Despertar
Eu me sentia muito confusa. Tudo parecia girar mesmo eu estando de olhos fechados, estava tão tonta que não conseguia abrir os olhos, tentei me concentrar mais para ouvir os zumbidos a minha volta, eu sabia que eram pessoas conversando, mas por um tempo que eu não sei quanto foi, eu não consegui entender nada do que falavam, mas aos poucos comecei a distinguir o que diziam, haviam dois homens e eles estavam discutindo alguma coisa sobre cortar um cabelo, o porque de alguém discutir sobre um assunto desses era impossível para mim compreender no memento.
- Ela está a uma semana lutando contra os demônios. – falou uma voz de homem, era meio enrouquecido, como se o homem que falasse fosse velho, quem será que estava lutando contra demônios? Eu tinha entendido direito?
- E está se saindo muito bem, o senhor não cortará o cabelo dela. – protestou uma outra voz, era forte e jovem, o que indicava que era um homem jovem quem falava agora.
- Temos que fazer de tudo para ajudá-la a passar por essa provação e cortar os cabelos dela ajudará. – o velho falou, foi aí que eu me lembrei.
Naqueles tempos eles acreditavam que quando a pessoa ficava com febre era porque estava sendo tentada pelo demônio, que a alma da pessoa estava no inferno e por isso seu corpo queimava. E um dos “remédios” deles, era cortar os cabelos da pessoa que estivesse febril, eles acreditavam que o cabelo era uma espécie de condutor, pois ao cortá-lo fazia com que o caminho até o inferno fosse cortado e a alma voltaria.
Sinceramente aquilo era ridículo demais, se eu não estivesse tão mal eu estaria rindo feito uma demente, eu até podia sentir um sorriso aparecendo em meu rosto, mas eu percebi uma coisa que tinha me escapado, eu estava doente, e eu não podia sentir mais ninguém naquele quarto, havia apenas duas respirações fora a minha, o que queria dizer que era o meu cabelo que eles queriam cortar… definitivamente perderam o medo do perigo.
Eu senti alguma coisa se aproximando, pelo deslocamento de ar era um braço que se aproximava, a discussão havia cessado e mesmo não tendo prestado atenção no final eu sabia que o velho tinha ganhado a briga e se aproximava para cortar meu cabelo.
Com um enorme esforço da minha parte eu consegui movimentar o braço segurando firmemente o pulso do homem que tentava se aproximar com a tesoura, com mais um esforço sobre-humano eu abri os olhos e o olhei meio decidida, meio raivosa, o homem velho era um padre, o outro parecia um nobre, os dois me olhavam espantados, eu fixei meu olhar na tesoura e depois no padre, ele fez sinal negativo com a cabeça e suspirou fundo como se tivesse perdido uma discussão, colocou a tesoura em um criado mudo e ficou me olhando, melhor assim, eu fechei os olhos, exausta pelo esforço e acabei dormindo novamente.
Quando acordei estava ainda um pouco tonta, mas muito melhor, abri os olhos e olhei ao meu redor, estava em um quarto amplo e circular, as paredes eram de pedra, o que indicava que eu estava em um castelo, a cama era enorme e antiga, bem… pra mim era antiga, pois tinha dossel e tudo, mas para aquela época era bem comum aquele tipo de cama, comum para a nobreza claro, tinha um guarda-roupa de proporções gigantescas encostado à direita da cama, à esquerda tinha uma penteadeira também maior do que de costume, todos os móveis (inclusive o criado mudo que eu tinha notado da primeira vez que acordei) tinha sido talhado em madeira escura.
Segurei-me na cabeceira da cama e me levantei devagar, tomando cuidado para não cair, apesar de melhor eu ainda estava tonta o suficiente para não ter muita coordenação motora, respirando fundo, devagar eu fui saindo do quarto, sempre escorando nas paredes para não cair, odiava me sentir fraca, mas já que não tinha outra solução…
Cheguei à porta sem problemas e sai por ela, não havia ninguém à vista no corredor, olhei para uma das janelas e pela luminosidade deduzi que era mais ou menos onze horas, horário que normalmente começava-se a servir o almoço, pelo menos na corte de Arthur era assim, andei devagar pelo corredor, minha mão nunca deixando a parede, duas pessoas (servos pelas roupas) vinham caminhando até mim, o homem e a mulher me olharam assustados e se encolheram na parede oposta a que eu me segurava, o que foi que eu fiz? Será que usei magia involuntária? Não. Se tivesse, eu estaria morta agora, não é todo mundo que aceita facilmente uma bruxa.
