"O casamento"



O buraco da bruxa de um olho só se abriu dando espaço para que Harry e Hermione ajudassem aos outros a passarem rapidamente. Desejoso por um descanço, e extremamente aliviado por estar finalmente a salvo, o homem se virou para a passagem, com um suspiro de alívio.

- Nós estamos dentro da escola?- perguntou uma menina de cabelos loiros e curtos.

- Estamos... – respondeu Hermione, agora olhando em volta. A passagem da bruxa de um olho só ficava próxima da entrada para Grifnória... Entretanto...

- Onde está todo mundo? – uma outra menina surgiu ao lado de Harry com um ar de curiosidade no rosto.

- Eu... Bem... – pensou Harry, também intrigado.

- Boa pergunta... – acrescentou Hermione. Olhando para o amigo em seguida. – Harry... O qu...?

- Eu não sei... – respondeu ele, procurando ouvir alguma coisa.

- O que está havendo?- perguntou o homem mais uma vez alarmado.

- Shhh. – interrompeu Harry. Ele ouvia vozes... Familiares... Alguém estava se aproximando... Aparentemente discutindo acaloradamente...

- Você não vai e ponto final! Nós já estamos nos encarregando disso! Agora dê exemplo e vá para sua casa imediatamente! – Harry pode ouvir uma voz familiar aumentando cada vez mais, ecoando pelos corredores. – Minha resposta final é não! – McGonagal virou no corredor logo à frente, entretida demais em sua decisão para notar a presença de todos no final do corredor...

- Eu não ligo! Nós temos que ir lá! – uma asanhada cabeleira vermelha virou o corredor no encalço da professora, que por si só já parecia com os nervos à flor da pele... – Eles ainda estão em Hogsmead!

- Já chega!

- Se você não vai eu vou sozinho! – dito isso, Rony se virou em direção ao local onde não só Harry e Hermione, mas todos os outros observavam a cena em silêncio. Ele estancou. McGonagal, ao seu lado, tão surpresa quanto ele, porém, Rony foi o primeiro a passar de surpresa para alívio no segundo seguinte. Correndo em direção aos dois, ele se voltou para Hermione que se mantinha em pé ao lado de Harry, observando a menina dos pés à cabeça, em busca de algo:

- Você está bem? – perguntou ele passando a mão esquerda no rosto da menina. Harry observou calado a cena, apesar de sentir uma sensação desconfortável no peito ao assisti-la... Um sentimento já bastante familiar a ele... Ciúmes...

Dividido entre a culpa que sentia por pensar em tal coisa num momento como aquele e a vontade de puxar a amiga para perto de si. Harry sentiu um puxão no seu braço. Com as mãos trêmulas, McGonagal correu para Harry com uma expressão alarmada no rosto, e parecendo extremamente aliviada de ver ambos, ele e Hermione vivos e a salvo...

- Harry! Você está bem? – não acostumado com a repentina demonstração de preocupação, ou mesmo qualquer outro tipo de sentimento exacerbado por parte da professora, Harry apenas acenou com a cabeça sem graça, enquanto percebia o olhar da mulher seguindo para seu corte na cabeça.

- Para enfermaria, os dois, agora! Vão. – passado o lapso de sentimentalismo desconcertante da mulher, ela se recompôs, encaminhando pelo corredor Harry e Hermione que agora tentava convencer Rony de que ela estava bem.

- Profes... Não Rony, eu estou bem! – cortou Hermione que já parecia ligeiramente irritada. Mas a atenção da mulher se voltou para algo atrás dela, ou alguém para ser mais exato.

- Eles vieram com agente... – explicou Harry, rapidamente. – A floresta estava uma confusão, e eles não tinham... Bem... Eu...

- Nós achamos que Prof. Dumbledore poderia... – completou Hermione. Houve um momento de silêncio onde os olhos de McGonagal pousaram sobre a menina de cabelos louros que se prendia à barra da saia da mãe agora, respondendo logo em seguida:

- Eu, tenho certeza de que Dumbledore ficará contente em abriga-los também... – respondeu a professora, se dirigindo ao homem, que sorriu pela primeira vez.

- “Também”? – perguntou Harry enquanto os dois, ele e a amiga iam sendo praticamente arrastados para uma noite na enfermaria. – Rony? – questionou ele, em seguida.

- Bem... Todo mundo que estava na escola viu a fumaça subindo do vilarejo... Alguns professores foram lá atrás dos alunos... – aqui se voltando para a família de bruxos que vinha logo atrás deles. – Mas eles acabaram voltando com mais gente ainda...

