CAPÍTULO XIV




Ginny aguardava que o amigo de Ray, que lhe daria carona até a praia de Mossman, acabasse de encher o carro com mantimentos e provisões de toda espécie.

Era uma manhã quente e clara e Ginny fechara os olhos para apreciar melhor os raios de sol.

- Ginny!

Seu nome ecoou no meio da rua movimentada e, antes que ela tivesse tempo de se recobrar da surpresa, o reverendo Clayton apareceu à sua frente, cruzando a rua às pressas para escapar dos carros e gesticulando espalhafatosamente.

- Ginevra Molly Potter, tenho vontade de sacudir você. Onde tem andado? Por que fugiu assim? Por que meu Deus?


Os olhos azuis do reverendo Clayton, geralmente plácidos e gentis, fuzilavam de raiva e ele segurou-a pelos ombros, como se fosse sacudi-la, mas, ao vê-la tão magra e pálida mudou de idéia e abraçou-a com força, como um pai carinhoso.

- Oh, sua criança tola! Como estou feliz de encontrá-la!

- Eu também estou reverendo Clayton.

Ginny começou a chorar no ombro do velho amigo que fazia parte de seu passado, sem ligar para os transeuntes que os olhavam com curiosidade.

- Ora, ora, vamos, não chore.

O reverendo tomou-a pela mão e conduziu-a para uma cafeteria, do outro lado da rua.

- Então, esta é a história toda - disse Ginny, tomando uma revigorante xícara de café preto com creme. - O senhor não pode me compreender?

- Bem, minha querida - Ted Clayton a interrompeu. Posso tentar, mas não aplaudo sua atitude. Todos nos vivemos num inferno depois de sua fuga, principalmente Harry. Não sabíamos o que pensar.

- Mas...

- Ginny - ele interrompeu-a novamente. - Eu não acredito que Harry fosse ficar tranqüilo e gozar a vida, sabendo-a sozinha no mundo, ainda que estivesse apaixonado por outra mulher.

- Mas deixei uma carta, explicando tudo. Eu disse que estava cansada do casamento, que gostaria de me sentir livre outra vez para correr o mundo e coisas desse tipo. Lendo a minha carta, ele jamais se sentiria culpado, entende? Pensei em deixar o caminho livre para os dois, sem dores na consciência. Na carta, disse também que mandaria um advogado entrar em contato com ele e arranjar tudo para o divórcio. Pedi desculpas, mas expliquei que era muito jovem e que ele devia perdoar. Não consegui encontrar um meio melhor de deixá-lo livre para casar com Alison sem remorsos. Se descobrisse como sou apaixonada por ele, teria pena de mim, não me deixaria... eu o conheço. Mas eu não suportaria vê-lo preso a mim por obrigação, sabendo que amava outra mulher. Oh! Por favor, diga que me entende, reverendo.

Ted Clayton suspirou confuso e pensou que gostaria muito de entender a atitude complexa de Ginny.

- Compreendo em parte, minha filha. Você escutou um trecho de uma conversa e tirou suas próprias conclusões. Mas posso lhe garantir que, quando Harry me procurou para saber de você, parecia enlouquecido. Senti muito não poder ajudá-lo, pois ele sofria demais. Soube que depois ele voou para os mais diferentes lugares, procurando por você.

- Imagino. Harry pensa que não sei cuidar de mim mesma - Ginny respondeu, com um sorriso triste. - Mas eu provei que posso, não é verdade?

O reverendo Clayton olhou para Ginny e reparou como perdera peso, como havia olheiras acentuadas em seu rosto.

- Você já sabia a respeito de Alison quando se casou Ginny?

- Sim. Sabia também que Harry casou-se comigo por muitas razões, mas não por amor. Mas ela estava na Europa, casada com outro...

- Por que não falou conosco sobre isto, na época do seu casamento? Você disse apenas que haviam se apaixonado.

- Eu queria muito me casar com ele e tive vergonha de dizer que só eu o amava.

