Capitulo VI





Durante o jantar, ela sentou-se o mais distante possível de Potter. Mas era um tormento ver Padma, toda dengosa, acariciando-o daquele jeito. Sorte que Gina conseguia dissimular , manter uma fisionomia neutra. Quem a fitasse ,não notaria ,em seu olhar, nada que denunciasse aquilo que sentia.
Ao deixar o local, permitiu que Dino a conduzisse pela mão. Mais atrás , Potter os observava, contrariado. Os quatro acabaram se encontrando no estacionamento.
- Bela cirurgia a desta manhã, Harry. Você possui mãos de artista. Duvido que a Sra Blake fique com alguma cicatriz. - Harry esboçou um sorriso e segurou a mão de Padma.
- Tomara. Aquela mulher é perfeccionista. Ai de mim se restar uma só marquinha.
- Então a coitada deve sofrer muito nesse mundo de imperfeições. –Dino deu uma risada.- Te vejo amanhã. Preciso de um conselho sobre um paciente. A mãe insiste em extrair tudo, as amígdalas e adenóides, mas não creio que haja necessidade. Talvez ela o escute.
- Não tenha tanta certeza disso. Mas, se quiser posso dar uma olhada.
- Eu ficaria muito grato.
Harry olhou para Gina, que até ali não dissera uma só palavra.
- Chegou dez minutos atrasada esta manhã, doutora.- disse friamente
- Lamento, mas dormi demais. É muito cansativo sair por aí na ambulância à procura de algo com o que passar o tempo.- ela respondeu irônica. Lançou-lhe um sorriso frio e entrou no carro antes que ele entendesse a piada.
- Tente chegar na hora amanhã.- advertiu o médico antes de afastar-se, com Padma pendurada em seu braço.
- “ Tente chegar na hora amanhã ”- Gina o imitou, já ao lado de Dino, dentro do carro. Suas mãos seguravam a bolsa com uma força incomum.- Ele que espere.
- Harry faz isso de propósito. Gosta de vê–la irritada.
- Deve Ter ficado feliz com a minha demissão. Mas asseguro que me senti muito mais aliviada do que ele.
Dino tentou disfarçar um sorriso.
- Se é o que você diz ,acredito.
Muito nervosa, Gina não parou de mexer na bolsa durante todos o trajeto.
- Desculpe, Dino. Creio que não fui uma boa companhia .- Disse ,já diante da porta de casa.
- Você foi perfeita.- Dino ergueu-lhe o queixo com a ponta dos dedos.- O problema e que ainda não aprendeu a lidar com Harry. Está aborrecida e com razão. Esta noite ele foi demais.
- Ele é intratável. Mas não foi sempre assim.Tudo começou na festa de Natal do ano passado.
- Houve algo entre vocês na festa?
Ela deu de ombros.
- Potter tentou me beijar e eu não permiti. Devia Ter bebido além da conta, porque me segurou pelos ombros e me sacudiu, como se eu fosse uma boneca.
- Sério?
- Sério. Até hoje tremo só ao vê-lo se aproximar. É forte e quando fala comigo sempre tenta me segurar pelos braços ou pelos ombros. Parece que faz de propósito, só para me perturbar.
- Não quer me falar sobre isso?
- É melhor não. Creio que é tolice minha.
- Não, não é tolice. Não é normal ficar tão abaladas só porque alguém a toca.
- Mas não acontece com todos ,somente com ele
Dino fitou-acom as sobrancelhas erguidas, mas ela não pareceu dar-se conta daquilo que acabara de confessar. Suspirou e esfregou a nuca com a mão.
- Engraçado....Estou terrivelmente cansada,e não costumo sentir-me assim após um longo dia de trabalho.
Dino tocou-lhe a testa e fitou-a, intrigado.
- Você está febril. Como se sente?
- Com dores no corpo todo. E desanimada. – Ela sorriu.- Mas não é nenhuma surpresa. Sempre me resfrio no inverno.
