Capitulo XXIV
Ele parou à porta antes de deixá-la e voltou-se. Fitou-a com olhos indagadores. Gina não parecia perturbada com a decisão que tomara.
- Só uma pergunta. Se não tivéssemos encontrado Jane na joalheria., você teria ido em frente com o nosso noivado?
Gina apertou a prancheta contra o peito.
- Quem sabe?
Ele recostou-se à soleira, os olhos estreitados.
- Sei que poderá alegar que o que vou dizer não é da sua conta, mas direi mesmo assim. Durante um certo tempo eu e Jane fomos mais que bons amigos, mas o sentimento era unilateral. Ela nunca foi apaixonada por mim. Agora está casada, ama o marido e ponto final. E quanto aos meus sentimentos por ela, posso afirmar que ficaram lá atrás no passado.
- Fico feliz por você.
- E não por você?- pressionou ele.
Gina mordeu o lábio inferior, sem saber o que responder.Viu-lhe o olhar vagaroso descer do rosto para os seios. Ficou assim por tanto tempo que tirou-lhe o fôlego. Depois , os olhos azuis encontraram os dela e os prenderam. Precisou conter-se para não se atirar nos braços dele.
- Acredita que vai se ver livre de mim tão facilmente, doutora- indagou ele antes de sair, batendo a porta.
Gina praguejou e tratou de apanhar a ficha do próximo paciente. Parou diante da porta da sala de exames e ,antes de entrar, esperou que suas mãos parassem de tremer.
No final do expediente, Potter foi chamado para atender a uma emergência no hospital. Como Gina teria que ir para lá mais tarde, provavelmente o encontraria. Mas àquela hora o lugar estaria lotado e ela não precisaria preocupar-se com o fato de ficar a sós com o médico.
No final da tarde, já no hospital, parou na sala das enfermeiras para verificar se haviam conseguido entrar em contato com o marido de uma das pacientes, que se encontrava ausente da cidade quando ocorrera a internação.
- Sim , ele foi encontrado e já está a caminho – informou uma das garotas.
Gina agradeceu e voltou-se para sair, mas, ao fazer isso, deu com Potter, que vinha pelo lado oposto do corredor. Parecia mal humorado, os olhos azuis repletos de fúria.
Pegou-a pelo braço e arrastou-a sem dizer uma só palavra. Ao ve-los, as pessoas sorriam maliciosamente.
- Mas o que está havendo?- ela indagou, quase sem fôlego.
- Quero que venha comigo e diga a um certo....- Potter engoliu a palavra que estava prestes a escapar dos seus lábios-... cavalheiro, na sala de emergências, que estive na clínica durante toda a manhã.
Gina balbuciou algo, mas ele não lhe deu ouvidos e tampouco diminuiu o passo. Arrastou-a para dentro da sala, onde um homem alto, loiro e irado encontrava-se sentado, a mão enfaixada.
Potter soltou-a e fez um sinal em direção ao homem.
- Diga a ele!
Gina o fitou, confusa, mas em seguida voltou-se para o desconhecido:
- O Dr. Potter, esteve na clínica durante toda a manhã, senhor. Na verdade, não poderia ter feito outra coisa. Por causa dos feriados do fim do ano, estamos atendendo o dobro de pacientes que normalmente atenderíamos.
O loiro relaxou um pouco, mas ainda olhava com fúria para Potter. De repente ouviu-se um burburinho no corredor, e em seguida Jane Burke entrou na sala feito um furacão.
- Todd! O que houve ,meu bem? Cherry disse que você sofreu um acidente. - Segurou a mão do marido e chorou.- Achei que tivesse morrido!
O homem loiro apoiou-lhe a cabeça no ombro e acariciou-a gentilmente.
- Sua tolinha...- disse ele, brincalhão- Prendi a mão na porta do carro, mas nem quebrou. Estou bem, salvo algumas escoriações.
Jane olhou com desconfiança para o ar zangado de Potter, em seguida para Gina e finalmente para o marido.
- Mas o que está havendo aqui?- quis saber.
Todd Burke encolheu os ombros com indiferença e foi Potter quem explicou. Falou com ironia, esforçando-se para controlar a voz:
- Seu marido julga que eu e você estivemos juntos esta manhã, e na sua casa. Isso porque o carteiro disse que viu um Jaguar prateado parado diante da sua garagem.
- E de fato deve ter visto. O carro é de uma cliente que compra roupas da minha grife. O carro é igualzinho o de Harry. -O rosto de Todd ficou vermelho, mas ele nada disse.- Eu devia ter adivinhado! Então foi por isso? Ficou nervoso e bateu a porta na mão? Só porque o linguarudo do carteiro não faz outra coisa além de bisbilhotar a vida alheia? Aquele idiota não perde por esperar!
- Como eu poderia saber?- Todd gaguejava, cada vez mais vermelho.
Potter precisou de muito autocontrole para não esmurrá-lo
- Incrível! Só espero não ter mais problemas como esse desse tipo aqui!
Atirou a prancheta sobre a mesa, junto à qual Burke estava sentado. Parecia ameaçador e o marido de Jane levantou-se, igualmente zangado.
- Tenham calma- a moça interveio- Aqui não é o lugar para esse tipo de coisa.
Burke hesitou; já havia feito papel de tolo uma vez e não pretendia repetir o comportamento. Olhou para Gina, que parecia tão humilhada quanto ele.
