Revolution
Primeiro Capítulo – Revolution
Começava com a guitarra. Só depois vinha a voz.
You say you want a revolution
Hermione abriu os olhos, totalmente sonolenta.
Well you know
We all want to change the world
Ela pulou da cama, por muito pouco não tropeçando na própria chinela, assim que identificou como o toque de seu celular a musiquinha que estava tocando.
You tell me that it's evolution
Well you know
Seria realmente legal se ela achasse o aparelho no meio do caos que estava seu quarto. Ah, pronto, ali estava ele. Tremendo dentro do bolso traseiro da calça que ela usara no dia anterior.
John Lennon não pode terminar a próxima frase. Ela apertou o botão verde.Atender.
- Alô? – Foi o que ela pretendeu falar, mais saiu mais parecido com um grunhido sem sentido. Fazer o que? Estava cedo, era segunda feira de manhã e ela fora dormir tarde na noite anterior.
- Hermione? Novo trabalho. Encontre-me no escritório daqui a uma hora. – Era Harry Potter tentando se comunicar com ela. Porém a morena não teve tempo de pedir um tempo maior para que seus neurônios começassem a processar a informação que ela tinha que racionar, se aprontar, pensar, comer alguma coisa, tomar banho e sair, mais ou menos nessa ordem, dentro de uma hora. Recado dado, telefone desligado, sem chance de reclamações.
Mais ou menos meia hora depois a mulher saía de casa, com uns óculos escuros tampando quase todo seu rosto, numa tentativa de passar despercebida. Andou até a esquina, onde ficava o metro mais próximo.
Era normal que o carro de Hermione Jane Granger ficasse pegando poeira durante a semana. Ela só o usava em caso de extrema necessidade. Certa vez, seis meses atrás, ela tentara sair de casa atrasada, em um dia em que seu cabelo estava especialmente rebelde. Um dia depois, fotos dela dirigindo supostamente bêbada estampavam jornais baratos e revistas. Não, nada legal. A única mensagem que ela tirara disso? Penteie seu cabelo antes de sair de casa. Fim.
**
A lerdeza do elevador era inacreditável. Ela realmente poderia jurar que o relógio praticamente andara para trás, de tão lento que estava. Mas, afinal, o elevador finalmente parou no andar correto. Quase se esquecendo de dar bom dia para os conhecidos no meio do caminho, Hermione andou apressada até o final do corredor. Estava exatamente um minuto atrasada. Tudo culpa do maldito elevador.
Ela pulou a parte do bater na porta e entrou de vez no escritório, dando um rápido olá para a secretária e indo logo falar com seu ‘chefe’.
Harry Potter estava no telefone. Fitou com olhos absurdamente verdes a mulher enquanto ela se sentava. Vestia uma camisa branca, gravata verde. O terno preto estava pendurado no encosto da cadeira. Hermione apostaria sua vida que a gravata fora escolhida pela mulher dele. Mas seria uma aposta desleal, já que ela estava junto com Ginny Potter quando a tal peça de roupa, combinando com os olhos do homem, fora comprada. Mas que seja.
Ele desligou o telefone e sorriu para a amiga. Então ligou o modo ‘empresário’ e começou a falar de trabalho.
Claro, nada caía do céu.
- O diretor mais jovem e aclamado do século acabou de pedir para você representar a protagonista do próximo filme dele. Ele quer você para o papel, ninguém mais. Deve ter sido feito sobre medida. Já posso até ver, vai virar um clássico. Um sucesso nas bilheterias...
- Qual é o enredo? – Ela interrompeu o discurso empolgado. Já vira muitos deles antes.
Fora muito por acaso que ela entrara no mundo artístico. Quando tinha dezessete anos e estava saindo do colégio, foi divulgado que seu livro favorito ganharia uma versão cinematográfica. Porém os atores ainda não haviam sido escolhidos, e, surpresa das surpresas, o teste de atores estava sendo realizado perto de sua casa. Então só bastou o desafio do namorado da época: ele apostava que ela não teria coragem de ir lá se inscrever.
Então ela não só foi como ganhou um papel. E se agora ela já havia ganhado um Oscar, viajado por mais lugares que podia se lembrar, volta e meia aparecia um fotógrafo na janela e ouvia discursos animados de seu amigo/agente, era só porque, cinco anos antes, ela tentara provar a um garoto que não era medrosa.
- O enredo? Pelo o que eu entendi é mais ou menos assim... – Harry tentou dar uma idéia geral sobre o trabalho, o que não era muito fácil, uma vez que ele mesmo não havia entendido muito bem a história. E aí voltou a falar do que interessava. Salário, contratos, dias da semana, tempo...
- Será um sucesso de bilheteria. Com você sendo a protagonista e ele dirigindo, não tem erro. – Quem era ele mesmo? Hermione não conseguia se lembrar. Sua cabeça se perdera em algum lugar entre os zeros do salário e os da verba do filme. – Posso confirmar a sua participação?
- Deve. – Imediatamente, Harry pegou o telefone que descansava em sua mesa e discou um número rapidamente. Não chegou a trocar muitas palavras. Marcou um encontro com o diretor, para, de acordo com o empresário, “sentir o clima”. Eles faziam isso desde sempre. Se achassem que fosse roubada, desistiam do projeto na hora. – Esteja neste endereço amanhã. Vamos almoçar no Ambroisie, exatamente ao meio dia. Não se atrase.
