CORRA, HARRY, CORRA!



Harry segurou o Vira-Tempo. Como num relógio de corda, deu vários giros na ampulheta e logo os efeitos de sua mágica se fizeram sentir. O tempo recuou várias horas em apenas poucos segundos e quando a sensação de vertigem cessou, Harry ainda se encontrava no corredor do sétimo andar, em frente à parede que ocultava a entrada da sala precisa, com a diferença de que era noite e ele ouvia uma música distante.

- “O baile”, pensou, com desespero, “O baile já começou!”.

Desejou correr para lá imediatamente, mas repassando as várias opções que surgiam vertiginosas em sua mente, rumou para a Torre da Grifinória. Cruzou com uns poucos casais retardatários e logo chegou ao quadro que guarnecia a entrada. Disse a senha a uma Mulher Gorda que comentou: “Já de volta?” e irrompeu sala comunal adentro. Subiu para o seu dormitório e apoderou-se da capa da invisibilidade, que imediatamente vestiu. Apanhou a varinha que repousava na cabeceira da cama e saiu, novamente correndo.

O Salão Principal nunca lhe parecera tão distante. Os corredores sucediam-se cada vez mais longos e as escadas pelas quais descia nunca foram tantas. Precisava impedir que aquilo tudo se repetisse, era o que sua mente ordenava. Chegou ao pórtico do salão e lançou um olhar ligeiro para onde o outro Harry devia estar. Seu sangue gelou. Malfoy soltava uma gargalhada quase audível da entrada e claramente zombava dele e de Gina.

Harry correu para lá, evitando esbarrar nos muitos casais que apareciam à sua frente. De longe viu a Professora MacGonagall aproximar-se e começar a falar rispidamente. Draco Malfoy, em seguida, retomou a palavra e quando Harry finalmente conseguiu chegar, trombando em um grupo próximo que olhou assustado para o “nada” que passara entre eles, o outro Harry acabava de entornar a última gota da caneca de cerveja amanteigada ofertada pelo Sonserino.

- Não! – gemeu o garoto- Tarde demais!

Suas entranhas remoíam-se de ódio e Harry sentiu gana de sair de dentro da capa e de massacrar Malfoy ali mesmo. Contudo, o garoto sabia que não podia correr o risco de ficar cara a cara com o seu eu do passado. As conseqüências do choque poderiam ser catastróficas e Harry desconfiava que a cura para o mal que causaria estava muito além das capacidades da enfermaria da escola.

A poucos metros viu Malfoy e os outros sonserinos passarem, parecendo se divertir muito, ao mesmo tempo em que Dino Thomas cruzava na direção contrária.

- Ah não”- pensou Harry – tudo de novo não!”

Ainda sob a capa Harry via toda a cena se repetir. Sabia que logo Gina e Dino partiriam e que aquele Harry em que ele não se reconhecia iria procurá-los, mas acabaria encontrando...

- HERMIONE!

O garoto agitou-se dentro da capa. Não podia permitir que tudo se repetisse. De súbito, uma idéia ocorreu-lhe. Não evitara que ingerisse a poção, mas evitaria que o seu alter ego enfeitiçado magoasse Hermione se chegasse até ela primeiro. Havia um risco, calculou o garoto, mas que valia a pena ser corrido. Sem esperar o desenrolar dos acontecimentos tomou o caminho de volta até o pátio das mesinhas onde, sabia, iria encontrar a amiga.

Circundou as mesas pelo lado de fora do corrimão e logo viu Hermione sentada, o rosto crispado pela tristeza. Rony também estava lá. Parecia transtornado e deixava transparecer a raiva que o dominava. Harry viu quando o ruivo se levantou abruptamente e partiu murmurando algo raivoso para a garota.

- É agora Harry. – ele disse para si mesmo. Desvestiu-se da capa e aproximou-se de Hermione, não sem antes pensar, com um arrepio, que um outro Harry, doentio, circulava pelo salão naquele exato momento. Pousou a mão no ombro de Hermione, que pareceu acordar de seus devaneios, assustando-se com o olhar sério que o garoto lhe lançava.

- Hermione, precisamos conversar. – disse Harry, sem rodeios.

Hermione enxugou rapidamente as lágrimas mal contidas. Harry sentiu pena da amiga, mas não havia tempo para consolá-la. Tinha que tirá-la dali.

- O quê? – disse a garota, sem entender o que se passava.

Ele olhou ao redor. Vários grupinhos ocupavam as mesas próximas. Procurou, com urgência, um local mais afastado. Viu a última mesinha que, em um canto, jazia abandonada. Lançou um olhar à garota, suplicante, acenando com a cabeça para que o acompanhasse. Hermione fez um esforço para se controlar e, um tanto preocupada com o amigo, seguiu-o. Harry posicionou-se de frente para a multidão, deixando Hermione sentar-se à sua frente, alheia ao que se passava ao redor.