- Como assim?

- A escola está lotada... Dumbledore está acolhendo um monte de gente... A coisa boa é que pelo menos a maioria dos estudantes estavam no colégio, por causa do tempo... – continuou ele – Eu até achei que vocês também estariam... – e aqui Harry pode sentir uma conotação mais fria na voz do amigo.

- É... Eu, bem nós... – tateou Harry.

- Vocês dois, vão ficar aí? – perguntou a professora, parando na frente da enfermaria com Hermione em seu encalço, que a atormentava perguntando sobre os alunos. Harry se voltou para o amigo que já virara e seguira em direção a enfermaria. – Nós estamos lotados por agora... – recomeçou McGonagal, agora se voltando para a família de bruxos que entrava na enfermaria – Vocês podem ficar com estes leitos... – disse ela apontando alguns leitos no final do cômodo. – E comer com os alunos no salão... –concluiu ela. – Não se preocupem, Dumbledore virá daqui a pouco...

- Oh meu Merlim! – exclamou uma voz vinda de uma saleta ao lado. Era Madame Ponfrey. – Potter! O que aconteceu com você? – exclamou ela, parecendo mais irritada que qualquer outra coisa. Com os olhos no ferimento do garoto ela puxou Harry pelo braço fazendo-o sentar na cama mais próxima.

Harry franziu ligeiramente a testa:

- Eu estou bem... – reclamou ele olhando à volta. A enfermaria estava mais cheia do que Harry jamais vira. Praticamente todos os leitos estavam ocupados e cobertos por biomos esverdeados no local.

- Bagunça né? – Harry ouviu uma voz fria vir do canto da sala. Malfoy ainda estava no seu leito. Aparentemente ainda incapacitado de sair. – Então, o que foi que eu perdi? – perguntou ele com sarcasmo irritante. – Honestamente... – recomeçou ele grosseiramente.- Eu nem consegui dormir com tanta gente entrando e saindo o dia todo...

- Cala a boca Malfoy. – retrucou Harry.

- O qu... HEI! – reclamou Malfoy enquanto Rony se levantava seguindo para sua cama e fechando o biomo ao redor do garoto. – HEI!

- Melhor não? – sugeriu ele voltando para cadeira ao lado de Hermione.

- Valeu... – agradeceu Harry. Ele não respondeu, e foi quando Harry percebeu que o amigo não se dirigia a ele, mesmo Hermione parecendo preferir ignorar o fato... – Harry desviou o olhar para a cabeceira, seus olhos encontraram um par de olhos grandes e pretos o observando sem disfarce algum.

- Viola, pare de encarar... – retrucou uma das mulheres que viera com ele e Hermione, chamando quem parecia ser sua filha para junto de si. Mas a menina pareceu indiferente, se mantendo em pé ao lado da cama de Harry o encarando analiticamente...

- Você é Harry Potter mesmo? – perguntou ela com ar desconfiado. – Você não se parece com ele. – acrescentou metodicamente.

- O qu... Eu... – tateou ele, meio surpreso com a pergunta da menina de uns seis anos de idade.

- Viola! – repreendeu a mãe da menina. – Eu sinto muito...

- Não... Tudo bem... – retrucou Harry desconcertado, ao perceber agora que ao passo que a outra menina se juntava a Viola, Rony e Hermione observavam a cena também:

- Ele é sim! – disse a garotinha de cabelos loiros se postando junto da outra.

- Não é não... – insistiu Viola.

- Ele tem a cicatriz, olhe. – disse a menina loira apontando sem pudor algum para a testa de Harry, que agora começava a atingir um tom ligeiramente vermelho.

- Ele é muito baixo. Harry Potter é mais alto que ele... – deduziu a morena com ar de quem encerra uma discursão. Aqui Harry pode ouvir uma risada abafada vinda de Hermione que baixou a cabeça e desviou os olhos rapidamente.

- Eu tenho certeza que ele gostaria... – murmurou Rony, que também parecia se divertir com a situação, apesar do tom desconfortável em sua voz.

- Bem... – começou Harry.

- Ele disse que é Harry Potter, então ele é. Além do mais, aquela velhinha chamou ele de Harry... – disse a terceira garota que se juntando às outras duas, formou um grupinho na beira da cama de Harry, tão curiosa quanto as outras. Presumindo que a “velhinha” fosse McGonagal, Harry se voltou para Hermione que tinha as sobrancelhas levantadas, aparentemente esperando uma reação por parte dele. Mas elas foram mais rápidas:

- Você pode dar um autógrafo? – perguntou a moreninha.

