Capitulo XV



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- Não seja ridículo! - Gina soltou-se ,furiosa. A atitude o divertiu.
- Adoro ver você zangada. Por acaso tem sangue irlandês?
- Meu avô era irlandês. - confessou ela, afastando uma mecha de cabelo do rosto.
Ele riu abriu-lhe a porta do carro.
- Logo vi.
Gina acomodou-se no assento macio enquanto ele se ajeitava atrás do volante. Sentiu-se em paz e relaxada durante todo o trajeto até o rancho. Nada comentou, nem mesmo ao passar por outras propriedades ao longo do caminho.
- Você esta muito calada.- comentou ele, ao chegar.
- Estou feliz. - ela respondeu sem pensar.
Potter ajudou-a a sair. Em seguida conduziu-a aos degraus de entrada e até a varanda. Era espaçosa e nela havia confortáveis cadeiras de vime.
- Deve ser agradável sentar-se aqui nas noites de verão. - comentou Gina absorta.
- Muito - Ele sorriu fitando-a com curiosidade. - Eu dificilmente acharia que você é do tipo que gosta de sentar em varandas....
- Ou de dar passeios pelo bosque, andar a cavalo e jogar beisebol? - completou ela. Tenho amigos em Austin que são proprietários de fazendas. Sei montar e atirar muito bem.
Potter a observou. Parecia uma garota da cidade grande. Jamais a analisara de perto, claro. Tal pai, tal filha, sempre julgara. Mas Gina não era como Arthur Weasley. Era única.



Potter abriu a porta da casa e a fez entrar na ampla sala de estar decorada em estilo espanhol. A mobília, em tons de bege, creme e marrom, combinava com as cortinas brancas.
- Não pense que este sempre foi o meu modo de vida. Também já passei maus pedaços. Cresci sentado em caixotes de laranjas, comendo em pratos lascados - comentou ele ao vê-la correr os dedos por uma bela escultura de bronze.
Gina riu.
- Se a companhia for agradável, não vejo problema algum em sentar em caixotes de madeira e usar pratos lascados. Odeio aqueles jantares formais, com pratos de porcelana chinesa e talheres de prata.
Ao ouvir essas palavras, Potter começou a se preocupar. Afinal, tinham a mesma opinião e não achava possível ambos possuírem tantas coisas em comum. Fitou-a com as sobrancelhas erguidas.
- Você é surpreendente. Tem certeza de que não andou me investigando só para dizer exatamente o que quero ouvir?
A surpresa de Gina foi genuína. Nunca vira tanta presunção .
- Já basta por hoje. Creio que é melhor eu ir embora.
Potter pegou-a pelo braço.
- Desculpe – Hesitou - Quando há mulheres envolvidas fico sempre na defensiva. Eu jamais soube distinguir....
- Não precisa explicar. Já entendi.
- Não,você não entendeu. Eu não era assim. Acreditava nas pessoas mas seu pai acabou com minhas ilusões. Minha ex-noiva não permitia que eu a tocasse, mas dormia com ele. O pior foi que engravidou e pretendia se casar comigo sem me contar nada. - Ele suspirou - Odiei seu pai mais do que tudo no mundo, e quando descobri quem você era , quase briguei com Dino por ter escondido isso de mim.
- Eu desconhecia essa sujeira toda.
- Sei disso. É, passado o choque inicial, tive de admitir que você me era bastante útil. Jamais se queixou do excesso de trabalho, por mais que eu a pressionasse. Julguei que a fosse fazer desistir, mas, quanto mais eu exigia, mais você correspondia. Tanto que após um certo tempo me convenci de que tinha feito um bom negócio. Não que gostasse de você.
- Isso você fazia questão de deixar bem claro.
- Lamento, mas não sei fingir. No entanto, intimamente eu a admirava. Muitos não teriam a sua fibra; engoliriam a raiva e esbravejariam longe de mim. Mas você me enfrentava.
- É porque estou acostumada a lidar com pessoas temperamentais. Meu pai era como você.
- Só que não bebo, não sou drogado e nunca machuquei uma mulher.
- Mas é muito rígido. Ordena, pressiona, jamais desiste. Justamente como ele. Quando meu pai achava que tinha razão, lutava até o fim para provar isso. Era teimoso e jamais admitiu que estava com problemas. O mesmo se aplica a minha mãe. Era escrava dele e se afastaria da própria filha se esse fosse o desejo do seu amo e senhor.
- Mas tenho certeza que ela a amava.
- Talvez, mas seu amor por meu pai era maior. Era grande o suficiente para que mentisse por ele, que morresse até. E foi o que ela fez. - Gina voltou-se, o rosto tenso. - Entrou naquele avião sabendo que meu pai não tinha condições de pilotá-lo. Talvez tivesse tido uma premonição e quisesse morrer também. Não viveria sem ele.
- Do jeito que você fala, dá a entender que não acredita num amor tão grande assim. Acha que não existe?
- Pode ser que exista. Mas não quero para mim nada tão obsessivo.
- E o que deseja? Uma vida inteira de solidão ?
- Não foi o que você escolheu ?
Ele deu de ombros antes de responder;
- Por enquanto - Seus olhos prenderam-se aos dela por um momento, e em seguida desviaram-se. - Você sabe cozinhar? - perguntou a caminho da cozinha.
- Claro.
Como o restante da casa, a cozinha era ampla, limpa e modernamente equipada.
- E que tal é o seu chili?
- Bem devo confessar que comida mexicana, não é a minha especialidade.
- Vivo recebendo elogios por causa do meu. - disse ele, orgulhoso. Tirou o palito, arregaçou as mangas da camisa e lavou as mãos. -Você pode preparar o café. - sugeriu aproximando-se do fogão .
O jantar foi servido minutos depois. Gina não se lembrava de ter apreciado tanto uma refeição .
- Delicioso. Qual é o seu segredo ?
- É simples: o chili deve ser levado ao fogo numa panela de ferro.
- Vou me lembrar disso, se algum dia tentar preparar o prato.
Potter recostou-se, a xícara de café na mão, enquanto a observava.
- Não foi somente da minha parte.
Gina fitou-o com olhos indagadores.
- O quê?
- Todo aquele antagonismo. Você era bastante brusca, às vezes.
- Todos revidam quando são agredidos.
- Pode ser. – Ele consultou o relógio e terminou de tomar o café. – Creio que é melhor ir para o hospital. Vou colocar a louça na lavadora e em seguida sairemos.
- Estou preocupada. O fato de chegarmos juntos será motivo para mais comentários maldosos.
- Danem-se os comentários.



Continua...
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