Capitulo III
Ela o amava tanto que não se dava conta das suas maldades ignorava sua brutalidade, seu vício, sua crueldade.
Gina sentiu um arrepio e abraçou a si mesma. Jamais se casaria, porque não conseguiria sobreviver a nenhum relacionamento neurótico. Achava que tudo o que uma mulher precisava fazer para aniquilar-se era apaixonar-se, perder o controle e entregar-se aos desejos de um homem .
Até mesmo o melhor deles se tornava cruel ao menor sinal de vulnerabilidade numa mulher.Arrepiou-se. Jamais ficaria à mercê das vontades de um homem ,como sua mãe fizera.
Potter a fazia sentir-se vulnerável.
Era por isso que não se deixava levar pelas emoções que ele lhe despertava, não queria tornar-se vítima dos sentimentos. A solidão em que vivia podia ser um mal, mas com certeza um mal menos devastador do que o amor.
O telefone tocou e a trouxe de volta à realidade.
- Dra.Weasley?
Era Brenda, a enfermeira da clínica de Potter.Os dois se revezavam ,atendendo o hospital e a clínica.
- Ela mesma.
- Desculpe incomoda-la em casa-continuou Brenda-,mas houve um acidente no norte da cidade ,e estão enviando as vítimas para cá. O Dr. Potter está numa cirurgia no hospital, e pede à senhora que venha até aqui.
-Claro. Não demoro- prometeu ela,ao desligar.
A clínica agora se encontrava deserta. Lá fora ,a noite estava clara e estranhamente quente para o começo de dezembro.
- Não sei como o Dr. Potter suporta esta vida.- disse Brenda ,com um suspiro, após atender o último paciente e fechar a clínica. – Nunca chega em casa antes da meia-noite.
- Ainda bem que não é casado- comentou Gina. Brenda sorriu.
- É verdade, mas creio que devia pensar no assunto. Afinal,já completou trinta anos, e o tempo não para de correr.Passou o cadeado na porta antes de continuar:-Pena que as coisas não tenham dado certo entre ele e a Srta.Parker.
- Pareciam Ter nascido um para o outro, mas quem os conhecia de perto sabia que, dos dois,ele era o único apaixonado.
- Nem sempre as coisas acontecem como esperamos- comentou Gina, pensando enquanto daria para ver o Dr. Potter tão desamparado e indefeso quanto ela se sentia naquele momento, mas era apenas uma fantasia.
- Não achou surpreendente o caso de Ted Regan e Coreen Tarleton? Casaram-se inesperadamente ,sem que ninguém sequer suspeitasse que estavam apaixonados!Brenda deu uma risadinha.
- Muito surpreendente- concordou Gina ,sorriu ao lembrar-se de Ter cuidado do Ted.
- Eu os vejo ao menos uma vez por semana, a caminho do obstetra.
- Ela deve dar à luz brevemente- observou a enfermeira.- Coreen será uma boa mãe , o Ted um bom pai. Essa criança será feliz.
Brenda percebeu que havia mágoa na voz de Gina, mas , antes que pudesse dizer qualquer coisa, viu a despedir-se e partir.
Nem imaginava que ela passaria o final de semana lendo pesquisas recentes sobre uma bactéria, originada de mutação genéticas, que causara muitas mortes na virada do século XX.
Na segunda feira, Gina estava de volta a sua rotina de trabalho .Como assistente de Potter, deveria assumir a clínica quando ele estiver fora, ou no hospital. Mas o médico sempre dava um jeito de pegar os casos mais interessantes e os maiores desafios. Para ela sobravam apenas fraturas e resfriados. Potter fora frio naquela manhã , ao chegar na clínica. Provavelmente ainda ruminava a discussão que haviam tido no sábado, no estacionamento do hospital. Ela entrou na sala de exames e suspirou , irritada , ao checar uma radiografia. A pior coisa de um amor indesejado é que alimenta a si próprio. Quanto mais Potter a ignorasse, mais ferrenhas se tornariam suas batalhas contra os próprios sentimentos. Jamais lhe ocorrera casar-se, envolver-se emocionalmente com alguém. No entanto Harry Potter fazia com que pensasse constantemente em tais possibilidades. Durante anos ele estivera apaixonado por Jane Parker que o trocara por Burk. Louise a muito perdera a esperança que algum dia Potter fosse gostar dela como gostara da ex noiva.
Não se sentia feia e sem atrativos ;possuía um longo cabelo ruivo ,grandes olhos cor de mel e tinha a pele clara , suave. Era alta e esbelta. Faltava-lhe o temperamento impetuosos e autoritário do médico. Alto , de ombros largos ,cabelos pretos , olhos verdes e uma covinha no queixo, Harry Potter parecia tão perigoso e atraente quanto um aventureiro do século passado. Mantinha na pele um atraente tom bronzeado, adquirido no rancho . Usava roupas formais , sobre as quais colocava o guarda pó branco. Talvez fosse mais descontráido fora do trabalho,mas isso jamais saberia, uma vez que...
- Há uma ligação para você na linha dois. É o Dr. Thomas- a enfermeira avisou.
- Obrigada , Brenda
Pegou o telefone e distraidamente apertou o botão de outra linha. Antes que se desse conta do erro, reconheceu a voz de Potter:
- .....não a teria aceitado como minha assistente se soubesse de quem se tratava! Droga quando optei por fazer o favor que você me pediu, não podia imaginar que ela fosse filha de Weasley. Jamais o perdoarei pelo mal que me causou. E Gina faz com que eu me lembre dele o tempo todo. E um verdadeiro tormento!
- Entendo ,Harry- disse Dino.
- Ela é uma cruz que tenho que carregar. Mas, respondendo à sua pergunta, não me importo que saia com ela. Gina Weasley não me desperta o menor interesse. Leve-a, e com minha benção .Eu daria qualquer coisa para tira-la da minha vida , e logo!
Em seguida, um clique indicou que a linha estava aberta para ela.
- Dra. Gina Weasley falando ....
- Gin? È Dino. Está ocupada?
- Não.- Limpou a garganta e tentou controlar as emoções- . Estou livre. No que posso ajuda-lo?
- Que tal um jantar comigo na quinta feira?
Ela e Dino saíam ocasionalmente, mas apenas como amigos. Se não tivesse ouvido o que Potter dissera, dessa vez teria recusado o convite.
- Por que não?
Ele riu gentilmente.
- Ótimo , garota. Pego você às sete na quinta-feira, está bem ?
- Estarei esperando.
Gina retornou ao trabalho sem demonstrar o que sentia. Ao terminar de atender o último paciente, pegou mecanicamente uma folha de papel. Viu seu nome junto ao de Potter impresso no cabeçalho e lembrou que os blocos precisariam ser trocados.
Após terminar de escrever a carta de demissão, colocou-a num envelope e deixou sobre a mesa do médico. Estavam no horário de almoço, e ele acabara de sair.
Caminhou para a porta como um autônomo e só parou ao ouvir a voz de Brenda.
- Esqueceu de tirar o guarda-pó , doutora?
- Oh, sim , claro...
Retornou à sala, tirou o guarda-pó e colocou dentro do armário. Saiu em seguida.
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