CAPÍTULO II
Algumas horas mais tarde Ginny relatou, diante do espantado casal Clayton, o que havia acontecido.
- Vejam só Harry Potter opera no mercado de cavalos puro-sangue, e possui local para os leilões e área de treinamento. Estou tão entusiasmada! O haras fica em Merang, ao lado de sua linda mansão, rodeada pelos bangalôs dos empregados.
- É verdade, Ted - confirmou a Sra. Clayton. - a um lugar maravilhoso no campo, à uma hora e meia daqui. Já estive lá. Mas continue, Ginny...
- Bem, a funcionária que cuidava da parte burocrática referente à criação e venda dos cavalos teve de se demitir inesperadamente. Na sua fazenda, Harry Potter oferece também divertimentos aos clientes, o que ocasiona uma vida social intensa, e eu cuidaria desta parte. Teria uma casa...
Fez-se um breve silêncio. A seguir o Sr. Clayton perguntou:
- Harry Potter é casado?
- Acho que não, pois ele não se referiu a nenhuma esposa, mas a uma governanta que cuida da sua casa. O que vocês acham? – Ginny perguntou ofegante, depois do seu rápido discurso.
O reverendo Clayton, olhando aquele rosto jovem e cheio de expectativas, agradeceu a Deus interiormente não ter uma filha de dezoito anos. O fato de Harry Potter ser solteiro ou casado não queria dizer nada, pois nos tempos atuais isto não parecia ter muita importância. No entanto, apesar de não conhecer aquele homem, conhecia o ambiente em que ele vivia: riqueza, sofisticação, um perigo...
Ginny observou atentamente o rosto tenso do reverendo e adivinhou seus pensamentos de preocupação.
- Meu pai era amigo de Harry Potter e confiava nele. Por favor, não se preocupe, Sr. Clayton.
- Você quer muito este emprego, não é, Ginny?
- Sim, é uma espécie de desafio. Quero provar a mim mesma que posso assumir esta responsabilidade. Oh! Parece um sonho! - Exclamou, entusiasmada.
- Se eu disser que você irá para um mundo completamente diferente do seu, vai me achar um velho fora de moda?
- Oh, não! Acho que é uma criatura adorável e que se preocupa comigo. Mas, compreenda, preciso começar a caminhar com minhas próprias pernas!
- Então, tem a minha bênção, querida. Porém não se esqueça de que minha mulher e eu sempre teremos nossos braços abertos para você.
Algum tempo depois, enxugando lágrimas de emoção e alegria, Ginny partiu da casa dos Clayton, rumo a uma nova vida, com a esperança pulsando em seu coração.
Enquanto isto, o reverendo Clayton afirmava para a mulher:
- Farei uma visitinha a este senhor Harry Potter. Ele precisa saber que Ginny não está completamente sozinha no mundo. Pode ser um grande amigo do pai dela, mas nem por isso deixa de ser um homem comum.
Dois meses mais tarde, Ginny adaptara-se de tal forma à sua nova vida que não conseguia imaginar-se fazendo outra coisa, ou vivendo em outro lugar.
Já era de manhã, mas ela ainda estava deitada, deliciando-se com o gorjeio dos pássaros e observando os raios do sol matinal que se infiltravam pelas venezianas. Um som abafado de cascos de cavalos chamou-lhe a atenção e imediatamente percebeu que estava atrasada para o treinamento diário dos animais.
No entanto, pela primeira vez desde que começara a trabalhar para Harry Potter, Ginny resolveu se premiar com um pouco de folga e preguiça e pensar sobre tudo que vinha lhe acontecendo. Amava o lugar em que vivia! As longas raias cercadas por uma cerca branca, o grande portão ladeado de canteiros floridos e a casa principal, toda de tijolos, impondo-se na paisagem, com seu estilo campestre.
Provavelmente, vista de um avião aquela imensa fazenda pareceria uma aquarela verde e branca, pintada por um artista num dia de inspiração.
Acima de tudo, Ginny gostava do espírito de comunidade que havia naquele lugar; sentia-se como em família e orgulhava-se de ter desempenhado bem a tarefa que lhe fora confiada. Seus vizinhos do bangalô ao lado, Remo e Dora, eram seus maiores amigos.
