Capitulo VII
- Vou arranjar algo. Volto já.
Potter foi até o carro, grato por ela manter uma chave sob o capacho, na entrada. Detestaria Ter que arrombar a porta. Pegou na maleta de primeiros socorros e voltou para junto de Gina, que estava pálida e febril. A primeira providência foi mediar a temperatura e examinar os pulmões. Pouco depois, percebeu que nada havia de errado com eles. A pulsação estava acelerada, mas ela parecia bem.
- Um vírus- diagnosticou.
- Não diga!- Gina exclamou, sarcástica.
- Mas você sobreviverá.
- Trouxe o remédio ?- indagou ela, e estendeu a mão.
- Sim trouxe. Vou pegar água para você tomar.
- Pode deixar que eu me viro sozinha. Só preciso de uma ajudazinha para chegar ao banheiro.
Ele a amparou e não pôde deixar de perceber a fragilidade de seu corpo. Vestida, Gina não parecia tão frágil, mas naquele pijama de seda a história era outra.
Conduziu-a até o banheiro e observou-a fechar a porta. Minutos depois ela saía de lá e permitia que o médico a levasse de volta à cama. Ele a observou por um momento e então , com determinação, pegou o telefone e discou um numero.
- Aqui é o Dr Potter. Por favor envie uma ambulância à casa da Dra Weasley. Anote o endereço...
Gina o fitava, os olhos arregalados.
- Ambulância para quê ?
- Não vou deixar que passe a noite sozinha. Do jeito que está perdendo líquido, em tres dias estaria desidratada e morta.
- Deixe disso. Você não se importaria nem um pouco se eu morresse.- afirmou furiosa.
- Não seja teimosa!
- Não quero ir para o hospital !
- Mas irá, nem que eu tenha que carrega-la.
Gina fitou-o com raiva,mas Potter a ignorou. Deixou-a e foi até a cozinha, para desligar as tomadas, menos as do freezer e da geladeira. Na volta, parou para observar os quadros adornando as paredes da sala de estar. Eram intrigantes, naqueles tons vivos. Não precisou de muita imaginação para adivinhar quem os pintara.
A ambulância chegou pouco depois. Ele acompanhou os paramédicos que a carregaram. Colocou ao pé da maca a maleta que Gina pedira que arrumasse, com roupas e artigos de toalete dos quais iria precisar.
- Obrigada- disse ela baixinho, as pálpebras pesadas.O remédio começava a fazer efeito, e continha um sedativo forte que a faria dormir.
- O prazer foi meu, doutora- disse ele com um sorriso- Eu não sabia que você pintava.
- Como soube?- murmurou ela antes de apagar totalmente.
Acordou horas depois, com uma enfermeira checando seus sinais vitais.
- Então Bela Adormecida? Como se sente ?
- Um pouco melhor. Mas acho que perdi peso.
- O que precisa fazer agora é se alimentar bem.
- Eu ficaria satisfeita com um simples café.
A enfermeira riu baixinho.
- Talvez um café fraquinho depois da refeição. Vamos ver.- Anotou alguns dados na papeleta e se foi.
A comida era leve, porém deliciosa. Gina ainda se alimentava quando Dino entrou no quarto.
- Como está se sentindo? Melhor?
Ela assentiu.
- Mas eu preferia estar em casa..É um exagero ser enviada para o hospital por causa de um simples vírus. Eu seria capaz de estrangular o Dr Potter!
- Você deveria ouvi-lo. Mas, já que esta aqui ,aproveite e relaxe.- disse ele com uma risadinha.- Virei examina-la assim que terminar o meu plantão.
Gina gemeu e recostou-se nos travesseiros. Os pacientes deviam estar à sua espera na clínica, e a pobre Brenda na certa se encontrava em apuros, tentando acalmar os mais temperamentais.
Passava das nove horas da manhã quando Potter foi vê-la. Parecia cansado. Gina sentiu-se culpada por não estar em condições de ajuda-lo.
- Sinto muito- disse quando ele se aproximou da cama.
- Por quê ?- Ele segurou-lhe a mão para medir a pulsação.
- Deve estar sobrecarregado de trabalho, tendo de atender também os meus pacientes.- respondeu ela- O toque daquele homem começava a perturba-la. Evitou fita-lo.
Potter precisou inclinar-se para examinar-lhe os olhos, a mão ainda em torno do pulso delicado. Sentiu a pulsação acelerar e inesperadamente um pensamento começou a incomodá-lo.
Largou –lhe a mão e endireitou o corpo, sem deixar de perceber o arfar exagerado de Gina. Realmente era uma estranha reação para uma mulher que parecia despreza-lo. Pegou a ficha médica ao pé da cama e leu o que havia sido anotado.
- Seu estado melhorou consideravelmente. Se continuar assim, amanha cedo poderá ir para a casa. Mas não se preocupe com os pacientes. Dino virá para me ajudar.
- É muita gentileza dele.
Potter riu baixinho
- Eu não lhe inspiro muita simpatia, não é ? Mas não posso culpa-la. Reconheço que fui hostil.
- É esse seu estado normal ,doutor.
- Diz isso porque não me conhece.
- Ainda bem!
Os olhos verdes estreitaram-se ao fita-la. Ela sempre recuara a qualquer tentativa de aproximação, como se temesse alguma coisa. Não conhecia seus motivos e tampouco a questionara.Sabia apenas que não era repulsa. Talvez fosse algo mais perturbador. Louise era uma pessoa vulnerável. Pena que ele percebeu isso muito tarde. Agora, ele partiria sem dar-lhe chance de explorar os próprios sentimentos.