- Pois fiquei com a impressão de que havia alguma coisa errada ou não muito bem explicada. E vou lhe confessar uma coisa. Quando Harry foi me procurar, depois de seu desaparecimento, fui muito duro com ele, quis mesmo jogar toda a culpa do que estava acontecendo em cima do pobre coitado. Disse que certamente ele a maltratara!

- Mas não é verdade!

- Agora estou pensando... Ginny tem certeza de que ele ignorava que você sabia sobre esta outra mulher?

- Não. Ele não poderia ter a menor suspeita... a não ser que... Ginny interrompeu-se e pela primeira vez ocorreu que talvez Dora Lupin tivesse contado alguma coisa a Harry.

Não, Ginny não acreditava que Dora tivesse coragem para se intrometer num assunto íntimo de um casal.

- Não, ele não sabia e continua não sabendo, estou certa disto.

O reverendo Clayton lutou com seus sentimentos ambivalentes em relação à Harry Cameron, mas finalmente o seu senso de honestidade venceu e ele falou:

- Minha querida aconselho-a a voltar para casa... Não... não me interrompa. Se você tiver razão, eu a apoiarei na questão do divórcio. Mas acho que, antes deste passo tão grave, deve existir uma conversa entre vocês dois, baseada na honestidade. Entendo seus dramas, Ginny, mas você tem o dever de voltar, enfrentar seu marido e pôr as cartas na mesa. Quando se casou sabia que seria um casamento difícil e não é justo que na primeira dificuldade você simplesmente largue tudo e desapareça. Deve uma explicação a Harry, minha filha. Afinal, ele é seu marido.

- Se o senhor pudesse se colocar no meu lugar! Não vê que, se eu for absolutamente honesta com ele, confessar-lhe o meu amor, ele se sentirá ainda mais aprisionado? Terá pena de mim?

- Talvez você me deteste pelo que eu vou dizer, mas o que eu sei é que você é a legítima esposa de Harry e deve comportar-se como tal.

- E viver o resto da vida na esperança de que ele se apaixone por mim e esqueça seu primeiro amor? Ela perguntou ironicamente.

- E por que não? Já lhe disse que ele gosta muito de você.

- Sim, sei que Harry me quer bem. Principalmente porque meu pai foi seu maior amigo e protetor. - Ginny fez uma pausa e depois, em outro tom, perguntou: - O senhor o tem visto ultimamente, reverendo?

- Eu não, mas minha mulher tem estado em contato com ele - explicou o reverendo Clayton meio contrafeito, pois de fato tivera uma discussão com a mulher, porque ela estava inteiramente do lado de Harry, acreditando que ele era um ótimo marido.

- O senhor contará a Harry que me encontrou?

- Bem, eu não havia pensado nisto, mas acho que a decisão cabe a você. Diga que está fazendo em Caims? Ginny sorriu levemente
.
- Eu ia lhe fazer a mesma pergunta, reverendo.

- Bem, vim inaugurar um templo.

Ginny hesitou um minuto e depois voltou ao assunto inicial, pensando que seu velho amigo merecia uma explicação.

- Quanto ao seu conselho, reverendo, prometo pensar a respeito. Mas, por enquanto, por favor, não diga nada a Harry.

- Ótimo! Tenho muita fé em você, Ginny! Sei que achará a coragem para fazer o mais correto.

- O tempo dirá se tenho este tipo de coragem, não é? Em todo caso, quero agradecer por não ter me tratado como criança.

- Mas ainda quero lhe pedir uma outra coisa e não vou embora sem que você me prometa: vai procurar por mim e minha mulher e não nos deixará sem notícias. Promete?

- Prometo; sim - Ginny disse, emocionada com a prova de carinho do reverendo Clayton. Depois, olhando o relógio, ela pulou alarmada: - Oh! Meu Deu! Como me atrasei!

Depois que Ginny se foi, o reverendo continuou na cafeteria, refletindo sozinho.