- Hãn? – respondeu Harry sentindo o rosto esquentar mais ainda.

- Um autógrafo. –repetiu a menina ainda mais ansiosa agora.

- Bem... Eu... – começou Harry. – Eu não faço isso... – a menina pareceu confusa.

- Por que não? – questionou ela.

- Você é famoso certo? – Harry observou de relance o amigo se mecher desconfortavelmente na cadeira. – Eu...

- Querida já chega! – reclamou a mulher novamente, agora se levantando e recolhendo as três garotas. – Eu sinto muito... Vamos! Pra cama já...

Na manhã seguinte, Madame Ponfrey já se encontrava tão atarefada, que Harry conseguiu a façanha de ser liberado na primeira hora do dia, se juntando aos amigos já no café-da-manhã.

A cena era estranha, o Domingo em Horgwats amanhecera acizentado e frio, e apesar da atmosfera sombria devido ao ataque ao povoado no dia anterior, o salão se encontrava até mais cheio que o usual. O fato era que a maioria das pessoas que fugiu do povoado acabou sendo acolhida por Dumbledore, o que significava que pelo menos por agora, Horgwats estava um pandemônio.

Harry avistou Rony e Hermione na mesa e seguindo em direção aos dois pode identificar os cabelos loiros de Viola sentada ao lado de Hermione, que parecia apreciar a companhia da menina.

- Oi... – retrucou ela, ligeiramente mais educada que antes. Presumindo que ela se convencera de quem ele era, Harry respondeu comum sorriso. Logo a menina se voltou para a conversa que parecia ter sido interrompida com a chegada dele:

- Ronald me mostrou a coruja dele... Você vai me mostrar a sua? Hermione me disse que ela é branca...

- É sim... – respondeu Harry, olhando de relance para o amigo, que tinha os olhos fixos no seu prato.

- Não ligue pra ele... – disse a menina ao ver que Harry encarava o amigo ao seu lado. – Hermione disse que ele está... – ela parou forçando a memória. – Sendo “incrivelmente idiota”... – concluiu ela com esforço para imitar o que parecia fielmente com o que Hermione diria.

- Viola... Que tal agente ir dar uma volta? Eu te levo pra ver a coruja de Harry... – ofereceu Hermione, aparentemente desejosa de sair dali o mais rápido possível... Com a perspectiva de ir ao corujal, não demorou muito para que Viola aceitasse o convite pulando da cadeira no segundo seguinte e saindo acompanhada por Hermione.

De fato, Rony não parecia muito feliz... E lá pelo final do dia Harry acabaria por concordar com Hermione, que o amigo estava sim, sendo incrivelmente idiota...

Não que Harry não soubesse o motivo peo qual o amigo estava tão irritado, ele sabia sim, muito bem na realidade. E tanto sabia que tentou desfazer o mal entendido. Entretanto, o concreto era que ele e Hermione foram até Hogsmaed sozinhos, no dia-dos-namorados. E apesar do próprio Harry não ter se lembrado disso(pelo menos não e um level consciente...), e ter feito questão de apontar esse fato para o amigo várias vezes, não foi o que se podia chamar de suficiente...

O que significava que mais uma vez, a situação entre os dois estava desconfortável... E a tendência, Harry viria logo a descobrir, não era de melhorar...

Considerando o clima que se estabelecera entre os três, o café da manhã naquela segunda passaria em branco, não fosse o correio matinal...

- O que tem dizendo aí? – perguntou Rony à amiga, que se escondera atrás do Profeta em busca de notícias. A página principal trazia uma foto em preto e branco de Hogsmaed em chamas com uma manchete que dizia: “ATAQUE EM MASSA – Explicações do Ministério”.

- Quem lê pensa que um vendaval destruiu o vilarejo... – retrucou Hermione mau-humorada.

- Novidade... – retrucou Harry. Era óbvio que o Profeta tentaria trazer o acontecido para uma ótica bem mais simplista do que realmente fora.

- Você acha que o Ministério exigiu a censura?

- Com certeza. – retrucou Harmione revoltada. – Eu ainda estranho o fato de Fudge ainda controlar aquele lugar... – acrescentou ela com repugnância, ainda com os olhos no jornal.

