Capitulo I
O corte no joelho do garotinho era profundo e sangrava bastante. A Dra.Gina Weasley sabia exatamente o que fazer para ajudá-lo, mas, ali na rua, era difícil exercer a pressão correta sobre o corte.
- Está doendo !- protestou o garoto.
- Só mais um minuto, querido. Se tudo correr como eu espero, sua mãe o levará para tomar sorvete ainda hoje.
Os olhos de Gina brilhavam intensamente no rosto emoldurado pelo cabelo cor de cereja.
- Sorvete?Que legal!!
A sirene da ambulância já podia ser ouvida. Apesar de pequena, a cidade de Jacobsville possuía uma assistência médica exemplar.
- Aposto como você nunca andou numa ambulância de verdade. Mas andará agora . E na Segunda –feira, quando for à escola, terá muito o que contar aos amiguinhos.- disse ao garoto.
- Com o joelho tão machucado talvez eu não vá à escola na Segunda-feira. lamentou-se ele.
Gina sorriu e logo a ambulância estacionou junto ao carro da polícia. Enquanto dois enfermeiros colocavam o garotinho na maca, ela trocou algumas palavras com o médico, para descrever o ferimento e dar instruções.
Gina fazia parte da equipe do hospital para onde o menino seria levado, e pretendia seguir a ambulância com seu próprio carro.
- Que sorte a senhora estar por perto- disse um dos policiais.- Pobre garoto. O corte parece profundo.
- Mas ele ficará bom- explicou ela, fechando a maleta de primeiros-socorros que sempre levava consigo.
- A senhora é assistente do Dr. Potter, não é?- indagou o policial.
- Sim ,sou.
Ela preferiu não prolongar o assunto.Mas percebeu, pela expressão do homem, o que gostaria de dizer. A maioria dos habitantes da cidade sabia que o Dr.Potter dava pouca importância à sua assistente.Aquilo ficara bastante claro durante os meses em que vinham trabalhando juntos.
- Ele é um excelente profissional. Tratou da minha esposa quando ela teve um grave problema no pulmão.
o policial sorriu.- è muito eficiente e jamais perde a calma. A senhora também. Pelo que pude ver, sabe o que fazer numa emergência.
- Obrigada. Bem, agora preciso ir.- Gina sorriu e em seguida entrou no pequeno Ford cinzento.
A sala de emergência do hospital encontrava-se lotada, mas isso era previsível; os acidentes duplicavam no final de semana. Gina cumprimentou alguns dos funcionários se pôs a seguir a cadeira de rodas na qual Matt fora colocado. De repente avistou o Dr. Potter. De uniforme verde, acabava de sair de uma cirurgia.
- O que está fazendo aqui? Não é seu sábado de folga?
- Parece que darei plantão por nós dois- disse ele mal-humorado.
“ Lá vem ele de novo aplicando a primeira lei de Potter: sempre tire conclusões apressadas.” Pensou ela ,divertida.
- Houve um acidente com um garotinho e por um acaso eu estava por perto quando aconteceu- começou a explicar.
- O hospital paga gente especializada para atender a esse tipo de acidente- observou o médico enquanto pessoas passavam por eles.
- Mas eu...-Gina começou a protestar, porém foi interrompida.
- Espero que não torne a acontecer, caso contrário terei que tomar sérias providências junto ao Dr. Wright Fui claro?
Dr. Wright era o administrador do hospital. Potter era chefe da equipe, e como tal tinha autoridade suficiente para cumprir a ameaça.
- Quer me ouvir?- pediu, ela irritada- Eu não saí com a ambulância! Nem estava aqui!
- A senhorita vem, doutora? –Chamou uma das enfermeiras.
Potter fitou as duas mulheres, e em seus olhos verdes havia uma expressão intimidadora. Encarou Gina.
- Se sua vida social é assim tão sem graça, aconselho-a a procurar mudá-la- disse, com sarcasmo.
Como ele ousava falar com ele daquela maneira?