Remo era o capataz da fazenda e tratava pessoalmente dos cavalos, na ausência de Harry. Possuía uma família numerosa, com filhos desde os seis até os dezesseis anos. Em todos os bangalôs moravam famílias com crianças e por isso o lugar era tão alegre.
Finalmente havia a Sra. Hunter, que cuidava da casa de Harry; às vezes ela se julgava mais importante que os outros, porém Ginny já aprendera o jeitinho de lidar com ela e fazer-¬se bem-quista.
Ginny bocejou e, espreguiçando-se, sentou-se na cama. Seu pensamento voou para o patrão. Os dois escritórios ficavam lado a lado da mansão de tijolos e Ginny acreditava que ele estava satisfeito com o seu desempenho.
Ginny cuidava do orçamento, das contas a pagar e, apesar da responsabilidade, o trabalho era gratificante e mantinha-a ocupada de manhã à noite.
Quanto a Harry Potter, apenas agora começara a conhecê-lo mais intimamente. Tinha descoberto muito sobre seu caráter que, num contato superficial, não se perceberia. Um exemplo disso era a incrível capacidade dele de adaptar-se às mais variadas situações. Ficava tão à vontade entre os trabalhadores dos estábulos quanto entre os fazendeiros; liderava os grupos mais diversos com sua conversa envolvente e sua habilidade de tratar as pessoas.
Contudo, quando Harry Potter sentava-se em seu escritório, parecia outro homem. Ora dedicava-se à leitura, dando preferência aos livros que o pai de Ginny costumava ler, ora passava um tempo enorme ouvindo música numa moderna aparelhagem de som. Uma ocasião ele a chamou para mostrar-lhe uma preciosa coleção de pintura e de objetos que trouxera de suas inúmeras viagens pelo mundo. Tudo era raro, de bom gosto e deslumbrou Ginny.
Havia ainda um lado misterioso em Harry que ela não compreendia muito bem. Uma vez por semana, ele passava a noite fora, sem dar explicações a ninguém. Ginny só soube a razão daquelas ausências quando, por acaso, num dia de folga, resolveu ir à cidade e o viu acompanhado por uma belíssima loira. O modo da mulher olhá-Io dentro dos olhos e de lhe sorrir foi suficiente para Ginny descobrir que devia ser a amante dele.
Inexplicavelmente, aquela descoberta magoou Ginny. Teve ciúmes daquela mulher sofisticada, capaz de enfeitiçar Harry. Não que ela quisesse ser amante dele, mas gostaria de ser elegante, sofisticada e segura de si como aquela loira.
Porém a revelação recente sobre a existência da loira trouxera alguns conflitos na sua relação com ele. Ginny recordou especialmente um incidente causado por um cachorro perdido.
Penalizada, ela recolhera o pobre animalzinho porque não resistira aos seus olhos melancólicos.
Ao vê-Ia com o bichinho no colo, Harry levantara as sobrancelhas e, com ar levemente contrariado, caminhara para ela:
- Ginny, se foi você que trouxe este cachorro para cá, trate de se livrar dele logo. Não permitimos animais aqui.
- Mas ele está perdido, Harry.
- Então telefone para o Departamento de Animais Perdidos e eles virão buscá-lo. Não quero vira-latas na minha fazenda. Remo disse que este cachorro se meteu entre as patas de Tahiti e quase o derrubou.
Remo evitou o olhar de Ginny. A esposa dele tornara-se a maior amiga e protetora da moça e ficaria furiosa se ele lhe causasse qualquer problema.
Porém Ginny não se deu por vencida e dirigiu-se a Remo:
- Remo, nós poderíamos treinar este cachorrinho e ele poderia ser útil na fazenda.
- Não dará certo, Ginny. Este tipo de cachorro não se habitua a cavalos e vai atrapalhar todo o nosso trabalho.
Ela virou-se para Harry e insistiu:
- Coitadinho! Veja como treme de medo! Ele confia em mim, não pode ser tão cruel e mandá-lo para os Animais Perdidos! Vão matá-lo! Se fizer isto, nunca mais falarei com você.
