CAPÍTULO V
Ginny pronunciou o nome devagar e sonhadoramente. Depois olhou em torno. O sol invadira o quarto e as cortinas flutuavam ao sopro da brisa que trazia o perfume delicioso de flor de limoeiro e de terra úmida.
Deitada de costas na cama, ela pensava em que horas seriam sentindo uma estranha lassidão pelo corpo. Deveria ser bem mais tarde que seu horário habitual de levantar.
De repente lembrou-se dos acontecimentos da noite anterior. Eles voltaram à sua mente com incrível nitidez e seu corpo foi tomado por ondas de calor e frio ao mesmo tempo.
"Oh! Meu Deus, o que fiz?", pensou.
Com o rosto em chamas e toda trêmula, Ginny lembrou-se da maneira como se entregara a Harry não somente uma vez, mas duas...
A primeira vez acontecera de maneira impensada. Ela se perdera em desconhecidas emoções, quando as mãos de Harry deslizaram por baixo da sua malha, numa carícia gentil, porém firme.
Ginny continuara falando nervosamente, tentando explicar que não queria incomodá-lo por nada no mundo, até que Harry colocara um dedo sobre seus lábios. Ela beijou-lhe a mão e, um instante depois, muito timidamente, passou os braços em torno do pescoço dele. Seu abraço, ainda que inexperiente, foi intenso e, apesar de uma voz interior adverti-Ia para não continuar, ela não soube resistir ao calor que se desprendia daquele corpo másculo. Não pôde evitar a sensação de prazer que somente Harry tinha o poder de despertar.
Então, acontecera o que Ginny sempre imaginara que jamais lhe aconteceria. A princípio, ela tivera um pouco de medo e até chorara, apesar da delicadeza e paciência de Harry. Contudo, suas lágrimas não tinham sido de tristeza...
A segunda vez fora um pouco antes do romper do dia. Ginny acordou em pânico, sem saber onde se encontrava. Naquele momento, Harry remexeu-se na cama, murmurando seu nome e tomando-a nos braços. E aconteceu outra vez aquela união perfeita de corpos que a fez experimentar prazeres deliciosos. Uma união sobre a qual sua imaginação já fantasiara muitas coisas, mas jamais sonhara que pudesse ser tão maravilhosa. Finalmente, adormecera nos braços de Harry, cheia de amor e paz.
No entanto, onde estaria ele, agora? Ginny sentiu-se subitamente insegura e temerosa, e pensamentos inquietantes a assaltaram.
Harry me seduziu! Oh, não, ele não faria isto! Eu quis fazer amor... E agora? Ele vai querer casar comigo?
Para se ver livre de todas essas perguntas que a atormentavam, Ginny saiu da cama, arrumou-se e foi para o andar de baixo. A Sra. Hunter, governanta de Harry recebeu-a.
- Olá, Ginny. Harry me disse para deixá-Ia dormir, mas eu guardei seu café. Você está com ótimo aspecto, querida. É incrível como o sono é um bom remédio.
Sentindo-se pouco à vontade diante da inocência da Sra. Hunter sobre os fatos da noite anterior, Ginny desviou o olhar.
- Não estou com vontade de comer, Sra. Hunter. Muito obrigada.
- Um cafezinho, então. Tome lá no escritório, porque Harry quer falar com você.
Ginny sentiu um aperto na garganta e engoliu em seco.
As janelas do escritório estavam abertas para a bela paisagem verde, que resplandecia ao sol da manhã.
Harry ergueu a cabeça e viu Ginny parada à porta, com uma xícara fumegante na mão. Um leve sorriso chegou aos olhos dele ao ver o intenso rubor que lhe cobria o rosto. Tímida e nervosa, Ginny olhou ao redor, evitando encará-Io e ao mesmo tempo se perguntando; desesperada, como comportar-se diante dele.
Finalmente Harry levantou-se, encaminhou-se na direção dela e tirou-lhe a xícara de café dos dedos trêmulos.
- Bom-dia, futura senhora Potter - ele disse com naturalidade, inclinando-se e beijando-lhe os lábios levemente.
- Harry...
Ele ergueu as sobrancelhas indagadoramente com um brilho maroto nos olhos escuros e Ginny teve a sensação de que era inútil dizer o que pretendia.
Contudo, decidida, ela resolveu falar de qualquer maneira.
Endireitou os ombros e afastou-se dele.
- Não posso me casar com você, Harry. E acho melhor ir embora agora.
- Melhor para quem?
Por que ele lhe perguntava isso? Será que não sabia que só podia ser melhor para ele?
- Melhor para nós dois. Escute. - Ela encarou-o firmemente. - Estive pensando sobre tudo! Uma vez você me disse que tinha um temperamento terrível e ontem à noite devia estar furioso comigo. Meu pai costumava dizer que, quando alguém se deixa levar pela raiva, faz coisas que não faria normalmente...
Por um instante, Ginny emudeceu ao ver Harry estudando-lhe o rosto pensativamente.
- Continue! - ele pediu.
- Bem, às vezes não compreendemos nossos atos, não é? Se a senhora Hunter soubesse o que fizemos, talvez não tivesse me recebido com tanta simpatia hoje - ela gaguejou envergonhada.
