Nicole explica



 Nicole explica


 
-“Você?” – surpreendeu-se Érika


-“Poupe suas expressões de surpresa. Eu sei que vocês andam me seguindo desde o início do ano. A verdadeira surpresa é que isso se provou útil no final das contas.”


Alice e Érika ficaram completamente sem-graça.


-“Escutem,” – começou Nicole – “Henry demonstrou ser o maior asno com o qual já tive o desprazer de trabalhar. Ele está passando informações a alguém de quem não gostamos e eu preciso resolver isso. Vocês querem, ou não, saber a verdade?”


-“O fato,” – disse Carlos, demonstrando uma maior paciência –“é que Monfort não é quem imaginávamos que fosse.”


-“Vocês estavam juntos nisso?” – perguntou Alice.


-“É claro.” – respondeu Nicole, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.


Carlos permaneceu calado enquanto a garota expressava toda a sua indignação.


-“Por isso nos aconselhou a manter distância! Você sabia de tudo e se recusou a nos ajudar!” – Alice quase gritava.


-“Fiz isso para protege-las!” – justificou-se ele – “Vocês não têm idéia do que se trata esse assunto! E se não estivessem conectadas à ele como eu imaginava, só iriam sofrer!”


Após aquelas palavras, ninguém disse mais nada. Nicole apenas olhava aos demais, impaciente. Érika olhava de Carlos à Alice e da garota de volta ao rapaz. Este estava vermelho e arfava por ter falado rápido demais. Esgaroth e Smaug cochichavam entre si. Alice balançava a cabeça devagar.


-“Por que mentiu?” – disse, por fim.


-“Porque ele precisava!” – Nicole respondeu no lugar do garoto – “A questão agora não é essa, a questão é que eu me enganei e contei a Henry algo que ele não precisava saber.”


-“O que era?”


-“Simples, Alice,” – ela desceu da mesa e aproximou-se de Carlos, batendo amigavelmente em seu ombro –“McLean aqui tinha razão: Henry não é Griffindor, mas você é.”


Alice sentiu seu queixo cair. Mais do que perplexa, ela não estava entendendo aonde Nicole queria chegar com aquela declaração. Como ela poderia ser Griffindor? Ela era uma nascida trouxa, não tinha nenhum parente bruxo, ainda mais um parente como Godric, Gabriela ou Gabriel Griffindor ou o que fosse.


-“Me desculpe, mas isso não pode estar certo.” – falou Alice.


-“A não? Tem certeza?” – disse Nicole, encarando-a –“Conte para ela sua brilhante dedução.” – pediu à Carlos, que sorriu.


-“Alice, você têm facilidade em lidar com as ervas do sol, que foram muito estudadas por Gabriel Griffindor. Não sei se você sabe, mas seus olhos ficam dourados quando se irrita ou simplesmente quando a magia é muito forte em você.” – ele olhou-a diretamente nos olhos ao dizer aquelas palavras e chegou um passo mais perto –“Você se sentiu mais curiosa do que o normal ao entreouvir algumas conversas de Nicole e Henry, porque algo em seu instinto a dizia que aquele assunto tinha a ver com você. Por fim, estou errado em dizer que você sempre acorda junto com o sol e que a sua varinha é feita com pena de fênix?”


A menina assustou-se. Sim, ela tinha facilidade em herbologia e poções, sentira-se curiosa quanto ao assunto de James e Monfort e sua varinha era de pena de fênix. Mas isso poderia garantir algo?


-“Isso tudo é verdade, mas não entendo o que significa.”


Carlos sorriu, a expressão em seu rosto era compreensiva. Érika, com Smaug no colo, observava a cena sem mover um único músculo. Nicole, que havia voltado a sentar-se sobre a mesa, simplesmente olhava para o teto, balançando os pés alternadamente.


-“Você está querendo insinuar” – disse Esgaroth, andando em direção à Carlos – “Que essa garota é a herdeira de Gabriel Griffindor?”


-“Ele não está insinuando, está afirmando.” – respondeu Nicole, desviando o olhar do teto para encarar o gato.


-“Você também é felinoglota?” – espantou-se Érika.


-“Não, ela não é.” – falou Alice – “Eu também entendi o que o gato disse.”


-“Ótimo,” – continuou Esgaroth – “então pode começar a me chamar pelo nome, essa história de ser apenas ‘o gato’ já me cansou.”


-“Está bem, Esgaroth, desculpe.” – disse Alice, gentilmente.


-“PÁRA TUDO!” – gritou Érika, fazendo com que os demais se sobressaltassem –“Não estou entendendo nada! Primeiro, Nicole vem toda boazinha se oferecendo para revelar seu segredo, depois Carlos diz que Alice é Griffindor, então Esgaroth diz que ela é herdeira e agora todo mundo entende o que o gato fala! O que, afinal de contas está acontecendo?”


-“Exato,” – disse Smaug, fazendo coro à dona – “o que, afinal de contas, está acontecendo?”