- Tome duas aspirinas e vá para a cama. Se não acordar disposta, não vá trabalhar.- Aconselhou Dino.
- Vou ficar bem . Não adianta tomar remédio quando o resfriado ataca, e você sabe disso.
Ele riu.
- Tem certeza de que não precisa de nada?
- Tenho, obrigada. Seguirei seu conselho. Agradeço pelo jantar. Apesar de tudo, foi muito agradável.
- Também achei Sabe que não me animo muito para sair, mas às vezes a solidão pesa. Já faz cinco anos, e ainda sinto falta dela.
- Não pensa em tornar a se casar?
- Não – disse ele, comovido.- Posso parecer um pouco fora de moda, mas prefiro as lembranças dos doze anos que passei com ela do que cem vividos com outra pessoa.
- Eve foi uma mulher de sorte. È raro uma pessoa ser tão amada assim.
- Era recíproco.
- Tenho certeza que sim.- Beijou-o no rosto.- É bom Ter um amigo como você.
- Isso também é recíproco. Poderíamos sair mais vezes. Talvez assim as fofocas a meu respeito cessassem.
- Eu adoraria. Também não saio muito, mas é uma questão de hábito. Foram oito longos anos ás voltas com livros de medicina. Sobrava pouco tempo para namoros.- Uma sombra de tristeza desceu sobre seus olhos.- E eu não fazia questão. O casamento de meus pais me deixou traumatizada. Não acredito que duas pessoas consigam ser felizes juntas, amando-se e confiando uma na outra.- Parou de falar, meio embaraçada.
- Lamento muito sobre seu pai.
- O Dr. Potter me contou a verdade dele e de sua ex-noiva.
- Ele...fez isso?
Gina assentiu.
- No dia em que você ligou, convidando-me para o jantar em querer ouvi a conversa de ambos.
- Oh, sinto muito!
- Pedi demissão naquele mesmo dia, e pretendo voltar para Austin. De qualquer modo, meu contrato terminaria no final do ano. Não admira que Potter guarde tanto contra mim. Depois do que meu pai fez....Você não deveria ter insistido para que ele me contratasse.
- Minhas intenções foram boas.- Dino fitou-a atentamente. Julguei que você pudesse ajuda-lo. Potter estava apaixonado por Jane Parker, que não correspondia a esse amor. Ele é do tipo que dominará qualquer mulher que não esteja à sua altura.
- Como meu pai.- constatou ela ,absorta.
- Deixe-me ver a sua mão direita, Gina - disse ele pegando-a e examinando-a.- Nunca mencionei isso ,mas mas parece que há uma fratura aqui.
Gina corou de modo estranho e afastou a mão.
- Esqueça isso. Preciso entrar. Obrigada mais uma vez. Dirija com cuidado.
- Cuide-se você também.
Ela ficou observando o carro afastar-se até desaparecer na noite. Tocou na mão que Dino examinara . Não queria aquela lembrança de volta. Iria se deitar e tentaria esquecer.
Começava a adormecer quando ouviu fortes batidas à porta.Parecia ser alguém em desespero. Tentou levantar-se para atender, mas, surpresa, notou que mal conseguia manter-se em pé. Estava zonza e fraca, o estômago dando voltas. Sentia a cabeça girar ao dar o primeiro passo, e foi brigada a sentar-se na poltrona mais próxima.
No instante seguinte a porta foi aberta e logo um homem moreno e furioso entrou no quarto.
- Então você esta aqui? – indagou Potter. Fitou-a intrigado, ao notar- lhe a estranha aparência. Aproximou-se e colocou a mão em sua testa.- Está ardendo em febre. Por que não ligou pedindo ajuda ?
Gina mal conseguia enxerga-lo.
- Cheguei em casa há mais de uma hora tomei duas aspirinas e fui me deitar. Há algum remédio aí com você? Meu estômago está revirado.

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