Enfiou as mãos nos bolsos da calça e examinou-lhe o rosto pálido. Ela não usava um só pingo de maquiagem, tinha olheiras profundas e o cabelo em desalinho. No entanto, estava estranhamente bela.
- Quer parar de olhar para mim?- pediu ela- Não precisa ficar me lembrando de quanto devo estar feia.
- Desculpe, não tive essa intenção.
- Você sempre faz isso.- disse ela, e desviou os olhos para as mãos ,sobre o lençol.- Meu pai também não perdia a opurtunidade de demonstrar quanto eu era sem graça.
Oh, aquele homem...A expressão de Potter endureceu diante das lembranças despertadas. E, enquanto elas martelavam sua mente lembrou-se de certos comentários a respeito do modo como o Dr. Weasley tratava a esposa. A Sra. Weasley com certeza sabia das aventuras do marido. Vai ver que não se importava..Ou tinha medo de se importar.
Mas Gina Weasley era um verdadeiro enigma. Sua atitude em relação a ele, a mão quebrada, a pouca auto-estima...É. Tudo começava a encaixar-se.
- Sua mãe sabia dos caso extra-conjugais de seu pai? -perguntou inesperadamente.
- O quê ?- Gina custou a acreditar nos próprios ouvidos.
- Você escutou. Ela sabia?
- Claro que sim.
- E mesmo assim continuou a ser sua mulher?
Gina riu amargamente.
- Não consegue imaginar por quê ?
- Talvez- Aproximou-se mais da cama. Há coisas sobre você que jamais me ocorreram. Convivemos por quase um ano e só agora a vejo como realmente é.
Gina moveu-se, inquieta.
- Não se dê ao trabalho, doutor. Não pedi nem quero a sua atenção.
- Nem a minha ,nem a de qualquer homem, acertei?
Gina sentiu-se presa em uma armadilha.
- Quer parar com isso? Não suporto interrogatórios, e nem me sinto bem.
- Acha que é o que eu estou fazendo? Interrogando-a? Eu julgava estar demonstrando meu interresse normal por minha assistente.
- Estou prestes a ser sua ex-assistente, Lembra-se? Não leu minha carta de demissão?
- A carta? Li e joguei no lixo.
- Você o quê ?
- Joguei no lixo.- Ele deu de ombros.- A clínica iria à falência sem você. Seus pacientes não voltariam se tivessem de se consultar comigo.
- Não exagere.
- Você tornou-se indispensável e precisa ficar.
- Lamento mais não posso. Não suporto você- exclamou ela ,sem pensar.
Potter estudou-a por um instante antes de assentir.
- Essa sua reação é bem mais saudável do que ficar me evitando o tempo todo, se encolhendo como um caramujo sempre que me aproximo.
- Não seja exagerado.
- Não sou. – Potter fitou-lhe a mão esquerda.- Você tem segredos muito bem guardados, Gina e não sossegarei até que me conte todos eles. Para começar quero saber por que não permite que ningúem toque sua mão. -Ela mal conseguia respirar. Sentia o rosto arder.
- Se houvesse algum segredo, eu jamais lhe contaria.
- Por quê? Sabe que pode confirar em mim.
Era verdade.Como médico, ele jamais partilharia com terceiros os segredos de seus pacientes.
Esfregava o pulso esquerdo, absorta, lembrando-se de como sua mão fora quebrada e como doera.
Potter a fitava, perguntando-se como pudera julga-la fria.
Gina tinha um temperamento igual ao seu, e jamais se deixava abater. Quando evitava seu toque, era o passado que ela temia, não o presente.
- Você é cheia de mistérios. Trabalhamos juntos há um ano e nada sei sobre sua vida.
- A escolha foi sua. Sempre me tratou como se eu fosse um pedra no caminho.
- Tem razão. Guardei mágoas antigas.
- Você estava no seu direito. Eu desconhecia totalmente essas histórias sobre meu pai. Devia Ter esconfiado que havia alguma razão para ele nunca mais querer retornar a Jacobsville. Quanto a minha mãe, jamais fez questão de voltar. - Ergueu os olhos para fita-lo.- Ela provavelmente sabia...- Corou , e desviou o olhar.
- Mas nem por isso o deixou.
- Nem poderia. Ele a teria...-Suspirou e fez um gesto desanimado.
- Ele teria o quê ? Matado sua mãe? - Gina não ousou fita-lo, atormentada pelas lembranças da violência do pai, dos maus tratos, do terror que inspirava nela e na mãe.
Potter percebeu que ela sofria e pegou-lhe a mão, tentando dar-lhe algum conforto.
Gina não conseguia entender o porquê daquele súbito interesse. Fitou-o, curiosa, de repente uma onda de carinho a inundou.
Mas precisava evitar aquele tipo de emoção. Potter não a queria como mulher. Jamais. Era-lhe útil profissionalmente, e só. Ele cocntinuava muito ligado ao passado, ao caso da ex-noiva, a Jane Parker...Lamentava a sorte de Gina como o faria por qualquer outra pessoa que sofresse. Aquilo não tinha nada de pessoal.
Afastou lentamente a mão.
- Obrigada...- disse, numa voz estrangulada.- Há pessoas que vivem presas ao passado e se esquecem de viver o presente.
- Eu era assim. Dava um importância exagerada ao passado, mas agora já não estou bem certo disso.
Gina não entendeu o que ele quis dizer , mas não teve chance de procurar esclarecer porque naquele instante a enfermeira no quarto e os interrompeu.
Continua [...]
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!