Passagem para os porões
Passagem para os porões
Nicole, sentada no peitoril da janela de seu dormitório, encarava a Fonte dos Astros. Em breve estaria escuro e a lua cheia, acompanhada das estrelas, iluminaria com sua luz prateada os terrenos da escola. Sentindo-se renovada com a proximidade da noite, ela abriu a janela para respirar a brisa que soprava.
Não demorou muito para que avistasse Alice e Carlos no pátio interno. Os dois aproximaram-se da fonte, conversando absortamente. Nicole sorriu. Estava feliz por Carlos ter mantido o segredo de seus assuntos ante Alice, mas irritava-se consigo mesma por ter demorado tanto para dar ouvidos ao garoto. Há um bom tempo ele vinha lhe mostrando provas de que Alice era de fato herdeira de Griffindor, mas a força que Nicole sentia em Henry Monfort a cegara para qualquer outra possibilidade.
Por que agira daquela forma? Agora que parava para pensar, não via explicação.
Alice e Carlos agora se despediam. Observando-os se afastarem, Nicole entendeu que a partir daquele dia tudo se tornava mais simples, e mais complicado ao mesmo tempo.
- Mais simples porque agora tudo está claro.- pensou - Mais complicado porque agora teremos que começar a levar tudo isso a sério.
Com um suspiro, ela fechou a janela e foi trocar de roupa.
* * *
-“MAIS RÁPIDO!” - gritava Álvaro Martins ao restante da equipe de quadribol de Safira – “NESSA VELOCIDADE VOCÊS NÃO GANHAM NEM DA MINHA AVÓ!”
-“Está um dia frio, caso você não tenha notado!” – disse Sarah, com irritação.
-“E eu me importo?” – revidou o capitão – “Temos que ganhar de Ametista e Esmeralda nem que chova granizo! Agora voltem todos ao trabalho!”
Irritada, a artilheira afastou-se e recomeçou a passar a goles com os companheiros. Voando mais acima, Érika agradeceu mentalmente não ser o alvo dos gritos de Martins. - Por enquanto. - lembrou-se, tratando de procurar algum sinal do pomo.
De fato, aquele não era o mais propício dos dias para um treino de quadribol. O céu estava completamente nublado e uma garoa gélida caía de quando em quando. Além disso, o incessante vento frio que soprava atrapalhava o posicionamento dos jogadores em campo e fazia com que a sensação térmica fosse muito menor.
-“ÉRIKA!”
- Demorou.
-“O que foi?”
-“CADÊ O POMO?”
A loirinha revirou os olhos e encarou Álvaro, que estava vermelho de tanto gritar. Tentando manter a calma, ela abriu a boca para responder, mas parou no meio do caminho ao avistar uma figura nas arquibancadas. Era Nicole James, a única espectadora do treino daquele dia. Ignorando o capitão do time, Érika desceu devagar até pousar ao lado da garota.
-“Veio espionar nosso treino, foi?” – perguntou ao se aproximar.
-“Não, já vi seu time jogar vezes o suficiente.” – respondeu Nicole – “Vim conversar com você.”
-“Conversar?” – impressionou-se Érika.
-“O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?” - gritou Álvaro, aproximando-se das duas com todo o seu mal-humor – “Volte para o campo e ENCONTRE AQUELE POMO!”
Érika contraiu-se ante aquela gritaria toda. Parecia que a pressão que a casa toda colocara em Álvaro para vencer a última partida tinha finalmente desestruturado o garoto.
-“E quanto a você,” – continuou ele, virando-se para Nicole – “quer fazer o favor de PARAR DE ESPIONAR MINHA EQUIPE?”
-“Escute aqui, capitãozinho de segunda categoria, em primeiro lugar, eu não sou do seu time para que você grite comigo dessa maneira, aliás, como a sua equipe lhe atura, hein?” – respondeu Nicole, ao que Álvaro calou-se e ficou cada vez mais vermelho, dessa vez de raiva – “Em segundo lugar, eu não preciso espionar esse seu treino medíocre para saber qual casa será a vencedora. Agora se me der licença, sua apanhadora e eu precisamos conversar.” – e dizendo isso, puxou Érika pelo braço e começou a descer as escadas da arquibancada.
