TRANCADOS PRA DENTRO
Capítulo 9
– Trancados pra dentro –
A árvore desceu como uma marreta, partindo o pára-brisa, e jogando vidro moído no colo dos garotos. Rony gritou, desesperado, enquanto Harry tentava inutilmente abrir a porta do Ford Anglia azul-turquesa, que estava completamente parado, preso na copa de uma violenta árvore mágica, com o motor tão silencioso quanto o coração de um Vampiro. Desde que esse Vampiro não fosse Harry Potter, é claro.
– Estamos mortos! – Berrou Rony, quando uma maça feita de galhos nodosos atacou a lateral de sua porta. Os vidros saltaram dos lugares, o visor do rádio trincou e a maçaneta do lado de fora caiu, suavemente, na grama uns dois metros abaixo.
Harry pensou nas pessoas felizes que desfrutavam de um bom jantar no Salão Principal, e sonhou sobremesas, conversas, e sentar ao lado de Hermione Granger, enquanto ela ralhava com Rony sobre comer de boca cheia.
Tomado de furiosa determinação de não morrer, ele socou com toda a força a buzina do carro.
É claro que isso não assustou a árvore, ou trouxe ajuda. Mas num ronco cheio de bestialidade, o velho carro voador voltou à vida, acendendo faróis quebrados e tremendo. Sem que nenhum dos garotos tocasse na direção ou em qualquer coisa, o câmbio foi compelido, sozinho, para trás, chegando na ré. As rodas traseiras giraram com tudo para trás, enquanto os galhos onde estavam eram destruídos. A árvore lutadora o acertou de novo, e o motor roncou com muito mais força que antes.
O câmbio então engatou uma marcha, novamente sem a ajuda dos passageiros, e pulou para frente, acertando a árvore assassina. Alguns galhos de apoio se quebraram, e o carro novamente correu para trás, engatando a ré.
Num segundo, o mundo girou, enquanto a árvore se envergava, e as rodas traseiras atingiam o chão. Assim que o tocaram, os pneus cantaram, puxando para trás a carroceria, e correndo de ré uns bons dez metros. Um galho da grossura de um homem tentou atingir o capô azulado, mas o carro avançou por cima dele, fazendo a madeira estalar em seu pára-choque.
A árvore, enorme e raivosa, desistiu, conformou-se, e se endireitou, ficando imóvel por um momento e então voltando a balançar suavemente com o vento, como uma perfeitamente correta árvore de família.
As portas do Ford Anglia se abriram, e os bancos pularam por baixo dos garotos, que foram catapultados para fora do carro. Um instante depois, as gaiolas foram jogadas para fora, em seguida o porta-malas se abriu e os malões pularam, caindo de qualquer jeito na grama.
Harry estava agarrado à gaiola de Edwiges, que piava totalmente indignada. Rony estava meio jogado, meio sentado, meio abobalhado, perto dele. O carro bateu as portas e o porta-malas, roncou mais uma vez para a árvore, e saiu rodando rapidamente, fugindo para dentro da Floresta Proibida, adquirindo uma tão sonhada liberdade.
A parte de Harry que não descansava de inventar ironias, maldades e piadinhas perguntou-se se em algum lugar daquela floresta haveria uma companheira para o carro dos Weasley.
– Meu. Pai. Vai. Me. Matar – Disse Rony, tão pausadamente que o moreno quase riu.
– Oras, vamos lá! – Tentou o garoto, levantando e checando seu malão. – Estamos em Hogwarts! E podia ter sido muito pior!
– Sim, realmente podia ter sido muito pior.
O tom de voz frio e odioso não era ouvido por Harry há uns bons meses. Se havia algo que podia estragar a felicidade de voltar para Hogwarts, único lugar onde ele era aceito como era, era o professor Snape, e sua irritante mania de estar nos lugares certos para apanhá-los fazendo coisas erradas.
– Boa noite, Prof. Snape. – Sorriu Harry, amavelmente. Eles estavam encrencados.
– Vocês estão encrencados! – Rugiu a Prof. Minerva, diretora da Grifinória, a casa de Harry e Rony. – Voar por meio país num carro roubado, às vistas dos humanos! Vocês tem a mínima noção de quanto esforço os Vampiros depreendem todos os dias para não se revelarem aos olhos dos humanos?!
