BIBLIOTECA
Capítulo 15
– Biblioteca –
As notícias em Hogwarts correm mais ligeiro que o vento frio que já queria entrar pelas janelas. Desde o aniversário de Hermione, as coisas iam bem mal para Harry. Dedos eram apontados, e sussurros passavam por ele o tempo todo. Nas aulas, os colegas, aqueles mesmo que tinham passado tardes tão agradáveis rindo e conversando com ele, agora se desviavam quando ele passava, se escondiam de seus olhos e sentavam longe dele. Era como se ele fosse um monstro, uma doença altamente contagiosa.
Rony e Hermione permaneceram ao seu lado, claro. Mas mesmo assim, ele sentia de vez em quando uma suspeita, um brilho nervoso no olhar quando ele dizia que queria ficar sozinho. A incerteza e o medo rondavam sob os olhos deles, a mesma incerteza, o mesmo medo, que criava reações tão exageradas por parte dos outros alunos.
Sua concentração então se voltou totalmente para encontrar o culpado, dar “um jeito” nele, e depois passar algum tempo falando “eu disse que era inocente” para todos aqueles idiotas. Mas sem pista alguma, sabia que devia esperar o próximo passo do Herdeiro. Certo que talvez alguém pudesse se machucar nesse próximo passo, mas que importava? O moreno o pegaria e ficaria tudo bem.
A pena terminou os traços no pergaminho, e foi abandonada sobre a mesa, a tinta ainda secando de sua ponta. Ele avaliou criticamente o pergaminho, e mediu seu ensaio com uma fita métrica bem surrada. Um metro, certinho. Sorriu, e enrolou o trabalho com cuidado, o enfiando na bolsa junto dos livros, penas e tinta. Levantou e foi para seu quarto.
Enquanto ele andava, as pessoas abriam caminho, deixando dois metros entre elas e o garoto.
Levemente irritado, Harry deitou, olhando para o teto, depois de ter feito sua higiene noturna e ter se enfiado no pijama. Edwiges estava caçando, e todo mundo o evitava agora. Rony estava dormindo já, e Hermione devia estar em seu dormitório, estudando um pouco antes de dormir.
Ele sentiu sua cabeça pesar contra o travesseiro. Não sentia sono, nem nada. Queria, tremendamente, voar, mas uma das inúmeras proteções que o diretor pusera em Hogwarts, era contra suas viagens pela sombra.
Revirou na cama pelo que pareceram horas, até finalmente cair num sono intranqüilo.
– Você parece péssimo – Lhe informou Hermione, durante o café.
– Obrigado, Mione.
– Sério, Harry. Não conseguiu dormir?
Rony e Hermione estavam de um lado da mesa, Harry do outro. De cada lado dele, havia quatro lugares desocupados. É. Hogwarts exagerava.
Ele remexeu seu bacon com a ponta da faca.
– Eu estou frustrado – Disse, silenciosamente. – Quero sair.
– Oras, saia – Disse Rony, engolindo ruidosamente um bocado de mingau. – Mate a primeira aula.
– Nesse sol? – Resmungou Harry. – Está um tempo horrível lá fora, Weasley.
– Está um dia completamente normal, e muito bonito, Potter.
Hermione interrompeu a discussão voltando ao seu assunto.
– Harry, eles vão esquecer. Logo. Você vai ver.
Ele sentiu vontade de dizer que eles mesmo não acreditavam nele, que achavam, lá no fundo, que ele fizera aquilo. Mas se calou, enfiou uma torrada na boca, e saiu, sem dizer nada.
Imediatamente, os quatro lugares que haviam de cada lado foram ocupados.
Snape fora horrível, Bins fora tedioso, e seu dia estava uma droga. Harry sentia a tensão de todos, sentia como era terrível ser o pária da escola. Era pior do que ser um Sonserino. Pelo menos seus colegas de casa não te evitam.