Mas é claro que ela não se atrasaria! Que ultraje pensar uma coisa dessas dela!
**
Ouch. Ficar na ponta do pé por muito tempo dói. Mas a morena já sabia disso. Era pura tortura continuar indo naquela academia para treinar balé. Considerando que ela nunca viria a ser uma bailarina mesmo.
Bailarina. Ela não poderia deixar de ir naquela academia nem se disso dependesse sua vida. Seria como perder um pedaço de si mesma. Desde criancinha, seu sonho fora dançar. Quanto a isso nenhuma novidade, nove entre dez garotas tinham esse sonho. A diferença era que, se nas outras garotas essa vontade ia diminuindo ao crescer, o dela continuava lá, meio apagada, ainda persistente.
Com os vinte e dois anos que estava agora, já era hora de deixar de ter pensamentos tão infantis, refletiu Hermione. Mas ela não podia evitar. Este era o último dos desejos infantis que mantivera: dançar.
E ela estava tão distante dos outros... Antes, ela sonhava com várias coisas: ser bailarina, dirigir pessoalmente a livraria da família, a paz, o fim da fome mundial. Sonhava com a diplomacia e em casar com o Sr. Príncipe Encantado. Sonhava em influenciar o mundo para alguma coisa melhor.
Atualmente, ela não conseguia nem sonhar em como ia ser o dia seguinte. Ser bailarina estava fora de cogitação, a livraria da família, apesar de ser legalmente dela, estava muito longe de ser administrada pessoalmente por si. Quanto a paz, o fim da fome e a diplomacia não vale nem a pena comentar. O mais perto que ela chegar de influenciar alguém, além das donas de casa que subitamente chegaram a conclusão que Hermione seria um ótimo nome para uma filha, fora protagonizar gratuitamente uma campanha para a ONG Salve a Fauna e Flora Mundial. E como o Sr. Príncipe Encantado havia tirado umas férias do mundo real, ela só podia adivinhar que, afinal de contas, era melhor não sonhar e não se decepcionar com o futuro. Fácil assim.
Mas ela tinha mais coisas para se preocupar. Como, por exemplo, passar do vestiário para a rua sem chamar a atenção da estagiária maluca que trabalhava no balcão de informações da academia de dança. A mulher estava vendo o comercial da tal ONG Salve a Fauna e blábláblá, e Hermione conseguia ouvir claramente a própria voz informando o quanto era importante ajudar a vida de outros seres vivos (por motivos que no momento infelizmente ela não podia lembrar, mas que era importante era).
O que o mau-humor não faz com as pessoas?
O que a vontade de escapara da curiosidade alheia não faz com as pessoas?
Desde quando fora quase morta por criancinhas excitadas ao tentar comprar um sorvete no parque de diversões, Hermione tentava ao máximo não se encontrar com fotógrafos, jornalistas, fãs viciados. Ela não sabia se eles achavam que ela era uma deusa ou coisa assim, mas ela tinha certeza que não era capaz de sair voando para longe de fãns-mirins que achavam que ela tinha capacidade de soltar lazer pelos olhos, como fazia sua personagem no filme da Disney. Alguns pais esquecem seriamente de avisar aos seus filhos que princesas-fadas-guerreiras não existem.
Mas, voltando ao que importava, ela ainda tinha que sair da Academia de Dança. Pensando novamente, era realmente uma pena que a nova estagiária tivesse um álbum de fotos dela recortadas de jornais e revistas, impressas da internet e, ela podia até jurar, um adesivo colado na lombada. Também era meio lamentável que a moça resolvera mostrar tudo aquilo para ela, pedir um autógrafo, uma foto e o tal álbum fosse assinado. Ela ficara de dar na saída. Porque não contrataram uma garota normal cujo maior sonho fosse viajar para as praias ibéricas no verão?
Quem sabe se ela andasse na ponta dos pés...
- Srta. Granger?
É, andar nas pontas dos pés não funcionava. Ela não passara despercebida. Droga.
- Olá, Jenna. Boa Noite, eu estou de saída, bom final se semana! – A mulher começou a andar mais rapidamente em direção a porta.
- Será que você pode dar aquele autógrafo primeiro? – Pediu quase timidamente a mulher. Com o sorriso mais convincente que ela poderia dar, Hermione concordou. Arrependeu-se imediatamente quando um grupo de adolescentes saiu da sala ao lado e começou a disputar entre si pedaços de papel e canetinhas cheirosas para que elas pudessem levar para cara uma lembrança do maravilhoso dia em que acharam ‘A’ atriz famosa na rua.
Quando muito agradecidamente Hermione chegou em casa e deitou-se na cama, todo seu corpo tombou exausto. Ela não sabia ainda, mais aquele seria a última noite bem dormida de descanso que ela teria em algum tempo.
N/A: Aí está o primeiro capítulo. Ficou meio parado, mas fiz com carinho ;D... Eu ia colocar a música ‘Revolution’, que é o toque do celular da Mione, para tocar no começo do capítulo, mas eu infelizmente não sei fazer isso >.< .. Se alguém estiver disposto a me ensinar como se faz, estou disposta a aprender x)
Agradecimentos:
Sam Weasley
Clau B. Cullen
Mione03
Kikawicca
JuH FeLtoN
Beca Black
Gaby Black
Julie Padfo̲ot – obrigada por ter feito a capa x)
No próximo capítulo devo responder aos comentários ^^
Beijos, Luce Black
Comentários (1)
essa história promete
2012-02-23