Ignorando os dois eu continuei a caminhar devagar para onde eu esperava que fosse a saída, encontrei uma escada e aquilo me deixou meio irritada, se eu estava andando devagar num corredor teria que descer aquela escada como se fosse uma lesma, mas pelo menos eu sabia que estava indo na direção certa, pois começaram a chegar a mim zumbidos que indicavam que várias pessoas conversavam ao mesmo tempo, estava indo em direção a salão principal, e logo depois do salão devia estar à saída, como em qualquer outro castelo.
Quando entrei pela porta que dava para o salão principal as conversas cessaram e todos me olharam assustados, depois do choque um turbilhão de vozes atingiu meus ouvidos, era impossível entender alguma coisa naquela balburdia, fechei os olhos e respirei profundamente, a tontura passou, mas havia ainda um zumbido insistente na minha cabeça.
- Por favor, silêncio! – gritou alguém, todos se calaram, eu olhei e vi que quem falara devia ser o nobre dono do castelo, ao menos era o mais bem vestido e também tinha autoridade, ninguém ousaria pedir para que um nobre se calasse à não ser o dono do castelo. – Ela acaba de acordar depois de um longo tempo lutando contra o demônio, acham mesmo que ela conseguiria prestar atenção no que estava vestindo?
Todos pareciam envergonhados e me olharam como se me pedissem desculpas, eu me senti muito confusa pelas palavras dele, eu atribuía à parte de “lutando contra o demônio” ao fato de eu ter tido febre, mas o fato dele ter falado que eu não tinha prestado atenção na minha roupa me era totalmente estranho, afinal enquanto andava eu podia sentia o tecido de um vestido roçar o meu pé, eu olhei para baixo para ver se o vestido era transparente ou alguma coisa assim, o vestido na verdade era uma camisola, mas não uma camisola comum, era larga demais, ficaria larga para a Sra. Weasley! O tecido era grosso, provavelmente linho, a coisa que chamavam de camisola era fechada até o pescoço e para piorar tinha gola alta, as mangas eram compridas e muito largas também, eram da largura dos punhos de Hagrid, e eu não estava exagerando. Eu estava mais bem vestida do que em qualquer época da minha vida!
Sinceramente eu nunca vou entender aquele povo, olhei confusa para todos e o homem que eu achava que era o dono do castelo veio sorrindo até mim e me estendeu sua capa, mesmo achando aquilo um exagero eu a peguei e a coloquei em torno de mim, ele me deu um sorriso luminoso do qual eu não gostei, era o tipo de sorriso que um homem dava quando estava interessado, ele fez um gesto com a mão para que eu fosse até a mesa me juntar aos outros e eu fiquei mais incomodada ainda, aquele cara ainda ia me dar trabalho.
Sem ter muita escolha eu me soltei da parede e por sorte consegui me manter de pé, andei muito devagar, pois minha cabeça parecia que pesava uma tonelada, e manter o equilíbrio estava complicado, mas eu consegui chegar a mesa sem tropeçar, o que já era alguma coisa, sentei na cadeira que o homem me indicou e só depois percebi que ficava a direita de onde ele estava sentado, praguejei mentalmente, era exatamente onde eu estava sentada que a esposa dele deveria se sentar, isso se ele tivesse uma, o que devido ao fato de eu estar ali, indicava que ele obviamente não tinha.
Um silêncio incomodo tomou a mesa, todos me encaravam, alguns com desconfiança, outros com sorrisos indulgentes. Ignorei isso e peguei o copo de vinho a minha frente, um criado havia acabado de servi-lo, quando ia beber (esquecendo momentaneamente que de acordo com a etiqueta não se deve beber ou comer nada antes que o anfitrião tome a iniciativa), com o copo já na minha boca senti um cheiro que destoava do cheiro de um vinho normal, alguma coisa havia sido misturada à bebida.