- O que foi que aconteceu, Harry? – perguntou a garota, curiosa.

O simples fato de que Hermione lhe falava sem ressentimento deixou Harry com uma sensação de alívio indescritível, mas ele se lembrou que fora tanta a urgência em afastá-la da outra mesa que não pensara em nenhuma justificativa. Por fim, decidiu que poderia usar aquela oportunidade para ajudar dois cabeças-duras a se entenderem. Mirando diretamente nos olhos da amiga, falou:

- Mione, desculpe, mas eu vi o que aconteceu entre o Rony e você. - começou ele.

Ela abaixou os olhos, envergonhada com a lembrança daquele desentendimento. Não sabia o que dizer, e não precisou que o fizesse, pois Harry continuou a falar.

- Vocês dois são muito burros, sabia? – disse ele, fazendo com ela o olhasse novamente, chocada. – Sempre esperei, desde o último ano, que vocês finalmente se entendessem, mas isso não acontece. Ao contrário, vocês ficam continuamente se machucando e se magoando – ele parou por um momento – como agora há pouco.

- Ah Harry... – Hermione não continha mais as lágrimas – não quero falar sobre isso.

Harry não desistiu. Sabia que precisava dizer a coisa certa e algo que o perturbava muito nos últimos tempos, uma saudade por antecipação que sentia, lhe revelou o caminho. Segurou as mãos da garota e disparou:

- Você já parou pra pensar que ano que vem Hogwarts acabará para nós, ou mesmo antes disso, se Voldemort iniciar uma guerra aberta? Você já parou pra pensar que nós nunca mais conviveremos como antes? Eu sei que para mim será difícil ficar longe de vocês Mione – disse, apertando um pouco mais as mãos da amiga que descansavam entre as suas – Só espero que você e Rony não descubram tarde demais o quanto pode ser difícil para vocês ficar longe um do outro.

Ele se calou. A emoção o havia dominado e ainda foi a com a voz embargada que continuou:

- Mione... – ela mirou a figura de Harry embotada pelas lágrimas – e não estou falando somente como amigos.

Hermione soluçou, entre lágrimas. Harry levantou o olhar e viu Rony. Como numa repetição dos acontecimentos que tentava mudar, o amigo estava lívido e surpreso. Sua expressão de dúvida revelava a mágoa por encontrá-los ali, juntos, na mesa mais afastada do salão. O ruivo notou, ainda, que Hermione chorava.

- Rony! – chamou Harry, mas o garoto já dera meia volta.

- Rony! Pare! – agora era Hermione quem gritava. Sem esperar mais nada, lançou-se no encalço de Rony, decidida a ter com ele uma conversa definitiva, ainda que dela pudessem sair apenas como amigos ou, pensou a garota, “nem mesmo como isso”.

Harry maldisse aquela noite que parecia mergulhada em surpresas e mal entendidos. Fez menção de seguir os amigos, mas no mesmo momento viu a silhueta de um garoto de olhos verdes que se aproximava. Seus olhos brilhavam de raiva e Harry sentiu que ele havia acabado de presenciar um certo beijo entre dois namorados. Olhou para a mesa onde Hermione estivera, agora vazia, e pareceu confuso, como se esperasse encontrar alguém exatamente naquele ponto. Passou as mãos pelos cabelos, exasperado, e seguiu em direção à pista de dança. Harry notou que se dirigia exatamente para onde Luna e Neville dançavam.

- Não!– Foi só o que Harry conseguiu dizer, com desespero.

Logo Neville e Luna iriam vê-lo e atrair sua atenção. Harry reviu, num segundo, a cena do que ocorreria se ele não impedisse o garoto. Sem pensar duas vezes, recuperou a capa de invisibilidade do bolso de suas vestes e saiu em disparada. Apenas um átimo antes de Neville e Luna perceberem a presença do outro garoto, Harry lançou um certeiro Feitiço da Desilusão. O garoto que caminhava com torpor estacou por um instante, sentindo uma onda gelada penetrar-lhe o organismo e, nesse momento, confundindo-se com a multidão, passou por Luna e Neville, totalmente anônimo.

Harry respirou aliviado, mas ainda precisava tirá-lo dali. Chegando até ele, cobriu-o rapidamente com a capa da invisibilidade e, amparando-o, começaram a caminhar lentamente. Na parede ao fundo do palco havia uma pequena porta que Harry sabia servir de acesso aos professores. Era para lá que se dirigiam quando, de súbito, viu Draco Malfoy e outros Sonserinos poucos metros à frente. Pareciam vasculhar o salão à sua procura, mas ainda não o tinham visto. Sem pensar duas vezes, mergulhou dentro da capa de invisibilidade encarando a si próprio de tão perto que não foi possível evitar o olhar recíproco que trocaram.

