusa branca de manga comprida, ainda era indecente para aquela época, mas era melhor do que calças e blusas de couro super apertadas.
Talvez pelo cabelo de Lince estar trançado e ela estar com uma capa cobrindo parcialmente as roupas, os soldados não tinham percebido que ela era uma mulher, mas assim que se aproximou todos os gritos de obrigado e de alegria cessaram e todos olharam espantados para os dois, pois Harry também era um bruxo e era da Armada de Merlin, agora eles já estavam próximos o suficiente para os guardas verem as capas, o que já era suficiente para todos os encararem com respeito e temor, somente os bruxos mais poderosos existentes já fizeram parte dos guerreiros de Merlin. No meio do caminho até a entrada do castelo, ambos recuperaram suas espadas, que estavam sendo admiradas por todos os soldados, elas eram magníficas, Lince estava orgulhosa, já que as espadas tinham pertencido a sua família, é claro que nenhuma das espadas que os seis usavam já havia pertencido a algum membro do clã Cresswel daquela época, as espadas que eles usavam só começaram a ser forjadas a partir da época dos fundadores de Hogwarts.
- Obrigado! – eles ouviram um grito de mulher vindo da multidão, mas não puderam identificar de quem era, aquilo pareceu acordar todos do estupor de surpresa, isso foi o suficiente para que os gritos de agradecimento e alegria voltassem, e até mesmo algumas crianças trouxeram flores que tinham arrancado do meio da praça central do castelo e lhes davam, Lince sorriu radiante, era a primeira vez desde que estavam ali no passado, que ela era tão bem aceita, todos na corte do rei Arthur pareciam mais propensos a vê-los mortos e ficarem felizes, do que em agradecer por eles terem vindo do futuro para ajuda-los.
Ao chegarem à porta de entrada do castelo eles encontraram um velho de barba branca e cerrada os esperando, era o Barão de Antor, seus olhos eram de um azul-céu claro e brilhante de lágrimas de alegria, ele mal esperou Harry e Lince desmontarem e foi ao encontro deles de braços abertos.
- Muito obrigado por ajudarem. – o Barão falou emocionado, Harry e Lince se olharam, eles não esperavam nada mais do que um obrigado, não sabiam que o Barão ficaria tão emocionado. – Meu filho Key estava entre os homens que tentavam derrotar os gigantes, e eu sei que ele estaria morto agora se não fossem vocês, por isso eu agradecerei eternamente a vocês pelo que fizeram a mim e ao meu reino, afinal agora eu provavelmente não teria mais reino se não tivessem aparecido.
- Foi para isso que viemos para cá. – falou Lince sorrindo. – Viemos para ajudar o Rei e seus aliados a derrotar Malagaunt e seus seguidores.
Depois dessa chegada nada discreta como falou Lince, Harry e ela entregaram para o Barão de Antor a carta de Merlin e explicaram rapidamente como Malagaunt estava próximo de guerrear com Arthur, o Barão prometeu que iria reunir seu exercito o mais rápido possível, mas que isso levaria tempo, como estava muito longe de Camelot ele muitas vezes levava meses para saber de qualquer coisa que acontecia por lá, por isso não tinha começado ainda a reunir seu exército.
Foi quando Harry e Lince aceitaram depois de muita insistência do Barão ficar para o almoço, que os dois souberam do porque Lince ser tão bem aceita por todos, é que a esposa de Key era uma sacerdotisa elemental, amada por todos que ali trabalhavam e moravam, isso fazia com que a corte do Barão de Antor fosse uma das mais receptivas aos bruxos e magia em geral.
Harry e Lince não ficaram muito tempo na corte, eles ainda tinham que falar com Morgana, ao falar para onde estavam indo todos que vieram se despedir dos dois (quase todos do castelo), se entreolharam preocupados, mas Harry e Lince estavam com pressa demais para entrar na mente deles para descobrir porque todo mundo não gostava de Morgana.
Cavalgaram ainda por mais alguns dias quando chegaram à morada das Sacerdotisas da Lua, decididamente aquilo era estranho, havia uma árvore enorme no meio da casa, até se poderia pensar que era uma casa na árvore, mas era uma construção que vinha desde as raízes das árvores até o seu topo, com certeza era uma árvore centenária, pois era enorme, a casa se aclopava a ela com perfeição, parecendo ter nascido junto com a árvore em vez de construída ao redor dela.
Lince e Harry se entreolharam e desmontaram deixando Fire e Ônix pastarem livres pela grama que havia em volta da árvore/casa, os dois sentiam uma quantidade gigantesca de magia vinda lá de dentro, e sentiam que estavam sendo vigiados por inúmeros olhos invisíveis, eles foram andando devagar e tensos até a entrada da casa.