O vinho para mim tinha um cheiro especial, eu não gostava de bebidas alcoólicas e muito menos trouxas, mas o vinho era uma exceção, amava o cheiro que ele tinha, talvez por isso eu fui capaz de perceber que tinha alguma coisa errada, o cheiro do vinho estava mais leve, quase como se tivessem misturado água nele, mas também estava menos adocicado.
- Me empresta seu copo? – perguntei ao homem que me deu a capa, minha voz saiu meio rouca, e ele me olhou como se não tivesse entendido a minha pergunta. – O copo. – minha voz saiu exigente.
O homem me entregou o copo dele e eu o cheirei, identifiquei a mesma sutil diferença, do meu lado direito estava sentada uma moça que me olhava aterrorizada, como se eu fosse louca, ignorando-a eu peguei o copo dela também o cheirando, estava igualmente envenenado, sim o cheiro indicava apenas que havia alguma coisa estranha com o vinho, mas eu tinha muita experiência com venenos para saber o significado da mudança no cheiro, na época que estive na África eu fui quase envenenada por tantas vezes que perdi a conta, era comum os bruxos contra quem lutava usarem venenos trouxas para matar seus adversários, era bem inteligente, já que os bruxos têm muito pouco conhecimento do mundo trouxa.
- Bem. – falei calmamente olhando para o homem à minha esquerda. – A boa notícia (pelo menos para mim) é que vocês não estão tentando me envenenar, a má notícia é que estão tentando envenenar a todo mundo.
Todos me olharam como se eu tivesse perdido a razão, aquilo estava começando a me irritar, respirando fundo para me manter calma eu me virei para trás, onde o servo responsável por servir a bebida estava petrificado de medo.
- Me diz você foi chantageado ou fez isso por dinheiro? – perguntei tentando entrar na sua mente, ele desviou o olhar e correu em direção à porta, foi impedido pelos guardas e arrastado de volta para perto da mesa.
- Seu traidor! – gritou o homem do meu lado, me fazendo tapar um dos ouvidos, o homem levantou-se e suspendeu a espada acima da cabeça, e eu soube que ele pretendia matar o homem sem obter informações, era tão típico, bufando eu me coloquei na frente do homem que estava de joelhos sendo segurado pelos guardas. – Saia daí! Eu vou matar esse traidor.
Como se eu fosse obedecê-lo, o ignorei me virando para o homem que chorava compulsivamente, chantageado, conclui. Com toda a certeza nenhum homem culpado chorava tanto assim, não naquela época em que todos se regiam pela honra e chorar não era coisa de homem.
- Quem chantageou você? – perguntei, minha voz era calma, deixei que um pouco de compaixão também aparecesse.
- Se eu falar ele me mata. – falou o homem entre soluços, bem… considerando que ele ia morrer de qualquer jeito, pois eu duvidava muito que poupassem a vida daquele pobre homem, isso me levou a crer que tinha alguma coisa por trás disso, ou ele temia ser torturado antes de morrer ou talvez… nessa época existiam votos perpétuos? – Olhe para mim. – Pedi, usando o tom mais calmo que pude naquele momento, o homem me olhou com olhos angustiados. – Você tem medo de ser torturado caso fale alguma coisa? Responda sim ou não.
O homem balançou a cabeça que não, agora eu tinha que ser cautelosa. Se fosse um voto perpétuo mesmo, o homem corria mais risco de vida do que o atual.
- Você foi obrigado a fazer algum pacto? – perguntei o homem balançou a cabeça que não, então não era voto perpétuo, o que mais poderia ser? Foi aí que caiu a ficha. – Pegaram a sua família?
O homem arregalou os olhos assustado, eu tinha adivinhado o motivo, agora tinha que descobrir o resto.
- Me conte o que aconteceu e eu juro que tanto você quanto a sua família ficarão a salvo. – afirmei convicta. – Malagaunt não saberá que você contou, não até que seja tarde para ele fazer algo contra sua família.
O homem arfou de surpresa, novamente eu tinha acertado, Malagaunt era o culpado, até que eu era boa em adivinhação, apesar de que não era tão difícil assim imaginar o que tinha acontecido, não existiam muitas possibilidades ali, o homem começou a falar o que me obrigou a prestar atenção.
- Aquele maldito bruxo… – ele me olhou como se desculpando pelo xingamento.
- Não se preocupe em xingar. – falei sorrindo. – Ele merece todos os xingamentos que existem e mais um pouco.
