A fuga do trouxa
Capítulo 1: A fuga do trouxa.
Universidade de Durham, norte da Inglaterra.
O professor do curso de Ciências Naturais, John Held, estava quase ao fim de ministrar mais uma das diversas palestras que vinha empreitando junto a vários outros professores de universidades inglesas. Naquela noite, John falava sobre A Teoria da Evolução e a Comunidade Científica; talvez, se soubesse dos infortúnios que aquelas últimas explanações lhe trariam, teria guardado suas opiniões para si mesmo.
- Às vezes, nós cientistas, adotamos uma explicação não exata apenas para saciar a vontade de ter uma resposta na ponta da língua. Em alguns momentos denominamos de infinito as coisas que desconhecemos ou que não compreendemos completamente. Quando dizemos que Deus é infinitamente bondoso é porque não sabemos exatamente o quanto Ele é bondoso, não conseguimos medir isso. Quando dizemos que os números são infinitos é porque desconhecemos o último número, não podemos medir isso, já é lógico para nós que sempre há um novo número cada vez maior. Mas alguém aqui já tentou encontrar o último número? E se existir um último número?
A platéia ouvia em silêncio, todos tentavam entender a ligação daquilo tudo com o assunto que vinha sendo abordado.
- No caso da Evolução, ainda nos falta muito o que descobrir. E se hoje ela é tomada, em muitas comunidades, como verdadeira, não é pelo fato de ter sido comprovada, mas sim por ser apenas a melhor explicação até então. Há muitos estudos realmente concretos na Teoria da Evolução, e apesar de ser minha vida profissional, esses estudos não são minha fé. O criacionismo tampouco sustenta toda uma vida de evolução explicada e comprovada pela ciência.
Todos estavam alvoroçados, um dos maiores estudiosos do evolucionismo estava praticamente negando décadas de estudo. Ele havia dito que aquela teoria não era sua fé, que não acreditava nela. Alguns professores olhavam espantados de John para o roteiro das palestras; nada parecia fazer sentido.
- Mas, pensem bem. E se juntarmos os dois? E se considerarmos que a resposta para a origem da vida está na união desses dois pensamentos aparentemente tão antagônicos? É o que venho fazendo. E os resultados têm sido satisfatórios. Na semana que vem estarei divulgando em uma revista de minha própria edição, alguns fundamentos desses estudos; o objetivo é unir outros estudos que estejam sendo feitos que possam ajudar na evolução desse novo pensamento. Se eu fosse agir por impulso chamaria a essas idéias de magia, mas isso poderia soar surreal demais aos ouvidos céticos da ciência. Com certeza seria um empecilho em possíveis ajudas que pudesse receber; então senhoras e senhores, vocês são os primeiros a serem apresentados à Teoria da Combinação ou Combinacionismo. Obrigado.
Todos se entreolharam e cochicharam, mas aos poucos os aplausos se proliferaram pelo ambiente. O mesmo não aconteceu entre os professores que acompanhavam John Held. Mas ele já estava preparado para o que via: rostos de espanto, indignação e desapontamento. Fora longe demais, não havia como negar, mas esse era o objetivo, causar impacto. Agora a Teoria da Combinação seria a manchete científica do momento, e John também.
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Muitos professores tentaram entender o que John havia tentado fazer. Encheram-lhe de perguntas, mas ele não se importou apenas dizia que todos saberiam do que se tratava na semana seguinte com a divulgação de sua revista. Todos vocês receberão um exemplar grátis, não se preocupem.
Insultos e imediatas inimizades também eram esperados por John, que encarou tudo da forma mais natural possível. Em poucos dias eles irão me ligar pedindo explicações extras e uma vaga como auxiliar, pensava distraído enquanto caminhava pela frente do castelo que fora construído pelo rei do povo normando, há quase mil anos. O intuito era controlar a instabilidade no norte da Inglaterra que se instalara desde a Invasão Normanda por volta de 1066 D.C. Atualmente, o castelo abriga a sede da Universidade de Durham.
- Ei! John, espere.
A voz era familiar. John Held se virou torcendo para que não fosse outra pessoa a qual tivesse que se livrar com suas respostas evasivas.
Franklin Miller era professor da Universidade de Cambridge; há dez anos havia se mudado de Chicago, nos Estados Unidos. Durante o vôo em que John retornava de um congresso de genética, os dois se conheceram. Desde então são muito amigos; mesmo vivendo em cidades distantes sempre mantinham contato. John relaxou ao ver que era o velho amigo que se aproximava.
- Cara, o que foi que aconteceu lá dentro? Ainda estou tentando entender.
John deu um leve sorriso, gostava do jeito brincalhão de Franklin.