Álvaro bufava de raiva. Aquela garota convencida não ia levar um de seus jogadores e acabar com seu treino daquela maneira, não ia mesmo!
-“Érika, volte aqui!” – chamou ele – “Volte aqui agora, você não está dispensada! VOLTE AQUI!”
Sendo arrastada escada abaixo por Nicole, Érika tentou olhar para trás, mas foi impedida pela outra. Preocupada com a reação de seu capitão, Érika tentou dizer que poderiam conversar depois do treino e que não queria desfalcar sua equipe, mas foi inútil. Nicole a puxava com uma força incrível e não a deixava falar nada.
-“Esqueça esse garoto.” – disse ela, quando as duas saíram da arquibancada e começaram a trilhar o caminho em direção ao casarão – “Ele só está estressado porque não ganhou nenhuma partida esse ano, mas vai passar, você vai ver.”
Érika estava impressionada. Primeiro, Nicole a tirava praticamente a força de seu treino de quadribol, depois discutia com Álvaro e agora parecia entender os sentimentos do garoto. O que estava acontecendo?
-“Porque você fez isso?
-“Isso o que? Discutir com seu capitão?”
-“É.. não... quero dizer, me tirar dessa forma do treino! Você não está tentando sabotar o time de Safira, está?”
-“Ora, francamente!” – riu Nicole – “Como se eu precisasse disso!”
-“Então por que? O que aconteceu de tão grave?” – insistiu Érika, parando no meio do caminho e forçando a outra a encará-la.
-“Precisamos conversar sobre alguns detalhes e como esse treino estava sendo completamente infrutífero, imaginei que essa seria uma boa hora.”
-“Imaginou, foi? Pois eu tenho uma novidade para você: esse treino não estava sendo infrutífero!”
As duas se encararam por um tempo, até que Érika cedeu.
-“Está bem, estava uma droga de treino... o que você quer?”
-“Venha comigo.”
Caminhando com energia, as duas logo estavam dentro da escola. Praticamente deserta, Amgis naquele dia estava particularmente sombria. Andando a passos largos pelos corredores, as duas não encontraram quase ninguém pelo caminho. Pouco depois, Nicole conduziu Érika para dentro da sala comunal de Esmeralda e as duas sentaram-se em uma das mesas.
Um pouco nervosa, Érika olhou ao redor da sala vazia. Nicole respirou fundo antes de começar.
-“Você lembra que eu mencionei que deveríamos continuar procurando a parte material do talismã do Sol?”
-“É claro, mas...”
-“Antes de revelar a verdade a vocês, quem vinha me ajudando nessa busca era Henry Monfort. Agora, sei que ele não é confiável e que me traiu.”
-“Então temos que encontrar o talismã antes que ele o faça.” – concluiu Érika.
-“Exato!” – continuou Nicole – “Tudo me leva a crer que ele já têm uma boa idéia de onde o talismã está escondido. Por isso a chamei aqui, para pedir que me ajude a vigiar todos os movimentos daquele garoto.”
-“Ajudarei no que for preciso! Mas...”
-“O que?”
-“Espere aí!” – o rosto de Érika se iluminou, seus olhos brilharam por uma fração de segundo – “Eu sei onde ele pensa que o Sol está escondido!”
-“Sabe?” – assustou-se Nicole.
A empolgação de Érika agora era tanta que ela levantou-se da cadeira e pôs-se a andar pela sala.
-“Eu estava pensando exatamente nisso ontem à noite!” – disse ela, sorrindo – “Pouco antes que você e Carlos nos revelassem a verdade, eu vi Henry Monfort, Pedro Almeida e Luísa de la Paje nos porões, conversando sobre Griffindor.”
-“Nos porões? Mas isso vai totalmente contra as idéias de Gabriel Griffindor!”
