CAPÍTULO XV





Não podia haver engano quanto àquela alta e imponente figura que avançava com passos longos e lentos pela trilha do jardim tropical. Também não podia ser o luar, pregando peças aos seus sentidos.

Imóvel, ela permaneceu de pé, até que o homem chegasse e baixasse os olhos para fitá-la.

- Harry... ?

- Olá, Ginny.

- Como... Como me descobriu? Ele... O reverendo... Lhe contou?

- É só isto que quer saber? Como a encontrei? Perguntou ele, secamente. - Pois bem, eu lhe conto. Por puro acaso eu lia um número da revista "Country Life" e vi o artigo sobre uma certa senhora, Mary Clarke, que teve seu bebê com a ajuda de sua governanta, conhecida na região por ser filha do famoso pastor Arthur Weasley. Não segui uma pista certa? Que me diz Ginny?

- Nada - ela murmurou. - Por favor, não se zangue comigo, mas...

- Zangar-me? Ele interrompeu. - Isto seria muito delicado. Eu seria capaz de matá-la, Ginny, pelo que você me fez. Vasculhei cada canto de Quennsland, e até fora dela, procurando por você, e digo-lhe uma coisa se fizer isto outra vez na vida, você leva uma surra, está entendendo?

Ginny arregalou os imensos olhos castanhos e embora assustada encarou-o teimosamente.

- Não entendo. Não pode me forçar a permanecer casada com você se eu não quero. E, se pensa que com uma surra me fará mudar de idéia, está enganado. Peço perdão se lhe dei tanto trabalho, mas, se pelo menos uma vez pensasse em mim como numa pessoa adulta, saberia que posso cuidar de mim muito bem sozinha e não precisaria se cansar à toa. Nem tampouco me ameaçar com uma surra, como se eu fosse uma colegial. Se é isso, pode dar meia-volta e ir embora outra vez, explodiu ela.

Apesar de suas palavras corajosas, o coração de Ginny quase parou de susto ao ver o brilho de fúria nos olhos de Harry.

- Ah! Então devo achar uma outra maneira de lidar com você, não é? Bem, concordo. Acharei um modo mais agradável, pode estar certa - murmurou ele, mudando de atitude.

Os olhos verdes percorreram o rosto de Ginny devagar e ela sentiu-se extremamente embaraçada com aquele exame. Tentou mostrar-se à vontade, mas não conseguiu e viu um sorriso nada amável pairar nos lábios dele.

- Serei gentil, Ginny. Quer você queira ou não. Aliás, não é difícil fazê-la querer. Nunca foi difícil, por mais furiosa que estivesse comigo. Lembro-me bem.

Harry fitou demoradamente os lábios dela e depois, com um olhar significativo, percorreu todo o seu corpo, dos pés a cabeça. Se ele tivesse usado as mãos, Ginny não teria se sentido mais tocada.

Apesar do luar ser a única claridade existente, ele percebeu o rubor que cobria o rosto dela e riu sarcástico.

- Oh! Você pensa que é meu dono? Ela explodiu. Mas não é! Por que veio até aqui? Não entendeu minha carta?

- Pois tente fugir outra vez e verá! As coisas serão muito diferentes. E agora... ele olhou os ponteiros luminosos de seu relógio de pulso.

- Não - ela gritou. Não vou voltar para casa com você! Nem agora nem nunca.

Harry riu. Seu rosto másculo readquirira calma. A fragrância de sua colônia pairava no ar e Ginny teve medo de não resistir.

- Não era exatamente nisto que eu estava pensando Ginny. Não me convida para entrar e me oferece alguma coisa para comer? Estou o dia todo praticamente em jejum. Além disso, seria bom que nós dois nos acalmássemos para conversar.

Ginny sentiu-se novamente ferida pela maneira arrogante de Harry lhe falar e sua raiva voltou.

- Não temos nada para conversar. Eu te odeio te desprezo Harry, e a melhor coisa que já fiz na vida foi deixar você. Eu... - ela parou, quase sem fôlego, e deu um passo atrás ao vê-lo avançar. - Harry, não...

- Sim Ginny. E não lute comigo. Não vai adiantar.

Mas ela lutou. Virou-se, tentando fugir, mas tropeçou logo adiante e ele amparou-a nos braços.

- Não! - Ginny soluçou, retorcendo-se para escapar-lhe, mas, em silêncio, ele simplesmente levantou-a do chão como se fosse uma pluma e levou-a para o chalé.

Dentro da casa, Harry nem se deu ao trabalho de procurar o quarto. Estava furioso demais. Colocou-a no sofá da sala. Ela tentou se levantar, porém ele a manteve imóvel e deitada com uma simples pressão de suas mãos.

