Capitulo XVII



Dino a convidou para jantar e Gina aceitou, grata pela perspectiva de uma noite divertida. No entanto , no restaurante que ele escolheu , o melhor de Jacobsville, deram com um casal indesejável: Potter e sua ex noiva.
- Lamento. – disse Dino, embaraçado. - Eu teria ido a outro lugar se soubesse que eles estariam aqui.
- Não ligue. Nós nos encontramos todos os dia no hospital, lembra-se? - Gina suspirou, desanimada. – A situação se tornou intolerável. Cho sempre some quando preciso dela e Potter fala comigo o estritamente necessário. Ainda bem que estou indo embora. E, com todo o respeito, lamento a hora que vim para cá.
- Sinto tê-la colocado nessa situação. Não foi como eu esperava.
- E o que você esperava? - indagou, curiosa.
- Que Harry encontrasse em você o que até hoje não encontrou em ninguém. Você é única, e em certos aspectos ele também é. Formariam um belo par.
Gina riu.
- Você se enganou. Eu e Potter somos como cão e gato. Não conseguimos ficar cinco minutos juntos sem brigar.
- É uma lástima. - Dino olhou em torno e fez uma careta. - Essa não!
Gina seguiu-lhe o olhar e viu Nickie determinadíssima, usando um vestido exageradamente justo e curto, arrastar um jovem interno em direção à mesa vizinha à de Potter.
- Isso vai acabar em confusão. - comentou ela, ao ver os olhos do médico brilharem, furiosos. - Potter não deve estar gostando nenhum pouco da palhaçada. A qualquer minuto vai levantar e sair.
E, quando ele fez exatamente aquilo, deixando Cho atônita e sozinha numa das mesas, e Nickie chocada na outra, Dino precisou sufocar uma risada.
- Você o conhece bem - disse.
- Ele costuma me acusar de ler a sua mente. E me causa pena. Imagine só, ser disputado por duas mulheres, e publicamente!
Dino não comentou que na verdade eram três as mulheres que o queriam. E que, embora disfarçadamente, o médico não tirara os olhos de Gina desde que ela entrara no restaurante.
- Veja, Potter pagou a conta e está acenando para Cho. Pobre Nickie . Que humilhação desnecessária....
- Ela foi longe demais. Talvez agora aprenda que é possível perder um homem tão depressa como se conquistou.
- É muito jovem e logo esquecerá. Mas e você? O que pretende fazer?
- Em relação a quê ?
- A Harry.
- Absolutamente nada. Pretendo iniciar uma vida nova em Austin.
Dino levou a xícara aos lábios e sorveu um gole de café.
- Não sei....Tenho o pressentimento de que você jamais deixará esta cidade.