A porta era imponente por si só, de madeira nobre, era clara e tinha detalhes que não poderiam ser feitos a não ser por magia, mas havia algo a mais nela, em cada folha da porta havia um desenho de uma pessoa, claramente uma mulher com capa e capuz cobrindo parcialmente seu rosto, ela parecia meditar em pé, as figuras apesar de entalhadas na madeira, pareciam pessoas de verdade que os observavam em silencio e imponência, os dois olharam para os lados, mas não havia maçaneta e nem nada em que pudessem bater para poder entrar, Lince achou uma escritura no portal da porta, era um dialeto antigo, mas parecido o suficiente com latim para poderem entender, nele havia uma pequena charada, e eles poderiam entrar apenas se conseguissem desvenda-la.
- “A natureza é sábia e poderosa, se atacar ela contra atacará com força multiplicada em cem, por isso forasteiro descubra como entrar sem abrir as portas e terá nossa atenção”. – leu Lince pela quinta vez, ela andava de um lado para o outro, tentando entender o que aquilo significava, enquanto Harry estava sentado na grama em silencio, ele não era nada bom em enigmas e deixou ao encargo de Lince resolver aquele.
- Se fosse um trouxa provavelmente o resultado seria entrar pela janela. – falou Harry que estava entediado.
- Mas como somos bruxos e a quantidade de magia que emana deste lugar é surpreendente a resposta tem que ser bruxa. – falou Lince olhando atentamente para a porta. – Eu poderia acreditar que seria voar e entrar pelo teto, mas duvido que seja assim tão fácil, acho que a resposta é atravessar a porta.
- Atravessar a porta? – perguntou Harry confuso, Lince passava a mão perto da porta sem encostar nela, parecia com o professor Dumbledore na caverna de Voldemort.
- Existe magia vindo dela e acho que a resposta é essa, “a natureza e sábia e poderosa, se atacar ela contra atacará com força multiplicada em cem”, isso quer disse que se a gente atacar a porta o feitiço voltará multiplicado em cem, e como entrar em um lugar completamente fechado sem abrir a porta se não atravessá-la? – explicou Lince.
- E que feitiço vamos usar? – perguntou Harry agora convencido.
- Nenhum. – respondeu Lince sorrindo perante a cara de espanto do afilhado. – Esse também é um teste de coragem.
Mesmo temendo o que ia acontecer Harry decidiu seguir a madrinha, afinal ele tinha total confiança nela, juntos os dois atravessaram as portas e logo estavam dentro da casa, havia uma escada larga e imponente do outro lado do salão, no topo da escada havia um corredor que seguia para a direita e outro para a esquerda, o salão não era mobiliado e não havia nada nele, o silêncio ali era total, os dois podiam até ouvir suas respirações, eles ouviram passos vindo do corredor direito da escada, uma pessoa se aproximava.
Do topo da escada surgiu uma mulher vestida de cinza, sua roupa era parecida com as vestes de bruxo, com a diferença que possuía um capuz, que estava abaixado, era uma mulher de aproximadamente trinta anos, de cabelos loiros e cacheados, seus olhos eram negros como a noite, pareciam com os de Anny, no rosto ela não demonstrava nenhum sentimento, ela era impassível. Não do tipo de pessoa que não se interessa por nada e fica impassível ao que acontece à sua volta, ao contrário ela parecia bastante curiosa, os olhos dela nunca deixaram de se mover entre Harry e Lince, mas ela não demonstrava nenhum sentimento em seu rosto, era como se estivesse desde sempre acostumada em reprimir seus sentimentos, controlá-los e manipulá-los a ponto de nunca serem expressos em seu rosto.
- É um prazer conhecê-los, principalmente você Lince. – falou a mulher, sua voz também não tinha qualquer inflexão. – Morgana os espera, meu nome é Melane, me acompanhem, por favor.
Lince e Harry se entreolharam, como é que elas sabiam seus nomes? Merlin lhes dissera que as Sacerdotisas da Lua eram clarividentes poderosas, mas eles não esperavam que pudessem prever a chegada deles, e o fato de Morgana ter alguém como Melane entre as pessoas que a serviam, se é que Melane servia Morgana, o que era de se duvidar, deixavam-nos extremamente apreensivos, mas eles também podiam disfarçar facilmente seus sentimentos, e também podiam impedir Melane de entrar em suas mentes, coisa que ela tentava fazer desde que eles entraram, Merlin havia dito que as Sacerdotisas da Lua foram às pioneiras em legilimência, eram peritas nisso, apesar de não chamarem esse dom de legilimência, para elas era apenas mais um dom que a Grande Deusa lhes havia dado, já a oclumência não existia nem mesmo de forma rudimentar naquela época, a menos que se comparasse o fato da Armada de Merlin fechar a mente uns para os outros com oclumência.
