A família Quirrel



Capítulo 4 – A família Quirrell



Átrio Principal, Ministério da Magia, Londres.

O jornal Profeta Diário estava recheado de manchetes como há muito tempo não se via. Notícias sensacionalistas estavam em falta, aumentando assim, as colunas de fofocas e receitas, tentando, desesperadamente, atrair um público maior. Mas, neste dia, ainda antes de amanhecer, Hermione lia a terceira página, que era disputada por duas imensas fotos; ambas de mortes.

À direita da página, um homem com a cabeça caída em cima de uma mesa, e logo ao seu lado estava uma bandeira com grafias estranhas. À esquerda, a foto mostrava helicópteros planando em volta do Big Ben e em uma das pontas do teto do relógio, um homem estava pendurado. No topo das fotos, os dizeres: Mortes aterrorizam bruxidade.

“Que horror!”

Hermione esperava o elevador enquanto fazia caretas de nojo para o jornal.

- Quem é essa bruxa? Um pouco mais de roupa e pudor cairia bem – disse a si mesma ao virar para a página quatro do Profeta.

O átrio estava quase deserto. Alguns poucos bruxos e bruxas circulavam apressados, um clima tenso parecia pairar sobre o ministério naquele dia que ainda mal começara. A porta do elevador se abriu e Hermione entrou, os olhos grudados no jornal.

A cada andar mais bruxos entravam no elevador e vários outros saíam, enquanto uma voz indicava os setores, mas Hermione estava completamente concentrada na leitura. De vez em quando soltava caretas e frases do tipo: “Mas como podem... nada está confirmado ainda” ou “Mas isso não é verdade...” ou “O Ministro não disse isso”. Todos a olhavam intrigados, alguns até se espichavam para ler com ela e concordar com suas opiniões.

Em mais um andar a movimentação no elevador e a voz oculta passavam despercebidas pela garota, mas alguém a interrompeu.

- Mione?

A garota olhou para frente. Harry Potter entrava no elevador com uma expressão de espanto.

- O que você faz aqui há essa hora?

- Eu pergunto o mesmo a você. – retorquiu Hermione com um olhar sério.

Harry olhou em volta, desconfiado; pensou que talvez fosse melhor falar a sós com a amiga sobre estar tão cedo ali. A garota pareceu perceber a situação, porque logo respondeu:

- Estou aqui por um chamado de emergência. Me mandaram aguardar mais instruções aqui no ministério; acho que tem haver com todas essas coisas que têm acontecido.

- E você já sabe?

- Quem não sabe? – Hermione virou o jornal para o amigo, a capa do jornal exibindo quatro fotos sob a manchete: Mortes, Terror e Sensualidade.

Harry aproximou o rosto do jornal, a boca levemente aberta.

- Essa não é a Emilina? Nossa, ela está quase sem roupa.

Hermione puxou o jornal com raiva, amassando-o entre as mãos.

- Não estou falando disso, você ainda não soube das mortes e do ataque?

Outros bruxos do elevador ficaram olhando para o jornal nas mãos de Hermione. Um bruxo baixo e careca, que estava ao lado de Harry, falou abrindo sua edição do Profeta Diário:

- Ela é linda mesmo.

Todos no elevador, exceto Hermione, rodearam o homem para olharem o jornal. Harry viu uma mulher muito linda trajando um biquíni igual ao que as mulheres trouxas usam. O elevador parou outra vez e o dono do jornal o fechou e saiu.

- Eu não acredito nisso... – disse Hermione indignada.

- É, nem eu. Você viu como ela estava bem... ai!

A garota batia com o jornal em Harry.

- Ai! Calma Mione, calma.

- Olhe isto Harry – a garota abriu o jornal na página dois, onde uma foto com vários policiais que caminhavam por uma rua de um lado a outro – Uma trouxa foi morta e um auror...

- Eu já soube. Kingsley me contou ainda pouco.

A essa altura, os dois estavam sozinhos no elevador. Um breve momento de silêncio, em que os amigos evitavam se olhar.

- Harry, por acaso sua cicatr...

- Não. Foi isso que Kingsley quis saber.

O elevador parou mais uma vez. A porta já ia se fechando quando Harry percebeu que devia descer ali. Segurou rapidamente a porta.

- Vou com você Harry, precisamos conversar.

Os dois esperaram chegar a uma sala no setor de aurores, que estava vazia, para poderem retomar o assunto. Em outro momento aquela sala estaria cheia, mas a maioria dos aurores estavam em missões devido os últimos acontecimentos.

- Eu estou tão preocupada, Harry. Tudo estava indo tão bem, todos se recuperando, tentando esquecer o que aconteceu. E agora isso vem como um raio em nossas cabeças.

- Seja o que for não é Voldemort!

- Como você pode ter tanta certeza?

- Nós vimos o corpo dele, eu o matei.

- Mas, e se ele conseguiu fazer outra magia das trevas que o impedisse de morrer ou sei lá o que mais. Ele já provou ser capaz de qualquer coisa.

- Hermione, Kingsley me disse que Proudfoot viu quem o atacou. E não era Voldemort.

A garota estava tão aflita, a mente processando tantas hipóteses sombrias ao mesmo tempo, que nem percebeu que estava em pé falando quase aos berros.

- E se foi um comensal? Vai ver ele não quis se expor e mandou uma outra pessoa.

Harry olhou nos olhos da amiga, e viu que algumas lágrimas rolavam por seu rosto. Lembrou-se da primeira vez em que a viu, no Expresso de Hogwarts, com aqueles cabelos fartos e o olhar mandão; de lá pra cá, tantas coisas aconteceram... Uma sensação ruim passou por ele ao imaginar o quanto já haviam vivido, e agora tudo parecia estar se repetindo. Talvez fosse por isso que ela estivesse reagindo assim.

Hermione foi até o amigo e o abraçou.