Harry esperou pelo pior, mas seu outro eu parecia distante. Firmando melhor a vista, conseguiu dizer apenas: “Pai?”.

- “Ai... Merlin – gemeu Harry – isso não pode estar acontecendo”.

Passaram a poucos metros de Malfoy e Harry sentiu renovar-se o ódio que sentia do Sonserino. Repentinamente teve uma idéia. Sentia que estava na hora de se vingar daquele infeliz. Levou seu alter ego o mais rápido que pode para a saleta e o sentou, desfazendo o Feitiço da Desilusão que invocara. Confiava que em seu entorpecimento ele não registraria que estava diante de si mesmo. Puxou um banco para sua frente e começou.

- Harry, Harry – disse – isso é muito importante. Me escute, por favor! Preste atenção!! – gritou, quando percebeu que o outro garoto não fixava a atenção em algo por mais que poucos segundos. Seu grito pareceu surtir efeito, pois o Harry enfeitiçado empertigou-se no banco e direcionou os olhos sem foco para o rapaz que lhe falava frente a frente. Achou aquele rosto familiar, como de um amigo e intuitivamente sentiu que podia confiar nele como em si próprio.

- Harry, ouça. Sei que você está se sentindo estranho. Isso que você está sentindo não é natural. É magia. Magia causada por uma pessoa.

- Quem? – se interessou o outro, parecendo mais desperto.

- Malfoy. Draco Malfoy. Ele enfeitiçou a cerveja amanteigada que você bebeu hoje mais cedo. É por isso que você está se sentindo assim.

A revelação fez o sangue ferver nas veias do Harry do passado. Lembrou-se rapidamente de toda a cena e admirou-se por não ter percebido que se tratava de uma armação.

- Que idiota eu fui! – comentou, dando um tapa na própria testa.

- Tem mais. Ainda não acabou. Eu vi o Malfoy no salão agora há pouco... Ele está te procurando– disse o garoto e refletiu alguns segundos antes de continuar – eu acho que ele não vai sossegar enquanto não te pegar.

- Sério? – disse o outro em tom desafiador - Depois disso, eu acho que ele é que tem que se preocupar comigo.

- Eu sei - disse o outro – melhor do que você pensa. Escute – continuou – em vez de esperar acho melhor você se antecipar. Não dizem que a melhor defesa é o ataque?

- O que você quer dizer?

- Se é o que ele quer, eu acho que devemos dar a oportunidade de o Malfoy te encontrar logo logo. Espera aqui – disse ele, enfiando a capa de invisibilidade e a varinha nas mãos do garoto – Tenha cuidado e esteja preparado. Se tudo der certo você ajustará suas contas com o Malfoy mais cedo do que pensa.

- “Ou melhor” – pensou ele, antes de partir– “Nós acertaremos as contas”.

Harry saiu da sala e voltou à frente do palco. Precisava encontrar alguém em que pudesse confiar. Nesse mesmo instante foi cegado por uma luz que explodiu em seu rosto. Quando a visão se recuperou um garoto mais novo sorria para ele. Suas vestes ostentavam o brasão da Grifinória e ele empunhava com orgulho uma máquina fotográfica. Harry nem teve tempo de ficar zangado.

- Colin – chamou ele, ainda coçando os olhos – você precisa me fazer um favor.

O garoto abriu um sorriso de felicidade. Estava disposto a fazer qualquer coisa que Harry pedisse.

- Você está vendo o Malfoy ali? – perguntou, apontando para o sonserino, agora sozinho. Os colegas haviam sumido.

Colin fez que sim com a cabeça. Draco Malfoy parecia bastante irritado e agarrava outros alunos rispidamente, falando como se lhes perguntasse algo. As respostas, contudo, não pareciam satisfazê-lo, pois parecia cada vez mais colérico.

- Ele está me procurando. Não me pergunte como eu sei! – falou ao ver a expressão de dúvida no olhar do garoto – Quero que você chame a atenção dele e quando ele perguntar a você onde eu estou, diga que me viu entrar na saleta que dá acesso aos professores, atrás do palco. Você entendeu? Isso é importante! – frisou Harry, que viu Colin assentir com a cabeça. – E, Colin – continuou– Não fale nada disso pra ninguém!

Harry viu o colega se afastar em direção ao sonserino e flanqueou os dois, colocando-se em uma posição em que não pudesse ser visto. Colin ainda matutava como chamar a atenção de Draco quando uma idéia iluminou-lhe o semblante. Aproximou-se por trás do sonserino e tocou-lhe o ombro. Quando Draco virou-se um flash espocou em seu rosto.