-“Foi exatamente isso o que ele disse!”
-“Você acha que está nos porões?” – perguntou Nicole, incrédula.
-“Eu não, mas Henry acha.” – respondeu Érika.
* * *
O restante da semana de férias passou com uma rapidez impressionante. Para Alice e Érika, no lugar das antigas investigações sobre Nicole James, surgiram pesquisas cada vez maiores sobre os porões de Amgis e seus segredos. Outra grande diferença é que agora as garotas contavam com o auxílio de Carlos e da própria Nicole.
-“Faz todo o sentido que esteja lá,” – repetia ela para o amigo – “foi o único lugar em que não procuramos.”
-“Acalme-se, Nicole,” – dizia Carlos para tranqüilizá-la - “nós vamos encontrá-lo.”
Nesse meio tempo, Henry parecera ter-se dado conta da nova aliança que se formara e de que ele era o principal vigiado pelo novo grupo. No entanto, ele não demonstrava se importar, já que, segundo Nicole, ele arranjara ‘novos parceiros’. E a garota estava certa.
Praticamente sem ser notado, Agosto passou e trouxe com ele um Setembro mais quente e ensolarado, o que fez com que os alunos se esquecessem rapidamente do frio inverno pelo qual tinham passado. Porém, junto com o calor, Setembro trouxe à casa de Safira outra derrota no quadribol, dessa vez para o pior time do ano, Ametista.
-“É incrível!” – lamentou-se Érika – “Eu pisco os olhos e estamos de férias, eu pisco de novo e eu estou no campo de quadribol levando uma surra de Monfort! Quando eu piscar novamente, o que virá?” – disse e deixou o corpo cair em uma das poltronas da sala comunal de Rubi.
-“O jogo contra Esmeralda, imagino.” – disse Natália Silvério, aproximando-se da cena. – “Graças a Merlin meu time não joga mais esse ano!”
-“Tente não piscar muito,” – aconselhou Matheus Dantas – “porque parece que o pessoal da sua casa não vai aceitar muito bem ser derrotado na última partida do ano.”
-“Com certeza!” – riu Arthur Bryant, que se aproximou de Natália para abraçá-la.
-“Vocês querem fazer o favor de calarem a boca?” – protestou Érika.
-“Ah, nós calamos sim, mas só se você for para a sala comunal de sua própria casa onde eu garanto que o falatório será ainda pior!” – caçoou Arthur, saindo com a namorada, que ria profusamente.
-“É melhor você se acalmar, Érika.” – falou Alice, sentando-se na poltrona do lado da amiga – “O pessoal de Rubi não tem nada contra você, mas também não vai lhe acolher aqui por muito mais tempo se você não sossegar.”
-“Detesto admitir, mas Alice tem razão.” – concordou Matheus.
Érika suspirou e afundou-se na poltrona.
Aos poucos, o data do jogo de quadribol mais esperado do ano se aproximava. Apesar perda de credibilidade que sofrera ao longo do ano, Érika ainda era considerada uma jogadora brilhante, e o confronto Esmeralda x Safira prometia ser um grande jogo. As duas equipes treinavam com uma dedicação cada vez maior, embora fosse impossível tirar do time de Esmeralda certa sensação de superioridade.
Finalmente, a manhã da partida nasceu, nem tão ensolarada quanto poderia ter sido, mas também não tão fria quanto o dia anterior anunciara. Era uma manhã nublada, mas sem chuva e apenas com uma brisa suave soprando do oeste, parecia que os ventos fortes que haviam assolado Amgis durante todo o inverno finalmente tinham dado uma trégua.
Nicole foi a primeira jogadora do time de Esmeralda a sair do vestiário. Caminhando com a vassoura ao ombro, ela foi até o centro do campo e olhou para o céu. Sorte deles não estar ensolarado, assim não ficariam com muito calor durante a partida.
- Espero que o vento não aumente - pensou ela - ou teremos dificuldades para manter nossas posições em campo.