- Eu tenho medo, Harry.

Alguém bateu na porta. Os dois se separaram. Hermione enxugava as lágrimas enquanto Harry ia até a porta. A visão que teve o fez sentir-se mais tranqüilo; uma das pessoas mais confortantes de se ver.

- Sr. Weasley!

Nos últimos anos, Arthur Weasley tinha assumido de vez a figura paterna que faltava na vida de Harry; nada premeditado ou forçado. Após a queda de Voldemort, o garoto recebeu o convite para morar n’A Toca, o que de início ele não aceitara. Talvez pelo fato de namorar Gina, ou de não se sentir a vontade, achando que seria um tanto incômodo morar com os Weasley por não ser da família. Mas, acabou convencido por todos e, desde então, uma proximidade muito grande entre ele e Arthur se consolidou.

Várias conversas noite adentro sobre qualquer coisa. Profissão, garotas, medos, passado, de tudo eles partilhavam. Com o tempo Harry sempre ia até o Sr. Weasley para pedir ajuda antes de tomar alguma decisão importante. Algumas vezes ouvia coisas um pouco duras, mas depois compreendia a importância do que havia sido dito a ele. O seu carinho por aquela família havia crescido ainda mais, se é que era possível.

- Olá Harry! Esperava encontrar você aqui.

- Entre – disse o garoto abrindo mais a porta.

- Hermione! Que bom você estar aqui – disse Arthur se dirigindo à garota – Isso me poupa o trabalho de procurá-la.

No centro da sala havia uma mesa grandiosa com mais de vinte acentos à sua volta. Os três se sentaram.

- Harry, acho que o Ministro já lhe adiantou que sairemos em missão agora, não?

- Sim, Sr.!

- Pois bem, iremos nós três. Mas não se preocupem, é apenas uma missão de mapeamento de uma área próxima ao ataque de ontem.

- Eu? Em missão? – Hermione parecia espantada e um pouco assustada.

- Não lhe avisaram para aguardar um posicionamento? – perguntou Arthur, estranhando a reação da garota.

- Sim, disseram, só não esperava que fosse algo tão diferente do meu setor.

- Ah, nem me diga. Todos estão atordoados com o que tem acontecido. Foi uma surpresa horrível. Veja só as coisas em que tenho sido colocado. Em momentos difíceis, todos devem se unir.

O olhar triste de Arthur se perdeu em algum ponto qualquer da parede; parecia estar se lembrando de algo.

- É verdade que o Sr. foi o primeiro a chegar ao local do ataque? – perguntou Hermione.

Os olhos do homem se voltaram para a garota, mas seu rosto tinha um semblante triste e cansado.

- É sim. Foi horrível! Proudfoot sem metade do braço, a trouxa caída no chão morta e o seu marido gritando desesperado. Por alguns instantes fiquei paralisado, lembrando de quando Fred... – sacudiu a cabeça - mas logo me contive e tomei a postura profissional que a situação exigia.

Todos na mesa se olhavam entristecidos, pensando em uma possível explicação para tudo aquilo.

Quem quebrou o silêncio foi Arthur.

- O Ministério tem um grande problema para resolver, a quantidade de mentes que ainda devem ser alteradas nos faz beirar o desespero; Kingsley acha que é quase impossível evitarmos um vazamento, isso sem falar no problema em si que foi esse ataque.

Ouvir tudo aquilo fazia Harry começar a duvidar se realmente Voldemort havia retornado mesmo sem que ele sentisse algo. Hermione sempre lhe lançava um olhar preocupado, como se a qualquer momento ele fosse cair no chão com sua cicatriz queimando de dor.

E se Harry não possuísse mais ligação alguma com o lorde das trevas? Seria possível um novo retorno? Realmente há outra magia que pode ter sido usada por Voldemort? O que mais poderia haver além das Horcruxes?

- Sr. Weasley, quem é o homem que aparece morto sobre uma mesa aqui no profeta diário? – perguntou Hermione mostrando a edição do dia.

- Era um grande empresário trouxa, me parece que ele negociava um líquido preto que os trouxas usam como energia e várias outras coisas.

- Petróleo? – sugeriu Hermione.

- Isso, exatamente. Parece que era também um homem mafioso; seja lá o que isso signifique não deve ser coisa boa.

- Mas então, porque ele está no profeta? – Hermione estava cada vez mais intrigada.

- Na verdade, foi porque não foi encontrada nenhuma explicação para sua morte – Harry começou a explicar – o que nos leva a uma única explicação.

- Avada Kedavra – completou a garota com uma cara de espanto.

- Eu sei que ainda temos muito que conversar, mas a missão é urgente – disse Arthur ainda com certo desânimo – Vamos até o átrio para aparatarmos. E Hermione, não se preocupe, você está comigo e com Harry.

A força que foi transmitida pelo leve sorriso de Arthur não só acalmou um pouco os receios de Hermione como também lhe deu certa confiança. Harry se sentiu um pouco mais seguro também, e mais uma vez não pôde deixar de admirar o Sr. Weasley.



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John caminhava pelos corredores do ministério da magia, ladeado por dois bruxos. Durante as duas últimas quatro horas eles haviam conversado sobre várias coisas. Eles foram designados a permanecerem junto a John desde que Kingsley precisou se ausentar.

Agora, caminhavam rumo à sala do ministro. Durante todas essas horas os três conversaram várias coisas. John fez muitas perguntas e todas foram respondidas, apesar de certa cautela, percebera ele. Sabendo, dessa vez, da importância da posição de Kingsley para com os bruxos, um leve nervosismo percorria o corpo do trouxa. Em uma ante-sala uma assistente anunciou a chegada de John, que logo recebeu permissão para entrar.

- Sente-se por favor. – convidou Kingsley apontando uma cadeira em frente à sua mesa - Desculpe a ausência de uma hospitalidade mais acolhedora, é que estas últimas vinte e quatro horas têm sido intensas, como há alguns anos não se via por aqui.

