Rubi, Esmeralda, Safira e Amet
Rubi, Esmeralda, Safira e Ametista
As portas do ônibus se abriram e os alunos do primeiro ano desceram. Olhando ao redor, Alice notou que os outros ônibus ainda não haviam chegado.
A noite mal acabara de cair e o crepúsculo ainda deixava uma pálida nesga de sua luz rósea no horizonte. O céu, livre de qualquer nuvem, já mostrava suas primeiras estrelas. Diante do assustado grupo de alunos erguia-se o imponente casarão da escola. A fachada era caiada de branco, as janelas, altas e estreitas, difundiam com seus pesados caixilhos de ferro fosco e gasto a luz dos archotes presos às paredes. A pesada porta de madeira sem ornamentos estava aberta de par em par, deixando-se ver o interior iluminado pela luz amarelada do fogo que ardia nas velas e archotes.
-“Alunos do primeiro ano, formem duas filas, por favor!” – disse uma voz que Alice reconheceu como sendo da Srta. Jacobs.
Os alunos obedeceram e rapidamente formaram as filas que a professora pedira.
-“Muito bem, agora prestem atenção, por favor. Meu nome é Helena Jacobs e eu serei sua professora de Transfiguração, mas somente a partir de amanhã, agora sou a encarregada de acompanhá-los até nosso banquete de abertura do ano letivo.” – ela falava tudo muito rápido, deixando os alunos tontos. Apenas Alice, que já estava acostumada com o modo de falar da moça a entendia plenamente. –“Certo, está na hora de entrarmos, sigam-me, por favor.”
Ela virou-se e começou a subir os degraus da pequena escadinha de pedra que levava até a porta de entrada. Ainda muito tímidos, os alunos a seguiram. Atrás deles, o ônibus saía para dar espaço aos outros, que tinham acabado de chegar.
Ao atravessarem as portas de entrada os estudantes viram-se em um grande saguão com o piso de madeira lustrada e uma larga escada que conduzia aos andares superiores, também feita de madeira. A Srta. Jacobs os guiou até uma pequena sala que ficava ao lado direito da escadaria. Após todos terem entrado, a moça fechou a porta e dirigiu-se novamente aos alunos.
-“Muito bem, antes de nos encaminharmos ao salão, há algumas regras da escola que é meu dever passar a vocês. A primeira delas refere-se à seleção pela qual todos vocês passarão hoje à noite.”
Os alunos entreolhavam-se nervosos, buscavam nos olhos dos outros algum tipo de explicação que nenhum deles sabia dar. Alice e Henry eram alguns dos poucos que não aparentavam nervosismo algum. Érika tinha Smaug em seu colo e apertava o gato de tal forma que este parecia prestes a sufocar. Alexandre olhava para todos os cantos da sala, parecia concentrado em memorizar todos os detalhes, todos os rostos das pessoas presentes. Ao lado do garoto, uma menina de cabelos negros e compridos, o rosto pálido e claros olhos azuis, fitava a professora com um ar de superior indiferença.
Alice reparou na expressão da garota, alguma coisa nela lhe provocava uma sensação de deja vú, como se as duas já tivessem se encontrado antes. Naquele momento, Alice odiou profundamente sua péssima memória fisionômica.
-“Como alguns de vocês já devem saber,” – continuou a Srta. Jacobs – “Amgis divide-se em quatro casas, são elas: Rubi, Esmeralda, Ametista e Safira. Esta noite, vocês irão passar por um importante processo de seleção que determinará em qual das quatro casas cada um dos senhores se encaixa melhor. Peço a todos que dêem o devido valor ao resultado desta seleção, já que os senhores passarão todos os anos letivos como membros da casa que lhes for determinada, não podendo haver trocas. Dentro de alguns instantes, seremos chamados para entrarmos no salão onde a seleção ocorrerá. Alguma pergunta?”