De sua posição Harry se permitiu um sorriso. Sem dúvida, aquilo é que era chamar a atenção. Malfoy agarrou Colin pelas vestes e pareceu que ia agredi-lo, mas quando viu o emblema grifinório estampado nas vestes do garoto, que se desculpava afirmando veementemente que a foto era para o jornal da escola, limitou-se a perguntar aquilo que Colin já esperava. De longe, Harry viu o garoto gesticulando e claramente apontava para a saleta oculta por trás do imenso palco mágico. Malfoy o largou, satisfeito e Harry viu quando tirou a varinha de dentro das vestes, ocultando-a junto ao corpo.

Quando o loiro partiu na direção da sala, Harry tencionava rodear o palco pelo outro lado e, sob a capa de invisibilidade, ajudar o seu outro eu a fazer com que o sonserino pagasse bem caro pelo seu plano.

Entretanto, no momento em que se virou, teve o caminho barrado por uma garota que o olhava com ar descontente.

- Boa noite, Harry – disse Romilda Vane, as mãos na cintura – estive te procurando a noite toda.

Harry suspirou. Estava cansado e a última pessoa que desejava encontrar era a garota que passara todo o ano tentando enfeitiçá-lo com poções do amor. Antes de desconfiar da poção do maldito Malfoy, não conseguia atinar como tinham ficado juntos. Aquela cena lhe dava agora uma sensação de asco que não tentou disfarçar.

- Agora não tenho tempo – disse ele, com rispidez, - tenho uma coisa urgente pra resolver.

Ele tentou se afastar, mas ela não deixou. Segurou sua mão e deu um solavanco, puxando-o de volta. Surpreso o garoto não percebeu que ela colocava uma pulseira em seu pulso, recitando um encantamento em voz baixa, inaudível para ele. Imaginou o que a idiota tinha feito, mas não houve tempo para maiores reflexões. Sentiu o cansaço vencer e sua vontade ceder. Sentiu-se fraco, cambaleou, mas foi ajudado pela garota que o segurou e o levou para longe dali.

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Draco Malfoy realmente saíra em direção à saleta, como pensara Harry, mas não diretamente. Um pequeno desvio e logo encontrava os amigos reunidos em um local que parecia ter sido previamente combinado como ponto de reunião. Falou-lhes rapidamente e, um minuto depois, foi acompanhado de Crabbe, Goyle, Zabini e Pansy Parkinson que ele entrou na sala onde um Harry Potter ainda entorpecido aguardava de varinha em punho.

Longe dali, um outro Harry, igualmente entorpecido, pensava debilmente, enquanto era conduzido pela mão de Romilda, que alguém estaria esperando inutilmente por sua ajuda.

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Rony tomara o caminho do gramado e Hermione viu quando ele recostou-se em um dos carvalhos que ladeavam o lago dos sereianos. Atirava pedras na água crispada quando ela se aproximou, observando o seu semblante. A garota se perguntava o que ele tinha pensado ao vê-la conversando com Harry, mas conhecendo-o como conhecia sabia que só poderia ser uma tolice que não gostaria de ouvir. Mesmo assim o chamou:

- Rony!

O garoto virou-se, surpreso, não esperava que o tivessem seguido.

- Você não deveria ter deixado o Harry sozinho – disse ele, dissimulando o ciúme que sentia.

- E você não deveria ter vindo pra cá ficar sozinho. O que foi que deu em você?

- Ah... eu só não quis atrapalhar.

Ela suspirou. A conversa seria cansativa. Perguntou se podia sentar e ele concordou. Acomodou-se ao seu lado, em uma das raízes da grande árvore.

- Rony- começou ela – eu queria te pedir desculpas. Bem... pelo que eu disse com relação à Lilá.

Ele pareceu amansar um pouco. Aquela frase já nem ocupava mais suas preocupações.

- Sem problemas, mas eu também tenho que pedir desculpas a você. – Rony levantou a mão, em sinal de espera, interrompendo o que Hermione ia dizer – Primeiro por que fiquei chateado. Segundo por que lembrei pela milésima vez do Victor Krum e de você naquele baile e terceiro porque te convidei para o baile desta noite.

- Não entendi Rony. Por quê? – perguntou a garota, encarando-o. Ele não fugiu do olhar, embora se sentisse um pouco perturbado com a proximidade.

- Porque agora eu sei que não era com o Krum e nem comigo que você queria vir. E agora eu sei por que o Harry não convidou ninguém para vir ao baile, embora fosse só estalar os dedos para aparecerem milhares de garotas dispostas a acompanhá-lo.

- Rony, você está insinuando...

- Qual é Hermione! – Rony a interrompeu – Eu ouvi a sua conversa com o Harry! Vi vocês dois de mãos dadas e num cantinho isolado demais para dois amigos, não? Além do mais, falsidade não combina com você!