- Senhora. – falou Melane para uma porta idêntica a da entrada, essas portas se abriram sem que alguém as tocasse, Melane ficou de lado e fez sinal para que eles entrassem.
Harry e Lince entraram receosos e viram uma mulher de costas para eles olhando por uma janela para a floresta, que vista dali parecia um imenso jardim. A porta se fechou atrás deles. A mulher era de estatura média, mais baixa que Harry ou Lince, tinha cabelos castanhos claros, cacheados e longos, ela vestia uma manta cinza com capuz assim como Melane, quando se virou, Lince e Harry perceberam que ela tinha o rosto como que esculpido em pedra, mais inflexível ainda que Melane, nem mesmo seus olhos chocolate claro demonstravam algo, seus olhos pareciam mortos, duas fendas para um buraco sem fundo.
- Estava à espera de vocês há muito tempo. – a mulher falou, sua pele era branca como porcelana, a única coisa que a diferenciava (nas vestes) de Melane era que ela tinha um pequeno broche de cabelo preso no lado esquerdo de seu rosto, prendendo seus cachos um pouco de lado. – Creio que vocês têm uma carta para mim.
Lince se adiantou e entregou a carta para Morgana, sim àquela altura eles já puderam deduzir que aquela mulher misteriosa e sombria era Morgana, a Dama do Lago.
Morgana leu a carta sem demonstrar surpresa, parecia que sabia tudo que estava escrito ali, Morgana os observou por algum tempo sem demonstrar que tipo de conclusões tinha tirado de sua observação e mostrou três cadeiras de mogno que estavam perto de uma lareira, mas como era verão a lareira estava apagada. Os três se sentaram e Morgana voltou a falar.
- Então meu irmão pede minha ajuda contra esse mago chamado Malagaunt. – a voz de Morgana era tão estranha quanto seus modos, era baixa, mas capaz de ecoar no meio de uma batalha, falava tão serenamente que as vezes dava a impressão que ela cantava em vez de falar.
- Sim, Malagaunt está reunindo um grande exército de bruxos e soldados para destruir Camelot. – falou Harry seriamente.
- Meu irmão deve estar mesmo precisando de ajuda, para ser capaz de pedir minha ajuda. Aqueles nobres idiotas não devem ter gostado muito disso. – comentou Morgana, um leve tom de sarcasmo pontuou sua voz, seria imperceptível se uma pessoa normal tivesse falado, mas como nenhuma emoção era expressada por ela, qualquer coisa que passava pela sua mascara era facilmente percebida.
- Porque todos parecem odiá-la? – perguntou Lince direta, Morgana a olhou por um tempo e se permitiu um leve sorriso de canto.
- Ainda não percebeu que as pessoas tendem a ter medo do desconhecido? – perguntou Morgana.
- Vocês são diferentes de tudo que eu já tinha visto em toda minha vida, e isso é alguma coisa, já que eu vi muita coisa estranha por meus longos anos. – falou Lince. – Mas não é só por serem diferentes que todos não gostam de você, nós também somos diferentes e mesmo assim não somos tão odiados assim.
- O que Merlin já falou a vocês sobre as Sacerdotisas da Lua? – perguntou Morgana, sua voz novamente sem tom.
- Que vocês são clarividentes incríveis, sabem usar legilimência, o ato de entrar na mente das pessoas, no nosso tempo é chamado assim. – explicou Lince mesmo que Morgana não demonstrasse nenhum sinal de que não tinha entendido.
- Então não foi muita coisa. Nós Sacerdotisas temos magia de um jeito mais rudimentar que vocês bruxos, mas em níveis bem mais altos… - Morgana ponderou por uns instantes e acrescentou. – Bem, vocês do Sexteto da Morte, quase chegaram ao nosso nível de magia, mas a maioria dos bruxos não conseguiria nem nos arranhar.
- Como assim rudimentar? – perguntou Lince interessada, Harry permanecia em silêncio, algo lhe dizia que as Sacerdotisas da Lua eram tão feministas quanto as Elementais, então era mais viável deixar uma mulher falar com elas, principalmente se essa mulher fosse sua madrinha.
- Nós não precisamos nos concentrar em feitiços, basta pensar no que queremos, o que nos trás mais problemas do que qualquer outra coisa. – respondeu Morgana.
- Como…? – começou Harry.
