SALVO
Capítulo 3
– Salvo –
O ronco triste de um motor encheu a Rua dos Alfeneiros, na madrugada do segundo dia de Agosto. O barulho, como um asmático rosnar, permaneceu na frente do Nº 4, mas estranhamente não havia nenhum carro parado naquela rua.
– Vai, Rony. Abre a janela!
A voz urgente e silenciosa veio próxima à janela do quarto onde Harry, ainda em seu estupor febril, permanecia caído no chão. Um gancho foi preso nas grades de ferro, recém-colocadas. Rony, o Vampiro ruivo melhor amigo de Harry Potter abriu a porta do carro, e se equilibrou, segurando na grade. Concentrou-se e acendeu uma fagulha na escuridão. Um fino jato de fogo derreteu cada uma das quatro barras que prendiam a grade ao concreto. Rony se jogou para trás, e a grade caiu pesadamente, não batendo no chão graças ao cabo que a segurava.
Em seguida Fred, o irmão mais velho de Rony, usou uma gazua humana para destravar a tranca da janela, que se abriu silenciosamente.
Pularam para o quarto do garoto, e Jorge, irmão gêmeo de Fred, conjurou uma pequena esfera de luz azulada, que iluminou a gaiola de Edwiges, a cama, a mesinha de cabeceira, a escrivaninha e...
– Harry! – Exclamou Rony, quase se esquecendo de não gritar. Correu até o amigo, pisoteando nos maços de cartas que ele nem percebeu.
– Rony? – Sussurrou Harry. – Sonho?
Os olhos do garoto se focaram, repentinamente. Ele gemeu baixo, e procurou seus óculos. O ruivo, assustado, decidiu ajudá-lo, ao ver a armação quebrada ali perto.
– Óculos reparo! – Bradou ele. O quê foi um erro.
As lascas de vidro que estavam fincadas nos braços e mãos de Harry voaram para fora, cortando-o mais ainda. Eles se juntaram na armação, que desamassou sozinha. Rony gemeu quando viu os fundos cortes que provocara no amigo.
– Rony, preciso de ajuda... –Murmurou o moreno, colocando os óculos no rosto. – O quê você está fazendo aqui?
– Você não respondia nossas cartas, então decidimos buscá-lo. Onde estão suas coisas? Precisamos ir logo, antes que seu tio acorde.
– Meu malão está lá embaixo, trancado no armário sob a escada. O resto está na escrivaninha e no meu guarda-roupa.
Fred e Jorge se adiantaram até a porta, e espetaram a gazua no trinco. Longos segundos se passaram, até que um estalo sinalizou que algo estava errado: a gazua quebrara.
– Droga – Resmungou Fred. – Queimar isso vai fazer barulho, explodir nem se fala...
O trinco deu um clique, e Harry quase caiu para frente. Eles se viraram para o moreno, que sorriu fraco.
– Vão rápido.
Os gêmeos desceram as escadas, silenciosos como gatos, levando a segunda gazua. Rony abriu o armário de Harry e apanhou as poucas roupas e objetos que havia lá. Por fim Harry pediu que tirasse os livros da escrivaninha, mas deixasse o tinteiro e a pena. Então os Gêmeos enfiaram tudo no malão, e Harry se aproximou de Edwiges.
– Desculpe, corujinha. – Edwiges arrepiou as penas, irritada com o apelidinho. Harry conduziu uma pequena sombra até dentro do trinco do cadeado, e fez com que ela empurrasse a lingüeta da tranca. O estalo da liberdade correu pelo quarto.
Edwiges abriu a gaiola sozinha, e voou, finalmente livre, até a janela. Harry desabou para a frente, desmaiado.
Com cuidado, os garotos o levaram até a janela, onde um velho Ford Anglia azul-turquesa planava serenamente, o motor ligado e a porta aberta. Rony colocou Harry no banco traseiro e sentou ao seu lado. Fred sentou-se ao volante e fez o carro girar, e abrir o porta-malas. Jorge enfiou o malão e a gaiola vazia ali, e fechou a porta traseira. Mas quando Fred girava o carro para apanhar o irmão, a porta do quarto se abriu e Tio Válter entrou, gritando e grunhindo, a carona vermelha e os olhos brilhando de ódio.
Ele agarrou o pé de Jorge, que tinha metade do corpo já na janela. O rapaz gritou e se debateu para se libertar. Berros ecoaram na noite, e os dois outro irmãos tentaram ajudar o gêmeo.
– Você não vai fugir, aberração! – Gritou o homem, cuspindo a cada palavra.
– Larga ele! –O grito de Rony veio acompanhado de um jato de chamas. Válter o largou e pulou para trás, e Jorge se enfiou no carro. As chamas sumiram do nada, e o carro disparou, voando pelo céu noturno, enquanto o homem gritava e xingava para a noite.