Hermione sentiu o ar lhe faltar por um momento. Deixou-se escorregar da raiz para o chão úmido, tentando recuperar-se do golpe. Quase deixou o garoto ali, sozinho, mas lembrou-se de sua resolução de que aquela conversa seria definitiva. Entre eles não caberiam mais mal entendidos. Colocou-se de frente para o ruivo e apoiou as mãos em seus joelhos, dizendo:

- Rony, agora você vai me escutar! Se você tivesse ouvido a conversa, não teria dúvidas de quanto o Harry é seu amigo! Nosso amigo! Saberia que ele falava da falta que sentirá de nós quando acabar a escola e, principalmente, da falta que nós sentiremos um do... – não se sentiu à vontade para completar a frase.

- Rony – recomeçou ela – eu preciso saber, isso é tudo que você tem pra me dizer?

Rony sentiu a voz falhar. Pensou que poderia dizer tudo o quanto sentia pela garota que ali, parada à sua frente, parecia frágil e bela. Mas não se animou diante da perspectiva de fazer papel de tolo. Limitou-se a concordar com a cabeça. A garota suspirou, desanimada.

- Se é assim, Rony, se o que você tem para me dizer é apenas um amargo pedido de desculpas, saiba que eu o desculpo, mas não por você ter me convidado ao baile, não por isso. Quanto a isso eu só posso agradecer a você.

- Como? – perguntou o garoto, confuso.

- Quero dizer obrigada a você Rony.

- Eu não entendo Mione, por quê?

- Quero dizer obrigada por você ser meu amigo desde os onze anos de idade. Quero dizer obrigada pelo seu bom humor que consegue me animar nos momentos mais tristes. Quero dizer obrigada pelos momentos ao seu lado e ao lado de sua família fantástica. Quero dizer obrigada por você ser uma pessoa maravilhosa. Quero dizer obrigada por você ter me convidado ao baile. E, Rony? – Hermione chamou, segurando seu rosto entre as mãos.

- S.. Sim? – gaguejou ele, sentindo o contato macio e quente que lhe acalmava o coração.

- Obrigada por você existir em minha vida.

O garoto a olhou, assombrado. Viu lágrimas escorrendo pelo rosto de Hermione e não pôde mais se conter.

- Mione, que tolo eu sou! – E a abraçou forte, como se nunca mais quisesse separar-se dela. Entre lágrimas e soluços ela conseguir responder:
- Eu sei. Mas isso nunca me impediu de te amar.

O garoto sentiu os olhos queimando e, sem esperar por mais nada, finalmente beijou a garota que amava mais do que a própria vida. As palavras não eram mais necessárias. Abraçaram-se e voltaram a contemplar o lago, felizes.

O momento, contudo, foi quebrado por um forte estampido que se fez ouvir no átrio do castelo. Os dois se olharam, como se dissessem “Você acha que o Harry...”, e logo assentiram um para o outro, sabendo que onde quer que houvesse confusão era muito provável que seu amigo Harry Potter estivesse envolvido.

Levantaram e correram para o salão. Logo na entrada foram atalhados por um garoto aflito para lhes contar algo que parecia tê-lo perturbado muito. Nem sequer notaram que Gina Weasley subia, furiosa, a escadaria que conduzia aos dormitórios.

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Ao ver o grupo de sonserinos entrar na pequena sala, Harry não pareceu surpreso. Assim que o misterioso amigo saíra ele se levantara, tentando ficar alerta, e munira-se de sua varinha, deixando a capa de invisibilidade encostada em um dos bancos laterais.

- Eu esperava só por você Malfoy – disse, sem medo – mas parece que eu recebi o pacote completo.

Draco ficou momentaneamente sem ação por vê-lo de varinha na mão, como se soubesse de sua chegada, mas se recuperou rapidamente. Postando-se em frente a Harry, Draco meneou a cabeça, em sinal para os outros, e o grupo de sonserinos abriu-se em leque, formando um semi-círculo ao redor do grifinório. Pansy Parkinson, à sua direita, era ladeada por Zabini. Harry viu Goyle e Crabbe rodearem-no do lado oposto.

- Ora, ora, ora, Potter! Foi nesse buraco que você veio se esconder? Não está se sentindo muito bem hoje? – perguntou, com desdém - Estou surpreso que os seus amigos não estejam aqui te pajeando. Quem sabe o que a Weasley não daria para estar cuidando de você neste momento!

- Cale a boca! – disse Harry, a raiva martelando seu cérebro.

Draco sentiu que havia tocado em um ponto sensível.

- Não se preocupe Potter, depois dessa noite ela vai ter a chance de ser sua enfermeira por algum tempo – O sonserino riu.

Entre os dois garotos havia uma mesa de madeira, tosca e comprida, como uma mesa de jantar para refeições improvisadas. Era munida, de cada lado, de um banco corrediço, de madeira maciça. que se estendia ao longo de seu comprimento.

- Malfoy – disse Harry, depois de algum tempo – você vai pagar pelo que fez! Não devia ter me enfeitiçado.