- Não se preocupe. Compreendo perfeitamente, além do que, o Sr. deve ser uma pessoa bastante ocupada.

- Sim John. Bem, pedi para que viesse aqui por um motivo muito ruim. Aliás, durante as últimas horas minha boca e meus ouvidos não compartilharam outro tipo de informação.

- Então tudo bem, o que posso fazer? Diga.

- O que tenho a lhe falar é sobre o seu amigo Frank.

Frank. Esse nome despertou um espanto em John. Havia esquecido completamente dele desde que estivera na outra sala com Kingsley. Como pudera esquecer-se por tanto do amigo? Uma culpa logo o dominou, e foi crescendo cada vez mais enquanto o ministro começava a falar.

Tudo fora explicado, desde a noite em que se separaram: os dias no hospital, a recuperação, as tentativas do amigo para achá-lo, o jantar na noite passada e a morte de Luisa.

- Seu amigo teve uma noite muito difícil. Quanto ao tal homem que matou a esposa dele, ainda não temos idéia de quem seja.

- Não consigo acreditar! Como tudo isso pode ter acontecido? Soa mais como uma história de um filme. Não consigo assimilar isso tudo como fatos que podem ocorrer ao meu redor. – John se levantou e começou a andar pela sala, de um lado a outro; as lágrimas começavam a se acumular nos cantos de seus olhos – Tem que estar errado, não pode ser o mesmo Frank, nem a mesma Luisa ou então é sonho, não, um pesadelo que estou tendo, é isso; um daqueles pesadelos que parecem reais.

- Você quer falar com ele? – perguntou Kingsley.

John parou de uma vez.

- Ele está aqui?

- Sim, está! Conseguimos reverter parte da grande confusão e o trouxemos para cá em segurança e também para, através dele, conseguirmos identificar o tal homem.

É claro que John queria falar com o amigo, mas logo a culpa e o receio o pôs em dúvida. E se o amigo o culpasse de certa forma? Se achasse que tudo isso não teria ocorrido, caso não tivesse se preocupado com ele. Mas a decisão tinha que ser tomada.

- Me leve até ele, por favor.


John e os seus dois tutores seguiam o caminho de volta pelos corredores. No elevador, que antes o trouxa se maravilhara devido aos aviõezinhos de papel que rondavam o teto e seguiam porta afora rumando para seus destinos, agora nem ligava pra eles; apenas permanecia calado e de cabeça baixa pensando na morte de Luisa, na dor do amigo e na reação que teria ao vê-lo.

Saíram do elevador e seguiram por mais alguns corredores que John nem prestou atenção. Os dois bruxos perceberam a estranheza do trouxa, por isso não disseram uma palavra sequer durante o caminho. Chegaram até uma porta de madeira no final de um dos corredores daquele andar; os dois bruxos se adiantaram e abriram a porta para John, que respirou fundo antes de entrar em passos vacilantes.

A sala era clara, as paredes brancas davam um tom calmo, algumas plantas e vários quadros, que John prestou atenção, enfeitavam o local. Algumas cadeiras acolchoadas preenchiam a pequena sala; não fossem as pinturas no quadro se mexerem, aquele seria um típico ambiente trouxa. Em uma das cadeiras estava Frank, a cabeça abaixada mirando o chão.

As roupas de Frank estavam sujas e desarrumadas, mas ele, que sempre se preocupava com a aparência, agora parecia não dar a mínima importância. John olhou-o por mais alguns segundos, e então reuniu coragem e falou:

- Oi Frank! Sou eu.

John observou o rosto do amigo se erguer vagarosamente, e se deparou com um rosto lavado de lágrimas e com alguns arranhões na testa e no queixo. Os dois se encararam e John não sabia o que esperar, não tinha idéia de como o amigo reagiria à sua presença; entendia o representava todas as provações pelas quais o amigo havia passado nas últimas vinte e quatro horas, e era mais que notável a decepção, a tristeza e a desesperança nele.

Frank se levantou. Levemente mais baixo que John, precisou levantar um pouco o rosto e encarou o amigo. Mais lágrimas brotaram e rolaram por seu rosto, então ele disse:

- Ela se foi, John. Ela se foi.

Abraçando o amigo, Frank mal conseguia se manter em pé, a falta de força em seu interior refletia sobre seu corpo.

Apesar de ver Frank naquela situação, John sentiu uma alegria brotar dentro de si; o amigo não o culpava. Uma onda de renovada força invadiu John e ele foi capaz de sentir que tudo ficaria bem.

- Tudo bem Frank, tudo vai ficar bem! – consolou, o amigo ainda em prantos.




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O leve vento-gelado-do-inverno-que-está-próximo ondulava pelo ar. As folhas das árvores, já sem o verde de outrora, balançavam preguiçosamente; um esquilo corria por entre os galhos, algumas folhas em que esbarrava acabavam por cair até o chão, para então serem levadas pela brisa e atravessarem a praça com leveza, indiferente aos sons de gente a carros que nunca paravam, sempre em busca de alcançar um lugar que só se tornava mais longe a cada passo.

No meio dessas pessoas, uma senhora aparentando seus cinqüenta e poucos anos também caminhava, buscava alcançar um objetivo. Mas ela não era como as outras pessoas, não; era diferente, muito diferente. Suas preocupações não poderiam ser adivinhadas por ninguém ali num raio de quilômetros.

A bruxa caminhava com um pouco de pressa, sua conversa na noite passada com seu filho não saiam de sua mente. A preocupação lhe tomava por inteira, mas ela sabia que poderia demonstrar seus sentimentos, porém, não para a pessoa com a qual iria se encontrar agora.