- É exatamente tudo que você ouviu, por mais improvável que pareça.
- Cara, você não deu nem aviso prévio, o impacto foi o mesmo de uma bomba naquele salão.
- Eu sei disso Frank. – respondeu John em tom trivial – De certa forma isso até me diverte.
Os dois amigos sorriram e continuaram caminhando em silêncio, apenas os sons de seus passos ecoavam pela noite. Ambos pensavam sobre a mesma coisa: em como seriam recebidos esses novos estudos pela comunidade científica; a conclusão era a mesma: John teria que enfrentar muitas dificuldades para prosseguir seus estudos, pois havia um complexo jogo de interesses por trás de todos estudos da Evolução. O que ainda poderia facilitar era o fato de John não ter exatamente negado a teoria atual, mas isso não significava muita coisa.
- Frank, queria lhe dizer que você tem seu espaço na pesquisa. Podemos dividir tudo, se lhe interessar.
Frank desviou o olhar e fixou-o no chão, pensativo. John calou-se. Percebeu que o amigo estava ponderando o pouco que sabia sobre os estudos.
- Você é um louco John Held, só pode estar fora de órbita – respondeu Frank rindo.
Logo, os dois amigos começaram a gargalhar alegremente.
- Me mande o corpo do andamento da pesquisa nesse fim de semana. Como nossa última parada do Tour de Palestras será nesta quinta-feira, estarei com mais tempo e com os pensamentos mais ordenados a partir da sexta.
John assentiu com a cabeça.
- E por falar em última palestra, você vai comparecer a ela? Digo, todos estão virando a cara pra você. Por isso perguntei isso. Não será fácil John.
Por alguns instantes os pensamentos de John alçaram vôo. Há dois dias, ele se sentara em sua poltrona de couro, na bela e aconchegante sala de tons marron-avermelhado, bem na frente da lareira de pedra, e começara a pensar nas possíveis conseqüências da publicação de seus estudos.
- Claro que vou, Frank. Tenho um compromisso com a comunidade acadêmica, seria muita falta de respeito de minha parte, muitas pessoas se inscreveram em minha palestra. Além do mais não tenho que ficar me escondendo, ao contrário, esses estudos são um orgulho pra mim. Minhas descobertas são inovadoras, e infelizmente nós, seres humanos, temos medo do que é novo; e quando é algo novo e contrário ao que acreditamos acionamos impulsivamente a negação como autodefesa.
- Acho que tomou a decisão certa. Mas estou falando da palestra e não desses seus estudos loucos. – brincou Frank – Deus queira que você esteja certo John, caso contrário prepare-se para ser rechaçado. É amigo, você está ferrado.
Outra vez os dois amigos gargalhavam descontraídos.
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Há um quarteirão de distância, dois homens se esgueiravam por entre alguns arbustos. O alvo deles caminhava despreocupado enquanto conversava com um amigo.
- Vamos – disse o mais baixo para o companheiro, correndo para o outro lado da rua.
O frio era intenso naquele dia. As folhagens das várias árvores que ladeavam as ruas estavam quietas; o orvalho se cristalizava antes mesmo de cair completamente.
Mais à frente o alvo e o outro homem dobraram em uma esquina.
- Droga. O caminho dele é oposto ao que temos de levá-lo. Isso não é nada bom.
Os dois andavam por entre os carros estacionados, parecia até que eram os perseguidos ao invés de perseguidores. Na verdade eram tanto um quanto outro.
A missão era simples, apesar de ser uma emergência; não chamar a atenção dos trouxas era primordial. Talvez até pudessem ter mudado suas roupas ou transfigurarem-nas para se parecerem com as que os trouxas usavam. Não que isso fosse fazer lá muita diferença, já que seus conhecimentos em jaquetas e calças de cores “normais” eram bastante controversos, mas ao menos não chamariam tanta atenção.
- Marlowe, atravesse a rua de volta e siga sempre pela esquerda; passaremos mais despercebidos assim.
O outro homem confirmou com a cabeça e saiu correndo. Três passos depois, voltou correndo até o companheiro.
- E por que eu? Lá as árvores são mais espaçadas, veja só. – reclamava Marlowe apontando para o outro lado da rua – Você é mais baixo, deveria ir por lá.
Com impaciência o outro espiou os dois lados da rua e partiu numa frenética carreira desengonçada. Os cabelos grisalhos reluzindo o reflexo da luz da lua.
**********
John Held conversava sobre o casamento do amigo. Frank e Luisa, sua esposa, passavam por alguns problemas. É apenas uma fase, não se preocupe, dizia John.
- Com licença – disse uma voz atrás deles.