- Ah – disse o sonserino – então você finalmente desconfiou? Não foi difícil enganar você Potter. Você se acha muito esperto, mas é um idiota na verdade. Enganar você e aquela MacGonagall não foi nada difícil. Essa é a esperteza típica de um sonserino. Coisa que você ou qualquer outro idiota da Grifinória jamais terão Potter.

- É justamente por isso que você jamais poderia fazer parte da Grifinória Malfoy – rebateu Harry, enquanto movia-se lentamente para trás, tentando deixar os oponentes mais afastados - Jamais seria aceito. É preciso ter coragem para estar nela. E você é o maior covarde que eu já vi em minha vida. Você e os seus gorilas.

Os outro se mexeram, impacientes. Pansy Parkinson fez uma careta para o garoto, mas Draco os reteve.
- Não, Potter. Meu plano não era enfrentar você, não se uma certa pessoa tivesse te achado antes. Aí sim você estaria numa encrenca. Mas já que não foi assim, vou ter que me contentar em te dar uma lição pessoalmente.

Harry por um segundo imaginou de quem o sonserino estaria falando, mas não houve tempo para mais nada. Ouviu Draco Malfoy gritar: "AGORA!" e as cinco varinhas ergueram-se para ele, lançando raios coloridos em sua direção.

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O estranho ornamento que Romilda Vane colocara no pulso de Harry deixava o garoto em um estado de semi-inconsciência, a mente toldada como se um véu tivesse sido estendido entre ele e sua própria vontade. A garota, por sua vez, parecia não caber em si de contentamento. Segurava a mão de Harry com firmeza, como se temesse perdê-lo a qualquer momento e de quando em quando o abraçava, caminhando colada ao corpo do garoto.

Harry não se dava conta dos olhares admirados que os seguiam. Uma preocupação, embora distante, não conseguia abandoná-lo: sentia que havia algo por completar aquela noite. Um assunto que nada tinha a ver com aquela garota que o levava docilmente através da pista de dança. Sentia como se tivesse abandonado alguém à sua própria sorte, mas não conseguia pensar com clareza.

Continuaram andando devagar. Atravessaram todo o Salão Principal e finalmente chegaram ao átrio do castelo. A garota procurou uma das paredes mais afastadas, quase na penumbra, e se sentou no chão, fazendo com Harry recostasse a cabeça em seu colo. Ela fervia de desejo e a felicidade que pulsava em sua mente transmitia-se para o seu corpo, que tremia freneticamente com a realização do sonho que perseguira durante o ano todo.

- Finalmente – disse ela – finalmente eu o tenho para mim.

Harry ficou calado, sem saber o que dizer. Uma força exterior dizia que devia corresponder, com a mesma intensidade, ao que a garota demonstrava sentir por ele. Algo, contudo, o impedia. Ela não pareceu notar o conflito que tomava conta de Harry quando o puxou para si, beijando-o com intensidade.

Uma sensação de “déjà vu” invadiu a mente de Harry Potter. Tentou apegar-se à sensação de desagrado que começou a sentir, mas, vencido pelo misterioso poder que emanava da pulseira, deixou-se mergulhar nos lábios quentes que tocavam os seus.

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Cinco raios partiram ao mesmo tempo em direção a Harry. O garoto reagiu como se tivesse levado um choque. Sem tempo para pensar, no átimo que se deu antes de os feitiços o atingirem, agiu instintivamente, como se uma espécie modo automático tivesse sido acionado pela súbita descarga de adrenalina.

Instantaneamente, com um leve movimento da varinha, o grifinório fez um dos grandes bancos que guarneciam a mesa de jantar flutuar do chão em sua direção, formando uma barreira em que os raios ricochetearam. Sem perda de tempo atirou-se para o lado, escorregando pelo chão até onde divisou nitidamente Zabini e Pansy Parkinson ainda de varinhas em riste, olhando abobalhados para a barreira que se erguera de forma repentina. Sem nem levantar Harry lançou dois feitiços estuporantes. Os sonserinos emitiram um gemido abafado antes de baterem, com estrépito, no chão da saleta.

A rapidez de Harry surpreendeu Draco, que pareceu ainda mais aturdido quando viu dois de seus companheiros fora de combate. Escutou a voz de Harry de algum ponto à sua direita, dizendo: “Você é o próximo Malfoy!”.

- Pelo outro lado!– gritou o loiro para Crabbe e Goyle, ao mesmo tempo em ele próprio saltou para cima da mesa, tentando obter uma visão do seu adversário.

Crabbe e Goyle precipitaram-se pelo outro lado da mesa, tentando dar a volta e encurralar o grifinório. A tática, entretanto, não funcionou. Em um movimento ligeiro, arremessando o banco flutuante na direção de onde os sonserinos corriam, Harry os atingiu em cheio, lançando-os, desacordados, em direção à parede distante. Os corpos caíram, com grande estrondo, sobre as mesas menores.