- Ginny! - A voz dele soou cortante como uma chibatada. Em seguida, Harry virou-se para as pessoas que estavam paradas, olhando curiosas, e continuou: - O que vocês estão fazendo aqui? Todo mundo para o trabalho! Já estão atrasados.
O pessoal moveu-se rapidamente e todos foram cuidar de seus afazeres, deixando Ginny para enfrentar a irritação e os olhos frios do patrão...
Contudo, ao ficarem a sós, a expressão de Harry se suavizou.
- Ginny, o animal não pode ficar aqui, mas prometo telefonar pessoalmente para o Departamento de Animais Perdidos e pedir para lhe arranjar uma casa. Dê-me o cachorro, Ginny. Confie em mim.
Lágrimas inesperadas encheram os olhos dela.
- Você promete que fará isto?
- Tem minha palavra!
Ginny olhou mais uma vez para o pequeno animal desamparado e entregou-o a Harry. Em seguida, saiu rapidamente, sem dizer nada, com medo de chorar.
Um outro incidente ficara gravado na memória de Ginny e havia sido ainda mais embaraçoso. Ela havia ficado numa posição ridícula e recebera um tremendo sermão de Harry.
Seu rosto ainda corava, em chamas, quando lembrava que tivera que chamar Harry para tirá-Ia da Delegacia de Polícia. Quando ele atendera ao telefone, sua voz soara imperativa do outro lado da linha.
- Ginny! Até que enfim. Estávamos todos atrás de você. Onde se meteu? Um grupo de clientes de Hong Kong chega hoje à tarde. Preciso de você.
- Oh, Harry! Tenho um... Problema. Estou na Delegacia de Polícia de Southpont e...
- Mas que diabos você está fazendo aí? Venha já para casa!
- Aí é que está o problema, Harry. Não posso sair - ela respondeu a voz sumindo de tão envergonhada.
Fez-se um silêncio carregado de tensão. Depois Harry voltou a falar:
- Está bem. Pode soltar a bomba! O que foi que aconteceu desta vez?
Ginny atrapalhou-se, procurando narrar o fato da melhor forma possível.
- Bem... Eu estava dirigindo o carro quando vi um bruto... Um homem espancando um cavalo, ao lado da estrada. Talvez o cavalo tivesse feito alguma coisa, hum... Não sei bem, mas o homem chicoteava o pobre animal de tal modo... Batia na cabeça do coitado...
- Já sei! Você parou e foi falar com o homem. - Harry suspirou, resignado.
- Sim - ela respondeu timidamente e concluiu com honestidade: - Mas o homem ficou ainda mais furioso. E naquele exato momento ia passando um carro da polícia... Que eu não vi. O bruto sacudiu o chicote, e, como pensei que ele fosse me bater me atirei no chão. Meu tombo assustou o cavalo, que se soltou das rédeas e saiu correndo pela estrada.
- Hum! Quantos mortos e feridos? - Harry perguntou, num tom irônico. - Ou o cavalo foi a única vítima?
- Não brinque - replicou ela indignada. - Não morreu ninguém, nem o pobre do cavalo.
- Então qual é o problema, Ginny?
Harry ouviu-a suspirar, aflita.
- Bem, quando ele disparou, um carro que vinha vindo quis se desviar e acabou batendo na traseira do carro da polícia. Após um silêncio, Harry perguntou:
- Está bem. Entendi. Qual é o valor da multa?
- Não me multaram, não teriam motivos. Mas, como fui envolvida na discussão com aquele homem grosseiro que me acusava de ter atrapalhado o trabalho dele, fomos todos para a Delegacia. - Ginny interrompeu-se por um instante, tomou fôlego e, enchendo-se de coragem, continuou: - Estou sem um tostão e não sei como ir embora. Oh! Meu Deus, eu realmente lamento incomodar você...
- E deve lamentar mesmo - ele retrucou, com um leve tom de divertimento na voz. - Vou buscá-la, mas não pense que vai descansar. Há um monte de trabalho esperando você aqui.
Horas mais tarde Harry chegou à Delegacia de Polícia. E, durante o trajeto de volta para casa, só ele falou. Explicou como era inadequado intrometer-se nos assuntos de estranhos, e que aquele mau hábito poderia ter péssimas conseqüências.