A menina que estivera sentada ao lado de Henry Monfort durante a viagem levantou a mão.
-“Sim, minha querida?”
-“Huum.. bom, eu queria saber como vai ser feita essa seleção...”
-“É uma ótima pergunta, sim, sim, realmente muito boa. Sim, esta sua ótima pergunta tem a seguinte resposta: vocês pegarão a antiga sombrinha de Ana Amélia James e a abrirão sobre suas cabeças, a sombrinha então, anunciará o veredicto.” – explicou a Srta. Jacobs.
A garota que fizera a pergunta pareceu decepcionada. Obviamente ela estivera esperando algo como um teste de habilidades, ou uma prova de conhecimentos, ou qualquer coisa, menos uma sombrinha. Os alunos, até então quietos, encheram a saleta de murmúrios e cochichos. A professora tentou, em vão, pedir silêncio.
-“Eu li sobre isso em ‘Amgis: uma história’!” – disse Alexandre, para Alice e Érika. – “Na escola de magia inglesa, Hogwarts, o que seleciona os alunos para as quatro casas de lá é um velho chapéu de bruxo. Essa idéia do chapéu foi de um dos fundadores, Griffindor. Como um de seus descendentes foi fundador de Amgis, ele utilizou o mesmo principio.”
-“Se a idéia foi de um descendente de Griffindor, porque aqui não se usa um chapéu também?” – Érika perguntou.
-“Simples, porque quando Gabriel Griffindor propôs aos outros dois fundadores, Ana Amélia e Eliot James, que utilizassem o método de seu ancestral, nenhum deles tinha um chapéu à mão, então utilizaram a sombrinha de Ana.” – explicou o garoto.
Érika ergueu a sobrancelha, interessada, porém, antes que pudesse fazer mais alguma pergunta, a Srta. Jacobs conseguiu o silêncio da turma anunciando que já era hora de se dirigirem ao salão.
-“Senhores, preciso que formem duas filas novamente, meninas de um lado, meninos do outro.”
Sem muita demora as filas foram organizadas e, guiados pela professora, os alunos deixaram a saleta. Ninguém mais se animava a pronunciar palavra e assim, todos quietos – alguns tremendo – eles adentraram o salão, onde os estudantes mais velhos já estavam acomodados em quatro longas mesas de madeira.
Todas as cabeças se viraram para olhá-los quando eles chegaram, e Alice, apesar de quase nunca se incomodar com pessoas olhando para ela, começou a achar a caminhada através do salão um pouco mais longa do que seria desejável. À sua frente, Érika estava extremamente vermelha e segurava Smaug de tal forma que este tapava metade do rosto da menina. Alice imaginou que a amiga estava apreensiva em relação à seleção pela qual iriam passar dentro em breve, e estava em parte certa.
Na verdade, o que passava pela cabeça de Érika naquele momento, era o receio de que, ao abrir a sombrinha sobre sua cabeça, esta lhe revelasse que ela não se encaixava em nenhuma das quatro casas, pois nem poderes mágicos possuía. Era o antigo medo de ser uma bruxa abortada que agora a assaltava novamente, mesmo que ela não tivesse nenhum motivo concreto para isso.
Alice olhou para a fila dos meninos à sua direita e viu que Alexandre contemplava o salão com a mesma expressão de quem não queria perder nenhum detalhe que fizera na saleta. Só então a garota começou a reparar na decoração do lugar, tudo parecia ser feito em madeira: o chão, as mesas, as paredes o teto...
Ao erguer os olhos para o teto ela sentiu seu queixo cair. Pendurados por grossas correntes negras havia três lustres de cristal, dois menores nas pontas e um enorme no centro. Além da riqueza de detalhes que apresentavam, a menina reparou que neles não estava contida uma única lâmpada, e sim dezenas, não, centenas de velas, que faziam a iluminação do lugar.
-“São lindos, não acha?” – disse Alexandre, notando a expressão de admiração no rosto da menina.