Nesse mesmo instante Draco o viu. Seus olhares se cruzaram por um instante e a expressão de fúria nos olhos de Harry o assustou. Sem perceber, Draco sentiu seu braço fraquejar, baixando a varinha por uma fração de segundos. O movimento permitiu a Harry se levantar. Apontou sua varinha para o loiro que se deu conta da dificuldade de sua posição. Se o seu posto antes era uma vantagem que lhe permitia descortinar quase toda a sala, agora era uma fraqueza, pois o deixava totalmente exposto. Draco estava indefeso.

- Finalmente Malfoy – disse Harry – agora somos só nós dois.

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- HARRY, NÃO! – O grito partiu de uma voz feminina e interrompeu o beijo em que Romilda e Harry se lançavam de forma cada vez mais intensa.

O garoto olhou e viu Gina Weasley. A ruiva tinha uma expressão de espanto em seu rosto. Olhava de Harry a Romilda sem parecer acreditar no que via. Sua dúvida, contudo, não durou muito tempo. Caminhando diretamente para a garota, Gina apontou-lhe o dedo, acusadora, enquanto lutava para controlar a raiva crescente que sentia.

- O que você fez com ele?! – perguntou, indignada.

- Eu? – replicou a garota, assumindo um ar inocente – acho que você viu muito bem o que NÓS estávamos fazendo.

Gina conteve a vontade de desferir um tapa naquele rosto.

- Eu vi... vi sim.... e é por isso que eu quero saber o que você fez com ele. Não me esqueci que você passou o ano todo tentando enfeitiçá-lo com poções do amor e outras bobagens. E não venha me dizer que rolou um clima entre vocês, assim, de repente... – A conotação irônica da última frase não escondia o ciúme da ruiva.

- Você é maluca garota! O Harry está comigo porque quer. Se você duvida, pergunte a ele próprio. – Romilda disse, apontando o garoto que permanecia sentado, parcialmente encoberto pelas sombras da parede.

Gina voltou-se para ele, esperançosa.

- Harry, diga, você lembra da pergunta que eu te fiz hoje, quando nos encontramos no início do baile?

Tanta coisa havia acontecido que aquilo parecia ter acontecido há muito mais tempo. Harry sentiu a tensão, suspirou e com algum esforço conseguiu fazer um "sim" com a cabeça. Gina passou as mãos pelos cabelos, impaciente, e se adiantou para o garoto, que se levantou da parede encarando a ruiva com uma expressão angustiada. Os dois ficaram assim por um momento, até Gina retomar a palavra. Falou mirando diretamente nos olhos verdes do garoto que tanto amava.

- Responda Harry e seja sincero, isso é muito importante – a garota parou nesse ponto, mas sentia não era um momento para hesitações – isso é muito importante para mim. É com ela que vale a pena Harry?

Ele não respondeu de imediato. O véu que nublava sua vontade pareceu fraquejar, mas não o suficiente.

- Sim – foi o que ele conseguiu dizer, sem muita firmeza.

Gina fez menção de falar, mas a dor que sentiu paralisou sua voz. Ficou ali, aparentemente perdida, parecendo não saber o que fazer com o chão que havia fugido de seus pés.

- Entendi – disse ela, finalmente – acho que entendi. E deu as costas, furiosa com Romilda, furiosa com Harry, furiosa consigo mesma, furiosa com o mundo.

Harry viu uma torrente de cabelos ruivos dar um giro e se afastar rapidamente na direção das escadas. Romilda um pouco mais a frente não conteve o riso. Mas a atenção do garoto não estava mais nela. Seu olhar parecia ligado à garota ruiva que ia embora mais uma vez. “Mais uma vez!”, pensou Harry e de súbito lembrou-se de tudo, de tudo o que sentia e de tudo o que devia fazer. Amava a garota que se afastava melancolicamente e não aquela outra que se comprazia em fazê-la sofrer. Aquela outra apenas tinha colocado em seu pulso um objeto enfeitiçado.

Nesse momento algo estranho aconteceu. Não tão estranho, porque era apenas a vontade de Harry que voltara a prevalecer e o véu que se estendia sobre ela desapareceu tão repentinamente como chegara.

Quando Romilda finalmente se virou, ainda contente, o sorriso de seus lábios não demorou a desaparecer. Harry Potter estava de pé, olhando com firmeza para ela e segurava, com a ponta dos dedos, balançando levemente na frente dos olhos, a estranha pulseira que o mantivera cativo.

- POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?! – berrou ele, sentindo a repulsa avançar em seu peito.

- Harry... eu... – a garota parecia desesperada. Tentou encontrar uma resposta, mas as palavras lhe faltaram.

- RESPONDA!!! – intimou Harry, que não parecia abalado pelo visível embaraço da garota.

