Capitulo XIX



A região era encantadora, apesar de o inverno rigoroso ter queimado a vegetação.. O cavalgar lento era relaxante, mas a companhia a deixava tensa. Gina não conseguia ignorar a presença marcante de Potter, com o chapéu caído sobre os olhos.
- Está gostando ? - perguntou ele.
- Sim, muito.
- Faço isso frequentemente. Minha propriedade não é muito grande, mas possuo umas cinqüenta cabeças de gado e dois excelentes touros reprodutores.
- Gosta de lidar com gado?
- Sim. Criar gado sempre foi meu sonho, desde menino. Meu avô possuía um pequeno sitio e uma velha vaca leiteira. Certa vez tentei monta-la - contou ele, rindo - Foi uma bela queda!
- E sua avó?
- Era excelente cozinheira e fazia doces deliciosos. Quando ela e meu avô descobriram que meu pai andava roubando , ficaram arrasados. Sofriam também por minha causa. - Potter balançou a cabeça. - Quando uma criança faz coisas erradas, os outros sempre culpam quem os criou. Mas meus avós eram pessoas direitas. Só eram pobres ,como muitos.
Gina percebera que ele dispensava um carinho especial aos clientes pobres. Fazia horas extras para poder atende-los gratuitamente. E durante o Natal era o primeiro a oferecer doações às casas de caridade, principalmente às infantis.
- Você.... pretende ter filhos ? - indagou ela.
- Sim. Quero uma família numerosa. E você ?
- Creio que não. Se tivesse filhos, iria querer ficar com eles enquanto fossem pequenos. Crianças precisam de cuidado e não sei se conseguiria me afastar da trazendo-o para perto.
- Sei que não é esse o motivo. Conte a verdade: porque não quer ter filhos? - pediu suavemente.
Gina encolheu-se, como se de repente sentisse frio.
- Talvez pelo fato de eu ter detestado ser criança. - murmurou.- Odiava meus pais e a vida que me proporcionavam.
- Mas nem todos os pais são iguais. Você acha que alguma criança iria me detestar ?
Ela sorriu.
- Por que fariam isso? A única queixa que as crianças têm de você é que não dá pontos tão bem quanto eu.
- Ah, é? E qual é o seu segredo?
- O chiclete que ofereço a eles depois que termino.
- Já entendi. Você troca alguns pontos por algumas cáries.
- Os chicletes não tem açúcar ! - protestou ela, com um sorriso travesso.
- Ponto para você.