Alice limitou-se a acenar com a cabeça, o garoto continuou:
-“Está vendo as velas? São enfeitiçadas para não acabarem nunca! Em Hogwarts, também existem vela eternas para fazer a iluminação, mas não em lustres como esses. Está tudo em ‘Amgis: Uma História’.”
A garota estava impressionada com a boa memória do garoto.
-“Agora repare no teto. Na escola inglesa, o teto é encantado para parecer com o céu lá fora, aqui eles optaram por não realizar tal feitiço.” – disse ele, sentindo-se satisfeito em notar que Alice estava impressionada com seus conhecimentos. –“Mas em relação às casas...”
-“Qual é o problema com você? Engoliu o livro, foi?” – disse uma voz fria, vindo de garota que estava atrás de Alice na fila.
Ela virou o pescoço e viu que se tratava da garota de cabelos pretos que ela reparara na saleta. Por um breve instante, os olhos das duas se encararam, e Alice quase pôde sentir na pele a frieza daquelas pupilas azuis. Ela estava se preparando para dar uma resposta mal-criada quando a fila parou – tinham finalmente chegado ao final do salão, a resposta teria que ficar para uma outra hora.
O cortejo guiado pela Srta. Jacobs parou diante da mesa que era destinada aos professores. A senhora que estava ao centro, que Alice imaginou ser a diretora, levantou-se para dar as boas vindas aos novos alunos.
-“Boa noite a todos, espero que tenham feito um excelente viagem! Aos que não me conhecem ainda,” – seu olhar dirigiu-se aos alunos do primeiro ano –“sou a Sra. Marlon, diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Amgis. Gostaria de desejar-lhes boas vindas e iniciar a nossa cerimônia de seleção das casas.” – com um aceno da varinha, ela fez surgir um velho baú de madeira.
Os professores e os alunos mais velhos começaram a aplaudir, no que foram imitados pelos mais novos. Com um segundo aceno de sua varinha, a Sra. Marlon fez com que o baú se abrisse, e dele surgiu uma delicada sombrinha de passeio. Era uma sombrinha antiga, mas na época em que fora confeccionada deveria ter sido muito bonita, toda cor de rosa com babadinhos nas pontas.
Para a surpresa dos alunos novatos, a sombrinha se abriu e começou a recitar:
Por muito tempo estive perdida
Abandonada em um sótão, na poeira esquecida
Mas para a luz fui resgatada e à minha função restituída
Ver com olhos que mais ninguém tem
A cor de cada alma a mim estendida
Com Safira, Ametista, Rubi e Esmeralda
A harmonia foi restabelecida
Mas se a harmonia vocês querem manter
A origem da história devem buscar
À versões já contadas não devem se ater
Para que minha função não se perca outra vez
É preciso a conceitos rever e à luz reencontrar
Uma nova onda de aplausos encheu o salão. Entre tímidos e risonhos, os alunos do primeiro ano se entreolhavam como se o significado do poema estivesse nos olhos de cada colega. Antes que começassem a cochichar suas hipóteses, a Srta. Jacobs pediu silêncio com um gesto e anunciou:
-“Quando eu chamar seus nomes, venham à frente e abram a sombrinha sobre suas cabeças, aguardem o veredicto e dirijam-se para a mesa da casa que lhes for determinada.”
Ela desenrolou um pergaminho e começou a ler os nomes dos alunos:
-“Pedro Almeida!”
O garoto ruivo, amigo de Henry Monfort, saiu da fila e foi até a sombrinha, segurou-a meio sem jeito e a abriu sobre a cabeça.
-“Ametista!” – anunciou a sombrinha.
Imediatamente, um broche roxo redondo se materializou no nó de sua gravata.
O garoto sorriu e foi até a mesa de sua nova casa.
-“Luísa de la Paje!”
Foi a vez da amiga de Henry ser selecionada para a Ametista, o que a fez parecer muito satisfeita consigo mesma.
