Capitulo II



- Lamento muito. Julguei-a perfeita para Potter .
- Diga isso à ele. – Gina deu um longo suspiro.- De qualquer forma, cansei desta rotina e preciso fazer algo para mudar.
- Você deve estar precisando de alguma distração. Deixe comigo. Pensarei em alguma coisa.
Gina observou-o afastar-se, apreensiva. Dino era gentil, um viúvo que , que por muito haver amado a esposa ,após cinco anos de solidão ainda se mantinha fiel a ela. Embora o apreciasse, nada queria do médico além da amizade.
Ao caminhar pelo corredor, em direção á saída e ao estacionamento, avistou Potter e ,mesmo reduzindo o passo, não conseguiu evita-lo.
Recebeu dele um olhar gelado e respirou fundo, procurando acalmar-se.
- Pelo menos vista-se como uma médica, se pretende andar por aí com nossas ambulâncias- disse ele rudemente.
- Eu não estava andando por aí, doutor, e muito menos numa de suas ambulâncias. Quanto às roupas
Que uso fora do hospital, não são da ....- Precisou controlar-se para não soltar um palavrão. –Não são da sua conta!
Inesperadamente, ele a agarrou pelo pulso. Gina prendeu o fôlego, chocada. A violência do gesto despertou-lhe instintos protetores, que julgara esquecidos.
Mas não se moveu. Esperou, com os olhos arregalados, que ele a soltasse. Ao contrário do pai dela, Harry Potter jamais perdia o controle.
O médico soltou-a bruscamente, o olhar desconfiado.
- Fria como gelo- disse em tom de troça.- Congelaria qualquer pobre mortal que se aproximasse de você.
Fora a coisa mais pessoal que ele já lhe dissera. E a mais insultante.
- Pense o que quiser. Para mim não faz diferença.
- Você ficaria surpresa se soubesse o que penso.- respondeu ele. Olhou para a mão que a tocara e riu. – Congelada.
Vai ver que é por isso que Dino Thomas ainda não se animou a conquistá-la.
Gina dirigiu-lhe um olhar fuzilante, ao mesmo tempo que se afastava, apressada. Alcançou o estacionamento e passou pelo carro dele sem sequer olhar. O comentário a magoara, mas felizmente não o deixara perceber quanto.
Gina insistia em dizer que aquilo que ele pensava não a afetava, mas a verdade é que afetava ,e muito. Potter a julgava uma mulher fria, o que não era verdade.
Ele mexia com seus nervos sempre que estava por perto ou a tocava. Nestas ocasiões, não conseguia pensar com clareza ou fazer com que suas pernas parassem e tremer. A solução era manter-se distante daquele homem.
Tinha motivos de sobra para evitar qualquer envolvimento com pessoas temperamentais, mas, apesar de seus esforços, a convivência com Potter estava se tornando uma provação.