- Eu sobe que estragaram seu noivado, doutora. Sabe, esses dois deveriam ter se casado. Não fizeram isso e agora tentam arruinar a vida de outras pessoas.
Gina observou-o por um momento. Era surpreendente como as coisas começavam a se encaixar.
- Deve estar enganado, Sr. Burke. O Dr. Potter é o homem mais decente que conheço. Não é do tipo que corre atrás de mulheres casadas. Devia confiar na sua esposa, e não dar ouvidos a boatos sem fundamente. Só um idiota acreditaria em tudo que ouve.
Potter ficou boquiaberto diante da defesa inesperada.
- Não sei como agradecer, Gina- disse Jane nitidamente emocionada- É mais do que mereço, mas, mesmo assim, obrigada- Voltou-se para o marido. Seus lábios tremiam, tamanha era a sua raiva.- Ela tem razão.Casei com você porque o amava , e ainda amo. Só Deus sabe porquê. Nunca me ouve quando digo a verdade. Prefere acreditar em estranhos.
Gina sentiu-se constrangida e não ousou olhar para Potter. Poderia ser acusada da mesma coisa.
- Mas tenho algo que acabará com suas tolas suspeitas. - continuou Jane- Pretendia esperar a noite de Natal para contar ,mas agora não importa mais. Estou grávida, e posso garantir que não é de Harry.
- Jane!- exclamou Todd Burke. Esqueceu-se da mão machucada e abraçou-a – Isso é verdade?
- E por que eu mentiria, seu bobo?
Ele a beijou, impedindo-lhe as queixas. Meio embaraçada, Gina deixou a sala. Potter alcançou-a no corredor.
- Talvez isso finalmente o convença.- falou, impaciente.- Agradeço por ter me defendido. Pena que você não acredite em uma só palavra do que disse.
Gina escondeu as mãos nos bolsos do guarda-pó.
- Acredito que ele ame a esposa. E que nada exista entre vocês dois.
- Obrigado.
- Seja como for, aquilo que você faz da vida não é da conta de ninguém , Dr. Potter, muito menos da minha. Já sou uma lembrança.
-Por livre escolha. – informou ele, com certa impaciência.
Haviam chegado ao estacionamento e pararam ao lado do pequeno Ford de Gina.
- Dino amava muito a esposa e jamais se conformou com sua perda. Passa os finais de semana com os pais dela, porque isso o faz sentir-se melhor. Certa vez perguntei-lhe como se sentiria se uma mulher se apaixonasse por ele e confessasse isso. Sabe o que Dino respondeu? Que lamentaria muito por ela.
- Por que está me contando isso?
Gina o fitou. A implicação fora sutil, embora óbvia.
- Porque acho que não poderá amar ninguém enquanto não tirar Jane da cabeça. É exatamente por isso que não me caso com você.- murmurou , num tom triste.
Potter a fitou.
- Creio que é melhor contar-lhe a história desde o começo.. Talvez assim eu possa convencê-la de que Jane faz parte do passado. Bem, ela participava dos shows de rodeios quando comecei minha carreira como interno no hospital. Caiu do cavalo e a trouxeram para mim. Tivemos uma afinidade imediata e, com isso, passei a ir vê-la montar. Saímos juntos algumas vezes .Ela era especial.
- Já sei que é especial. Dino já disse isso. Preciso ir agora. Adeus, Potter
Ele a segurou pelo braço, provocando-lhe arrepios perturbadores pelo corpo.
- Espere, ainda há mais para contar. No entanto, com toda a afinidade que tínhamos, jamais falei de meu pai a ela.
- Não?
Isso surpreendeu Gina, que julgava que entre os dois não houvesse segredos. Ergueu os olhos.
- Curioso, não acha? –disse ele, como se pensasse alto.- E há outra coisa, porém ainda não estou pronto para falar.
Viu o rosto de Gina tão próximo, reparou nos lábios entreabertos e não se conteve. Abraçou-a com força, dando-lhe um beijo voraz. Depois, ergueu a cabeça e acariciou-lhe o pescoço. Com os lábios, mordiscou-lhe o lobo da orelha.
Ele sabia exatamente onde tocar e beijar, deixando-a desprotegida. As mãos fortes eram como brasas no corpo feminino. Gina queria impedi-lo,mas não pode. Abraçou-o carinhosamente.
- Potter....- gemeu, tremendo de desejo- estamos em público....
Ele levantou a cabeça e olhou ao redor. O estacionamento estava vazio, mas havia algumas pessoas na saída da emergência.
- Venha até minha casa.
Gina fez um gesto negativo com a cabeça, antes que sua força de vontade fraquejasse.
- Não posso.
- Vamos, seja corajosa. Você vive analisando, pensando em cada passo que dá. Seja arrojada pelo menos uma vez na vida.. Arrisque-se!
- Não sou do tipo que aceita riscos, e você também não é. –Olhou para a porta da emergência. Avistou Cho e Nickie, que os observavam. Fez um gesto com a cabeça em direção às duas. – E você só está tentando impressiona-las.
Potter olhou por sobre o ombro.
- Droga! Eu não as tinha visto!
Ela riu, soltando-se.
- Com certeza.
Entrou no carro, ligou o motor e saiu, as pernas ainda trêmulas.” Mais cedo ou mais tarde terão que parar de tremer”, pensou. Potter a deixava maluca. Ainda bem que em breve partiria, e para sempre.
(...)
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