Uma coruja marrom-acizentada parou em frente a Harry com dois envelopes nas patas. O contraste entre os dois era visível. Um, amarrotado, parecia sem dúvida alguma ter sido feito às pressas, enquanto o segundo, era completamente branco, liso e sem rasuras, com aspecto ligeiramente oficial.

- O que é isso? – retrucou Hermione baixando o jornal ao ter sua atenção desviada. Harry apanhou a primeira carta, abrindo o envelope amarrotado reconheceu a letra de Sirius logo em seguida:

- É de Sirius. – explicou ele.

- O que tem escrito? – perguntou Rony se curvando sobre a mesa e pegando o outro envelope.

- Ele quer saber se estamos bem...

- Eu já esperava... – retrucou Hermione – Você devia responder a ele Harry, dizer o que aconteceu... – lembrou ela.

- Eu sei...

- Hei! – exclamou Rony. – Esse aqui tem nosso nome também... E o de Giny!

- O que? – perguntou Giny que ouviu seu nome do outro lado da mesa. Se levantando e se juntando ao trio, ela recolheu o envelope das mãos do irmão.

-Hei! – reclamou Rony indignado.

- É um convite... De... Oh! – exclamou ela. –É de Lupin... Eles... Eles vão se casar! Lupin e Tonks... Eles vão se casar!

- O que?- retrucaram os três em uníssuono.

- Em Junho, eles vão se casar em Junho... – explicou ela, parecendo radiante. – Oh que maravilha... Eu adoro casamentos... Agente está precisando de algo assim, com certeza... –acrescentou ela conclusiva e alegre.

Harry, ainda atordoado, se ocupava em procurar novamente na carta de Sirius alguma referencia sobre aquilo. Não era possível que ele deixaria passar uma informação dessas... Até que encontrou uma pequena nota no finalzinho do papel:

“ps: Agente se encontra na casa de Arthur... O casamento vai ser lá.”

Harry voltou-se para o bacon e seu prato, não sentia fome alguma. Sentia-se radiante por Lupin e Tonks... Giny estava certa... Eles precisavam mesmo de algo como um casamento para animar o espírito... Apesar de ter a certeza de que dadas as circunstâncias, a última coisa que Harry esperava do amigo era um convite para passar o verão com ele... O que significava que o verão na Toca, pela primeira vez, não seria dos mais agradáveis...

Seus pensamentos foram interrompidos por um choro agudo vindo da porta principal...

Parvati e Lilá acabavam de entrar no salão, ambas explodindo em lágrimas. A cena foi tão desconsertante e repentina, que não chamou atenção somente da mesa da Grifnória, como também das outras casas que agora observavam as garotas estupefadas.

- O que houve? – perguntou Hermione, que voltou os olhos para McGonagal que agora rumava em direção as alunas que pareciam ainda mais desesperadas com o amparo da professora.

- Vocês não souberam? – comentou Simas se aproximando de Rony, que também parecia interessado. – Trelawney... Ela sumiu...

- Como assim? – perguntou Harry preocupado.

- Estão dizendo que “eles” a levaram... – continuou o garoto com um ar exageradamente sombrio. De fato, Harry até riria da expressão do amigo, não fosse outro pensamento povoando sua cabeça.

- “Eles” ? – questionou Rony confuso.

- Você sabe... Os comensais... – concluiu ele.

- Que horror! – lamentou Hermione.

- Eu pensei que você não gostasse dela... – comentou Rony observando a garota.

- Não gostava... Mas mesmo assim... Ninguém merece isso...

- Por que eles fariam isso de qualquer forma? – questionou Giny, que parecia tão chocada quanto Hermione. – Ela não parece muito ameaçadora pra mim...

- Vai ver ela sabia de algo... – comentou Hermione agora visivelmente raciocinando.

- Do que? – questionou Rony. – Ela nunca saia daquela torre... Talvez ela esteja tão coberta de xales que eles provavelmente perderam a mulher de vista na sala dela... – comentou ele alguns segundos depois, arrancando risos de Dino e Simas, e uma reprovação de Hermione:

- Rony, não seja tão insensível...

- Eu só estou dizendo... Não faz muito sentido pra mim...

- Harry, o que você acha? – perguntou Hermione se voltando para o amigo a sua frente.

- Hãn? Eu? – falou Harry, voltando a si. – Eu... B-bem... Eu suponho que Rony estaja certo, não faz muito sentido mesmo... – respondeu ele desviando os olhos e se voltando para seu bacon novamente.

