Ambrosie
Segundo Capítulo – Ambrosie - Contado por Hermione Granger.
No Ambroisie,ao meio dia.
Eu tinha certeza absoluta que era essa a informação que tinham me dado, mas não conseguia parar de me perguntar se não estava enganada. O negócio de ser atriz geralmente passa para as pessoas a impressão de que sou confiante, mas quando não estou sendo alguma rainha, amante, amada, destruidora ou bruxa, quando estou relegada a ser somente eu mesma, minha confiança subitamente desaparece.
E tem uma razão para isso, se você quer saber. Quando sou atriz, sei exatamente o que todos ao redor estão pensando: está no script. Eu sei, antes de qualquer coisa começar, como aquilo vai terminar. Porém, quando se é somente humana, ficamos sujeitos a invisibilidade dos pensamentos alheios e até a complexidade dos nossos próprios. É muito mais complicado. Ninguém pode ler o futuro da vida.
Amassei o papel onde estava anotado o endereço do restaurante: uma prova que eu não me enganara de dia ou simplesmente sonhara com aquele compromisso. Eu estava em um táxi, e o motorista parecia saber perfeitamente o caminho, pois dirigia quase com fluidez pelas ruas. Mas acho que o fato de não ter nenhum trânsito ajudava bastante.
**
Harry estava me esperando na porta do restaurante, impaciente. Mas eu não estava nem um minuto atrasada. Era 11:59, de acordo com o meu confiável relógio de pulso, que eu usava sempre que me lembrava de sua existência ( o que acontecia mais ou menos duas vezes a cada mês).
- Temos uma reserva. – Informou meu agente para o solícito empregado. Este sorriu para mim e eu sorri de volta para ele, como costumava fazer com qualquer pessoa. Então passei a observar o ambiente. Eu poderia dizer, só de olhar para o enorme lustre, que ali não era um lugar barato. Tampouco era onde a nata da sociedade andava, porque não estávamos em um bairro onde tudo fosse tão caro. Estávamos onde uma família de classe média pagaria um jantar muito importante, decidi finalmente.
Acabamos sendo acomodados numa das mesas mais afastadas da entrada, esperando o tal diretor aparecer. Harry nada comentou, mas eu pude ver em seu rosto que ele não estava gostando de ter que esperar. Porém ele logo se conformou, sorriu e pediu uma bebida para nós dois. Estávamos então entretidos discutindo o novo filme de Tim Burton quando chegou um homem dando bom dia. Era o tão falado diretor.
Antes mesmo de levantar meu rosto, apreciei sua voz. Ela era grave, talvez até meio rouca, muito linda. Mal sabia eu que combinava perfeitamente com o rosto do dono da voz.
- Bom Dia. – Respondi a ele, e só então me virei para olhar o recém chegado. Quando percebi quem era, meu queixo caiu levemente. Não tive um momento de dúvida, desde o momento em que encarei aqueles olhos novamente. Não haviam olhos iguais aqueles em lugar algum no mundo. – Draco Malfoy?
Incrível. Estava do exato jeito que eu me lembrava. Até o modo do lábio superior se mexer quando ele dava aquele sorrisinho que tinha muito a ver com escárnio era igual. Até os cabelos loiros, caindo um pouco sobre os olhos dele – ah, não, espera, os cabelos estavam cortados de um modo levemente diferente. Mas ainda charmoso.
- Seu empresário não lhe informou com quem você vai trabalhar? – Aí estava, novamente, a voz. Em minhas lembranças ela não era tão grave, tão rouca, mas, de qualquer forma, as minhas lembranças estavam todas meio borradas.
Harry escolheu esta hora para pigarrear, chamando atenção, e nós dois olhamos para ele.
- Ela obviamente foi informada com quem iria trabalhar, Sr. Malfoy. Por favor, queira sentar-se.
Eu não entendi, até agora, como ocorreu o resto desse almoço. Acho que os homens ficaram conversando, enquanto eu ficava olhando com uma cara abestalhada para Draco, ocasionalmente mastigando algo que colocassem na minha frente. Eu simplesmente ainda não podia acreditar! Como era possível, que depois de tanto tempo, eu fosse estrelar um filme dirigido por aquele homem?