Logo em seguida, os demais jogadores entraram em campo e se prepararam para o início da partida. As arquibancadas estavam lotadas, mas o lado azul do campo era o mais tenso.
-“Se Safira ganhar por uma diferença de mais de cento e quarenta pontos, o terceiro lugar é deles.” – comentou Carlos, ao que Natália Silvério e Matheus Dantas confirmaram com a cabeça.
-“Não sabia que eles ainda tinham alguma chance.” – falou Alice.
-“Ah, eles tem!” – riu Natália – “Uma chance realmente remota, mas uma chance!”
-“E nó temos que torcer para que eles consigam os cento e quarenta pontos de vantagem, assim ficaremos com o primeiro lugar.” – disse Matheus, parecendo lamentar ter todas as suas esperanças em um time como o de Safira.
-“Melhor torcer por Safira do que por Ametista!” – sentenciou Arthur Bryant, entrando na conversa e adivinhando-lhe o fio do pensamento.
Pouco tempo depois, mais dois segundanistas amigos de Carlos juntaram-se ao grupo, que só parou de conversar quando o primeiro apito do jogo soou.
-“E a goles está no ar!” – anunciou Paulo Fernandes, o habitual narrador das partidas – “Safira tem a posse de bola!”
Foi um jogo tenso. Os jogadores de Safira estavam preocupados em conseguir seus cento e quarenta pontos de vantagem, e o time de Esmeralda, por sua vez, estava concentrado em não deixá-los marcarem.
-“Eles tentarão acabar o jogo o mais rápido possível.” - dissera Álvaro, minutos antes da partida - “Então teremos que ter mais habilidade. Vamos segurar a goles e tentar marcar o maior número de pontos possíveis. Érika, você vai ter que apanhar o pomo o mais rápido possível.”
Lembrando-se daquelas palavras, Érika voava ao redor do campo o mais rápido que podia. No entanto, essa atitude só fazia com que tudo passasse por ela como um borrão, dificultando ainda mais a visualização do pomo.
-“E Safira marca primeiro!” – a voz de Paulo ressoou pelo estádio – “Dez a zero para os azuis.”
Ao ouvir o anuncio do placar, Érika parou. Percebendo o quão errado agira, ela recomeçou a procurar pelo pomo, dessa vez com mais calma.
-“Pensa que vou facilitar as coisas para você só porque agora estamos do mesmo lado?” – era Nicole, que se aproximara por trás e agora estava quase ao lado de Érika.
-“Dispenso, obrigada.”
Nicole sorriu.
-“Ótimo, pois sei que você não têm dado o melhor de si nessas partidas que jogou durante o ano.”
Érika ergueu as sobrancelhas, ao que a outra continuou:
-“Espero que, pelo menos nessa partida, você se esforce mais.” – e com aquelas palavras, a apanhadora de Esmeralda se afastou.
Perplexa, Érika demorou um pouco para entender o que havia acabado de acontecer. Só após o anuncio do segundo gol de Safira ela recobrou a concentração.
-“Esmeralda recupera a pose da goles!” – narrava Paulo, ao que a torcida verde gritava entusiasmada.
Érika virou para a direita, sem tirar Nicole de vista.
-“Esmeralda marca! Dez para os verdes, vinte para os azuis!”
- Agora seria um excelente momento para capturar o pomo! - pensou Érika, correndo os olhos pelo campo.
De repente, ela o viu. Um rápido traço dourado passou pelas balizas de Safira e subiu mais alguns metros. Com um movimento rápido, Érika mudou o rumo da vassoura e pôs-se a perseguir a bolinha dourada. Notando a manobra da adversária, Nicole a seguiu.
O pomo, na tentativa de fugir se suas perseguidoras, continuou subindo. Logo atrás dele as duas apanhadoras não davam sinais de desistência. Abaixo delas, o time de Esmeralda empatava o placar.
Mais ágil do que as jogadoras, o pomo fez uma curva brusca para a esquerda e desapareceu de vista. Forçadas a mudarem de rumo, Érika e Nicole pararam a subida e começaram a descer.