-“Alice Elsea!”
A garota assustou-se ao ouvir seu nome, e demorou alguns segundos para se lembrar do que tinha que fazer. Ciente de que suas bochechas estavam mais vermelhas do que nunca, ela apanhou a sombrinha e a abriu.
-“Já lhe disseram que seus olhos são muito bonitos?” – ela ouviu a sombrinha lhe dizer, mas quando Alice foi perguntar como uma sombrinha que não tinha olhos poderia dizer uma coisa dessas, ela ouviu o objeto anunciar a todos. – “Rubi!”
A mesa mais à esquerda de Alice explodiu em aplausos, enquanto um broche vermelho surgia no meio do laço em seu colarinho.
A menina encontrou um lugar para sentar entre uma garota de cabelos louros curtos e arrepiados, que parecia estar em um dos últimos anos, e um garoto de cabelos castanho-escuros, que não parecia ser muito mais velho do que Alice.
-“Seja bem vinda à casa Rubi!” – disse o garoto – “Sou Carlos McLean.”
-“Alice Elsea” – ela apertou a mão que ele lhe oferecia, enquanto novos aplausos enchiam o salão, uma outra garota acabara de ser selecionada para a casa Safira.
-“Nicole James!” – chamou a Srta. Jacobs.
Subitamente, uma atmosfera de tensão se espalhou pelo lugar. Os poucos alunos que estiveram conversando aos cochichos durante a seleção se calaram, todos pareciam querer saber para qual casa Nicole James seria selecionada. Os únicos que pareciam não entender o motivo de tanta curiosidade eram os alunos novos que, como Alice, não vinham de famílias bruxas.
Alice viu a garota que estivera atrás dela na fila se dirigir para frente, tomar a sombrinha e abri-la sobre sua cabeça. O salão inteiro pareceu prender a respiração.
-“Não sei por que a estão fazendo passar por isso,” – a sombrinha cochichou no ouvido de Nicole – “não é preciso ser uma sombrinha mágica para saber para qual casa você vai!” – e a seguir, anunciou em voz alta –“Esmeralda!”
Os alunos de uma das mesas mais à direita do salão aplaudiram freneticamente. Esboçando um sorriso, Nicole se aproximou deles, e imediatamente, vários estudantes lhe ofereceram lugares vagos para que ela se sentasse. Para a decepção de muitos, ela encontrou alguém conhecido, um garoto de pele escura, cabeça raspada e um jeito sério, como a maioria dos que são de Esmeralda.
-“Boa noite, Nicole!”
-“Olá Paulo, fico feliz em vê-lo aqui! Consola-me saber que essa casa não está inteiramente tomada por bajuladores interesseiros, como seria de se pensar à primeira vista.”
Os que estavam próximos o suficiente para ouvir o que Nicole dissera imediatamente fecharam-lhe a cara, mas Paulo, que conhecia o humor sarcástico da amiga, apenas sorriu.
-“Posso saber quem lhe garante que eu também não sou um bajulador interesseiro?” – disse ele, com falso tom de provocação.
A garota abriu a boca para responder, mas naquele momento, a Srta. Jacobs pedia silêncio aos alunos – a seleção tinha de prosseguir.
Após Alexandre Marques ter sido escolhido para a Safira, foi a vez da Srta. Jacobs chamar Érika Marinho.
Ao ouvir seu nome, a menina gelou. Apertou Smaug com tanta força que ele soltou um miado de protesto alto o bastante para fazer todo o salão cair na gargalhada. Soltando o gato no chão e ficando mais vermelha do que nunca, Érika adiantou-se e pegou a sombrinha.
-“Ora, ora, ora... temos aqui uma bruxinha incerta! Lembre-se, minha querida, nem sempre os que aparentam maior força física são verdadeiramente os mais fortes!” – foi o que a sombrinha disse à garota antes de anunciar –“Safira!”