Nenhum esforço de Ginny foi capaz de libertá-la, e por fim, ela cedeu às lágrimas que se avolumavam em seus olhos e deixou-as correr pelo rosto, muito embora a última coisa que desejasse era que Harry a visse chorar.

De repente, uma grande lassidão tomou conta de Ginny e ela sentiu-se fraca e sem resistência. Fechou os olhos, pois não podia suportar o olhar penetrante de Harry.

"Como lutar contra ele?" Ginny pensou ao senti-lo mover os longos dedos sobre os botões de seu leve vestido de verão. Talvez não conseguisse "lutar" contra ele, porque no fundo não era o que queria. Amava-o mais do que nunca.

"Há um minuto atrás seria capaz de matá-lo. Oh! Harry! Não faça isto comigo."

Ao sentir os dedos dele em seus seios, livres e sem sutiã, ela abriu os olhos.

- Por favor, não faça isto comigo outra vez, Harry. Por favor, não.

Subitamente Ginny teve a estranha sensação de que ele foi tocado de um modo diferente pela visão de seus seios nus, de suas espáduas brilhando ao luar que inundava a sala, e que ficou comovido. Seu olhar suavizou-se e finalmente ele fechou a parte da frente do vestido de Ginny.

- Está bem. Não será deste jeito, não a forçarei a ceder, mas terá de repetir, olhando para mim, que tudo que escreveu naquela carta é verdade é capaz disto, Ginny?

Ginny permaneceu imóvel na escuridão. Inspirou profundamente e ocorreu-lhe a idéia de que uma pessoa que se afogava devia se sentir como ela.

Diversas cenas de sua vida desfilaram em sua mente. Ficara presa no elevador junto com Harry, estivera numa Delegacia de Polícia, com uma garotinha perdida, e numa noite de tempestade fugira numa estrada enlameada. Recordou o perfume de laranjeiras, a ensolarada África. Oh! A África, onde fora amada e feliz! Um suspiro brotou do mais profundo do coração de Ginny.

- Não - ela sussurrou. - Não posso confirmar o que disse na carta.

- Por que não?

- Por que... Eu menti. Perdão, mas pensei que era para o seu bem. E era!

- Não, Ginny - Harry falou com mais ternura, tocando-a delicadamente.

Involuntariamente, ela ergueu a mão e tocou o rosto forte e bronzeado. Suspirou outra vez, como quem busca coragem, e começou a falar.

- Harry, compreenda, eu sabia do que acontecera no passado entre você e Alison. Quando ela enviuvou e voltou à cidade... pensei que seria melhor para vocês dois... se eu desaparecesse. Mas agora vejo que estava, na realidade, pensando só em mim. Não suportaria ficar em segundo lugar no seu coração. - Ela hesitou e depois prosseguiu: - Talvez você pense que eu deveria me ajustar à situação e me conformar em ser uma esposa boa e exemplar. Mas não posso. Será que isto é orgulho? Não sei... com certeza, deve ser pecado. Mas acho que para você sempre serei a filha de um amigo muito querido, uma criança que se mete em confusões e precisa de proteção. Não uma parceira para sua vida. E isto que eu não posso suportar. Seria muito infeliz vivendo ao seu lado e sabendo disto. Você apenas se sente responsável por mim, não me ama.

Um breve sorriso ergueu os cantos dos lábios de Harry.

- Você sempre será um pouco de tudo isto para mim, não posso mudar meus sentimentos, mas...

- Então - ela o interrompeu, agora vê por que não posso e não quero voltar para casa? Por favor, diga que me entende, Harry... Nós poderemos continuar amigos, se você quiser... Nós nos queremos bem, e acho que fomos destinados a ser amigos e não amantes.

Ginny suspirou desta vez aliviada por ter conseguido colocar em palavras seus verdadeiros sentimentos. A verdade doía como uma ferida, mas ela tirara um peso da sua alma ao dividi-la com Harry.

Harry permaneceu calado por uns instantes e depois falou, com voz suave:

- Ginny vou lhe confessar uma coisa e você me entenderá.

Um arrepio a percorreu quando ele lhe afagou os cabelos com ternura.

- Sei o que vai dizer Alex. Só porque me tirou a virgindade, você se sente com obrigações para comigo o resto da vida... Mas não precisa...

- É isto que você pensa? - Ele a interrompeu, passando o braço sobre seus ombros e puxando-a para si. - Ginny, eu não suportaria a idéia de não tê-la só para mim. Não poderia viver pensando em você fazendo amor com outro homem. Quando fiz amor com você pela primeira vez, não era seu namorado... Mas foi uma forma de obrigá-la a casar-se comigo. Descobri que queria ser seu primeiro homem e continuo querendo ser o único, com direitos totais e exclusivos sobre você na cama ou fora dela...