Uma esquina após a outra ela lamentava-se por não poder ter aparatado mais próximo de seu destino, mas não havia local mais seguro para isso do que o velho beco do outro lado da praça. Sair durante a luz do sol era uma verdadeira tortura para ela, mas, como era início de inverno e a situação que deveria tratar era muito importante, acabou tendo que se submeter a esse martírio.
Dobrou mais uma vez; não uma esquina, mas para a soleira de uma porta marrom. Enfim chegara.

Tomou a varinha na mão, por precaução, e abriu a porta. Antes mesmo de entrar na casa, um jato de luz verde voou em sua direção; em poucos milésimos de segundo, a mulher fechou levemente a porta diante de si, bloqueando o feitiço. Alguns estilhaços da madeira nobre voaram sobre sua cabeça. Sem tempo sequer para ver quem lançara o feitiço de morte, um outro já lhe alcançava , mas, por pouco conseguiu bloquear também. Desta vez, a porta não suportou a força do feitiço e se partiu. Quase no mesmo instante lançou um jato estuporante; sabia que não chegaria até o alvo, mas lhe daria tempo. Logo, um terceiro jato de luz verde atingiu a entrada da casa, mas a mulher já não estava mais lá.

- Largue a varinha, seu canalha de uma figa. AGORA! – a mulher estava à flor da pele, seu peito arquejava.

O homem jogou a varinha no chão, estava sendo ameaçado com uma varinha em seu pescoço, e por mais que fosse doloroso admitir que houvesse perdido, teve que se render.

Agora desarmado, o homem levantou as mãos. A mulher deu-lhe um tapa na nuca com toda força que pudera reunir.

- Aaaai! – gritou Murdovus.

- O que você está pensando, seu fedelho, quase me matou – gritou a mulher.
Murdovus virou-se para ela, respondendo aos gritos.

- Você sabia que eu não queria ser incomodado, você sabe que quem quer que se aproxime daqui, EU MATO.

- Você mataria sua mãe? – a mulher sabia que isso não seria problema para ele – Você deixaria sua frustração o dominar a esse ponto?

A raiva tomou forma no rosto de Murdovus.

- Não existe frustração. Você só pode estar louca. Não tem mais noção das coisas que fala.

- Então fico feliz por você, porque qualquer um ficaria arruinado em frustração depois de ter todo seu plano jogado fora, depois de ter passado tanto tempo esperando o momento e, de repente, tudo sair do seu controle.

- Não existe frustração dentro de mim, não existe sentimento algum dentro de mim.

- Então que raiva é essa que exala de você? Somente uma pessoa muito prepotente não veria a verdade diante de seus olhos.

Percebendo o sentido das palavras da mulher, Murdovus acalmou-se mais. Por pior que fosse, para ele, admitir que ela tivesse razão, não poderia ignorar tal fato; seria como estar se suicidando ou sufocando a realidade no torpor de alcançar um sonho que jamais se tornaria realidade. Então, mais calmo, ele falou:

- Como você soube que tudo deu errado? Você nem ao menos sabe quais são meus planos.

- Bem, você sabe que tenho meus informantes, e o fato de você ter estrunxado um auror não escaparia aos ouvidos nem mesmo de um bruxo surdo. Quanto aos seus planos, você tem razão, não sei sobre eles, mas de uma coisa eu sei. Sei o que você quer, sei onde quer chegar. E mais uma vez lhe digo meu filho, não continue com essas idéias.

Essas últimas palavras a mulher falou com uma falsa doçura, com um rosto dócil e um carinho dignos de uma mãe que ama seu filho.

- Já chega! Já me basta ter que aturá-la, ainda ter que agüentar um conselho dissimulado de mãe-preocupada-com-o-filho. Nós sabemos que se você já gostou de alguém nessa vida, esse é Quirinus, e ninguém mais.

- Quanta ingratidão...

- Ingratidão nada, não pense que estou reivindicando a miséria que são seus sentimentos maternos. Tenho sorte de não ter tido que aturá-los em momento algum da minha vida, pois assim, tornei-me quem eu quis, do jeito que eu quis, diferente do meu irmão que você fez questão de transformar em um completo idiota.

- Quirinus não era idiota! Ele conseguiu até mesmo se tornar professor em Hogwarts, e de uma das disciplinas mais importantes, se você quer saber.



- Não me admira, o cargo estava azarado. Ninguém queria ocupar a vaga, e quem foi o idiota que aceitou? Ah, claro, foi o idiota do Quirrell. E logo depois você deu ele a mim, se lembra? Deu ele ao Lorde das trevas e apenas o assistiu rumando para o fim de sua vida.

- NÃO! A culpa foi sua! Foi você quem deu a idéia, era você quem estava ajudando Voldemort.

- Claro, como sempre a culpa é do Murdovus, sempre foi assim. O coitado do Quirinus nunca fazia nada de errado, era tão perfeito...

Os dois se olharam por alguns instantes, mãe e filho.

- Murdovus, – retomou a bruxa – deixe seu irmão em paz, já não basta o que você o fez passar? Entregou o irmão a Voldemort, isso já não paga o ódio que você tem dele?

- Não tenho ódio – Murdovus se esforçava para reprimir qualquer sentimento dentro de si – pare de falar idiotices. Eu preciso falar com meu irmão, você não vai poder me impedir para sempre. Eu tenho direito, sou um Quirrell, tenho o direito de falar com meus antepassados, mais cedo ou mais tarde isso acontecerá.

- Não! Eu lhe suplico, deixe seu irmão em paz, não o atazane mesmo depois de morto, ele está com medo. Você sabe que ele sempre o temeu, por isso se submetia a você, por isso aceitou servir Voldemort. Ele fez isso por você! Liberte-o de você, não deixe-o carregando mais dor do que ele já traz.

- Não há outro caminho, aceite a verdade sua bruxa irritante.