Indagando-se se era dever da sombrinha dar conselhos aos alunos novos, mas ainda assim sorrindo e sentindo-se muito mais leve, Érika dirigiu-se à mesa de sua nova casa.
-“Você também recebeu conselhos da sombrinha?” – ela perguntou a Alexandre, ao sentar-se ao lado dele.
-“Ela não me disse nada.” – respondeu o rapaz. –“Ela disse algo a você?”
-“Sim, ela disse que nem sempre os que aparentam serem mais fortes fisicamente são mais fortes de fato, ou algo do gênero.”
-“Estranho, não sabia que ela soprava ditados ao ouvido dos alunos, e se isso é comum, porque ela só fala a alguns?”
A garota deu de ombros, mas calou-se - naquele instante, mais um menino era selecionado para a casa de Esmeralda.
-“Henry Monfort!” – chamou a Srta. Jacobs, fazendo com que, pela segunda vez naquela noite, o clima no salão ficasse tenso.
Com um sorriso arrogante de quem está ciente de ser o centro das atenções e gosta disso, o garoto pegou a sombrinha.
-“Ametista!”
Ao ouvir o veredicto, mas agindo como se aquilo não fosse novidade alguma, Henry foi juntar-se a seus amigos na mesa correspondente à Ametista.
Depois das últimas seleções da noite, a diretora ergueu-se mais uma vez e anunciou que era hora de iniciarem o banquete. Subitamente, surgiram nas mesas diversos pratos com as mais variadas comidas, que os famintos alunos “atacaram” com prazer.
Alice olhava maravilhada para tudo aquilo. Ela nunca pensou que veria, reunidas em uma única mesa, as comidas típicas de todos os estados brasileiros. Tinha feijoada, arroz branco, feijão tropeiro, carne de sol, churrasco, mandioca frita, mandioca cozida, farofa, lentilha, galinha caipira, polenta, macarrão e, para sua enorme surpresa, vatapá e acarajé, além de uma meia dúzia de outros pratos.
-“Não vai comer?” – ela ouviu Carlos lhe perguntar, já com o prato cheio.
Ela começou a se servir.
-“Carlos, tem uma coisa que me deixou confusa...” – começou a garota.
-“O que foi?” – disse o garoto depressa, não dando tempo para que Alice terminasse a frase.
-“Bom, não sei se confusa é a palavra certa, talvez eu devesse dizer ‘intrigada’, mas de qualquer forma, não entendi o motivo de todo aquele interesse na seleção de Nicole James e Henry Monfort.”
-“Você não foi a única, todos os nascidos trouxas recém-chegados à escola também não entenderam.”
-“Como você sabe que eu nasci trouxa, se nunca lhe disse nada a respeito?”
-“Somente nascidos trouxas nunca ouviram falar nas famílias James e Monfort.” – explicou a garota de cabelos louros arrepiados, aproveitando que Carlos estava de boca cheia para entrar na conversa.
-“Porque eles são tão famosos? São algum tipo de famílias de estrelas do mundo bruxo?” – perguntou Alice.
-“Você pensa como uma garota trouxa!” – disse Carlos, sorrindo – “Não, não acho que a comparação com artistas trouxas seja válida à família James, mas com certeza pode ser aplicada aos Monfort.”
-“Eu concordo,” – falou a garota loura, que mais tarde disse se chamar Natália e estar no sexto ano de Amgis. – “Os Monfort são menos ricos que os James e com certeza não possuem um histórico familiar com tantas realizações, mas podemos dizer que eles têm mais destaque na ‘mídia’ bruxa.”
Carlos balançava a cabeça vigorosamente em sinal de aprovação, enquanto terminava de mastigar um pedaço de carne.
-“A razão pela qual o salão inteiro interessou-se pela seleção de Nicole James é porque ela é descendente direta de Sir Eliot James, um dos fundadores da escola.” – disse o garoto.