Esgaroth, que torcera o focinho ao ouvir Érika referir-se à ele como ‘o gato’, dirigiu-se à Nicole.


-“Acho que ninguém pode explicar melhor essa situação do que a Srta. James.”


-“Obrigada por reconhecer.” – disse ela – “Bem, preciso que vocês prestem muita atenção, pois vamos tratar de um assunto complexo e importante. Como é uma longa história, sugiro que se sentem.”


Devagar, Érika sentou-se com Smaug em seu colo. Esgaroth, por sua vez, sentou-se sobre as patas traseiras, mantendo ereta sua orgulhosa postura. Alice sentou-se ao lado da amiga, mas de tão tensa, ficou na ponta da cadeira, quase caindo. Carlos, porém, permaneceu em pé.


-“Amgis foi fundada no século XVII por Ana Amélia James, seu marido, Sir. Eliot James e o descendente direto de Godric Griffindor, Gabriel. Os três eram bruxos extremamente poderosos e apaixonados pelo poder dos astros. Todo esse amor e esse fascínio podem ser notados até hoje em símbolos ligados à escola, como o próprio brasão.”


-“A fonte...”


-“Sim, Alice, a fonte abandonada também.” – concordou Nicole, com uma expressão de claro desgosto.


-“E não é só isso.” – disse Carlos – “As próprias matérias que estudamos são um reflexo das pesquisas e descobertas desses bruxos.”


-“Você está se referindo às Ervas do Sol?” – perguntou Alice.


-“Sim, e às da Lua também.”


Todos ficaram em silêncio durante alguns segundos, que para Alice mais pareceram uma eternidade.


-“Bom,” – começou Nicole, retomando a palavra – “O fato é que esse grande interesse levou-os a tentarem se aproximar mais dos astros que tanto amavam.”


-“Mais do que isso?” – interrompeu Érika – “Quero dizer, mais do que estudando plantas e colocando o sol, a lua e a estrela como símbolos da escola?”


-“Sim, muito mais.” – respondeu Nicole.


Um novo silêncio tomou conta dos presentes. O calor começava a aumentar gradativamente dentro da sala, sem, no entanto, se tornar inoportuno.


Nicole suspirou: era preciso prosseguir. Chegara a hora de contar a verdade para quem realmente merecia ouvi-la. Porém, mesmo sabendo disso, um cansaço inesperado tomou conta dela. Durante meses ela estudara, pesquisara, para não cometer enganos. Agora, sabendo que já havia se enganado e que precisava consertar seu erro, ela sentia as forças lhe faltarem.


Carlos, que estivera espiando a Fonte dos Astros pela fresta da porta, desviou o olhar para encarar a menina. Durante um rápido segundo ele compreendeu o que se passava com ela. Nicole, por sua vez, entendeu que ele sabia o que lhe atormentava e pelo simples fato de contar com o apoio dele, se sentiu segura.


-“Para tentarem se aproximar mais dos astros, eles iniciaram uma série de pesquisas e tentativas para tentar recriá-los.” – disse Carlos, mais como uma tentativa de incentivar a Nicole do que como uma explicação em si.


-“Recriar?” – espantou-se Érika.


-“Sim, eles queriam fazer um sol, uma lua e uma estrela que pudessem ser manipulados na Terra.” – explicou Nicole.


-“E que influenciassem em seus pares celestes.” – completou Esgaroth.


-“Você conhece essa história?” – Érika perguntou, dirigindo-se ao gato, que confirmou com a cabeça.


-“Eles conseguiram?” – falou Alice, sem segurar sua curiosidade – “Conseguiram alcançar seu objetivo?”


-“Certamente.” – respondeu Nicole, levantando-se da mesa em que estivera sentada e estendendo a mão.


Aos poucos, um brilho verde surgiu da palma de sua mão e foi crescendo, crescendo, até tomar conta da sala. Todos os presentes prenderam a respiração. Verdadeiros raios de luz saíam agora da mão de Nicole e seus cabelos ondulavam como se flutuassem na água.


Lentamente, um objeto prateado se materializou, flutuando sobre a palma de sua mão. Quando a luz esverdeada diminuiu e seus cabelos voltaram ao normal, todos puderam ver que se tratava de uma meia-lua prateada.


Calmamente, Nicole desenhou com os dedos um cordão de prata, partindo da lua, que ela pegou e pendurou no pescoço.


-“Este,” – disse ela – “é o Farol da Meia-Noite, ou a Lua de Eliot.”


Alice não pôde conter uma expressão de espanto. Érika deixou escapar um ‘oh’ de admiração. Carlos, no entanto, não se alterou.


-“Era disso que eu estava falando.” – disse Esgaroth – “Os Talismãs dos Astros.”


-“Agora me lembro de você!” – exclamou Smaug – “Eu a vi na livraria do ‘The Witch’s House’ usando o talismã!”


A garota assustou-se. A reação de Érika, entretanto, foi mais explosiva.