-“Trinta a vinte para Esmeralda!” – bradou o narrador, assim que a perseguição ao pomo terminou.
O time verde continuava com a posse da goles. Pouco tempo depois, um dos artilheiros de Esmeralda marcou o quarto gol da equipe.
- Não posso capturar o pomo agora, não temos pontos o suficiente! - pensou Érika, ao avistar a bolinha dourada pela segunda vez.
Para sua sorte, Nicole não deu sinais de ter notado a localização do pomo. A equipe de Esmeralda, no entanto, continuava avançando com a goles. Em um lance rápido, que fez com que todo o estádio prendesse a respiração, um dos artilheiros da equipe verde arremessou a goles, porém esta foi interceptada brilhantemente por Álvaro Martins. A vibração do lado azul do capo foi imediata. Incentivados pela torcida, os artilheiros de Safira avançaram.
-“Gol de Safira! Sarah Moraes para o time azul!”
Naquele momento, Érika avistou o pomo pela terceira vez na partida. Flutuando suavemente próximo ao chão, ele parecia provocar as apanhadoras.
Sem hesitar nem mais um segundo, Érika iniciou um perigoso mergulho vertical para alcançá-lo. Nicole não ficou para trás. Logo, as duas encaravam uma perigosa descida rumo ao chão.
-“Olhem onde o pomo está!” – gritava Paulo – “Quem vencerá essa disputa vertical, Nicole James ou Érika Marinho? falta pouco para descobrirmos!”
- Que sensação estranha. - pensou Nicole em pleno mergulho - É o Déjà vu mais estranho que já senti! Parece...
Naquele momento, Nicole hesitou. A freada da apanhadora de Esmeralda foi tão sutil que só durou uma fração de segundo, mas foi suficiente para dar à Érika a vantagem de que ela precisava para alcançar o pomo.
-“Safira vence a partida! Cento e oitenta a cento e quarenta! Temos a classificação final do campeonato: Rubi em primeiro lugar, Esmeralda em segundo, Safira em terceiro e Ametista, que pena, em quarto!”
A comemoração dos alunos de Safira só não foi menor do que a festa do lado rubro do estádio.
-“Vencemos, Alice!” – disse Carlos, mais feliz do que a garota jamais o vira.
-“Graças à Érika!” – observou ela – “Vamos descer para falar com ela!”
Eles não foram os primeiros a invadir o campo. Quando chegaram ao gramado, uma onda de alunos vestidos de azul cercava o time de Safira, mas Érika não estava entre eles. Olhando com atenção para o campo, Alice notou que ela estava a um canto com Nicole.
-“Vem comigo.” – disse para Carlos, que rapidamente entendeu a situação e a seguiu.
-“O que aconteceu?” – perguntou ele, ao se aproximar das garotas.
-“Pergunte a ela!” – disse Érika, apontando Nicole – “Ela me arrastou para longe de todos!”
-“Percebi uma coisa durante o mergulho.” – disse Nicole – “Além disso, vi Henry saindo de fininho com aqueles dois amigos que ele tem.”
-“Ele deve ter ficado envergonhado porque sua casa ficou em último lugar!”
-“Não, Érika, ele foi atrás do talismã, tenho certeza!”
-“Nicole, o que foi que você percebeu?” – perguntou Alice.
-“Eu acho que sei como entrar na parte secreta dos porões, onde o talismã deve estar.” – respondeu ela.
-“E como é?” – disse Carlos, enérgico.
-“Sigam-me.” – disse a morena, em tom de ordem.
Os quatro correram em direção ao casarão. Guiados por Nicole, eles entraram na escola e subiram a escadaria principal.
-“Não estamos indo para os porões?” – perguntou Érika, quando eles alcançaram o segundo andar.
-“Exatamente.” – confirmou Nicole, apressando o passo.
-“Então não deveríamos estar descendo?”
-“Não, Érika, estamos no caminho certo.” – disse Nicole, ao que Érika lançou um olhar confuso a Alice.