Alice não pôde deixar de arregalar os olhos.
- “E tem mais.” – Natália adiantou-se para completar – “Pouco depois da fundação de Amgis, a família James voltou ao Reino Unido, dessa forma, Nicole é a primeira representante da família a estudar aqui em quase três séculos. Por quê ela veio para cá e não foi para Hogwarts é o que realmente está intrigando todo mundo”.
* * *
-“Então, você pretende fazer um discurso na sala comunal de Esmeralda, ou vai contar apenas aos colegas mais próximos?” – disse Paulo, servindo-se pela terceira vez.
-“Se você está se referindo ao fato de eu ter vindo estudar aqui e não ter aceitado o convite que Hogwarts me enviou, bem, isso é pessoal. Fiz uma escolha, acho que tenho esse direito.” – Nicole respondeu. – “Era sobre isso que estavam todos cochichando durante a seleção?”
-“Era.” – admitiu Paulo. – “E até você tem que concordar que sua escolha causa esse efeito. Você não morava na Inglaterra até o mês passado ou coisa assim?”
-“Morava.”
Nicole brincava com as ervilhas em seu prato, pensativa. À sua volta os demais alunos de Esmaralda lançavam-lhe olhares furtivos em meio à conversas e garfadas, falando sempre em um tom que ela sabia ser mais baixo do que o normal. Estavam sussurrando sobre ela.
-“Tivemos outro que recusou Hogwarts para estudar em Amgis ano passado, mas poucas pessoas sabem disso.” – começou Paulo. – “É seu amigo?” – Nicole não respondeu – “Você não vai cumprimentá-lo?”
Irritada, Nicole levantou-se bruscamente. Sem olhar para ninguém e deixando seu prato intocado sobre a mesa, ela saiu do salão. A risada de Paulo a seguiu.
* * *
Na saída do banquete, em meio à massa de estudantes que se dirigiam à porta, Alice e Érika se reencontraram.
-“Ficamos em casas separadas, que pena!” – disse Érika.
-“Não se preocupe, acredito que nos veremos durante as aulas e no nosso tempo livre!” – falou Alice, surpresa com a consideração que, em tão pouco tempo, conquistara por parte da outra.
-“Pelo menos nenhuma de nós ficou na casa de Nicole James. Não fui com a cara dessa garota!” – comentou Érika. –“Ela tem um ar tão superior que chega a dar medo.”
-“Você sabia que ela é descendente de um dos fundadores de Amgis?”
-“Tem razão! Eu sabia que já tinha escutado esse sobrenome em algum lugar!”
Naquele ponto, haviam chegado ao segundo andar, e os monitores dividiram os alunos. Os de Esmeralda entraram por uma passagem embaixo da escada, os de Ametista foram para o lado leste, os de Rubi e Safira foram para o lado oeste.
-“Então quer dizer que ela é descendente de Sir Eliot e Ana Amélia James?” – disse Érika.
-“Espere um pouco!” – exclamou Alice. –“Carlos e Natália só me disseram que ela era descendente de um dos fundadores, não de dois deles!”
-“Como assim? Eles não sabem que Sir Eliot e Ana Amélia foram casados?” – espantou-se Érika.
-“Provavelmente não.” – concluiu Alice. – “Mas quem se importa? Vamos, o pessoal da sua casa já esta indo para a ala sul, amanhã nos veremos de novo.”
-“Certo, até amanhã!”
Alice acompanhou Érika com o olhar por alguns segundos, até que um dos monitores de Rubi a chamou para entrar no dormitório da casa.
Algum tempo depois, já sentada em sua cama, a menina repassava mentalmente os acontecimentos do dia. Pensava principalmente em sua última conversa com Érika, ao mesmo tempo em que tentava lembrar-se onde já havia visto Nicole James antes. Não demorou muito para que começasse a bocejar, e quando ia desistir de seu inútil esforço mental, ela se lembrou.
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