Desconsolada pelo contratempo que causara, pela vergonha de ser apanhada numa Delegacia de Polícia, Ginny ouvia a tudo calada, segurando a bolsa contra o peito como se fosse um escudo para defendê-Ia daquela situação desagradável.
Ginny saiu do devaneio de recordações e refletiu, sorrindo, que um dos traços mais positivos da personalidade de Harry era seu senso de humor, que não o deixava mal-humorado durante muito tempo.
Assim, o incidente foi esquecido e ele continuou a tratá-Ia com a cordialidade de sempre. No entanto, muitas vezes Ginny lamentou que Harry só a visse como uma adolescente. Contudo, a grande oportunidade de se mostrar uma competente mulher de negócios se aproximava...
Uma batida na porta trouxe-a de volta à realidade.
- Ginny! Ainda está na cama? Mas que grande preguiçosa!
Sally, a filha de quinze anos do casal vizinho, entrou sem cerimônia no chalé e dirigiu-se ao quarto de Ginny.
Era uma garota cheia de energia, de rosto corado e sorriso espontâneo. Naquele momento, em uniforme colegial, parecia uma menina, porém quando usava a maquilagem da mãe tornava-se uma jovem bela e atraente.
- Sim! Estou com preguiça. E nem sei por quê. Estive relembrando muitas coisas, deve ser isto.
- Ginny, mamãe vai preparar um churrasco hoje à noite, perto do riacho. Você não quer vir?
- Não sei. . .
- Oh! Não diga que tem trabalho hoje. Afinal, é sexta - feira. Eu contava com você para tocar violão e gaita. O churrasco ficaria mais animado. O Sr. Watson prometeu levar o acordeom. Se você quiser, eu vou pessoalmente pedir a Harry e...
- Não precisa - Ginny interrompeu-a depressa. – Tenho folga hoje à noite.
- Ótimo! Mas tive uma idéia. Acho que vou convidar Harry também...
Da outra casa, a voz de Dora soou chamando Sally.
A garota saiu correndo, gritando da porta para Ginny:
- Mamãe está me chamando. Convide Harry por mim. Tenho que ir... Tchau.
Excitada e cheia de energia, Ginny pulou da cama num movimento ágil e gracioso e deixou a preguiça de lado. Olhou o relógio e viu que já era hora de começar o dia.
- Ginny, está tudo certo? Tudo sob controle? - Harry Potter perguntou. Sem esperar pela resposta ele virou-se para inspecionar, através da janela envidraçada de seu escritório, os vastos campos, as raias arredondadas, quase toda a propriedade que se perdia no horizonte.
Ginny, sentada à frente de Harry, folheava sua agenda. Tinham discutido os últimos detalhes da venda de um famoso garanhão na semana seguinte. Os portões da fazenda se abririam no domingo e na segunda-feira para que o público pudesse apreciar os cavalos e aquele acontecimento exigia muito cuidado, muita atenção por parte de Ginny.
Olhando a agenda, ela leu para Harry todas as anotações dos trabalhos que fizera e ainda estava fazendo.
- Bem, já tratei com o bufê que vai servir o almoço para seus clientes especiais, organizei a entrega dos refrigerantes e providenciei um toldo para o jardim, caso chova. Todas as toaletes estão funcionando bem. Ah! Uma das éguas deu à luz um potrinho.
Harry sorriu para ela com ternura.
- Está muito eficiente, senhorita Weasley.
- Obrigada. Mas é melhor esperar para ver como fica o pudim que eu fiz. Este é o verdadeiro teste.
- Então eu vou esperar até lá - disse Harry lançando-lhe um olhar curioso e baixando a voz, ele perguntou em tom confidencial:
- Como vai aquele seu admirador?
Ginny sentiu o rosto em chamas. Há algumas semanas, um dos empregados da fazenda, Miguel Corner, começara a procurá-Ia com uma insistência de enamorado. Ela não o encorajava porque o achava muito jovem e ingênuo, mas mesmo assim ele não desistia. Convidava-a para ir ao cinema, trazia-lhe flores, parecia sua sombra, dia e noite atrás dela.