– Ora, ora, se não é o Herdeiro Potter – Sorriu Malfoy, maldosamente. Ao seu lado, Jack fez um barulhinho estúpido de medo. – Quem você vai matar agora, Pottinho? Depois da gata do Filch, o cachorro do imbecil do Hagrid?
Harry sentiu que não podia mais engolir sapos. Num gesto rápido demais, encostou Draco na parede e o encarou, nos olhos.
– Cale a boca, Malfoy. – Disse ele, baixo e bem lentamente. – Se eu for o Herdeiro, você sabe que seria minha primeira vítima.
– Você não é – Sorriu o loiro, e a certeza na sua voz o assustou. – Você não é e nunca será o Herdeiro da Sonserina, Potter.
Ele se soltou, e saiu com Jack, que simplesmente se encostara na parede durante o pequeno conflito.
O Herdeiro da Sonserina. Isso era novo. E Malfoy parecia seguro demais que Harry não era o senhor deste título.
Uma idéia lhe ocorreu.
E, afinal, com o sol irritante que estava lá fora, quem se importava com a aula da Herbologia?
A Biblioteca estava vazia e absurdamente silenciosa. Harry foi direto até o último volume que pensaria que um dia ia ler. O volume que Hermione adorava citar o tempo todo, e que parecia um guia dos mil anos da escola.
As mil páginas de Hogwarts: Uma História bateram pesadamente na mesa da Biblioteca. Harry abriu a capa, e desceu o dedo pelo índice. Se havia uma Câmara dos Segredos na escola, devia ser antiga. Antiga o suficiente para ser uma lenda. E o último capítulo do livro tratava de lendas.
Ignorou sobre a Lula Gigante ser Godric Griffindor. Não deu atenção sobre a história dos Lordes Vampiros. Quem se importava com a idéia que havia um Quinto Fundador? E ali estava. “A Câmara Secreta”.
Quando Salazar Slytherin recusou a admitir alunos que não fossem Vampiros Completos de famílias “puras” na Escola, houve uma grande discussão. Mas ela cessou, aparentemente, quando as Quatro Casas foram criadas: Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal.
Mas, segundo conta a lenda, Salazar secretamente construiu uma Câmara especial, e nela selou um monstro terrível. Só seu legítimo Herdeiro, o Herdeiro de Sonserina, poderia abrir a Câmara Secreta, e controlar o monstro, o usando para eliminar todos os nascidos entre os humanos, ou cujas famílias se miscigenaram com os tais.
Exaustivas procuras foram realizadas pela tal Câmara, mas nenhum dos diretores de Hogwarts, nem mesmo outros curiosos e especialistas, conseguiram encontrar vestígios da Câmara, pistas ou sua própria entrada. O que a levou a categoria de lenda.
Salazar abandonou a escola alguns anos depois de sua criação, e nunca mais foi visto, por isso não se sabe se seus Herdeiros estão vivos, nem nunca pode confirmar se realmente criara tal sala. Há uma grande chance que simplesmente Slytherin tenha morrido sem deixar descendentes, tornando assim a suposta Câmara eternamente lacrada.
Hermione apertava a barra da saia nervosamente em suas mãos.
– O quê você quer dizer com isso? – Disse ela.
Harry baixou o exemplar de Hogwarts: Uma História de Hermione, e a encarou. A noite descia rapidamente pelas janelas do dormitório vazio, exceto pelos dois amigos.
– Mesmo se a Câmara existir, e o Herdeiro também, não podemos saber quem ele é!
O garoto parecia pensar em algo longe, longe.
Hermione continuou:
– Sua conversinha com o Malfoy não ajudou em nada, eu ainda acho que isso é tudo uma grande brincadeira de mau gosto e...
– Hermione, eu acho que minha conversinha adiantou sim. Pois, pelo tom de voz dele, e pelo brilho de seu olhar, eu acho que o Herdeiro da Sonserina é...
A boca de Hermione se abriu, enquanto ela sentia-se totalmente arrepiada.
– ...Draco Malfoy.
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