Um homem de meia idade com cabelos grisalhos, estatura mediana e um sobretudo verde com uma camisa marrom sorriu pra eles. John não se espantou tanto, pois logo pensou que o homem deveria ter vindo de mais um daqueles festivais onde as pessoas se fantasiam e costumam pedir contribuições para algumas ONG’s ou instituições de caridade.
- Boa noite! Desculpe incomodá-los, mas queria lhes mostrar algo.
O senhor colocou a mão dentro do sobretudo. John e Frank estranharam o movimento, mas não tiveram tempo para mais nada. O que se seguiu foi muito rápido.
O homem puxou um pequeno pedaço de madeira das vestes, logo em seguida uma luz vermelha irrompeu do objeto, atingindo o peito de Frank.
Tudo ocorreu muito rapidamente. O susto fez um choque percorrer o corpo de John; o impulso veio instintivamente, sem qualquer planejamento precedente. John pulou em cima do senhor de sobretudo. Os dois caíram no chão e começaram a rolar, um empurrando o rosto do outro.
John conseguiu ficar por cima do homem e logo começou a socá-lo. As tentativas de defesa eram quase inúteis, tamanha eram as investidas descontroladas de John.
Um outro jato de luz vermelha passou raspando a orelha de John. Ele se levantou olhando em volta rapidamente, onde viu um homem cruzando a rua com um objeto pontiagudo na mão, parecia ser outro pedaço de madeira.
Desesperado, John Held virou-se para trás e viu Franklin caído no chão. Parecia estar morto. Dezenas de pensamentos atravessaram sua mente; não podia deixar o amigo ali jogado, mas se ficasse acabaria como ele.
Dando alguns passos para trás, viu o homem parar no meio da rua e apontar o objeto em sua direção. Vou morrer, pensou John. Rapidamente pulou para trás de uma árvore que havia ao lado; mais um jato fora disparado, mas atingiu apenas a árvore, fazendo alguns pedaços de caule caírem.
O senhor, agora com o rosto sangrando, começou a se levantar lentamente, parecia estar bastante zonzo. John não conseguia pensar em outra saída, teria que buscar ajuda, fugir daqueles dois loucos assassinos. Olhou para a calçada que se seguia, respirou fundo e lançou-se em uma correria frenética; a cada placa, cada árvore, lixeira ou o que fosse que houvesse na calçada, ele ziguezagueava, alucinado, em pânico. Eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer.
Vários outros jatos foram lançados, mas todos esbarravam em alguma coisa. O plano de John estava dando certo.
- Pare! – gritou o homem de cabelos grisalhos e o rosto ensangüentado, com seu companheiro – Assim você vai chamar muita atenção. Altere a memória desse aqui e deixe que o outro eu o capturo. Apenas não me lembrava o quanto os trouxas são agressivos, mas agora ele que se cuide.
- Mas Proudfoot, você sozinho pode...
- Faça o que mandei. Kingsley nos confiou essa missão, e não iremos desapontá-lo.
**********
John Held corria desenfreadamente pelas ruas, sempre desviando-se por qualquer coisa à sua frente. Ai meu Deus, me ajuda, me ajuda, me ajuda, pensava John, desesperado. Ainda não havia sequer olhado para trás; como os jatos haviam cessado, ele resolveu arriscar uma rápida olhadela.
Proudfoot dobrou a esquina bem na hora que seu alvo olhara. Seus olhares se cruzaram, medo contra determinação. O medo perdeu. Eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer. De alguma forma inexplicável John Held conseguiu correr ainda mais rápido que antes.
Em uma casa próxima, um garotinho correu até a janela; há poucos instantes ele havia perguntado à sua mãe se ela sabia como Deus era. Parando por alguns segundos ela pedira ao filho que fosse até a janela da frente e reparasse em tudo, desde o céu até o chão. O menino só conseguia reparar em um homem louco que corria de um lado para outro na calçada em frente. Logo depois percebeu um outro homem, de meia idade e cabelos que reluziam sobre luz da lua, vestindo um sobretudo verde. O segundo homem apontou o braço direito para frente, e logo depois um raio vermelho saindo de sua mão que acabou atingindo uma lixeira, fazendo o lixo que havia dentro se espalhar todo pelo chão.
- Mãe! – gritou o menino correndo para a cozinha – Mãe, Deus está aqui na frente de casa. Mãããããe.
**********
A rua estava completamente deserta, a não ser por John e Proudfoot. Uma olhada mais minuciosa trouxe uma boa notícia ao auror: nenhuma casa parecia ter movimentação nas portas ou janelas.
- Agora acabo com isso. – disse o bruxo abrindo um leve sorriso.
Inesperadamente o homem que John havia socado materializou-se em sua frente. O susto misturou-se ao medo, seu corpo estancou de uma vez.