-“Acho que entendi aonde ela quer chegar.” – Alice sussurrou a ouvido da amiga.
Naquele momento, os quatro chegaram ao terceiro andar.
-“Muito inteligente da parte de Henry escolher o dia de hoje para ir atrás do talismã.” – comentou Carlos – “Ele sabia que o jogo de hoje era decisivo e que a taça seria entregue ao time vencedor após a partida, assim todos ficariam fora da escola durante um bom tempo.”
-“E como o time dele certamente não seria o vencedor, ele não teria que subir ao palanque para receber o prêmio, então ninguém notaria sua ausência.” – concluiu Alice.
-“Chegamos.” – anunciou Nicole, parando em frente a sala de Astronomia Sudoeste.
-“Está bem, vamos entrar.” – falou Alice, aproximando-se da porta.
Carlos e Érika estavam confusos, mas decidiram aguardar. Para a surpresa de todos, a porta estava destrancada.
-“Henry já passou por aqui.” – comentou Alice, entrando no aposento, ao que os outros a seguiram.
-“Não estou entendendo aonde vocês duas querem chegar com isso...” – disse Érika.
-“Foi aqui que nós caímos, não se lembra?” – perguntou Alice.
-“Claro, agora entendo.”
-“Quem não está entendendo sou eu...” – disse Carlos, visivelmente confuso.
-“Há uma passagem para os porões nessa sala, nós já caímos por ela.” – respondeu Alice – “O que eu não sei é como Henry a descobriu.”
-“Eu contei a ele.” – explicou Nicole.
-“Você O QUE?” – disseram Érika e Alice em uníssono.
-“Na época nós éramos aliados!” – justificou-se ela – “Então eu contei o incidente com Mlle. Lautrec.”
-“Está bem, agora não há tempo para discutirmos.” – interveio Carlos – “O fato é que ele já deve estar nos porões agora, então precisamos nos apressar.”
-“Você está certo. Escute, eu preciso que você encontre o Fernandes e vão juntos avisar a Sra. Marlon onde estamos.” – pediu Nicole.
-“Eu não posso deixá-las sozinhas!” – protestou o garoto.
-“Você precisa! Não se preocupe, nós vamos ficar bem.”
Ele olhou para cada uma delas e refletiu por um momento. Depois virou-se e saiu correndo da sala.
-“Agora é com a gente.” – começou Nicole – “Lembrem-se: somos mais fortes juntas. Érika, quando a briga começar, invoque seu talismã. Alice, fique perto de mim, temos que encontrar o Sol antes deles.”
-“Espere aí, você disse briga?” – perguntou Érika, perplexa.
-“Você realmente achava que nós íamos simplesmente pedir educadamente para que Henry saísse de nosso caminho?” – ironizou Nicole.
-“Vamos logo!” – apressou-as Alice.
As três andaram até o fundo da sala e encostaram-se na parede.
-“Certo, como abrimos a passagem?”
-“Alice, você não sabe?” – espantou-se Érika.
-“Foi você quem abriu da outra vez!” – protestou a garota.
-“Ah! Foi mesmo...”
Esforçando-se para lembrar o que fizera naquela noite, Érika abaixou-se com a mão encostada na parede lateral. Devagar, ela procurou a tábua solta que encontrara da outra vez. De repente, o chão tremeu sobre os pés das garotas e o alçapão se abriu.
-“Aaaahh!” – gritaram as três, despencando pela passagem.
Para a surpresa delas, no entanto, havia um enorme colchão para aparar-lhes a queda.
-“Eu não quebrei o braço!” – comemorou Érika.
-“Psiu!” – fizeram Alice e Nicole ao mesmo tempo.
-“E esse colchão?” – perguntou Érika.
-“Deve ter sido conjurado por Henry.” – respondeu Nicole.
-“Vocês de novo?” – gritou uma voz esganiçada às costas das garotas.
Alice não precisou nem se virar para adivinhar quem era.
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