Pouco depois chegavam aos estábulos, que ficavam a uma distância razoável da casa principal. Potter pulou do cavalo e ajudou-a a desmontar. Amarrou os animais à cerca e conduziu-a ao interior surpreendentemente limpo, pavimentado . As baias eram bastante espaçosas. Explicou como havia modernizado as instalações.
- Não estou tão atualizado quanto os rancheiros da região,mas investi um bom dinheiro e muito trabalho no projeto. Tenho orgulho do que consegui. Um dos meus reprodutores já foi citado numa revista especializada.
- Meus parabéns. Posso vê-lo?
- Tem certeza?
- Claro que tenho! Por que a surpresa? Gosto muito de animais. Tanto que cheguei a pensar em fazer veterinária.
- Por que mudou de idéia?
- Para ser franca, não sei dizer, mas não me arrependo da escolha que fiz.
Os animais pareciam sadios e bem cuidados. O touro que Potter mencionara era um belo animal. Enorme, marrom e aparentemente dócil, aproximou-se e permitiu que o dono acariciasse seu focinho.
- Como vai, meu velho? Comeu todo o seu milho? - perguntou ele afetuosamente.
- É um Santa Gertrudes, não é? - indagou Gina.
- Como sabe?
- Um dos meus pacientes esqueceu uma revista de criadores na clínica, e dei uma olhadela. Não faz mal saber um pouco mais sobre o assunto, não acha?
Potter deu uma risadinha, os olhos verdes brilhando. Apoderou-se de uma mecha do cabelo de Gina e enrolou-a nos dedos.
- Eu não havia notado que tínhamos tanto em comum. Engraçado... trabalhamos juntos tanto tempo e somente agora começo a conhecê-la.
- O mesmo acontece comigo.
Gina o fitou. Gostava de vê-lo com o cabelo em desalinho. Adorava tê-lo assim, descontraído. Também adorava o modo como caminhava, e como o chapéu caía sobre seus olhos . Lembrou-se da sensação reconfortante de ter aquele corpo junto ao seu e de repente sentiu frio. Suspirou e sorriu.
O modo como a expressão de Gina mudava a cada situação o fascinava. E sem entender o que o levara a fazer isso, ele estendeu o braço em sua direção.
Ela aceitou o convite sem questionar. Fechou os olhos e apoiou o rosto no peito largo, ouvindo-lhe as batidas do coração. Um tanto surpreso, ele a apertou mais fortemente, de maneira fraternal, acariciando-lhe o cabelo.
- O Natal é na semana que vem. - constatou.
- O que você pretende fazer? Passá-lo com amigos ou recebê-los em casa ?
Ele riu suavemente.
- Eu costumava passar o Natal com Jane - lembrou, e sentiu-a retesar-se. - Mas ano passado como ela estava casada, fiquei sozinho. Comprei uma ceia pronta e assisti a filmes antigos na televisão.
Gina nada disse. Sabia que Potter fora noivo de Jane Parker, mas jamais lhe ocorrera que pudessem ser íntimos. A idéia a deprimiu.
Ele, porém, não pensava em Natais anteriores, e sim naquele que se aproximava. Acariciou o cabelo sedoso de Gina.
- Onde passaremos o Natal, e quem fará a comida - perguntou.
Era encorajador saber que ele desejava passar aquela data importante em sua companhia. Gina não poderia rejeitá-lo sem ferir-lhe o orgulho.
- Que tal na minha casa? - ofereceu.
- Ótimo. Eu a ajudarei a preparar a ceia.
Ela sorriu.
- Combinado.
- Vou providenciar nosso plantão para a véspera de Natal. Assim ,ficaremos livres no dia 25 de dezembro. - prometeu ele.
Desceu os braços pelas costas de Gina até tocar a cintura delicada e puxou-a contra si, inundado por uma satisfação que jamais experimentara, nem mesmo com Jane. Engraçado...Até Gina surgir em sua vida , não havia lhe ocorrido que com Jane jamais poderia ser feliz.
Gina passara a significar muito, e ele não se dera conta disso até beija-la pela primeira vez. Apoiou o rosto no alto da cabeça feminina e suspirou. Era como voltar para casa. Durante toda a vida, procurara por algo, sem jamais encontrar. E agora estava perto do que queria. Apertou-a com mais força.
Gina sentia seu corpo colado ao dele, mas isso não era suficiente. Chegou-se mais, até que suas pernas se tocassem. Potter mudou de posição , para melhor acomoda-la. O movimento o excitou. Prendeu o fôlego.
- Desculpe – disse Gina, recuando um pouco. Foi impedida por ele, que a segurou pelo quadril.
- Não posso evitar isso, mas garanto que não se trata de nenhuma ameaça. - disse Potter. Beijou-a na têmpora, deliciado.
- Eu não queria deixá-lo pouco à vontade.
Ele riu suavemente.
- Eu não diria isso. Mas relaxe, porque fazer amor num estábulo não seria nada romântico. Além disso,há muito tempo não tenho ninguém - disse, zombeteiro.
Gina ergueu a cabeça e o fitou com ar sério.
- E quanto a Nickie? Vocês me pareceram bastante...íntimos.
Potter não riu , como ela esperava.
- Não mantenho casos a torto e a direito. E sou bastante discreto em relação à minha vida particular. Há uns dois anos conheci uma viúva. Éramos bons amigos e proporcionávamos um ao outro aquilo que nenhum dos dois procurava fora do relacionamento. Mas há uns anos ela se casou e desde então venho me dedicando apenas ao trabalho e ao rancho.
Gina não continha a curiosidade.
- Então você consegue fazer isso sem...amor?
- Nós gostávamos um do outro e era o bastante. Não precisávamos estar apaixonados. – Percebeu que Gina continuava intrigada e acrescentou - Para você, sexo só tem sentido com amor, não é? O desejo não seria suficiente - Com a ponta dos dedos, traçou-lhe o contorno dos lábios. - Mas eu e você formamos uma dupla explosiva. Além disso, você me ama.
- Sim, amo, mas não o suficiente para ser sua amante.
- Pensa que não sei?
- Então, é um caso perdido.
- Ah, é? Creio que estamos falando em algo mais sério.
- Mas ainda não se trata de casamento.
Potter a fez calar-se com um roçar de lábios.
- Quer me deixar terminar ? Podemos ficar noivos no Natal. Depois do Ano Novo, vou tirar alguns dias de folga. Viajaremos para longe. Em lua de mel.


Continua...

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