Capitulo V
- Por que não me contou? Eu teria entendido!
- Você não estava em condições de receber mais esse golpe- disse ele, lembrando-se da fisionomia sofrida que notara na primeira vez que a vira.-Além disso, o contrato já havia sido assinado e a única maneira de corrigir isso era você se demitir.
Agora tudo fazia sentido.
- Então foi por isso que agiu daquele modo? Para que eu não aguentasse a pressão e desistisse?Ora, mas....como eu poderia adivinhar?
- Você foi mais forte do que eu imaginava e não cedeu um só milímetro. Manteve-se inflexível. –Potter mexia as chaves no bolso enquanto a observava.- Há muito tempo ninguém me enfrentava dessa forma.
Ele não precisava estar dizendo isso. Todos em Jacobsville eram complacentes com o mau humor do Dr. Potter. Só Gina o encarava de igual para igual..Devido ao temperamento de seu pai, desde cedo aprendera a não demonstrar medo ou resignação, e agora aplicava a mesma regra a Potter .Alguém com uma personalidade mais frágil não teria resistido um mês àquilo tudo.
Em relação ao pai, Gina procurara sempre manter as emoções sob controle; era perigoso deixa-lo perceber que a magoava.porque ele gostava de magoar.E agora como se fosse um castigo, o homem a quem amava desprezava-a justamente por ser filha do Dr. Weasley.
Dino Thomas fizera o que julgara melhor para ela. Mas obviamente subestimara o amigo, pensando que ele não se importaria em te-la como assistente.
Potter a fitava ,sem piscar.
- Um ano, um ano inteiro lembrando o que seu pai aprontou. À vezes eu tinha vontade de fazer qualquer coisa para que você fosse embora. Vê-la já era doloroso.
Aquela foi a última gota. Gina o amava tanto e, em contrapartida ,tudo o que ele via quando a fitava era uma mulher cujo pai o traíra.Por isso a desprezava.
Na verdade, Arthur Weasley fora apenas um pobre diabo viciado em drogas,que roubava narcóticos do hospital onde trabalhava. Ele estava drogado quando o jatinho que insistiu em pilotar chocou-se contra as montanhas,matando-o e à esposa.
Lágrimas inundaram os olhos dourados de Gina, sem que ela dissesse uma só palavra. Potter espantou-se;já a vira irada, cansada, indiferente,furisoa e até mesmo frustrada, mas jamais a vira chorando. Tocou seu rosto levemente com a ponta dos dedos, como que para certificar-se de que as lágriams eram verdadeiras..
Ela o afastou, chorosa.
- Você foi tão frio comigo...Dino jamais tocou no assunto. E eu fui tola o suficiente para sonhar.... Que idiota!
Voltou-se e afastou-se. Apressada.Potter não fez um só movimento para impedi-la.
Nos dias que se seguiram, Gina manteve-se cortês, educada , porém distante em relação a Potter.Mas alguma coisa havia mudado no relacionamento de ambos.Quanto ao médico, estava ciente da sutil diferença na atitude dela. Agora não mais o seguia com o olhar nem o procurava.Se tinha alguma duvida ,escrevia o que desejava saber e colocava o bilhete sobre sua mesa.Deixava com Brenda os recados a ele dirigidos.A única vez que conversaram ,foi na quinta feira à noite, enquanto fechavam a clínica.
-Encontrou alguém para me substituir? –perguntou ela ,educadamente.
- Não .Porque a pressa?-indagou Potter,fitando-a com curiosidade.
- E que eu gostaria de estar em Austin no Natal.
- Não seja tola.Você jamais conseguira viver naquela agitação.Vai odiar.- sorriu, indulgente.E uma excelente profissional e já fez seu nome aqui.
Vindo dele,aquele era um grande elogio. Gina olhou-o por sobre o ombro.
- Mas o que você tem com isso? Não disse que me detestava?
O médico nada responder.Não havia como contra argumentar. Gina lançou-lhe um último olhar e o deixou.
Ela decidiu usar um discreto vestido preto de crepe ao sair com Dino para o jantar do Rotary Clube.No rosto aplicara uma leve maquiagem e o cabelo ruivo, brilhante, caia solto até pouco abaixo dos ombros. Para Gina, a aparência a muito tempo deixara de ter importância. Mas a verdade era que, mesmo sem ter feito nenhum esforço, estava atraente como nunca, e Dino notou isso.,mas , ao tentar pegar-lhe a mão , foi solenemente afastado. Suspirou, resignado.
Gina era uma caixinha de surpresa. Queria-lhe muito bem ,e não desejava arriscar-se a ofende-la.Segurou-a pelo braço ao entrar no salão e Gina prendeu o fôlego ao avistar Potter. Sua presença ali era um surpresa.
Pelo que ouvira falar, ele raramente comparecia a eventos sociais, tentou descobrir se estaria acompanhado e não demorou muito para saber disso. Havia uma bela morena agarrada a seu braço , como se ele fosse um passaporte para o céu. O médico , no entanto, não parecia prestar atenção à acompanhante. Mantinha os olhos fixos em Gina. Nunca a vira com o cabelo solto, e achou-a mais encantadora do que nunca. A médica, porém acompanhava Dino. Que ultimamente parecia mostrar-se muito interessado nela.
Mas era difícil imagina-los na cama. Gina era uma mulher de princípios rígidos. Era possível perceber isso pelo estilo sóbrio de suas roupas, pelo modo como trazia o cabelo sempre preso atrás da nuca. Só porque naquela noite usava o cabelo solto não significava que deixara de ser inibida. Entretanto, a mudança era adorável e para seu desespero, perturbava-o muito.
- Harry está com uma nova namorada- comentou Dino com um sorriso.- O nome dela é Padma Patil, uma das enfermeiras do hospital. Um verdadeiro avião, mas quando abre a boca...meu Deus tenho pena dele.
- Não a reconheci sem uniforme.È muito jovem para ele , não acha?- Gina comentou com um sorriso, indulgente.
Do outro lado da sala, Potter tentava se controlar. Gina sempre evitava envolvimentos. Há poucos dias, quando atendiam um pequeno paciente, acidentalmente suas mãos se tocaram , e ela se afastara no mesmo instante . No entanto, lá estava agora , permitindo ,que , Dino segurasse sua mão...E ainda por cima sorria, maravilhada. Jamais sorrira para ele daquela forma ,na verdade, de nenhuma outra forma.
- Harry? Estou aqui, lembra-se ? queixou–se Padma.- Pare de encarar sua assistente.Vocês estão de folga hoje esta noite e não precisarão brigar.- deu uma risadinha.
- Onde é que você quer chegar?
- Ora, Harry, todo mundo sabe que ela é um espinho atravessado em sua garganta. A piada mais constante do hospital é que você implica tanto com a pobrezinha que a faz falar sozinha pelos corredores, louca de ódio.O Dr. Simpson já a encontrou aos prantos na enfermaria.- Padma olhou na direção da Dra. Weasley. –Acho-a bonita, e deve possuir um caráter forte. Provavelmente lutou contra fortes preconceitos para ter chegado onde está.
Potter ficou realmente intrigado.Até aquela tarde ,jamais vira Gina chorar e não conseguia imagina-la
sofrendo por sua causa, por suas explosões temperamentais. Mas ,se era tão sensível, sabia como ninguém dissimular os próprios sentimentos.
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