- Hermione? Você tem alguma dúvida? – Uma minúscula parte de mim percebeu que Harry falou comigo mais ou menos no mesmo tom que falava com o filho, mas não consegui reunir pensamentos suficientes para me importar. Quer dizer, eu sabia que ele era um diretor, mas eu nunca chegara a ver ou me importar com o que ele fazia. Pelo que eu pudera entender, o seu último filme era algo profundo e belo. Ganhara vários prêmios em Cannes, e estava agora concorrendo a 10 oscares. Claro, não é para qualquer um, e certamente um sucesso desses não deveria ser ignorado por qualquer ator. Mas eu realmente, realmente, não queria saber da vida de sucesso que ele andava levando. – Hermione?
Pisquei e voltei a sintonizar no que o presente estava me dizendo. Eu tinha alguma dúvida?
- Queria saber mais sobre o enredo. – Era uma coisa saudável de se dizer, certo? O garçom chegou perguntando se queríamos sobremesa, e cada um pediu uma coisa diferente. Não que eu me lembre o que eu tenha pedido, mais enfim. – Sobre o que vai ser o filme? Não entendi muito bem. – Diga que é idiota escolher o trabalho e não aceitar o que vem pela frente. Mas eu tenho dinheiro, eu posso fazer isso. Além de que eu adoro uma boa história. Depois de um segundo de silêncio, Draco começou a me contar a história.
- Se passa em uma cidade imaginária, chamada Mascherina. Este lugar é um eterno baile de máscaras, e é governado por uma mulher que já está a 50 anos no poder. É a esta senhora que você serve. Ela é uma tirana. O povo quer se rebelar, e a tensão está crescendo na cidade. Seu irmão é um dos líderes revolucionários. Enquanto você o vê conspirando contra sua protetora, ela organiza o festival clássico da cidade, e, você é escolhida para apresentar um número na competição que sempre acontece neste festival. – As sobremesas chegaram, e ele teve de parar de contar a história. Quando dei por mim, o almoço tinha acabado, a conta estava paga, e nós três estávamos chamando um táxi na rua.
- Olha, você quer dar uma lida na história? Eu estou com o original aqui. – Draco sorriu para mim. Tirou da pasta que eu não notara que existia até este momento um manuscrito, datilografado em máquina de escrever. Estendeu para mim.
- Adoraria. – Sorri – Obrigada, Draco. Quer dizer, Malfoy. Sr. Malfoy. – Olhei para ele confusa. Afinal, eu pensava nele como Draco, mas entre pensar e chamar há uma grande diferença. Será que namorar alguém há anos atrás significa que podemos chamar a pessoa pelo primeiro nome o resto da vida? Ou eu deveria chamá-lo de Malfoy mesmo? Tinha algum manual para isso? Se tivesse eu estava precisando.
Ele riu da minha confusão. Que ótimo, estava debochando de mim. Idiota.
Felizmente, naquela exata hora um táxi parou, e eu escondi minha cara entrando no veículo preto.
**
- Você já o conhecia. – Acusou Harry Potter no telefone, horas mais tarde. Os telefonemas deste homem são as coisas mais absurdas que já tive o (des)prazer de conhecer. Sempre nos horários mais inesperados, sempre com as conversas mais bizarras, sobre os assuntos mais diversos.
- Eu já o conhecia. Então me processe. – Debochei. Adquiri um mau-humor depois daquele jantar que nem um banho com hidratante me fizera deixar de lado.
- De onde você o conhecia? – Eu sabia que a curiosidade o estava consumindo. Eu simplesmente sabia. Saboreei a expectativa dele, em um prazer meio sádico.
- O diretor do filme, Draco Malfoy... – pausa dramática -... É meu ex-namorado. – Pude ouvi-lo engasgar do outro lado da linha.
- Merda, Hermione. Eu estava imaginando algo assim. Agora me diz que a separação não foi traumática e que este trabalho não vai levá-la a loucura e prejudicar sua imagem para o resto da vida.
- Nossa, Harry. Achei que isso iria ser um sucesso de bilheteria. E não algo que fizesse minha carreira explodir em combustão espontânea. Aliás, como um ex-namoro pode ser motivo do fim da minha existência mesmo? – Admito, as vezes eu acabo perdendo algumas partes do raciocínio dele.
- Muito simples. Esse trabalho seria um motivo para ele se vingar, porque você estragou a vida dele anos atrás. – É, e eu que realmente achava que meu querido agente não tinha uma mente doentia. Mas talvez o único pecado dele fosse ver novela mexicana demais.
- Poupe-me. – E fui eu que desliguei, ao menos uma vez na vida, na cara dele. E não ao contrário. HÁ!