- Harry, eu... eu me apaixonei por você. Eu tentei... eu achei que se nós ficássemos juntos uma vez que fosse.... você iria perceber isso e talvez sentir algo por mim... Foi só por isso que eu tentei aquelas coisas durante esse ano e foi só por isso que eu aceitei a oferta de... – Ela parou nesse ponto. Sentiu que tinha falado demais.

- A OFERTA DE DRACO MALFOY! - Harry gritou, quase descontrolado - NÃO FOI ISSO?

A grifinória baixou os olhos culpados, incapaz de articular uma negativa.

Harry sentiu intensificar-se o ódio dentro de si. E só então entendeu todo o plano do sonserino. Que ingênuo fora! Ele não queria apenas embebedá-lo para conseguir vantagem em um ataque. Ele queria humilhá-lo e desmoralizá-lo perante seus próprios amigos, quebrá-lo por dentro, fazendo-o envolver-se com uma garota a quem rejeitara todo o ano. Seu peito clamava por vingança. Por sorte ele não precisaria procurar o sonserino. Sabia exatamente onde o garoto estava.

Foi então que tudo aconteceu.

Harry fez menção de partir, mas foi interceptado por Romilda. Na tentativa de desvencilhar-se da garota, Harry deu um passo em falso, tropeçou nas próprias vestes e caiu. No momento em que chegou ao chão ouviu o som de um vidro fino e delicado se quebrando. O vira-tempo que carregava no bolso interno das vestes se partira.

Do nada, um vórtice assemelhado a um pequeno tornado apossou-se do garoto, girando no mesmo lugar com uma velocidade impressionante. O corpo de Harry parecia cada vez mais um borrão até desaparecer completamente e – BLAM!!! - um forte estampido se fez ouvir. Onde antes havia o vórtice abrira-se uma cratera suficientemente grande para caber um homem. Romilda soltou um grito de pavor. Com o horror estampado no rosto aproximou-se da borda e olhou para baixo, na esperança de ver Harry. Não havia ninguém. Harry Potter havia desaparecido bem diante dos seus olhos.

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Longe dali, Draco caminhava lentamente para a borda da mesa, olhando para os lados, em busca de algum sinal dos companheiros. Mesmo de soslaio conseguiu ver que ninguém viria em seu socorro. Harry, que mandara o sonserino descer, percebeu o movimento.

- Acho que ninguém mais vai te ajudar hoje Malfoy! – falou, com a expressão dura – você está mais sozinho do que nunca.

Harry adiantou-se para se apoderar da varinha de Draco, mas, de súbito, sentiu como se uma parte de si tivesse sido arrancada e recolocada em apenas uma fração de segundos. Lembranças que não sabia existirem invadiram sua mente. Viu Gina, de relance, indo embora. Uma Hermione magoada, falando-lhe palavras duras, e um Rony, raivoso, que lhe lançava impropérios. Viu, ainda, Romilda Vane e um estranho objeto em seu pulso. Um objeto que, agora, ao apertar o punho em volta da varinha, aparecera misteriosamente entre seus próprios dedos. Sentiu-se mal. Abaixou a vista para contemplar a pulseira, esquecendo-se momentaneamente de Draco Malfoy. Um chute violento fê-lo voltar à realidade. Draco o acertara no rosto, fazendo-o cair. Os óculos voaram para longe. Seu nariz, partido, derramava sangue sobre o rosto pálido.

- Expelliarmus – gritou Draco, e a varinha de Harry deslocou-se de sua mão para longe.

- Não, Harry – Draco continuou - você é que não terá nenhuma ajuda. E eu vou fazê-lo pagar por tudo numa moeda bem mais cara.

Harry descansou a cabeça no solo. Ainda se sentia tonto. O ar faltava. A vista escurecia. O turbilhão de lembranças de uma outra noite de baile continuava a preencher-lhe o cérebro, inundando-o de imagens e sons que passaram a ser seus. Tentou voltar ao presente. Escutou a voz de Draco conjurar um feitiço, uma porta se abrindo, vozes se agitando.

- “Petrificus Totalus” – Hermione gritou, apontando a varinha ainda da porta, quase ao mesmo tempo em que Rony lançou de sua varinha outro feitiço. “Tarantallegra” – gritou.

Harry ainda viu, com um fraco sorriso, os dois feitiços, aparentemente opostos, terem seus efeitos combinados de uma forma tão incrível que o sonserino ficou rígido como uma estátua da cintura para cima, ao mesmo tempo em que suas pernas pareciam formar um indivíduo vivo e totalmente independente, embaralhando-se numa profusão de movimentos descontrolados.

Os amigos precipitaram-se para Harry, tentando reanimá-lo, mas o garoto parecia em outro mundo. Sua vista foi-se apagando até que escureceu totalmente e ele perdeu a consciência escutando a música que entrava pela porta aberta da saleta.

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