- Se tudo que elas pensam é, na falta de uma palavra melhor, convertido em feitiços, se elas ficarem com raiva, por exemplo, podem matar uma pessoa. – explicou Lince, entendendo rapidamente o problema da situação, Morgana arregalou um pouco os olhos demonstrando sua surpresa.
- Você é a primeira pessoa que entende tão facilmente o nosso problema. – falou Morgana, ainda um pouco surpresa, mas novamente voltando a ser a impassível Sacerdotisa da Lua.
- E é por isso que vocês dificilmente demonstram emoção no rosto. – deduziu Harry, abismado com os problemas que elas tinham que enfrentar. – Pois são obrigadas a aprender a controlar suas emoções com mão de ferro, se não as pessoas podem ser mortas, transformadas em coisas nojentas, tão rápido como um piscar de olhos.
Morgana concordou com a cabeça, mesmo que tentasse não demonstrar o quão surpresa estava por eles terem entendido tão rápido seus problemas, estava óbvio em seu rosto normalmente impassível, as pessoas normalmente se concentravam em seus medos para se importar com o que elas eram obrigadas a passar, aqueles dois em sua frente eram pessoas bem diferentes.
- Você irá ajudar Arthur? – perguntou Lince, voltando ao assunto principal.
- Sim, a Grande Deusa assim o deseja. – falou Morgana, vendo a careta questionadora deles, ela novamente sorriu, era um recorde, de todas as Sacerdotisas ela era sempre a mais contida, e era exatamente por isso e por ser a mais poderosa delas que ela era a líder, somente ela poderia deter os poderes de outra Sacerdotisa quando ela perdia o controle.
- Como os poderes de uma Sacerdotisa se manifesta? – perguntou Lince curiosa.
- É espontâneo, demora muito mais do que de um bruxo, normalmente acontece na adolescência, mas existem casos, bem raros como o meu, que os poderes se desenvolvem quando ainda são crianças. – Harry e Lince ficaram surpresos com essa, imagine uma criança com um poder desses? – Existem casos mais raros ainda, aconteceu apenas uma vez, uma mulher com cinqüenta anos desenvolveu os poderes de repente, ela destruiu toda sua casa, por sorte apenas ela estava lá, seu marido e filhos tinham ido para a corte vender animais, nós Sacerdotisas já treinadas conseguimos na maioria das vezes chegar a tempo de impedir catástrofes, mas nem sempre é possível, eu mesma estava muito longe da Sacerdotisa mais próxima, a Dama do Lago da época tinha ido a corte de Pendragão quando meus poderes se mostraram pela primeira vez, meu pai o Duque de Tintangel estava tentando me bater porque eu tinha o interrompido, enquanto ele falava com um nobre, na época eu não sabia que era Vertigeiro, minha mãe Igraine interferiu e começou a ser espancada no meu lugar, meu pai não sobreviveu aos ferimentos que eu causei a ele, e nem mesmo o castelo teria sobrevivido se minha mãe não fosse uma ex-sacerdotisa da Lua, ela conseguiu me deter, para sorte de todos, a Dama do Lago da época me trouxe para cá quando eu tinha apenas dez anos e desde então vivo aqui.
- Se sua mãe já tinha sido uma Sacerdotisa da Lua, porque ela não previu o que ia acontecer? – perguntou Lince, sua curiosidade não parecia incomodar Morgana.
- Minha mãe tinha desistido de ser Sacerdotisa da Lua quando se casou com o Duque, mesmo não sendo por amor, ela tentou fazer o casamento por conveniência dela dar certo, mas não adiantou muito seus esforços. – Morgana falou como se estivesse vendo tudo a sua frente, como se estivesse a anos no passado revendo todas as cenas de sua infância. – Só existe um jeito de uma Sacerdotisa desistir de ser uma, aprendendo a ser bruxa, quando alguém como eu, aprende feitiços como vocês bruxos os usam, nossos poderes regridem, mesmo que ainda assim sejamos mais poderosas que a maioria dos bruxos, grande parte dos nossos poderes se perde, mas em compensação podemos viver um pouco mais normalmente, muitas preferem isso a ser ilimitadamente poderosa e ao mesmo tempo ilimitadamente perigosa.
- Este tipo de dom só se desenvolve em mulheres? – perguntou Harry desconfortável, será que os homens não tinham o direito de serem poderosos também?
- Não, nossos poderes estão muito ligados à lua e a lua é uma entidade unicamente feminina. – explicou Morgana divertida com a careta de desgosto de Harry. – Homens não têm, como posso dizer, fases como nós mulheres.
- Precisamos ir. – falou Lince também rindo da cara de Harry. – Temos um longo caminho de volta.