Um sorriso irônico ergueu o canto da boca de Harry.
- Quando a senhora Hunter se recolhe para ver televisão, a casa pode pegar fogo que ela não repara. Além do mais, deve ter percebido que a presença dela aqui, ontem à noite, era perfeitamente dispensável.
- Sim, mas ela poderia... Ginny torceu as mãos, nervosa.
- Por acaso está com medo de que alguém note diferença em você? Não se preocupe. Você disfarça bem. A não ser que... Você está se sentindo mal? Perguntou ele, subitamente preocupado.
Ginny olhou-o sem entender.
- Quero dizer... Você era virgem - Harry parou ao ver o intenso rubor que invadia o rosto de Ginny, e tocou-o de leve.
- Oh! Não! Não era nisto que eu estava pensando. Eu... Ah! Não importa.
- Conte para mim.
Ela sorriu.
- Não, se disser, vou parecer uma tola. - Ao ver a sobrancelha dele levantadas inquisidoramente o sorriso desapareceu. - Olhei-me no espelho hoje para ver se estava diferente, porque me sinto diferente... Mas... Ginny suspirou e deu de ombros, desistindo de se explicar.
- O que você quer dizer é que esperava que sua aparência mostrasse que agora é uma mulher.
- Não acha uma tolice?
- E vê como seria problemático para nós? Na prática, já sou mulher, mas para você continuo sendo...
- Ginny - ele a interrompeu com um misto de compaixão e impaciência. - Você é uma mulher e fui eu quem a transformou! Não teve escolha e por isso vamos nos casar.
- Mas eu podia ter me defendido! Você não me forçou a nada. Oh! Ela sussurrou, com os olhos cheios de lágrimas.
Harry tomou-lhe a mão, virou-a para cima e beijou-Ihe a palma.
- Você desejava... O que aconteceu ontem? Então é mais do que uma ótima razão para nos casarmos a melhor de todas!
As lágrimas rolaram pelas faces de Ginny, que confessou baixinho todo seu dilema...
- Sim, eu quis. Vivia sonhando que isso aconteceria com você. Mas as garotas da minha idade costumam ter este tipo de sonhos.
- Não são só as garotas que sonham com o sexo, pode estar certa, Ginny.
- Até ontem à noite você nunca tinha dado sinais de que não me achava apenas uma criança. Agora quer se casar comigo por causa do que houve. Sente-se na obrigação de se casar porque meu pai o ajudou quando estava em dificuldades. Não é isto, Harry?
Com os lábios pálidos e trêmulos ela o fitou. Quase desmaiou de emoção quando Harry falou num tom de voz neutro:
- Você acreditaria se eu dissesse que a amo, Ginny?
- Não - respondeu, depressa. É isto que estou tentando lhe dizer. Por que casar comigo se não me ama?
- Mas você não acha que poderíamos aprender a nos amar?
Os olhos negros prenderam os dela e foi como se Harry descobrisse seus segredos. Ginny temeu que ele visse também o mais secreto de todos, que ela o tivesse desvendado na noite anterior... Com esforço, desviou o olhar e respondeu confusa.
- Não sei. E se só um de nós dois ficasse apaixonado? Não seria pior?
- Ontem nós tivemos um bom começo, Ginny.
- Não... Não!
Os dedos fortes mais uma vez tocaram o rosto dela.
- Ginny, você me surpreende - ele disse, carinhosamente. - Pensei que não fugisse de um desafio; afinal de contas, talvez você venha a me amar. Nós dois podemos ficar apaixonados, não acha?
- Como?
- Bem, você disse que é uma espécie de teste para minha paciência, mas tem de admitir também que, às vezes, eu a provoco demais.
- Sim, mas não vejo...
- Talvez pudéssemos aprender um com o outro. Você tem qualidades que admiro Ginny!
- Tenho mesmo? Ela perguntou, com ar de dúvida.
- É verdade! Uma delas é sua honestidade. Ah! Por falar, nisto, saiba que ontem você não teria a menor chance de escapar de mim. Quando me conhecer melhor, vai acreditar nisto. Não se atormente mais pensando que devia ter resistido, lutado comigo.
- Mas... Tenho uma chance agora, não é? Quero dizer, de não casar com você?
- Não!
- Sim! Ela exclamou desesperada.
- Não! Então você imagina que eu faria uma coisa destas com você e depois a abandonaria?
- Eu...
Ele acariciou-lhe o lábio superior.
- Não se engane comigo, Ginny. Além disto, há ainda uma outra coisa sobre a qual você não pensou. Você pode ter ficado grávida.
Ginny encolheu-se, assustada e nos olhos verdes de Harry brilhou um sorriso vitorioso.
- Eu pensei nisto, sim. Mas sei que estatisticamente as probabilidades são poucas.
- Se fosse você, não confiaria tanto. Lembra quando me falou sobre as estatísticas da segurança nos elevadores? Pois é, o fato de haver poucos acidentes não serve de consolo quando se cai no fundo do poço. - Harry ficou novamente sério e acrescentou: - Não importa o que você acha Ginny. Tenho a honra de pedir sua mão em casamento e prometo esperar ansiosamente por nossos filhos.
Ginny não conseguiu pronunciar uma só palavra em resposta.
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