-“Você o QUÊ? Não acredito que não me contou!”


-“Eu ia contar, mas esqueci.”


-“Então foi isso que seu pai a pediu para esconder.” – concluiu Alice – “E foi isso, também, que você mostrou a Henry no primeiro dia de aula.”


-“Exato. Nossa, estou impressionada. Sabia que vocês vinham me espionando, mas não fazia idéia de que tinham começado antes mesmo das aulas começarem.” – disse Nicole, com um quê de surpresa na voz.


-“Desculpe, sei que agimos errado, mas...” – começou Alice, ao que Carlos interrompeu.


-“Mas você sentia-se muito atraída pelo assunto, como se estivesse relacionada a ele. Bom, sendo você quem é, ninguém pode culpá-la.”


-“Você diz, sendo eu Griffindor?” – indagou a garota, ao que ele confirmou com a cabeça.


-“Sir Eliot James não foi o primeiro a conseguir seu talismã.” – disse Nicole – “Foi Gabriel Griffindor.”


 Carlos acenava a cabeça afirmativamente enquanto a garota falava. Alice, aos poucos, começava a entender a situação.


-“Imagino que agora você já tenha uma idéia do que Griffindor criou, não?” – o rapaz perguntou à ela.


-“O Sol.”


Ele confirmou com a cabeça.


-“Quer dizer que Alice...” – começou Érika, vacilante – “pode fazer o sol aparecer?”


-“Não o sol,” – explicou Nicole – “mas uma representação dele.”


-“Tudo isso me parece certo,” – falou Alice – “mas não entendo como eu posso ser herdeira de Griffindor.”


-“Quando os três perceberam que seus talismãs estavam tão intimamente ligados aos astros que, se fossem destruídos, causariam também a destruição do sol, da lua e das estrelas reais, pensaram em meios de garantir a imperessibilidade dos artefatos. Sir Eliot James deixou seu talismã como herança de sua família, para ser passado de geração em geração. Ana Amélia, apesar de ser casada com James, escolheu a reencarnação do espírito como forma de transmitir seu talismã através dos séculos. E assim fez Griffindor.” – disse Nicole.


-“Você está dizendo que eu sou a reencarnação de Gabriel Griffindor?”


-“Exato.”


Alice não pôde evitar a onda de susto que a dominou. Mas foi apenas um breve choque. Logo, vários sentimentos se misturavam dentro dela. Apreensão, angústia, uma dose de medo e, é claro, dúvida. - Como isso pode ser possível? Não, não devo mais duvidar dos poderes dos bruxos.


-“Isso significa que eu posso fazer um talismã aparecer?” – perguntou ela, confusa.


-“Sim, tente.” – encorajou Nicole.


- Tentar? Ela não sabia nem ao menos como.


-“Basta se concentrar e querer muito.” – disse Carlos, como se lesse os pensamentos da menina.


Ainda insegura, Alice levantou-se e deu alguns passos à frente. Imitando o gesto de Nicole, ela estendeu o braço e abriu a mão. Fechando os olhos, ela tentou pensar em como deveria concentrar-se, mas sua cabeça parecia completamente tomada por pensamentos confusos. Por fim, decidiu pensar no sol.


Focalizou em sua mente a imagem de um resplandecente sol de verão, flutuando em meio a um céu muito azul. Foi tão grande a força com que Alice imaginou aquele sol que quase pôde sentir seu calor. Quando imaginou que o talismã já tivesse surgido, ela abriu lentamente os olhos.


Nada.


-“O que aconteceu?” – perguntou Érika.


-“O que não aconteceu...” – falou Alice – “Por que não funcionou?”


-“Não é uma questão de funcionar, é uma questão de conseguir.” – disse Carlos.


-“Ela precisa encontrar o talismã primeiro.” – disse Esgaroth, com seu ar de sabe-tudo.


-“Não, o talismã está no espírito.” – Objetou Nicole.


-“Errado, Srta. James.” – explicou o gato – “A magia de Griffindor era muito mais poderosa do que qualquer um de nós pode imaginar. E essa magia ainda perdura.” – ele fez uma pausa, levantou-se e começou a andar de um lado a outro da sala – “Griffindor separou seu talismã em duas partes: a parte da alma e a parte material.”


-“Então ela precisa achar a parte material para poder invocar a parte espiritual?” – perguntou Nicole.


-“Deve ser preciso unir as duas partes!” – concluiu Alice.


Esgaroth confirmou com a cabeça.


-“Então temos que continuar procurando.” – comentou Nicole.


-“Continuar?” – espantou-se Érika.


-“Eu já suspeitava da dualidade do talismã do sol, por isso já havia começado a procurar pela parte material.” – explicou a garota.


-“Certo, mas... e quanto ao talismã da estrela?” – perguntou Érika – “Também não deveríamos tentar encontrá-lo?”


Alice, Nicole, Carlos e os gatos olharam de maneira significativa para ela.


 


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