- Nos encontraremos novamente na corte, não os chamarei para ficarem aqui, pois é proibido. – falou Morgana como que se desculpando.
- Não se preocupe já nos acostumamos à viagem. – falou Lince se despedindo de Morgana com um aceno e indo se juntar a Harry que já se despedira e tinha ido para fora.
Algumas horas depois de Harry e Lince terem partido Morgana novamente foi incomodada por viajantes, ela tinha ido para seu quarto que ficava do lado direito do corredor acima da escada, ela ouviu um grito vindo da sala, parecia que alguém estava ordenando algo a uma de suas sacerdotisas, andando até o topo das escadas sem fazer qualquer som, esse era também um dos motivos de não gostarem das Sacerdotisas, elas nunca faziam barulho ao andarem.
- Eu exijo falar com Morgana! – gritava um homem baixo e musculoso todo vestido de branco, Morgana sabia quem era aquele homem, Malagaunt então viera finalmente até ela.
- Exige? – falou Morgana, sua voz baixa que ecoa em batalhas ecoou por toda a sala, Malagaunt ficou instantaneamente apreensivo e olhou para cima, Morgana ainda estava no alto das escadas, ela começou a descê-las com toda a altivez que a líder das Sacerdotisas da Lua teria que ter. – Você entra em minha casa sem ser convidado, e ainda exige algo? Então me deixe avisá-lo desde já Malagaunt, as Sacerdotisas da Lua não se curvam a ninguém, entendeu?
Malagaunt engoliu em seco, Morgana parecia fria demais para ser uma mulher, ele estava encantado com a beleza de Morgana e também impressionado com sua altivez, ela era o tipo de mulher que ele sabia, não poderia pisar jamais.
- Desculpe minha senhora… - começou Malagaunt, mas foi interrompido por Morgana.
- Eu não sou sua e muito menos senhora.
Malagaunt ficou impressionado, Morgana o desafiava abertamente, quando nem mesmo muitos homens ousavam fazê-lo.
- Creio que veio aqui em busca de ajuda na sua luta. – não era uma pergunta, Morgana deixou claro que não gostava de enrrolação.
- Na verdade atrás de uma espiã. – falou Malagaunt em tom conspiratório. – Tenho meus espiões na corte e eles me disseram que todos lá a odeiam, que até mesmo seu irmão não gosta de você, essa é a sua chance de se vingar, junte-se a mim e será altamente recompensada…
- Nada do que vier de você será de alguma forma uma recompensa para mim. – cortou Morgana enojada com as imagens dela mesma sendo beijada por Malagaunt que vinham da mente deste. Se não fosse por seu treinamento como Sacerdotisa, Malagaunt já teria percebido que ela não estava propensa a aceitar nenhuma aliança com ele.
- Nem mesmo a liberdade de suas Sacerdotisas, ou quem sabe a vingança contra todos aqueles que sempre a trataram mal? – perguntou Malagaunt, aquela era sua ultima cartada, apelar para os sentimentos de vingança da mulher imponente à sua frente.
Morgana o encarou por longos instantes vendo tudo o que Malagaunt já tinha sentido e percebendo que grande parte ela também já tinha sentido, o ultraje pelo modo preconceituoso das pessoas sobre si, o abandono daqueles que deveriam amá-la, a vida difícil que teve, e tomou uma decisão.
- Pode contar comigo, mas eu irei procurá-lo, quando eu quiser, e não ouse mandar seus espiões me espionarem, ou terá espiões a menos para lidar. – advertiu Morgana.
Malagaunt sorriu satisfeito, tinha conseguido uma aliada poderosa, e quem sabe uma rainha a sua altura…
Laurenita: se você gostou das cenas do outro, vai amar as desse, são um pouco mais sombrias, mas eu as adoro, beijo e obrigada por comentar.
Mat: você vai gostar desse capítulo, ele saiu muito maior do que normalmente sai, e que bom que você não ficou com raiva de eu não poder te mandar a fic para você betar, beijo.
Gian: muito obrigada mesmo, eu me esforço muito par escrever algo bom para vocês, e é muito importante para mim saber como estou me saindo, para o caso de não me sair muito bem em algum capítulo poder melhorar no próximo ou reformular o que não saiu bom, beijo.
Pedro: kkkkkkkkk, fico feliz em saber que gosta do que eu escrevo, ainda mais por você continuar a comentar, não sabe como os comentários dos leitores são importantes para nós escritores, eu me sinto com vontade renovada para escrever sempre que alguém demonstra que gosta do que eu escrevo, por isso obrigada por comentar, beijo.
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