O olhar perturbador de Harry fixou-se nos lábios de Ginny que se entreabriram. Depois eles se fitaram por força de uma emoção antiga como o mundo e desconhecida como o infinito.

Após uns instantes, Harry quebrou o encanto e sorriu significativamente, com ar provocador.

- Vê agora, Ginny, por que precisa voltar para mim? Nunca suspeitou dos meus sentimentos em relação a você?

Aconchegada nos braços de Harry, Ginny sentiu-se nas nuvens, receando estar sonhando.

Ele traçou com o dedo o contorno dos seus lábios carnudos e bem delineados e murmurou no seu ouvido:

- Não fique tão chocada. É a coisa mais fácil do mundo apaixonar-se por você.

- Eu... - ela umedeceu os lábios, saindo de seu transe de felicidade. - Por que você nunca me disse nada disso antes? E quanto a Alison? Eu os ouvi conversando...

- Ah! Então andou ouvindo coisas!

Ela confirmou com um gesto de cabeça, novamente sentindo-se humilhada.

- Não foi de propósito. Eu tinha ido buscar café e voltei antes... vocês não me viram.

- Ah! Então Dora tinha razão! Ele falou, quase para si mesmo. - Como eu fui idiota! Você interpretou mal o que ouviu Ginny. Sabe eu não tinha a menor idéia de que você sabia do meu namoro com Alison. Nem podia imaginar que eu e Alison tivéssemos sido motivo para tanta fofoca. Se soubesse, teria contado a verdade pessoalmente e evitado tanto mal-entendido.

- Então seu namoro não era verdade? Ginny perguntou esperançosa, temendo acordar daquele sonho perfeito.

- Oh! Sim, foi verdade - ele continuou secamente. - Nós nos apaixonamos, sim. Mas o que as fofocas não contaram é que também deixamos de nos amar a muito tempo. Talvez até nem fosse o verdadeiro amor, mas a reprovação dos pais dela despertou em nós dois um grande desejo de rebeldia. Para mim foi um golpe compreender que, apesar de todo meu esforço e de estar subindo na vida tão rápido ainda não era considerado suficientemente bom para casar com um membro da família Wandsworth. Para Alison também foi muito violento o modo como seus pais a separaram de mim. Ela foi para a Europa e acabou desistindo de tudo e se casando com Charles. Com o tempo viu que agira bem, pois se apaixonou por ele. E, quando ele morreu, Alison ficou inconformada pelo tempo que desperdiçou antes do casamento.

- Oh! Coitada! Então foi isto que ela quis dizer quando falou sobre perda de tempo. Eu pensei...

- Sei o que pensou - ele disse sério.

- Como pode saber?

- Graças a Dora. Depois que você desapareceu, ela me falou sobre seus ciúmes em relação à Alison. Dora garantiu que você devia ter tido alguma prova de que nós dois ainda estávamos apaixonados. Eu pensei muito. Lembrei, então, de que no dia do jantar com Alison de repente você ficou estranha. Dora me disse também para não acreditar numa única palavra da sua carta. E, para falar a verdade, o que ela me contou foi a única coisa que me impediu de ficar louco, quando perdi você.

Ele ficou subitamente pensativo, como se relembrasse fatos dolorosos.

- Ginny, às vezes era difícil não acreditar que você enjoara de mim. Nunca compreendi por que você não me falou a respeito do bebê. Não queria ter um filho meu? Pensei que talvez você considerasse o bebê como uma forma de prisão.

- Oh! Não. Isto não! Queria aquele bebê mais do que tudo no mundo, mas achava que você não me considerava responsável bastante para ser mãe. Então, quando eu o perdi, achei que havia sido o destino, para dar um rumo às nossas vidas. Seria uma saída para você, para Alison e para mim.

- Por que você pensou que eu não queria um filho logo?

- Um dia, outra vez sem querer, entreouvi uma conversa sua. Foi na África, quando fiquei sozinha diante daquela leoa. Lembra-se, você conversava com o nosso guia e eu escutei.

- Ginny, meu amor, não era isto que eu queria dizer.

- Você estava tão furioso comigo!

- Estava, porque você me fez passar um terrível susto. Aquela leoa... você poderia ter sido morta. E esta idéia me deixou meio louco. Quer saber por que não lhe falei nada antes? De fato, eu disse, sim, mas você não acreditou.

- Não lembro Harry. Quando foi isto?

- Lembra a manhã seguinte em que dormimos juntos pela primeira vez, quando você tentou, me convencer de que não precisávamos casar?

- Sim, mas...