"Será que fiz bem em me intrometer?" Ele se questionou. "Mas acho que Ginny tem que chegar a uma decisão sozinha. Dei o conselho certo. Ah! O amor... dizem que o amor tem estranhos caminhos."
















Ginny desfrutou da paz e da beleza rude da praia de Mossman por seis tranqüilos dias e enfim chegou a uma decisão sobre sua vida.

O chalé de Mary Clarke ficava num ponto bastante isolado da praia, e ela quase não encontrou ninguém para conversar, o que lhe agradou muito, pois naquele momento de crise a solidão ajudava a refletir.

Durante o dia, Ginny dormia várias horas e, à noite, jamais perdia o sono. Nas primeiras horas da manhã, caminhava em direção ao mar, sempre muito azul e calmo. Nadava e mergulhava até o calor do sol ficar insuportável. Só à tardinha voltava à praia e se distraía olhando a mágica beleza das águas e o vôo calmo das aves marinhas.
Mais de uma vez pensou que não seria difícil viver naquele lugar de rara beleza. Seria necessário apenas descobrir um modo de ganhar a vida. Talvez fosse uma boa idéia procurar emprego na cidade mais próxima.

Diariamente, refletia sobre vários assuntos, o estado de suas finanças, um lugar definitivo para morar, mas ainda evitava pensar sobre sua relação com Alex, conforme prometera ao reverendo Clayton.

De repente, no sexto dia de sua estada em Mossman, a resposta ao seu problema surgiu de modo inesperado.

Ginny escrevera para Mary Clarke, relatando sua chegada ao chalé, onde encontrara tudo em ordem, e pedindo notícias do pequenino Harry Arthur, seu afilhado. Cinco dias mais tarde chegou uma carta de Mary, cheia de notícias sobre o bebê e as outras crianças. Mas a melhor parte estava no final da carta, onde Mary lhe falou sobre a possibilidade de um emprego como secretária de uma velha amiga dela que residia em Mossman.

"Fay e eu", dizia a carta, "fomos colegas na escola e ela agora é uma famosa escritora de livros infantis. Fay esteve em Caims para me visitar, logo após sua partida, e mencionou que precisava de alguém para ajudá-la. Lembrei-me de você imediatamente e ela também gostou da idéia. Claro que a decisão depende de vocês duas. Se quiser encontrá-la, ela estará de volta a Mossman daqui a duas semanas e gostaria de conhecê-la.”.

Ginny deixou a carta no colo e olhou para o horizonte, distraída.

"Parece à solução perfeita", ela pensou, com súbita melancolia.

Só então pensou em Harry e no que o reverendo Clayton havia dito. Tentou deixar de lado a paixão, mas chegou à conclusão de que não podia forçar sua presença na vida do marido e torná-lo infeliz.

Com lágrimas descendo-lhe pelo rosto, ao pôr-do-sol, Ginny sentou-se sob uma imensa mangueira, mas seus olhos rasos de água a impediram de ver o espetáculo.

Ficou ali até escurecer por completo e uma deslumbrante lua cheia apareceu, prateando o mar e as folhas das árvores.

Os ruídos da noite enchiam o ar, mas nada tirava Ginny de sua abstração.
No entanto, subitamente, um som diferente dos que produzia a natureza interferiu no seu alheamento e ela ficou atenta à estrada. Era um ruído do motor de um carro, que estacionou diante do portão do chalé.

Ginny sentiu uma ponta de aborrecimento e apreensão, pois não desejava visitas naquele momento. Virou a cabeça e viu o motorista abrir a porta do carro.

Dando um pulo, Ginny ficou em pé, segurando-se no tronco da mangueira, pois suas pernas tremiam e seu coração parecia bater enlouquecido dentro do peito.

"Não pode ser", pensou ela, atordoada.




















N/A: Ai está o penúltimo capitulo da fic. Quem será que chegou?

Obrigada pelos comentários.

Anna Weasley Potter

Amanda Regina Magatti

patty black potter

Tatiane Evans

Bianca

Quézia

marcela h.



beijos e até o último capitulo da fic.

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