A bruxa caiu de joelhos, as mãos no rosto escondendo as lágrimas que brotavam de seus olhos. Ergueu a cabeça e pela primeira vez percebeu o ambiente: a casa era típica de um trouxa, muito bem mobiliada com móveis caros e bom gosto, nada que fizesse tanto sentido aos bruxos em geral; as cortinas estavam fechadas, assim como as janelas, tornando o ambiente um pouco mais escuro. Sob os joelhos da bruxa, um tapete macio de cor branco encardido, tudo muito bem arrumado.

- Ele tem medo que você machuque Harry Potter, ao menos isso você poderia fazer por ele. – a bruxa falava por entre os soluços de um choro que ela não conseguia controlar – Faça isso por Quirinus, eu lhe imploro.

- Acho que você está fazendo a encenação certa, mas para a pessoa errada. Levante, antes que eu mude de idéia e lhe mate logo.

A bruxa olhou para Murdovus de uma vez, as lágrimas haviam estancado sem terem dado o mínimo sinal de que fariam isso. De um único pulo ela alcançou o filho, e antes que ele pudesse reagir já estava outra vez com a ponta da varinha afundando em seu pescoço, mais uma vez subjugado pela velocidade da mulher, mais uma vez ameaçado por sua mãe.

- Preste bastante atenção no que vou lhe dizer, Murdovus; em primeiro lugar você não vai me matar e se um dia eu morrer não será pelas suas mãos. Você não é tão capaz assim, só hoje já tentou três vezes, mas não é páreo para Lenéia Quirrell, seu fedelho. Em segundo lugar, – a bruxo agarrou os cabelos do filho e os puxou para trás, expondo ainda mais seu pescoço – você está certo ao dizer que não poderei lhe impedir para sempre de falar com seu irmão, realmente, é um direito seu, mas qualquer coisa, a mínima que for que eu julgue errado de sua parte para com o seu irmão, vou pessoalmente me certificar de que você se arrependa com todas as suas forças. Em terceiro, eu nunca o amei, mas você tinha razão quando disse que me importava com o Quirinus. Todas as noites desejo do fundo do meu coração que você tivesse morrido no lugar dele. Em quarto e último, mando saudações do verme do seu pai. – a velha cuspiu no chão e depois lançou o filho em um dos sofás. – Você é um imprestável Murdovus, nunca conseguirá cumprir esse seu plano de merda, e eu o odeio por tudo. Você está doente, está cada vez mais branco, cada vez mais igual ao seu mestre; se não o conhecesse diria que está produzindo alguma Horcrux também. Mas não, sei que não. Agora responda minha pergunta: o que você tem afinal?

Murdovus se ajeitou no sofá retornando ao seu porte costumeiro.

- O Lorde das Trevas nunca foi meu mestre, você sabe. Houve um tempo em que aceitei vários conselhos seus, além disso, fui um aliado seu; ele me encontrou quando eu era muito jovem ainda, mal havia saído da adolescência e as coisas que me ensinou naquele tempo foram mais importantes do que as idiotices em que você me fez acreditar durante anos. Mas a maior falha do Lorde das Trevas foi se deixar levar por sentimentos; o ódio e o rancor o cegaram, e ele sucumbiu em uma cova cavado por si próprio. No final das contas foi isso que aconteceu.

- Muito bem, se assim você acha; agora me diga do que você está doente.

- Isso não interessa a você! Já disse o que tinha que dizer, vá embora!

- Você vai morrer não é? – Lenéia se aproximou de Murdovus – É isso, você está próximo de seu fim.

- NÃO! – Murdovus gritou e começou a caminhar pela sala – Ainda posso fazer muita coisa, vou mudar muita coisa.

- Passou tanto tempo lutando para se livrar de seus próprios sentimentos, vivendo escondido, até se envolveu com aqueles trouxas fanáticos por religião e guerra, e agora simplesmente está morrendo. Quando você foi a minha casa eu suspeitei de muitas coisas, mas não comentei nada; é por isso que anda sendo tomado por sentimentos de raiva o tempo todo, é por isso que acabou deixando ser dominado por aquilo que passou anos tentando controlar e acabou por estragar tudo na noite de ontem. A proximidade da morte está tornando você sensível, mas só pode expressar isso por meio do ódio, pois foi a única coisa que lhe sobrou.

- Você não sabe nada sobre mim, vá embora. Não me amole mais com assuntos que não levam a lugar algum. VÁ EMBORA!

Lenéia andou até a porta, seu olhar estava triste, mas não deixou transparecer seus sentimentos. Ela realmente estava triste por Murdovus e percebeu dentro de si que talvez, pela primeira vez na vida, começava a se importar com o filho. Ao alcançar a porta, a bruxa se virou e disse:

- Você é o único herdeiro vivo da família Quirrell. Se você morresse hoje, levaria consigo o nome da família para o esquecimento. Você pode usar o tempo que lhe resta para evitar a morte do nosso nome, Murdovus.

Murdovus andou até sua varinha, que ainda estava no chão, e apanhou-a. Seus cabelos grisalhos e o olhar sério de um homem de certa idade refulgiram claramente.

- Não sei de nada útil que esse nome possa ter me trazido. Se depender de mim, este será o fim da família Quirrell.

Lenéia andou até a entrada e se virou.

- Então, que assim seja. – disse, antes de reparar a porta danificada com um feitiço e a bater atrás de si.





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Arthur, Harry e Hermione aparataram em um beco que estava sendo usado para os bruxos se transportarem naquele dia, tamanho era o tráfico de “pessoas estranhas” por aquelas ruas. Na entrada do beco, três bruxos faziam a guarda do local; Arthur os cumprimentou e seguiu pelas ruas de Durham, seguido por Harry e Hermione. No caminho explicou como ocorreria a missão:

- Nós vamos atrás de um homem que mora por estas ruas e alteraremos sua memória. Também estaremos sempre de ouvidos e olhos a postos para qualquer alteração que surja a respeito do ataque ou a danos que possivelmente podem ter ocorrido. Alguma pergunta?