Agora, a falta de fome fora substituída por um embrulho terrível que remexia no seu estômago. Harry sentiu náuseas só de imaginar que tipo de coisas Voldemort faria para arrancar qualquer tipo de informação da mulher... Se é que ele realmente a capturara. Até mesmo porque, se ele se recordava bem, o próprio Dumbledore dissera que o único motivo pelo qual ele manteve a professora em Horgwarts foi pela segurança dela. Justamente para previnir que algo assim acontecesse...

Harry voltou os olhos para a mesa dos professores em busca do diretor. Ele não estava lá... E a única forma de conseguir uma confirmação ou mesmo um alívio com relação a duvida que corroia a mente de Harry seria falar com ele...

- Aonde você vai? – perguntou Giny surpresa com a menção repentina de se retirar do garoto.

- E-eu vou... Eu estou com dor de cabeça, vou me deitar... – replicou ele vagamente. O que não deixava infelizmente de ser verdade...

- Mas você nem comeu... – comentou Hermione com uma conotação preocupada. Etretanto, Harry já se encaminhava para fora do salão, seguindo sem demora para a sala do diretor.

Sua cabeça latejava agora... Era a segunda vez que aquilo acontecia durante aquela semana... Nunca um bom sinal... Fazia tempo que não se sentia tão mal assim, não tinha certeza se era apenas pelo fato de estar tão preocupado com a notícia recente, ou se deveria realmente se preocupar com a dor que tinha...

Foi no momento que parou em frente a gárgula que guardava a porta do diretor que Harry percebeu que não tinha como entrar... A sua agonia era tão grande que se esquecera completamente de que precisava da senha... Tentando se lembrar da última vez que entrara no escritório, com esperança de que a senha não tivesse mudado, Harry ouviu passos firmes e compassados vindos do corredor escuro e vazio.

- Eu esperava que você viesse me ver Harry... – comentou uma voz familiar vinda de algum lugar atrás de Harry. Virando-se rapidamente, ele deu de cara com o próprio Dumbledore em pessoa.

- Professor... – começou Harry subitamente.

- Eu sei Harry... Talvez seja melhor se nós conversássemos sobre isso na minha sala, vamos? – convidou ele calmamente. – “Manticora saltitante”.

A gárgula se moveu lentamente com um barulho de arrastar de pedra grave. Harry observou o diretor ao seu lado, o local estava escuro, e apesar da insistência de Harry, não havia como identificar a expressão no rosto do homem ao seu lado.

- Você não esperou muito eu suponho? – perguntou ele ao abrir a porta do escritório.

- Não... Eu acabei de chegar. – respondeu Harry. – Senhor... – recomeçou ele, antes que pudesse se conter. – Onde o senhor estava? – o diretor se voltou para Harry observando-o atentamente, de modo que o garoto se arrependeu de o ter perguntado no momento seguinte.

- Eu estava no vilarejo... – respondeu ele alguns segundos depois. – O ministério parece estar fazendo o possível para reconstruir Hogsmaed... Apesar de me parecer uma medida um tanto tardia, eu devo acrescentar...

- Senhor... É verdade, o que estão dizendo sobre... – questionou Harry sem demora, mas foi interrompido pelo diretor:

- Sobre Trelawnley? – completou Dumbledore. E aqui, Harry pode finalmente notar quão cansada estava a feição o senhor sentado à sua frente. – Eu receio que sim...

- Mas... Eu achei... Bem, o senhor disse que ela... –argumentou Harry.

- Que ela estaria protegida em Horwarts. Eu sei... – explicou ele. – Mas veja, eu não contava com o fato de que ela sairia do castelo durante aquele sábado para o povoado...

- Povoado? Por que ela faria isso? – murmurou Harry mais para si mesmo que para o diretor.

- Bem... Eu esperava que você pudesse me esclarecer esse ponto Harry... – falou o diretor, agora com uma expressão totalmente indecifrável.

- Eu? – perguntou Harry surpreso. – Por que eu?

- Bem... Segundo as pessoas que viram a Prof. Trelawney deixar a escola... Ela estava procurando por você.

- Por mim...? – repetiu Harry, confuso. Por que ela iria até o povoado para procura-lo? O que poderia ser tão importante para que ela fosse em busca dele até o povoado? –pensou Harry consigo mesmo, tendo a atenção voltada para outra questão logo em seguida. – Senhor...

- Sim Harry...?