- Meu nome é Joseph. – falou Joseph agora sorrindo de leve, mas eu podia perceber uma grande tristeza em seus olhos. – Aquele maldito bruxo descobriu que eu era o responsável por servir a bebida de meus senhores, ele tentou me comprar, mas eu não aceitei, então ele começou com as ameaças, chegou a me torturar uma vez com um feitiço que fez parecer que todos os meus ossos estavam sendo esmagados e minha carne retorcida… - Joseph tremeu ao se lembrar da cruciatus, eu mesma não consegui reprimir uma careta. – Mas eu não cedi, eu não trairia meu senhor Ferdinand, que é um homem bom e justo, mas aí ele… aquele monstro seqüestrou minha família, minha esposa e meu filho estão nas mãos dele, e se eu não envenenasse todos aqui, ele mataria a minha família.
- Entendo. – eu olhei para o nobre que estava ao meu lado, então o nome dele era Ferdinand e ao que parecia ele tratava bem seus empregados, devia ter um exército poderoso também, pois se não Malagaunt não se daria ao trabalho de seqüestrar a família daquele pobre homem. – Você tem alguma pista de onde sua família está?
- Não. – respondeu Joseph amargurado. – Mas devem estar por perto, eu exigi ver minha família hoje de manhã antes de envenenar o vinho do almoço, pois queria ter certeza de que estavam vivos.
- Existe alguma cabana de caça aqui por perto? – perguntei, alguma coisa me dizia que a família dele estava por lá, em que condições eu não saberia dizer.
- Tem uma a poucos quilômetros daqui, mas pouca gente vai lá, meu pai morreu nela e desde então ninguém se aproxima. – respondeu Ferdinand.
- A sua família está lá Joseph. – afirmei para o homem que ainda era mantido de joelhos. Virei-me para Ferdinand e falei: - Você será capaz de machucar um homem que ama tanto a sua família a ponto de trair seu senhor?
Ferdinand me olhou espantado, minhas palavras o tinham afetado, de acordo com as leis daquela época uma traição como aquela não tinha outra sentença se não a morte, mas como ele poderia matar um homem que tudo que fez foi proteger a família?
- Assim que trouxermos sua família de volta, vocês terão que ir embora e não poderão retornar a este reino. – falou Ferdinand em tom sério. Ele se virou para os outros presentes e disse: - Isso foi só uma amostra do que Malagaunt pode fazer, se deixarmos que ele fique impune nesse ato vil estaremos dizendo a ele que temos medo, por isso vamos salvar essa mulher e essa criança.
Os homens acompanharam Ferdinand. Eu também queria ir, mas eu tinha que descobrir algumas coisas… eu tinha um pressentimento de que alguma coisa ruim estava acontecendo na corte de Arthur, e eu ainda estava com problemas para me concentrar, o que fazia com que não conseguisse entrar na mente de nenhum dos meus amigos.
- Há quanto tempo eu estou desacordada? – perguntei relutante, alguma coisa me dizia que eu não ia gostar da resposta, a mulher que tinha estado sentada ao meu lado na mesa respondeu:
- Uma semana.
Eu sabia que não ia gostar.
Gian: eu quero que o Sirius sobreviva. E acredite eu odiei escrever o capítulo anterior, pois não gosto de ver a Lince sofrer, mas coisas assim fazem parte da vida dela, e foi escrevendo o capítulo anterior que eu confirmei o que todos os escritores dizem, os personagens tomam vida, não conseguia escrever mais nada, travou tudo, enquanto não escrevi a cena eu não consegui dar continuidade a fic, mas espero que me perdoe por isso, beijo.
Laurenita: eu também acho que a Sophie merece levar uns tapas da Lince, mas não sei se a Lince faria isso, acho que a Lince é controlada demais para isso... e duvido também que a Lince mate o Sirius, ela o ama demais para isso, e tambéml ele não teve culpa, ele é a vitima. Quanto ao Harry, no próximo capítulo ele será encontrado, não se preocupe.
Nita: essa foi minha primeira ameaça de morte, hehehehehehe, a Lince vai voltar por conta própria já no próximo capítulo, quanto ao Harry... aguarde e confie.
Queria agradecer a Gil Black por ter comentado na fic "Eu sem você", valeu pelo comentário, beijo.
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