– Professora... – Tentou concertar Rony. – Nós estivemos invisíveis o tempo todo... Não havia risco algum e...
– NÃO HAVIA RISCO ALGUM?!
Harry afundou uns seis metros na cadeira. Eles estavam numa salinha, adjacente ao Salão Principal. Não podiam participar do banquete, nem da Seleção dos novatos para suas casas. Rony estava triste por não poder ver sua irmã sendo selecionada.
O diretor Alvo Dumbledore, com seus cabelos e barbas tão compridos que lhe chegavam à cintura, cruzou os dedos longos e os mirou com seus olhos incrivelmente azuis.
– Vocês disseram que a portão de King’s Cross estava fechado, não?
– Sim senhor – Assentiram.
O diretor pareceu pensativo.
– Infelizmente terei de puni-los por sua inconseqüência. – Suspirou. – Ronald Weasley, o senhor terá que ajudar Hagrid à dar comida aos seres do lago. E Harry Potter, terá que organizar a hemeroteca de Hogwarts. É claro que não poderão usar magia, e serão vigiados por Guardiões de Hogwarts.
– Mas professor! – Tentou Rony. – Não havia outro jeito e...
– Creio que o Sr. Potter possui um pássaro, não? – Interrompeu o diretor. Eles assentiram. – E os senhores possuem tinta e pergaminho. Se tivessem se isolado por alguns instantes em algum lugar deserto, e me mandado uma carta, tenho certeza que as coisas se resolveriam com muito mais rapidez, discrição e segurança. E os senhores estariam desfrutando de um excelente banquete, que já está quase terminando.
Harry e Rony baixaram as cabeças. Não haviam pensado, nem por um momento, nesta solução tão simples. Edwiges poderia avisar ao diretor em questão de horas, e instantes depois o problema estaria solucionado.
Você é um idiota, Harry. Disse sua mente. E ele só pôde concordar.
O diretor estalou os dedos, e uma grande travessa de sanduíches, junto de uma jarra de suco e dois copos, surgiu na mesa, defronte os jovens Vampiros. Ele levantou e saiu, junto à Mcgonnagal e Snape.
A professora parou na porta, e virou-se por um instante.
– Bem vindos de volta – Disse, com sua melhor voz de comandante de exército. E saiu.
Harry puxou um sanduíche, o estômago roncando, e suspirou.
– EU NÃO ACREDITO!
– Hermione, por favor, nós já tivemos o suficiente por hoje...
O rosto doce e inteligente da garota se contraiu numa expressão furiosa. Sua mão subiu num gesto quase invisível, e Harry foi puxado para baixo, segurado pela orelha direita.
– Ai... Hermione sua... ai... louca... solta a minha...
– Quieto! – E ele se calou. – Você devia ter sido expulso por isso, sabia? Devia agradecer por estar aqui agora! E se tivesse um pouco de cérebro nessa coisa oca que chama de cabeça, isso não teria acontecido!
– Eu sei, mas...
– Quieto!
E ele, novamente, seguiu sua ordem.
– Isso foi a coisa mais idiota, mais impensada, mais estúpida e sem noção que vocês já fizeram! Você tem idéia... – Sua voz tremeu, mas ela continuou. – Do quê eu senti quando não consegui encontrá-los no trem? Eu pensei em tudo, seus idiotas, desde que tinham sido raptados até que estavam se escondendo de mim! Vocês têm a mínima idéia do quê é ficar preocupada por quê os que se dizem seus amigos simplesmente desaparecem?!
Ela soltou a orelha de Harry, que latejava, e subiu a escada do dormitório feminino, sem olhar para trás. Harry sentiu vontade de bater sua cabeça na parede. Subiu, como um condenado à forca, a escada para seu dormitório, abriu a porta onde dizia “Segundo Ano”, foi até a cama mais à sombra que havia, e se enfiou debaixo das cobertas.
E só quando estava trancado dentro de Hogwarts que se sentiu em casa. Mas pensando em Hermione, só pôde se sentir ainda mais miserável.
Tinha que se desculpar, de qualquer jeito.
___________________________________________________________
Obrigado pelos comentários, continuem comentando e até o próximo!
(no próximo eu respondo perguntas e dedico certinho o cap.)
o/
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!