- O senhor disse que Voldemort... Que ele sabia sobre a profecia... Por que ele iria atrás dela então?

- Na realidade, Voldemort teve conhecimento de apenas uma parte da profecia Harry... E como você mesmo pode notar alguns meses atrás, ele está determinado a saber tudo que puder sobre ela.

- Mas não tem como ele força-la a falar, tem? Quero dizer... Nem ela própria sabe da profecia... – insistiu Harry desesperado.

- Eu receio Harry, que infelizmente, Voldemort possui armas efetivas o suficiente para esse tipo de tarefa... – concluiu Dumbledore pesarosamente. Harry observou o diretor novamente por cima da mesa. Dumbledore retribuiu o olhar de Harry, que sentiu como se o diretor lesse sua mente:

-Existe algo mais que você acha que deve me contar, Harry? – questionou o homem a sua frente, soando agora mais severo que o usual, apesar de não agir de modo algum com rudez.

Harry voltou os olhos para a janela ao lado, evitando contato visual com o diretor...

- Não... Nada Professor... – murmurou ele com os olhos fixos num ponto à direita de Dumbledore, que se mnteve em silêncio observando Harry pelo que pareceu uma eternidade.

- Bom... Eu suponho que esteja na hora de você ir dormir então... – concluiu ele. Harry percebeu que de fato, Dumbledore desejava ficar sozinho, apesar de novamente, não haver mais conotação alguma de irritação em sua voz.

- Certo... Boa noite... – respondeu Harry simplesmente seguindo em direção à porta.

Harry definitivamente não se sentia confortável partilhando a idéia de que andara tendo os sonhos mais estranhos possíveis nas últimas noites... Até mesmo para seus parâmetros... (O que já não era pouco.) Principalmente pelo fato de que o sonho envolvia Hermione... O que por si só já era constrangedor o suficiente...

- Que final de ano horrível... – concluiu a garota ao se juntar aos amigos na carruagem.

De fato, o comentário de Hermione refletia não só a opinião dela e dos amigos, como também da maioria dos alunos que se preparavam para voltar para casa. O clima soturno e desolado que tomava conta dos arredores da escola não era exatamente agradável, era até possível sentir em alguns dos alunos o alívio de finalmente estarem voltando cada um para sua respectiva casa... Enquanto que outros até cogitavam a idéia de não voltar no ano seguinte... Harry não poderia culpa-los...

Hermione ainda se mantinha entocada por trás do jornal daquela manhã, deixando uma grande foto de um Fudge desconcertado e irritado à frente dos meninos gesticulando de forma incoerente. A carruagem estava ocupada apenas pelos três, o silêncio reinava no local... E Harry tinha certeza de que o único motivo pelo qual a amiga se mantinha tão atenta ao pedaço de papel era por ser um motivo para evitar qualquer tipo de interação entre ela e eles... O que deixava basicamente o desconforto para ele e Rony, que mantinha os olhos fixos e algum ponto do lado de fora da carruagem.

O caminho até a estação nunca parecera tão longo a Harry... A viagem num todo acabou sendo mais cansativa do que Harry jamais poderia esperar... De fato, a prospectiva de um verão inteiro daquela forma o desanimava mais ainda...

Se agarrando às ultimas esperanças Harry desejou que as férias na Toca não fossem tão gritantes quanto os últimos dias de Horgwarts... Até mesmo porque, apesar do desatino de Rony de evitar qualquer conversa além da essencial com Harry não poderia durar tanto tempo assim, afinal ele realmente não tivera culpa dessa vez... Além do mais, tinha Fred, e Jorge, além de Giny, que viria a ser uma boa companhia visto que Rony não estava disposto a tal...

A parte boa, que logo Harry veio a perceber, foi que graças ao casamento eminente, tarefas era o que não faltava na casa, sem contar com o fato de que também por essa razão, a Toca se encontrava particularmente cheia... Tanto Gui, quanto Carlinhos, junto com várias outras pessoas da Ordem, dentre elas (para alívio de Harry) Sirius, praticamente lotaram a casa. O que significava que felizmente, a maioria do tempo ele nem ao menos passava com Rony, ou mesmo Hermione... E este não era necessariamente por vontade sua... De fato, a sensação que Harry tinha era de que após o incidente em Hogsmaed, algo entre os dois havia se modificado... Quase como se auqele dia tivesse servido para deixar às claras o que quer que existia entre eles. Talvez esse fosse justamente o motivo pelo qual Rony estava tão irritado, o fato de que pela primeira vez Harry começava a perceber que o sentimento era mútuo. Infelizmente, ele não era, por assim dizer, o único a notar...