A varinha foi erguida até o peito de John, era o fim da perseguição.
Marlowe despontou pela esquina. Corria em direção a Proudfoot e a John, caído ao chão.
- Quem bom que você conseguiu, eu já estava desesperado. Alguns trouxas viram o amigo dele no chão. – explicou Marlowe, ofegante - Então outros começaram a surgir.
- Mas você conseguiu alterar a mente dele a tempo?
- Por sorte consegui. Tive um pouco de dificuldade em sair de lá com todos aqueles trouxas me enchendo de perguntas.
Eles suspeitaram de algo?
O rosto de Proudfoot estava tenso.
- Claro que não, consegui sair sem me comprometer.
- Ótimo. Agora temos que achar um jeito de levá-lo para o ministério. Nos distanciamos muito da casa de Fenley, teremos que achar uma outra casa, só que vazia, para usarmos a lareira.
Alguns minutos depois Marlowe estava conjurando um feitiço para destrancar a porta de uma casa que, ao que parecia, seus donos haviam saído. Os dois amigos entraram e Proudfoot colocou John Held, ainda inconsciente, em uma poltrona.
- Marlowe, vá para o ministério, dê o endereço dessa casa para Kingsley e peça para que liguem a lareira na rede de flu. Já devem estar todos esperando.
- Não seria mais fácil enviarmos uma mensagem por patrono pedindo isso?
- Seria, mas eles se espantariam e pediriam ao menos uma explicação breve. Vá até lá e explique o que ocorreu, assim acabará sendo mais rápido.
- Nossa! Você realmente pensa em tudo.
Proudfoot lançou um olhar de desdém ao companheiro que desaparecia em meio à penumbra da sala mal iluminada.
Alguns minutos se passaram. Proudfoot se perguntava o que o ministro da magia queria com aquele trouxa. A chamada de emergência impedira que a missão fosse explicada completamente. Repentinamente um casal apareceu pelo vidro, caminhando pela calçada. O bruxo se assustou com as vozes. O casal parou exatamente em frente à porta da casa. Não havia como se esconder ou escapar. Agora ele dependia de Marlowe e dos responsáveis pela rede de flu.
- Você não quer entrar e tomar um chocolate quente? Está tão frio hoje.
- É, acho que podemos começar por um chocolate sim, depois esquentamos outras coisas.
A garota riu abobalhadamente. Proudfoot ficou mais sério ainda. A chave entrou na fechadura foi rodada. Eles não tinham saída. Tentar se esconder pela casa só complicaria mais a missão; estavam esperando por ele no ministério.
O rosto de Marlowe irrompeu na lareira contornado pelas chamas.
- Vamos Proudfoot, pode vir.
Ele correu até o homem desmaiado, pegando-o no colo. A porta se abriu. Por sorte o casal estava se beijando desesperadamente. Entrando quase agachado na lareira, Proudfoot pegou um punhado de pó de flu que trazia em uma bolsa, presa na cintura, e disse o destino desejado.
O casal se espantou e ambos olharam pela sala. Restou tempo apenas para ver um clarão verde tomar o ambiente. A missão havia terminado; ou ao menos o início dela.
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Bem distante da Inglaterra, um homem de rosto esbranquiçado se esgueirava por entre prédios destruídos. Ali, ele conseguiria muitos conhecimentos. Seu maior fascínio seria alimentado; a prova disso estava em sua volta: prédios, casas, pessoas e vidas destruídas por objetivos claros e incontestáveis. As facções do oriente médio iriam lhe ensinar segredos de tortura e dominação em massa, apenas com um pequeno showzinho de bruxaria. Uma troca justa, pensava ele. Eu faço alguns favores a eles e eles a mim.
Continua...
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N.B: Oi gente! Pra quem não me conhece, sou Lore Weasley Potter, beta desta fic que promete ser maravilhosa. Me apaixonei pelo enredo e me ofereci de bom grado para a função. Não vejo a hora de ver a trama se desenrolando e nossos bruxinhos preferidos entrando na estória. Parabéns pelo capítulo, Roney. E, assim como sou a primeira a saborear o capítulo, também faço questão de ser a primeira a cobrar capítulo novo! Rsrs. Não demora, por favor!
Beijos pra todos!
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N.A. : Olá pessoal!! Aqui está o primeiro capítulo da minha primeira Fic! Espero que vocês gostem. Estou me esforçando muito. Pesquisas em cima de pesquisas! Procuro primar pela qualidade e a máxima falta de erro possíveis!Não é sempre que conseguimos, mas tentar é um passo importante, que dou! Para isso conto com a ajuda de uma excelente beta, além do que peço que vcs estejam presentes a partir de agora! Sintam-se a vontade para comentar!! Um grande abraço e até breve!!
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