Aquelas atenções constantes irritavam Ginny. Ela sempre conseguira manter os rapazes à distância, mas, com Miguel, não tinha sucesso. Ele a provocara tanto com suas investidas amorosas que, quase sem refletir, uma vez Ginny o esbofeteara indignada com a sua insolência juvenil. Para seu imenso constrangimento, Harry Potter presenciara toda a cena de longe. Quando Miguel Corner, furioso e humilhado, saiu chutando a grama e praguejando, Harry aproximou-se de Ginny sem conter o riso. Para ele a cena fora extremamente hilariante.
- Você não sabe que é falta de caráter espionar as pessoas? - Retrucou Ginny, irritada.
Harry riu ainda mais.
- Você acha que eu estava espionando? Ora, Ginny, você bateu no pobre rapaz no lugar mais público da fazenda. Só se eu fosse cego e surdo é que não veria nem ouviria o seu tapa.
Ginny ergueu o queixo e, com os olhos fuzilando de fúria, encarou-o. Havia ocasiões em que à atitude de Harry, seus gestos seguros e seu ar superior, deixavam-na fora de si. Ela compreendia que a forte presença de Harry e o magnetismo de sua incrível masculinidade a perturbavam. Ele era muito charmoso e imponente com seus cabelos grisalhos e seu olhar sensual. Porém algo na firmeza de seu andar, nos ombros largos e no dorso esguio que sobressaíam sob a camisa, tirava-lhe o fôlego. Um simples olhar para as mãos fortes e morenas, cobertas por uma penugem castanha, causava-lhe um arrepio inexplicável ao longo da espinha.
Apesar de sua pouca experiência, Ginny sabia que as outras mulheres que conviviam com Harry deviam sentir o mesmo. Sendo um homem tão cortejado, cobiçado e vivido, não era justo que risse de seu relacionamento com Miguel Corner.
Enquanto os mais variados pensamentos cruzavam a mente de Ginny, Harry aproveitou o silêncio para contemporizar.
- Você não acha que está sendo muito dura com o coitado do Miguel?
Ela ia protestar, mas ele não lhe deu tempo e continuou:
- Um homem apaixonado fica muito sensível e pode sofrer terrivelmente com a indiferença da mulher amada. Mesmo que não receba um tapa no rosto, como aconteceu com Miguel. Você foi desnecessariamente cruel, Ginny.
Os olhos de Harry cintilavam, como se estivessem desfrutando um estranho prazer.
- Estou muito surpresa por você me dar conselhos sem saber exatamente o que aconteceu, Harry. Você viu apenas a cena final.
- Está bem, Ginny. Mas, mesmo assim, tenho pena de Miguel. Coitado, em vez de se apaixonar por uma garota meiga, que suspiraria de admiração por ele, foi gostar de você, com essa língua afiada, esse temperamento forte e com uma mãozinha rápida.
- Oh! - Ginny apertou os punhos, o coração batendo forte no peito, indignada por ser tratada como uma criança.
E, não contente com o que dissera, Harry recostou-se na cadeira e ficou observando tranqüilamente as emoções conflitantes que se estampavam no rosto dela. Seus olhos verdes brilharam ainda mais quando falou:
- Você não escaparia com tanta facilidade se eu estivesse no lugar de Miguel, Ginny.
- Nunca pensei que você pudesse se imaginar no lugar de Miguel e muito menos que fosse ter pena dele. Afinal, o que é que você queria? Por acaso ouviu o que ele me disse? Acha que eu devia corresponder?
- Ouvi. Ele elogiou uma parte de sua anatomia. Realmente, não teve muita classe, mas, à moda dele, falou a verdade. Você tem um belo corpo, Ginny! Calma! Não fique furiosa outra vez - disse, vendo o rubor se espalhar no rosto dela. - Não devo me meter nos seus assuntos pessoais, concordo. Mas você me surpreende: fica tão penalizada com cavalos espancados e cachorros perdidos e não tem pena de um pobre rapaz apaixonado. Tenho certeza de que ele deve estar sofrendo muito. Aos dezoito anos somos tão vulneráveis!
Ginny ia saindo, mas voltou-se ao ouvir aquele comentário e espantou-se com a expressão séria de Harry.