– O quê ele tem? – O desespero era evidente em Hermione, e também na Sra. Weasley, que estava branca de preocupação com os filhos.
As duas quase mataram os rapazes quando ouviram o conto da pequena aventura. Foram realmente forçados a contar, quando entraram pela janela do quarto de Rony e deram de cara com a Sra. Weasley esperando, numa fantástica camisola de dormir que deixava os seios fartos ainda mais arredondados. Hermione usava um robe de seda branca por cima de sua roupa de dormir.
– Não sabemos – Admitiu Rony, cobrindo o amigo com um lençol avermelhado. – Ele estava quase desmaiado, e desmaiou de verdade depois de fazer magia...
– Não pudemos controlá-lo. Quando vimos ele estava abrindo as trancas, e desmaiando.
Hermione se aproximou de Harry, o garoto estava anormalmente pálido e gelado. Tocou a face carinhosamente, e afastou a franja negra para revelar a cicatriz, muito mais aparente na pele branquinha.
Ela encostou o ouvido no peito do garoto, e viu que seu coração (que estranhamente, ainda batia mesmo depois de sua transformação em Vampiro) batia fracamente, quase parando.
– Ele está com fome. – Deduziu ela, sentando-se ao lado do corpo gelado do amigo.
– Fome? – Esganiçou a Sra. Weasley. – Pois então vamos buscar algo para ele comer, coitadinho, está mesmo muito magro para ser normal... Acho que tenho um pouco de sopa e...
– Não esse tipo de fome. – Interrompeu Mione. Então ela simplesmente enfiou os caninos no próprio braço.
Os Weasleys viram, embasbacados, a garota levar o braço levemente ensangüentado para perto da boca do moreno.
Os Vampiros, mesmo os completos, possuem sangue. O que os diferem é que este sangue é bem mais “ralo” que o normal, não possuindo todas as proteínas e outros que os Vampiros tiravam do sangue comum. Outro importante fato é que Vampiros não doavam seu próprio sangue à qualquer um, normalmente isso se restringindo à mestres e escravos. Era o quê acontecia ali, em teoria.
A primeira gota vermelha vazou para os lábios de Harry, sem emoção. A segunda também, e a terceira e a quarta. Então, num rompante, Harry pulou e cravou as presas no braço branco da garota de cabelos castanhos muito cheios. Ela nem deu mostras de susto, e apenas esperou pacientemente enquanto Harry tomava um pouco de seu sangue.
Por fim o afastou, facilmente, pois ao toque ele a largou.
– Onde... estou? – Murmurou, caindo deitado novamente.
– Na nossa casa – Respondeu Rony. – O quê aconteceu, cara?
– Depois – Cortou sua mãe. – Primeiro, acredito que o sangue de Hermione não tenha sido o suficiente. Então vamos buscar mais.
Ela hesitou.
– Querido, há quanto tempo não se alimenta?
Harry pensou um pouco.
– Que dia é hoje?
– Dois de Agosto – Respondeu Fred, na mesma hora. Harry fez as contas.
– De sangue faz quatro semanas, de comida faz uma. Acho.
A Sra. Weasley fechou a cara e saiu murmurando algo sobre “esses humanos são uns monstros” que fez os gêmeos sorrirem.
Harry estava meio deitado, meio sentado na cama.
– Hermione, já disse que isso não é necessário! – Reclamou ele. – Não estou morrendo, por Deus...
– Sem reclamações – Rebateu a garota. Então entregou-lhe a segunda taça de sangue e o ajudou a ergue-la. – Não saio daqui até você ter comido tudo!
Da porta, a Sra. Weasley sorriu, aprovando totalmente a garota e decidindo que o moreno estava em boas mãos. Então agarrou os gêmeos, cada um por um braço, e os levou para baixo.
Harry por fim contou aos dois melhores amigos que se podia ter sobre Dobby. Mas por mais que tentasse omitir, Hermione arrancou dele tudo o quê o garoto passara durante o verão, inclusive a fome e a prisão. Ela ficou tão penalizada com ele que até mesmo se ofereceu para deixar que ele copiasse seus exercícios.
Ele negou, para a surpresa dos amigos, tal oferecimento.
– Não mesmo. Se o quê Dobby diz é verdade, se realmente querem me matar, eu então precisarei de todo o poder possível. E até mesmo o pouco de conhecimento que minha lição de casa trará será necessário.
Hermione sorriu, orgulhosa, e então os três se abraçaram juntos.
– Tive medo de que tinham se esquecido de mim – confessou o moreno.
– Nunca.
E aquelas palavras, mais que todo o sangue e toda a maravilhosa comida da Sra. Weasley, finalmente lhe trouxeram a paz.
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Agradeço os comentários, que infelizmente foram tão poucos... T.T
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Eu ia responder uma dúvida, mas deixo pro próximo. (preguiça, no duro.)
Bye!
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