- Hei... – a voz de Sirius anunciou a chegada dele no quarto, se mantendo em pé no vão da porta. Observando o afilhado, que se debatia ao tentar fechar a gravata.

- Sabe... Uma ajuda aqui viria a calhar! – lembrou Harry, com a irritação do divertimento do padrinho ao ver sua dificuldade estampado no rosto. Sirius riu.

- Por que você está tão nervoso? – perguntou o padrinho num tom capicioso.

- Eu não estou nervoso! – mentira... Ele estava mentindo, e a pior parte era que Sirius sabia... E como se isso não fosse o suficiente, o padrinho sabia o exato motivo pelo qual o afilhado estava tão nervoso, apesar do próprio Harry preferir comer uma caixa inteira de bombas de bosta a admitir...

Naquela mesma manhã, antes de todos subirem para se prepararem, Hermione veio falar com ele... Segundo ela, havia algo de importante sobre o qua eles deveriam conversar. Até aí, tudo estava muito bem, exceto pelo fato de que a amiga havia caído na asneira de fazer o comentário na frente tanto de Lupin quanto de Sirius, motivo pelo qual, Harry passara o dia inteiro sem um momento sequer de sossego...

- Olhe... Você não deveria estra tão preocupado... Se você quizer eu posso te dar umas dicas... – brincou ele. Harry observou o padrinho por um momento, até que compreendeu totalmente o que ele havia dito.

- O que? Não! – exclamou Harry, sentindo agora seu rosto esquentar violentamente. – Isso não melhora não melhora? – questionou ele exasperado enquanto tentava em vão tornar seus cabelos no mínimo apresentáveis. O padrinho sorriu novamente. Um barulho se fez ouvir no quarto. Lupin se juntou a Sirius logo em seguida:

- Nervoso? – perguntou ele se juntando ao amigo, assim como ele, em trajes a rigor.

- Eu n... – Harry parou respirando fundo. – Eu não estou nervoso. Não tem motivo para estar nervoso... – insistiu ele, mais para si mesmo que qualquer outra coisa.

- Olhe... Não tem muito segredo não sabe? O que você deve fazer... – continuou ele com feição séria. – O que garotas realmente querem... É...

- Lupin! Meu Deus! Isso é... Não vai acontecer nada! Isso não é um encontro! Dá pra parar? – exclamou ele irritado e agora mais envergonhado ainda.

- Bem... Nós só queremos conversar... – começou Sirius sem esforço algum para esconder o divertimento com a situação.

- Não! Certo? Não! Sem conversas, sem concelhos, sem nada! Certo? – bufou Harry irritado. – Sabe de uma? Eu vou me trocar lá em baixo... – acrescentou ele, pegando os sapatos e a gravata nas mãos e saindo porta fora a passos largos.

Tudo que ele deveria fazer era encontrar alguém para dar um jeito naquela gravata... Não poderia ser tão difícil... Sra. Weasley... Com certeza ela saberia como faze-lo...

- Ouch! Harry! – exclamou Giny ao dar de encontro com o garoto no corredor.

- Desculpe... – murmurou ele se recompondo.

- Aonde você vai assim tão rápido? – gemeu ela massageando o ombro esquerdo.

- Eu estou procurando pela sua mãe... – explicou ele.

- Pra quê? – questionou ela irritada massageando o ombro esquerdo.

- Gravata... –murmurou ele simplesmente apontando.

- Eu acabei de ageitar a de Rony... Se você quiser, eu posso...

- Giny! – Harry pode ouvir uma voz irritada vir do quarto de onde Giny acabara de sair. Com visível desagrado a garota respondeu:

- Sim! Eu já vou... – avisou ela exasperada. – Espera só um minuto... – avisou a menina, fazendo menção para Harry entrar no quarto.

O local estava uma completa zona. Harry nunca imaginara que duas garotas trocando de roupa pudessem causar um estrago tão grande quanto aquele... A cama estava completamente coberta de roupas e mais roupas, de vários tipos e tamanhos... Giny percorreu o quarto sumindo por trás de um biomo de madeira.

- Quem está aí?- perguntou Hermione audívelmente irritada.

- Niguém. – entrecortou Giny.

- Er... Sabe de uma... Deixa que depois você faz isso... – recuou ele meio receoso.