Dirigiu até a pequena casa branca situada nos arredores da cidade, num bairro tranquilo que começava a crescer. O aluguel era bastante razoável.
Ela costumava passar os fins de semana pintando e cuidando da decoração . Os móveis, que ia comprando aos poucos, refletiam seu temperamento calmo. Já providenciara algumas peças decorativas para a sala de estar, como uma escultura em forma de gato que colocara sobre a lareira, os vasos de cerâmica indiana e os exóticos instrumentos musicais que colocara na estante. Os quadros haviam sido pintados por ela mesma, alguns em tons berrantes. Nunca recebia visitas.
Quanto a Potter, ocasionalmente dava recepções no rancho onde morava. E, quando isso acontecia, invariavelmente Gina era excluída da lista de convidados. Esse fato gerava muitos comentários. No entanto, ninguém jamais ousara questiona-lo.
Gina, por outro lado, não se importava com isso. Secretamente, suspeitava que o constante mau humor do chefe era provocado por Jane Parker, uma antiga namorada. Bela, loira, de olhos azuis, ex estrela de rodeios, bastante generosa e comunicativa, ela se casara há pouco com Todd Burke, deixando todos surpresos.
Por diversas vezes ela tentara adivinhar, sem sucesso, por que Potter concordava em trabalhar ao lado de uma pessoa a quem detestava. Tentara descobrir isso por intermédio de Dino, mas o médico sempre arranjava um jeito de mudar de assunto.
Dino fora aluno do pai de Gina durante o período de residência e desde então passara a frequentar a casa da família.
Nos tempos difíceis, o jovem médico se tornara um verdadeiro aliado da mãe de Gina, embora não gostasse muito do antigo professor. Sabia demais da vida particular dele, e revoltava-se com a atitude autoritária e à vezes cruel que mantinha com a esposa e a filha.
Houve muitos comentários quando Gina começou a trabalhar como assistente do Dr. Potter, há um ano. Ela chegaraa ouvir uma das enfermeiras comentar que seria um estorvo ter a filha do Dr. Weasley clinicando ali, e que sua presença iria perturbá-lo. Gina teve vontade de perguntar a quem sua presença poderia perturbar, porém desistiu.
Ficou sem saber a quem as enfermeiras se referiam e por que essa pessoa se sentiria perturbada com sua presença. Foi então que começou a suspeitar que seu pai fizera algo não exatamente elogioso quando trabalhara ali.
- Dino? Você saberia me dizer qual é o mistério? O que foi que meu pai fez aqui no hospital?- perguntou certa vez ao amigo, durante um plantão.
Dino foi pego de surpresa.
- Não sei de nenhum mistério. Sei pai foi um dos cirurgiões da equipe, como sou hoje.
- Mas deixou o hospital em circunstâncias meio estranhas. Transferiu-se para Austin e nunca mais retornou a Jacobsville.
- Pelo que sei, ele era bastante respeitado como médico. Mesmo péssimo como marido e pai, foi um cirurgião excepcional.
- Então porque tantos comentários a respeito dele?
- Se existem comentários, posso assegurar que nada tem a ver com a habilidade de seu pai como cirurgião, e certamente nada que possa preocupa-la.
- Mas , então do que se trata?
Naquele momento ,haviam sido interrompido, e Dino pareceu ficar aliviado. Gina não tornou a tocar no assunto, embora sua curiosidade aumentasse a cada dia.
Fosse qual fosse o problema o fato era que ela imaginava que talvez tivesse afetado o Dr. Potter. Por isso ele era agora a hostilizava. Mas, com certeza, num ano inteiro o médico teria feito algum comentário a respeito.
Já não esperava chegar a entende-lo. No entanto, Potter não fora sempre tão desagradável.
No início, chegara a trata-la com gentileza, mas de uma hora para outra se tornara frio e ranzinza. Desde então , parecia sempre fita-la com reprovação.
O comentário daquela manhã, sobre sua frieza, era uma ofensa antiga. Na primeira festa de Natal que passara em Jacobsville, Gina o empurrara para evitar um beijo indesejado. Não conseguia imaginar aqueles lábios sensuais no seu. Só de pensar nisso, tremia. Atração que sentia por aquele homem fora explosiva e imediata, uma experiência assustadora para alguém que dedicava a vida aos livros e a estudos incessantes.
Gina jamais tivera vida social, mesmo quando cursava a faculdade.
As boas notas e o nome na lista dos melhores alunos, eram as únicas coisas que continham o sarcasmo e a brutalidade do seu pai. Se estudasse com afinco e ganhasse prêmios, bolsa de estudo, o pai se orgulhava da filha. Chegava a achar que ele amava mais as conquistas que obtivera do que ela própria.
Autoritário por natureza , Arthur Weasley fora piorando com o tempo, e tornara-se cruel quando suas ambições chegaram a galgar patamares mais elevados. A mãe de Gina morrera nas mãos do marido..



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