Os olhos de Gina pareciam soltar faíscas. Ela estava tão furiosa que não conseguiu articular uma só palavra. Abriu a boca para protestar, mas ele se foi sem dar-lhe a chance de se explicar. De qualquer forma, não adiantaria discutir. Para aquele homem, estaria sempre errada.
Seguiu-o com o olhar e viu-o afastar-se, apressado.
- Algum dia ele ainda sofrerá algum acidente e ,quando isso acontecer, vou adora engessa-lo por inteiro!!
- Outra vez, doutora! –Disse uma enfermeira ao passar por ali.
Corria uma piada entre os funcionários do hospital a respeito de Gina sempre falar sozinha depois de uma discussão com o Dr Potter. Com um profundo suspiro, ela procurou ignorar a brincadeira e foi ao encontro do garotinho.
Pouco depois, deixava a sala de emergência. Usando jeans e camiseta,mais parecia uma adolescente do que uma médica. Prendera o cabelo na nuca e não usava maquiagem para realçar a boca adorável e os enormes olhos cor de mel.
Mas porque maquiar-se quando não havia a quem impressionar? O homem a quem amava não a notaria nem se surgisse a seu lado usando plumas e paetês.
“Harry” Potter não demonstrava o menor interesse por ela, exceto como uma assistente eficiente. Não que algum dia a tivesse elogiado; muito ao contrário parecia gostar de criticá-la e a seu comportamento, fazendo-a perguntar- se por que motivo ainda a mantinha por perto. Ah, sim: Gina também se perguntava por que insistia em permanecer onde não era desejada.
O amor que sentia por Harry Potter era sua única desculpa. Mas algum dia isso não seria suficiente.
O dr Dino Thomas ,pediatra, o único amigo que tinha na equipe, foi a seu encontro. Também terminara uma cirurgia.
- Você por aqui? Mas hoje não é o plantão de Harry?
Apenas alguns privilegiados tinham a permissão de tratar o Dr Harry Potter pelo apelido, e ela não era um deles.
Gina sorriu. Dino era uma figura simpática e sorridente, que possuía olhos e cabelos escuros. Fora ele quem ligara para o hospital em Austin, onde ela trabalhava, para avisá-la que Potter estava à procura de uma assistente.
Na ocasião , Gina ansiava pela chance de um recomeço. E ,para seu espanto, após dez minutos de entrevista, o famoso médico a convidara para juntar-se a ele.
- Houve um acidente com um garotinho bem em frente à lanchonete onde eu estava almoçando. Fui até lá porque em casa nada havia que eu pudesse comer. Preciso fazer compras, mas detesto ir ao supermercado- acrescentou com uma careta.
- E quem não detesta? –Ele sorriu.- Como está indo com Potter?
Ela deu de ombros.
- Do jeito de sempre.
Dino balançou a cabeça.
- E pensar que sou o culpado...julguei que fosse para seu bem, mas parece que me enganei.
- Por favor, não se responsabilize.
Ela tremeu. Não conseguiu desviar os olhos a tempo de esconder a mágoa.
- Julguei que uma mudança fosse fazer-lhe bem após...tudo o que passou- prosseguiu Dino- Trabalhar em Jacobsville me pareceu uma oportunidade caída do céu. Potter é um dos melhores cirurgiões que conheço e você é uma das médicas mais eficientes. –Ele suspirou- Como pude me enganar tanto?
- Não se preocupe. Meu contrato é de um ano e está quase no fim.
- O que pretende fazer depois que sair daqui?
- Retornar a Austin.
- Por que não fica trabalhando na emergência do hospital? –brincou ele.
O trabalho na emergência era tão estressante que , às duas da madrugada e no meio de um exame desnecessariamente exigido por um famoso hipocondríaco, um dos residentes abandonou seu posto e nunca mais pisou no hospital.
Gina sorriu ao lembrar-se do episódio.
- Não obrigada. Eu gostaria de Ter meu próprio consultório ,mas ainda não posso me dar ao luxo. Enquanto isso não acontece, voltarei para Austin. Em algum hospital de lá deve existir trabalho para mim.
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