- Não! – os dois jovens responderam lacônicos.

Esquina após esquina nenhuma palavra era dita; todos estavam um pouco tensos, talvez por ainda considerarem a chance de Voldemort estar por trás de tais acontecimentos. Hermione continuava a lançar olhadelas na direção do melhor amigo, enquanto Arthur não deixava de olhar para os lados e para trás a cada minuto.

Harry pensou em Rony, em Mione, em Dumbledore, nos amigos que fez em Hogwarts, em todas as pessoas com as quais se importava; até Duda, o impiedoso primo que tanto já lhe batera, não ficou de fora. Mas, com certeza, quem recebeu mais atenção de seus pensamentos fora sua ruiva, a garota que trouxera mais vida à sua vida, que havia dado mais amor ao seu amor, que causara mais sorriso ao seu sorriso, que abobalhara mais ainda a sua cara-de-bobo, que somara mais planos aos seus planos de vida, que lhe concedera sentir mais sabores além das comidas que provara, mais cheiros que seu nariz antes pudesse captar, que lançara mais magia aos seus dias já cheio de feitiços, que o fizera voar ainda mais alto do que sua Firebolt permitia, que o fizera ver e conviver com mais sardas do que as que Rony já carregava, que dominara seus pensamentos ainda mais do que eles achavam que pudessem suportar e, ainda assim, adorar tudo isso, agradecer tudo isso; e só de imaginar correr o risco de perder tudo, lhe causava arrepios do medo mais aterrorizante que já havia sentido em toda sua vida.

Era ela. Sim. Ela é o meu amor. É a minha ruiva.

- Chegamos! A partir daqui devemos estar mais atentos que nunca. – Arthur falou aos dois, sua boca seca pelo nervosismo – Se vocês avistarem alguém bastante mal vestido, que aparente se morador de rua...

- Nós falaremos se virmos algum mendigo, pode deixar Sr. Weasley. – Se adiantou Hermione buscando ajudar de alguma forma – Vamos logo!



Após três minutos de caminhada, Hermione apontou para um homem.
-Olhem ali!

Sujo, com chapéus e casaco marrons e esfarrapados e andar vacilante; no supercílio havia uma pequena linha de sangue escorrendo. Os três se aproximaram, mas o homem pareceu perceber, pois tratou imediatamente de atravessar a rua.

- E agora, como falaremos com ele? – perguntou Arthur Weasley aparentando mais nervosismo ainda.

- Deixe comigo. – respondeu Hermione já dando as costas e indo em direção ao mendigo.

A garota atravessou a rua enquanto Harry e Arthur ficaram olhando, ambos com as mãos nas varinhas, que estavam escondidas sob suas roupas.

O mendigo havia ficado alerta e, ao perceber que a garota o seguia, começou a andar mais depressa.

- Com licença – disse ela de longe.

O homem parou e se virou, estava muito receoso; olhou para o outro lado em busca de Harry e Arthur, que tentaram disfarçar, sem sucesso, olhando para os lados e para cima.

- Com licença – repetiu Hermione se aproximando – eu gostaria de uma informação, é que eu moro na rua aqui atrás e ontem a noite ouvi muitos barulhos e gritos também. Bem, minha avó ficou muito preocupada e prometi a ela que tentaria descobrir o que havia acontecido. O Sr. por acaso ouviu alguma coisa?

- Você não mora por aqui.

A garota ficou branca, não soube o que responder. Tentou ganhar tempo.

- Como?

- Você não mora na rua detrás, nem na outra, nem na depois da outra e muito menos nesta em que estamos. Eu moro em todas elas e sei que você não mora por aqui.

- Ah, claro, é que estive viajando por muito tempo e minha avó estava aqui sem mim e, bem, voltei faz alguns dias e...

- Uma mulher morreu ontem na minha cozinha, o marido dela quase enlouqueceu.

Hermione ficou sem reação, o homem havia começado a falar coisas sem sentido. Mas a história parecia, em parte, fazer sentido com o relato que ouvira sobre a noite passada.

- Na sua cozinha você disse? – perguntou ela insegura.

- Sim, na minha cozinha. É a rua em que gosto de preparar minha comida, foi lá que tudo aconteceu; às vezes eu fico com muita raiva e faço a comida no porão, só vou para o porão quando estou com muita raiva, quando não quero falar com meu pai nem com ninguém.

Harry percebeu o olhar que sua amiga lançara em sua direção, parecia um pouco tensa, mas logo se apressara em lhe fazer um sinal para que esperasse. Hermione ficava mais aturdida a cada frase do homem, era difícil conversar com alguém que provavelmente vivia em um mundo criado por si próprio. Ela tentou compartilhar um pouco desse mundo com o homem.

- Ah é? E onde fica o seu porão? – perguntou ela, no rosto um meio sorriso sem graça.

- É aqui. Meu porão é aqui nessa rua.

Ai meu Deus. Foi a única coisa que surgiu na mente de Hermione. O homem continuou a falar.

- Hoje eu fiquei muito zangado. Meu cachorro saiu correndo. – o homem tinha no rosto um semblante triste, mas a raiva ainda parecia ser dominante.

- Hum, e você não gosta quando seu cachorro corre de você?

- Claro que gosto. – o homem agora parecia realmente chateado – Quem não gosta de ver seu cachorro correndo feliz e saudável? – Hermione recuou levemente – O problema é que ele correu quando alguns homens estranhos me cercaram hoje de manhã, ele não deveria ter me deixado com aqueles loucos. Olha o que fizeram em mim. – o homem apontou para o supercílio que sangrava. Eles me perguntaram sobre a morte de ontem na minha cozinha e depois me mostraram um recorte de jornal, um recorte muito estranho onde as pessoas da foto na capa do jornal se... – o homem hesitou – o homem da foto se movia, era isso. Mas duvido você acreditar em mim, via achar que sou louco.