No sábado pela manha, Gina foi acordada por insistentes batidas à porta. Ainda sonolenta, vestiu o roupão e foi atender.
Deparou com Potter, parado junto à soleira, de botas, jeans desbotado e uma jaqueta de couro. Na mão segurava o chapéu.
- Que faz aqui tão cedo, caubói madrugador ?
- Engraçadinha. - disse ele sem sorrir. - Preciso falar com você.
- Entre. Vou preparar um café.
Bocejou a caminho da cozinha. Poderia pedir licença para ir se trocar, mas nem se incomodou com isso. Como médico, ele estava mais do que acostumado a ver mulheres usando roupas informais. Potter ficou observando Gina movimentar-se, sentado numa das cadeiras da cozinha. O jeans colado revelava as pernas longas e firmes. Com o cabelo em desalinho, parecia mais relaxado do que nunca.
- Aqui está seu café. - disse ela, estendendo-lhe a xícara. Em seguida serviu-se também.
- Para o caso de estar pensando algo nesse sentido, quero deixar claro que nada tive a ver com a volta de Cho à cidade - informou ele secamente.
- E porque eu pensaria nisso? Cho não é assunto meu.
- Sei - respondeu ele, irritado. Tomou o café, parecendo zangado. - Também não é meu, mas ela e Nickie estão transformando minha vida num verdadeiro inferno.
- Como pode dizer isso? Afinal são duas belas mulheres disputando sua atenção. – constatou ela ironicamente.
- Não tenho mais sossego. - foi a resposta, dada num tom impaciente - Onde quer que eu vá, há sempre uma delas por perto. E às vezes as duas, como você viu naquela noite.
Gina riu.
- Desculpe pela risada, mas o episódio no restaurante foi mesmo engraçado.
- Eu não achei.
- Entendo a sua situação, mas veja meu caso. Não encontro nenhuma delas quando preciso. Fogem de mim como se eu sofresse de alguma doença contagiosa.
- A situação não pode continuar como está. Vou chamar a atenção das duas.
- Faça isso. Quanto a mim, partirei em breve e por isso não dou muita importância ao fato.
- Como assim, partirá? Não tinha resolvido ficar?
- De onde você tirou essa idéia? Entreguei- lhe minha carta de demissão. Se jogou fora, o problema é seu.
Potter olhou, pensativo, para a xícara.
- Não julguei que fosse sério.
- Ah, é? Mas que memória conveniente a sua, doutor. Não consigo esquecer uma só palavra do que disse a Dino sobre mim, e você não consegue se lembrar do que conversamos naquele mesmo dia?
Ele passou os dedos por entre o cabelo.
- Aquilo foi um desabafo. Eu não sabia que você estava ouvindo. Naquele dia, além do problema com o garotinho, eu havia recebido uma carta de meu pai, pedindo dinheiro. Não aguentei a pressão e explodi.
- Eu não sabia que seus pais eram vivos.
- Só o meu pai. Mora em Tucson. Aposta tudo o que tem nas corridas de cavalos, e quando perde, recorre a mim para saldar suas dívidas.
- Sinto muito.
- O problema é antigo. - disse ele, o olhar suavemente preso ao dela. – Por causa disso, quase me tornei um criminoso. Meu pai me obrigava a praticar pequenos furtos, para poder apostar nos cavalos. Não aqui em Jacobsville, claro, mas em Houston. Escolhia as casas mais elegantes e me mandava fazer o serviço sujo, porque, sendo menor de idade, eu não podia ser preso.
- Mas ele poderia ter sido preso!
- E foi. Fui adotado enquanto esteve na penitenciária. Eu tinha treze anos e queria esquecer o passado. Estudei muito, esforcei-me para ser alguém. Como minha situação financeira atualmente é boa, ele se aproveita.
Gina ficou pensativa. De certa forma, a vida de ambos fora parecida.
- É uma pena não poder escolher os pais. – comentou ela.
- É verdade. Sabe, no dia em que Dino ligou, eu já estava de mau humor. Quando comentou que vocês iriam sair juntos, foi a última gota. Me aborreceu o fato de você gostar dele, enquanto me evitava como se eu fosse uma praga.
Que ironia....Potter interpretava aquela reação como desprezo quando, na verdade, não passava de uma máscara que Gina usava para disfarçar a forte atração que sentia.
- Eu simplesmente correspondi à maneira como fui tratada. Você sempre deixou bem claro que fazia questão de manter nosso relacionamento em bases profissionais.
- Mas não precisava me tratar daquele jeito. – protestou ele. Estranhamente não parecia mais preocupado. Na verdade, estava sorrindo. – Fiquei muito surpreso quando li sua carta de demissão.
Gina olhou para as próprias mãos.
- Julguei que fosse ficar feliz.
As palavras o deleitaram. Sabia exatamente o que Gina sentia por ele, tivera certeza quando a beijara, e não poderia deixá-la ir até ter certeza dos próprios sentimentos. Mas como impedi-la de partir?
Fitou-a intensamente quando um plano maluco lhe ocorreu.
- Acabo de ter uma idéia que com certeza fará com que Cho e Nickie me deixam em paz.
- É mesmo? E qual seria?
- Podemos fazer de conta que estamos noivos.




Continua...


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