- Não você fica. – exigiu Giny, postando a cabeça pra fora. – Hermione já está pronta, certo Hermione? – peguntou ela, se voltando novamente para o local.

- Harry?- questionou Hermione sem dar muita atenção ao que quer que Giny havia falado. – É você?

- Er... É... – respondeu Harry.

- O que você está fazendo aí?

- Hermione pare! – cortou Giny. – Sai daí você está ótima...

- Não!

- Hermione! – lamentou a garota ainda mais exasperada.

- Ok! – cedeu a menina à contra-gosto. - Mas Harry vai ter que prometer que não vai rir!

- Ora vamos! Ele não vai rir! Certo Harry? – perguntou a garota em busca de apoio. Entretanto, a confusão era tamanha que Harry já não podia mais garantir tal condição...

- Você trouxe ele aqui!

- Hermione... – começou ela respirando profundamente em busca de calma. – Ele já te viu feito um gato gigante... Você já esteve pior que isso acredite...

- Era realmente necessário para você trazer isso à tona? – reclamou Hermione num tom profundamente ofendido.

- Sai daí, agente tem que ajudar a noiva... – insistiu Giny.

- Só se ele prometer...

- Harry? – pediu Giny a cabeça de Giny reaparecendo no biomo.

- O qu... Tá tão ruim assim...? – questionou ele indeciso.

- Eu ouvi isso! – soou a voz da amiga por trás de Giny.

- Só prometa! – exigiu a garota.

- E-eu prometo... – falou ele em voz alta, não muito certo disso.

- Giny, querida... – a voz da Sra. Weasley se fez ouvir no quarto. – Tonks está precisando de uma ajudinha...- chamou a mãe da menina.

- Certo... Harry, você avisa a Hermione?

- Aviso... Mas, minha quem vai fazer minha... – Giny subira as escadas e entrara no quarto à direita.

-Ótimo... – resmungou ele.

- Brigada... Eu não imaginei que estivesse tão ruim... – ironizou a amiga fazendo com que Harry se virasse novamente.

Como quer que fosse que Harry esperasse ver a amiga, certamente não era daquela forma... Ainda mais depois do escarcéu que ela causara sobre a sua roupa, que na opinião de Harry era completamente desproposital, afinal se havia uma palavra que pudesse descrever como ela estava era: perfeita.

Seu vestido longo tinha um tom acobreado, com alças finas que desciam por um longo decote nas costas, visíveis pelo fato do cabelo estar preso em cachos no alto da cabeça...

Não que ela jamais fora feia... Pelo contrário. Ele se lembrava bem do Baile de Inverno... A amiga estava muito bonita naquele dia... Mas ainda sim, ali, agora... Era diferente... O sentimento era diferente, a sensação... Pela qual ele nunca passara antes, pelo menos não de forma tão intensa. Subitamente, Harry se pegou com vontade de ceder ao ímpeto de ir até ela e...

- Bem... Essa é a parte onde você diz algo... Harry... – disse a amiga, chamando-o de volta a realidade. – Tipo: “Você está ótima”. Ou então: “Você está horrível”...

- Não...! – murmurou ele discordando da última afirmação.

- Eu sei que é um pouco apertado... – explicou ela, meio sem graça. E nesse ponto Harry concordava absolutamente, apesar de não considerar o fato um ponto negativo na aparência da garota... – Minha mãe me mandou... Bem, ela não me vê faz um tempo... – acrescentou ela – É meio decotado também, mas... – recomeçou ela parando em seguida, aparentemente só agora notando realmente o amigo. – Você está ótimo... – comentou ela, descendo os olhos para a gravata nas mãos do amigo. – Eu faço isso, pode deixar...

Dando alguns torturantes passos em direção ao amigo, Hermione puxou a gravata, arrumando-a rapidamente no pescoço de Harry.

- Pronto... Melhor não? – disse ela parando novamente para observa-lo, na opinião de Harry, ainda perigosamente muito próxima. – Você parece mais alto que o normal...

- Eu me curvo às vezes... – murmurou ele.

- Ah... Não faça...- respondeu a garota.

- Ok... – Harry pode ouvir de longe uma leve batida na porta.

- Hermione? Você não vem? – perguntou Giny aparecendo novamente no vão da porta.

-Ah claro! Eu esqueci... – comentou ela, segurando a barra do vestido. – Então... Eu te vejo mais tarde então... – concluiu ela acenando para Harry ao sair...

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