Andei até a cozinha, quase tropeçando na minha própria calça, que era levemente maior que minhas pernas. Peguei uma maçã na fruteira – ultimamente eu só comia frutas no jantar, para manter o que Ginny Potter chamava de forma ideal. Eu chamava de magreza. – e voltei caminhando lentamente em direção ao sofá. Parei e apanhei em cima da mesa o manuscrito do filme. Sentei-me no sofá, disposta a devorar todas aquelas páginas em pouco tempo.
Em letras grandes, maiúsculas, datilografadas com muito cuidado, a ‘capa’ do maço me chamava.
Muito promissor. Virei esta página e acariciei a primeira página do texto, como sempre fazia ao começar a ler uma nova história. Não li muita coisa. Admito, apaguei. Deitada ainda de sapatos no sofá da sala, adormeci lendo o texto. O que posso dizer? Foi um longo dia. Ou melhor, foi uma grande surpresa.
**
A primeira coisa que senti, ao acordar, foi um cheiro que não conhecia. Minha casa nunca tem cheiro de nada, exceto o dos produtos de limpeza que a empregada usa, e ocasionalmente incenso, quando sinto vontade de me acalmar.
Aquele cheiro estava invadindo minhas narinas e ficando impregnado em meu corpo. Eu tinha que me livrar dele. Era simplesmente nojento.
Quando abri os olhos, esqueci momentaneamente o cheiro. Onde diabos eu estava? Onde estava o meu apartamento? Da onde vinha aquela porcaria de cheiro?
De uma pilha enorme de frutas e vegetais podres. Moscas e insetos igualmente asquerosos voam e divertiam-se em cima daquele banquete. Tive que conter uma ânsia de vômito, e afastei-me cambaleando na direção oposta daquilo. Mas não fui muito longe.
Ainda não sabia onde eu estava. Olhei em volta. Parei no meio de uma larga rua de paralelepípedos. De um lado da rua estava um rio, do outro casas de pedra e tijolos, ocasionalmente separadas umas das outras por ruazinhas estreitas, como a da onde eu saíra.
Isso não era Londres, percebi finalmente.
Mas não me dei o trabalho de me importar. Isso também não era real. Eu só estava em um sonho para lá de esquisito. Bem que meu subconsciente poderia ter me dado uma cama para acordar. Mas que seja.
Comecei a andar a passos largos para longe da ruela em que acordara. Lugarzinho mais fedorento. Resolvi aproveitar aquele espetáculo de imaginação que me estava sendo proporcionado. Meus outros sonhos eram tão vívidos? Eu não saberia dizer, pois nunca me lembrava deles quando acordava mesmo.
Segui o curso do rio, e acabei indo parar em uma praça redonda, com um obelisco bem no centro. Cafona, repreendi meu subconsciente. Peguei uma das ruas largas que saíam daquela praça, me perguntando se não encontraria mais ninguém nas ruas.
Mal terminei de formular este pensamento, achei outra praça. Na praça havia uma enorme construção de madeira. Eu só podia imaginar que era um estabelecimento comercial. 'Mercato' , informou-me uma placa presa sem muito esmero em cima da porta fechada. Ela ameaçava cair na testa do primeiro que quisesse comprar algo no tal mercado.
Um homem passou por mim. Era o primeiro ser vivo que aparecia na minha frente, excetuando as moscas em cima dos repolhos. Resolvi falar com ele, parecia uma pessoa segura, portando terno e gravata.
- Licença, senhor. – Ele virou-se. Eu não sabia exatamente o que ia falar, mas mesmo que soubesse teria me esquecido assim que ele virou para mim. Porque ele usava uma máscara vienense na rua? Era um festival e esqueceram de me contar? – Você poderia... – Pude ver somente as sobrancelhas do tal homem arregalarem-se por cima da máscara, e ele saiu quase que correndo para longe de mim, como se eu tivesse peste.
Olhei em volta confusa. Eu fizera algo de errado?
A rua estava vazia, ou assim eu pensava até começar a ouvir uma gargalhada.
- Você é uma turista. – Riu um jovem homem aparecendo bem ao meu lado. – E bem desinformada. – Este jovem tinha cabelos pretos, uma máscara preta que cobria somente os olhos e uma roupa saída diretamente de um seriado de época. Uma camisa de algodão meio aberta, uma calça preta enrolada até quase os joelhos. E um chapéu. Não gostei do chapéu desde que coloquei os olhos nele.
Pensei seriamente em ficar ofendida com o homem. Mas me senti derrotada pela verdade.
- É verdade. Porque ele fugiu?
- Porque você não está usando uma máscara. – Ele riu, como se fosse algo óbvio. – Isso é escandaloso, ainda mais para uma mulher. Não vou nem comentar o fato de você estar usando calças.