Ela sentou-se outra vez.
- Você acha que o magoei de verdade? - Perguntou.
- Bem, ele se recuperará, mas geralmente o primeiro amor deixa uma lembrança especial. É preciso ter um pouco de paciência com Miguel, mesmo que ele não seja o seu tipo.
- Ah! Obrigada pelo conselho - ela disse irônica, e depois acrescentou desolada: - Oh! Que é que eu faço? Nunca me aconteceu uma coisa assim antes.
- Nunca? - Ele perguntou, com olhar penetrante.
- Nunca! Sabe eu era filha de um reverendo, usava aparelho nos dentes, era muito desajeitada, sem formas, uma tábua. Os rapazes nem me viam.
Durante algum tempo ele a olhou de alto a baixo, sem o menor constrangimento, deixando-a terrivelmente embaraçada. Sentia-se despida sob aquele olhar.
- E a que você atribui toda esta modificação no seu físico? - Perguntou provocador.
- Não sei - ela respondeu candidamente. - De repente, fiquei como as outras moças que eu invejava secretamente. Mas, voltando ao Miguel, eu devia ter sido mais delicada, mas tive medo de ser mal interpretada.
Harry recostou-se na poltrona com uma expressão indecifrável. Parecia olhar além dela como se lhe procurasse a alma. Mas logo depois seus olhos verdes readquiriram o brilho maroto.
- Se eu fosse seu pai, diria que você faz bem em se defender. Uma moça que não sabe se cuidar pode ter problemas. Mas não precisa transformar todo pretendente num inimigo.
- Você acha que seria bom ser amiga de Miguel? - Ela perguntou incrédula.
- Por que não? Você saberá mantê-Io na linha, não é?
Fez-se um silêncio carregado de mensagens que Ginny não conseguia captar, e Harry prosseguiu:
- Mas haverá outros, Ginny! E serão homens, não garotinhos como Miguel. Já notei que alguns vivem olhando você de jeito estranho.
Ela piscou várias vezes com os longos cílios sombreando-lhe o rosto e não encontrou palavras para responder. Harry sorriu levemente irônico.
- Guarde suas energias para os homens mais velhos e experientes. Você tem apenas dezoito anos; é cedo para se envolver com alguém seriamente. E, além disso, odiaria perder minha secretária logo agora que eu a treinei do meu jeito.
Ginny ouviu em silêncio, sentindo-se inexplicavelmente pouco à vontade, mas forçou-se a falar.
- Tentarei ficar amiga de Miguel; serei como uma irmã. Vou me oferecer para ensiná-Io a tocar violão. - Uma nova luz brilhou no olhar de Ginny. - Ah! E, por falar em violão, Remo e Dora estão oferecendo um churrasco hoje à noite e me pediram para convidá-Io. Você virá?
Harry pareceu ignorar a pergunta e disse:
- Você acha que estou exagerando nos meus conselhos? Bancando seu pai?
Ginny franziu as sobrancelhas, com uma expressão de dúvida. O que ela realmente pensava da opinião de Harry?
- Eu... Aprecio seu interesse, Harry. Mas não precisa ter medo de que eu caia na armadilha de um homem mais experiente. Sinto-me feliz como estou ganhando meu próprio dinheiro, aprendendo tantas coisas novas... Bem... Na verdade, graças a você. Harry, você tem razão. A próxima vez não serei tão impulsiva e rude com um admirador. Quer apostar como Miguel vai se tomar meu amigo? E quanto ao churrasco? Você não me respondeu.
- Irei, sim, mas levarei uma pessoa comigo. Tudo bem?
- Oh! Acho que não haverá nenhum problema. Bem, agora preciso ir.
Ginny despediu-se e Harry olhou a porta fechar-se atrás dela com um olhar distante, levemente melancólico. Depois seus lábios se curvaram num sorriso cético e ele se voltou para a janela novamente, contemplando sua propriedade.
N/A: Olá, Natalia Reis, Fernanda Campos e Ana Eulina é bom sabe que vocês gostaram da fic e esse capítulo vai especialmente para vocês. Espero que continue lendo a fic.
Natalia a fic esta programada para ter 10 capítulos.
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