- Perguntei-lhe se acreditaria se eu dissesse que estava apaixonado. Você achou a idéia absurda e percebi que não estava preparada para saber a verdade.

Ao recordar aquele momento, Ginny odiou-se por ter sido tão cega. Harry acariciou-lhe a face, tirando uns fios de cabelo do seu rosto.

- Minha querida, se fosse mais observadora ou entendesse melhor os homens, teria entendido que, desde que Miguel Corner andou atrás de você, eu já me sentia terrivelmente atraído. Podia lhe falar como um pai ou um irmão mais velho, mas interiormente era um simples homem atraído por uma mulher irresistível. Uma situação irônica, não acha?

Ginny olhava-o cada vez mais deslumbrada com as revelações, mal acreditando no que ouvia.

- Eu vivia num verdadeiro dilema, Ginny. Dizia a mim mesmo que você era jovem demais para corresponder ao meu amor e provavelmente se assustaria com o tipo de desejo que me inspirava. Achava também que você precisava de tempo para conhecer a vida. Porém a idéia de um outro homem a lhe ensinar os primeiros passos do amor era intolerável para mim. Claro, você não percebeu porque fui muito cuidadoso. Esses sentimentos surpreendiam a mim mesmo. Sempre fui muito displicente nos meus relacionamentos com as mulheres, não porque ainda amasse Alison, mas porque me acostumara à minha vida de solteirão. Quando você apareceu, foi difícil acreditar que estivesse me apaixonando. Meu amor só ficou claro naquela noite em que Matt tentou agarrá-la. Seria capaz de matá-lo! Vi também que não podia admitir que acontecesse outra vez, não podia correr mais riscos.

- Você tem um temperamento meio violento, não é Harry? E impetuoso!

- Talvez. E você mexeu comigo, Ginny.

- Saiba de uma coisa, Harry; meus primeiros sonhos de amor foram com você e até hoje eles não mudaram. Sentia-me tão jovem e sem jeito ao seu lado! Tão tímida! E, naquela noite em que você me possuiu, com violência a princípio, eu te odiei, não queria que me tocasse... Mas mesmo assim meu amor foi mais forte, pois continuava a amá-lo. Oh! Como fiquei confusa.

- Ginny - ele tomou-lhe a mão e segurou-a junto ao peito. - Fiz amor com raiva, mas também com paixão, porque não sabia como dizer o quanto te amava. Em vez de falar, quis mostrar como minha paixão era profunda. Mas logo depois daquela noite você mudou tanto! Imaginei que não queria mais estar comigo. Você ainda não havia aprendido que sexo é o modo único e especial de duas pessoas apaixonadas se expressarem. Reflete nossos medos e tensões e nossa ternura e amor. Não é estático. Você não deve se sentir culpada ou confusa se, apesar de sentir raiva, seu corpo se deixa tomar também pela força do desejo. Nós dois estávamos com raiva naquela noite, mas também nos amávamos. Isto é o mais importante.

Ginny continuou nos braços dele em silêncio por um longo tempo. Depois murmurou com voz trêmula:

- Então você não se importa de ser meu professor, meu amigo, meu anjo da guarda?

- Adoro ser tudo isto para você, querida. E espero que me acredite agora.

- Oh! Harry. Como fui tola!

- Não, você não, eu...

- Sim - ela achegou-se mais a ele. - Oh! Quando penso na mentirosa em que me transformei. Logo eu que era tão correta! Como menti para você!

- Ginny! Olhe para mim! Quero beijar você.

Ele ergueu-lhe a cabeça e olhou-a cheio de ternura e desejo.

Diante daquele olhar possessivo e dominador, Ginny estre¬meceu.

- Se você me ama com a mesma intensidade, não acha que podemos esquecer todos esses equívocos e contratempos? Temos toda a vida à nossa frente.

- Oh! Sim, querida.

Custava a crer que estivessem tão felizes! A tortura que haviam sofrido, sem saber do amor do outro, ainda era muito recente.

Ginny apertou Harry com força em seus braços, como se quisesse fundir seu coração ao dele para sempre.

Enlouquecido de paixão, ele se inclinou sobre ela, procurando seus seios nus e acariciando-lhe todo o corpo. E os dois se uniram num impulso de desejo e ternura, e se entregaram às delícias do amor.






FIM









N/A: Último capitulo! :( Eu quero agradecer a todos vocês que acompanharam a fic, não importa se foi do começo ao fim. Obrigada pelos comentários, quero agradecer também ao pessoal da Comunidade ♥ As Melhores Fic's de HP ♥ que indicou essa fic. Muito, muito obrigada mesmo adorei cada minuto que passei aqui.






Beijos e xau : )





♥ As Melhores Fic's de HP ♥

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=63593709



Senhorita Papillon >!<

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.