Hermione estranhou toda aquela história. Quem poderia ter mostrado àquele homem um jornal bruxo e depois ter batido nele?

- Não! Continue, me diga o que aconteceu depois.

O homem prosseguiu:

- Bem, se você quer que eu continue... Primeiro que o homem no jornal era muito estranho, tinha um rosto estranho; os olhos eram repuxados e não tinha nariz, ao invés disso tinha apenas dois buracos. Não parecia uma pessoa parecia mais com...

- Com uma cobra. – respondeu Hermione ficando paralisada, sentindo seu corpo todo duro e sua mente sem de qualquer vestígio pensamento que a livrasse daquele estado.

- É isso mesmo! – o homem concordou feliz, parecia de vez ter se convencido de que não era louco – Me perguntaram se o tinha visto na noite passada. É claro que eu disse que não.

Hermione olhou-o mais apreensiva que antes, com medo da resposta da pergunta que estava prestes a fazer. Abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Após alguns segundo de silêncio entre os dois a garota então falou:

- E você o viu? Na verdade você viu o homem da foto no jornal?

- Claro que não moça. – seu tom era de aborrecimento – Você está achando que sou algum mentiroso?

- Claro que não. É... você poderia me dar só um minutinho? Volto já. – disse ela se virando e andando até Harry e Arthur.



Harry e Arthur ficaram perplexos com o que Hermione relatara sobre o mendigo.

- Você está certa, devemos preservar a mente dele por enquanto e encaminhá-lo para o Ministério; Kingsley se interessará por essas notícias.

Os três bruxos se aproximaram do mendigo; ele recuou alguns passos, mas Hermione lhe disse que estava tudo bem.

Arthur se dirigiu a ele:

- Olá, meu nome é Arthur. Você poderia me dizer como eram essas pessoas que lhe abordaram?

- Você quer saber a cor do cabelo, as roupas que usavam e essas outras coisas que os policiais do filme perguntam? Você é policial?

- Não, ele não é policial. – se adiantou Hermione. Apenas queremos que nos diga que...

- Eles entraram no meu quarto. Era para lá que eu estava indo quando vocês me pararam. E como acabaram de entrar lá e não tem outra saída pensei em mandar meu cachorro morder eles.

- Seu quarto? – perguntou Harry sem entender nada.

Hermione logo se adiantou, não deixando o homem explicar o que seria seu quarto.

- Quanto tempo faz que eles encontraram você?

- Um pouco antes de vocês entrarem aqui no meu porão; quase vocês se cruzam.

- Seu porão? – Harry parecia entender cada vez menos.

- E onde fica seu quarto? – perguntou Hermione ao mendigo.

- Até você?! – disse Harry espantado ao ouvir a amiga conversando coisas estranhas com o homem.

- Nos leve até lá, rápido! – Hermione pediu ao mendigo e se virou para Arthur, ignorando o olhar confuso de Harry – Podemos alcançá-los e tirarmos essa história a limpo.

O rosto de Hermione estava lívido; era difícil para ela dizer aquilo, mas era o tipo de coisa que se pode deixar de lado, onde os medos devem ser superados. Arthur ficou apreensivo, mas não havia muito que pensar, e sim, apenas a coisa certa a se fazer.

- Vamos lá! – respondeu ele.

Dois quarteirões à frente se depararam com um prédio de dois andares. As quatro janelas da frente, no andar térreo, estavam com os vidros estilhaçados. Os tijolos alaranjados estavam quebrados em alguns lugares; dentro havia apenas escuridão. Era um prédio abandonado.

- Aqui é meu quarto. – disse o homem apontando para o local com orgulho na voz – Grande não?

Artur olhou para o homem muito sério.

- Você tem certeza que foi aqui que eles entraram?

- Tenho. Um pouco antes da menina aí me chamar eu os vi entrando. E ainda devem estar aí, não existe outra saída.

- Saquem suas varinhas e tenham muito cuidado. – ordenou o Sr. Weasley tirando sua varinha das vestes.



Diferente do que se via da rua, dentro do prédio não era tão escuro quanto parecia, mas por precaução todos iluminaram a ponta de suas varinhas.

- Que lanternas estranhas essas de vocês. – espantou-se o mendigo – Ainda são de madeira, cada uma...

- Shh. – indicara Arthur para que o homem fizesse silêncio.

Onde estavam, haviam várias mesas de metal dispostas transversalmente em relação à porta e no fim do aposento um balcão de mármore e tijolos vermelhos; parecia um dia ter sido um refeitório ou algum tipo de restaurante popular. Mais em frente, ao lado do balcão, uma escada de madeira gasta levava ao andar de cima, tudo muito empoeirado e com teias de aranha em alguns lugares.

Todos andavam devagar, olhando para todos os lados como se alguém fosse surgir do nada a qualquer momento; até o mendigo parecia estar receoso dentro do lugar que chamava de quarto. Cada um foi para um lado diferente buscando indícios de alguém no local.

Harry andou até a escada, seu coração batia tão acelerado e tão forte que achou ser possível os outros estarem ouvindo. A escada fazia uma curva para a esquerda. O garoto subiu o primeiro degrau e esticou a cabeça para tentar ver algo mais. Lá em cima avistou dois brilhos estranhos; esticou o braço para poder iluminar melhor a escada. Não houve tempo para nenhuma ação, quando Harry avistou aquele rosto. Os dois brilhos eram dos olhos do dono da varinha que, imediatamente, lançara-lhe um feitiço.

Arthur, Hermione e o mendigo viraram-se rapidamente apenas para ver Harry ser lançado pelo ar e bater com a cabeça na mesa de metal mais próxima à escada. Outro jato de feitiço correu o aposento indo ricochetear do outro lado. Todos estavam abaixados atrás de mesas, um escudo não muito consolador, enquanto o agressor se escondia na parede da escada que se curvava.