- E porque as pessoas usam máscaras aqui? O que tem no rosto delas?
- Uma coisa horrível, senhorita: culpa.
Não pude perguntá-lo o que isso queria dizer. Assim que abri a boca chegaram dois outros homens, trajados do mesmo modo que o primeiro. Eles traziam pelas rédeas três cavalos.
- Está na hora! – Gritou um deles, prendendo o cavalo frouxamente em uma árvore. O outro olhava para mim, entre curioso e irritado.
- Ela vai colocar nosso plano a perder. – Resmungou por fim.
- Bem vinda a nossa humilde cidade, senhorita. Agora, se você puder sair da frente, eu tenho um mercado a roubar. – O primeiro homem tirou o chapéu e fez uma reverência, sorrindo ironicamente para mim. – Se eu fosse você arranjava uma máscara, mesmo. Vai acabar sendo presa.
Mercado? Roubar? Presa? Oi? Do que ele estava falando? Observei fascinada enquanto os homens arrombavam a porta de madeira. Achei que a placa fosse cair, mais ela ficou fielmente ligada a sua fachada.
Eu ainda estava divagando sobre a lealdade das placas quando chegaram mais homens. Em cavalos, vestidos de preto, com máscaras prateadas.
- POLÍCIA! – Berrou o terceiro homem, o mesmo que falara que eu iria atrapalhá-los. Comecei a olhar a cena como quem vê um filme. Vi os ladrões fugirem do mercado e montarem cada qual em um cavalo, com os braços cheios de produtos. Vi eles seguirem cada um por um caminho. Vi os policiais se separarem, para poder perseguir os três. Vi um policial trotar até mim.
Isso não estava nos planos.
“Vai acabar sendo presa.” - O aviso voltou em minha cabeça com tudo. Saí correndo, agora horrorizada. Na hora, não lembrei por um segundo que aquilo era para ser um sonho, e conseqüentemente eu deveria ter controle sobre tudo. Não, isso nem me passou pela cabeça.
A única coisa que me ocorreu foi correr, voltando pelo mesmo caminho que viera.
Meus pés não estavam indo rápido o suficiente pelos paralelepípedos, e o cavalo ia cobrindo sem maiores dificuldades o caminho que nos separava. Eu corria desesperadoramente, aterrorizada, sem raciocinar, rezando para que o mascarado assustador não me prendesse.
Mas acabei tropeçando na barra de minha calça grande demais, e meus joelhos bateram dolorosamente no chão. Levantei-me, mas a essa altura o cavalo já estava quase nos meus calcanhares.
Mal dei cinco passos e minhas pernas bambas cederam. Dessa vez bati de cabeça no chão, e desmaiei.
N/A: Ficou meio grande..o.o..Desculpe! Perdão pela demora também. Estava enrolada com a minha monografia, mas agora já acabei *vitória*.
Ah, preciso fazer um aviso para quem não me conhece. Eu envio emails avisando da atualização da fic para quem comenta no capítulo. Se você não quiser recebe este email, é só avisar. ^^
Se tiver erros de ortografia, é porque ainda não consegui uma beta *entra em desespero*
Comentários:
JuH FeLtoN – Desculpe, juro que não foi intenção minha te deixar maluca com o ‘Shh’.. Quer dizer, só um pouquinho (6)... Ok, agora sério, espero que tenha gostado.
Beca Black – Vou me esforçar para ser mais rápida nas atualizações agora, mas... Não prometo nada xPP
Christine Martins – A Hermione está em um período de sucesso, o que a deixou meio superficial... Mas será que dura?
Tarí Tinuviel – Obrigada pelo elogio, espero que acompanhe mesmo x)
Cissy Black – Valeu por comentar, espero que goste do segundo capítulo também ^^
♠ Rei de Espadas ♠ - Agora que a fic começou de verdade, gostaria de saber tua opinião. Espero que tenhas gostado.
Sam Weasley – Postado, espero que tenha gostado!
Clau B. Cullen – Já postei, falta você postar a sua fic, que eu acompanho, né, moça? xD
Mione03 – Obrigada pela força, aqui estão o primeiro e segundo capítulos!
Kikawicca – Espero que goste dos capítulos tanto quanto do resumo, na verdade eu estava meio com febre quando acabei de escrever o segundo então não sei se ficou bom O.O
Gaby Black - Eu lembro de você! =OO... É a garota que não posta Starbucks, saiba que estou esperando, viu?
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