Harry parecia ter desmaiado, enquanto os demais, com exceção do mendigo, trocavam rajadas de feitiços estuporantes, de desarme, entre outros. Mas foi um desses primeiros que acertou Hermione, lançando a garota ao chão a um metro de onde estava. Arthur começou a se desesperar, vendo os dois jovens tombarem e restar apenas ele para combater. A pessoa que atacava da escada desceu e jogou-se atrás do balcão; ali poderia ter uma área de visão maior.

Arthur praguejou baixinho; começava a ficar cada vez mais em desvantagem.

O bruxo logo percebeu que, além do homem atrás do balcão, outro lhe atacava do mesmo lugar na escada. Agora eram dois contra um. Vários feitiços eram lançados, muitos deles quase simultaneamente e o bruxo sabia que a qualquer momento não iria conseguir se defender de algum.

O homem da escada também desceu, percebendo que Arthur não tinha tempo para atacar, com intuito de cercá-lo e acabar de vez com aquilo.

Arthur jogou-se ao lado buscando um momento de trégua, não poderia continuar daquele jeito, tinha que achar um meio de derrotar os dois atacantes; só assim poderia não só salvar-se como também proteger Harry e Hermione. Sentia-se responsável pelos dois, havia dito à garota para não se preocupar e tinha de fazer jus às suas palavras.

De repente o bruxo sentiu no coração uma tranqüilidade imensa. Não estava mais sozinho. Por debaixo das mesas viu Harry erguendo levemente sua varinha, estava bem abaixo do homem que saíra da escada para cercá-lo. Um segundo depois o homem caía no chão desmaiado enquanto Harry corria para trás da mesa. Um terceiro atacante logo surgiu da escada se juntando ao comparsa atrás do balcão e um quarto surgiu do mesmo local para continuar atacando de lá.

- Ô amigo, - chamou Arthur para o mendigo - quantas pessoas lhe atacaram?

- Eu não vi mais o meu cachorro. Você sabe que dia é hoje?

Arthur se virou impaciente, bem a tempo para se defender de um feitiço.

- Eu mereço...


Em alguns instantes, Harry estuporou um dos homens que estavam atrás do balcão e desarmou e estuporou o que estava na escada. Agora restava apenas um para neutralizar. Esse pensamento logo foi varrido das mentes de Harry e Arthur. Uma pessoa entrou pela porta com a varinha em mãos.

- Eles nunca acabam? – resmungou Arthur desanimado.

- Deixe comigo. – gritou o mendigo levantando-se e correndo em direção ao mais novo adversário - Morraaaaaaaaa.

O grito cessou de em um instante. Antes mesmo de chegar até o homem próximo à porta, um feitiço de morte o atingira no peito. Outros feitiços cruzavam a sala, logo após os gritos de “Avada Kedavra”, em direção a Harry e Arthur.
Arthur levantou-se rapidamente para se colocar em uma posição que o protegesse melhor dos raios verdes; foi o suficiente para que o homem atrás do balcão o atingisse em cheio. Agora Harry estava só.

Era muito difícil se desviar e rebater feitiços de lugares tão distintos do salão. Ao contrário de antes, os ataques não estavam concentrados em um único lado. O garoto conseguiu se jogar no chão e aproveitar um segundo de deslize do homem que havia estuporado o Sr. Weasley e lançou-lhe um feitiço de perna presa. O homem se desequilibrou e bateu de testa no balcão de mármore.

Os jatos verdes de morte haviam cessado. Harry olhou por debaixo da mesa, mas não conseguiu avistar nenhum movimento. Seu coração estava a mil, o suor do esforço da batalha lavavam seu rosto e sua respiração estava tão ofegante que ecoava pelo ambiente.

- Eu não vou perder essa. Por mim e por meus amigos. – olhou para Mione caída no chão.

Uma varinha encostou-se à nuca de Harry.

- Quem diria! – começou a falar o homem atrás do garoto, sua voz era rouca e fria - Harry Potter bem na minha frente, na mira da minha varinha; sua vida dependendo apenas da minha vontade.

Um barulho forte ecoou pela sala. O som de um feitiço cortando o ar. A pressão na nuca de Harry sumira. Um corpo caiu inerte ao seu lado. Sons de passos ecoaram pelas paredes, alguém se aproximava de Harry. O garoto virou-se de uma vez ameaçando com sua varinha.

Harry viu um sorriso debochado.

Draco Malfoy estava em pé ao lado do homem que ameaçava Harry. E em frente ao seu inimigo de infância; a quem acabara de salvar a vida.

- Você continua patético, Potter!







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N.B:

Holla, pipow! Puxa, quanto tempo, hein?

Já estava com saudades de escrever nota de Beta.

Bom, eu particularmente não tenho muito o que falar do capítulo, pois posso resumir em uma palavra: MAGNÍFICO! Eu simplesmente amei ler e betar cada linha. A trama se desenrolando, mistérios se revelando, outros novos surgindo (como sempre)... Nossos personagens preferidos se destacando (senti falta do Rony) e etc. Não vejo a hora do próximo chegar. E no que depender de mim (e de minha infalível força de persuasão sobre o autor) ele não vai custar a dar o ar da graça.

Se cuidem e muito carinho.

Beijoka da Lore.





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N.A:

É isso ai pessoal! Mais um capítulo, finalmente. Demorou, demorou muito, mas enfim chegou. Espero que gostem muito do capítulo, apesar de alguns sentirem falta de um pouco mais de tamanho como no anterior. Mas está ai um capítulo com um conteúdo interessante. O capítulo 5 já está bolado e hoje mesmo começa a ser escrito.

Muito obrigado a todos! Espero que comentem bastante.

Um grande abraço de Roney Carvalho.

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