Crueldades de Lúcio
Gina estava em seu quarto, retirando a roupa de trabalho, já que, por ser sábado, só trabalhava meio expediente. Já havia almoçado e escovado os dentes, e após tomar banho trajou uma camisa amarela de manga curta e uma calça jeans. Seus cabelos, hoje, caiam em cachos ruivos, devido a um feitiço de penteado. Aproveitaria a folga para passar o dia com a família. Nem conseguia acreditar! Parecia que ela havia passado vários meses longe da Toca, enquanto só havia ficado durante dois dias na Mansão Malfoy. Mas pensando bem, dois dias de cão.
Saiu do quarto e foi em direção ao salão de entrada. Tudo estava quieto. Os quadros estavam dormindo. Parecia que a sesta era tão tradicional na família, que até mesmo as pinturas, que não comiam, a praticavam. As poucas janelas que havia no final dos corredores estavam fechadas e nenhuma vela estava acesa. Chegou no salão. Como os quadros do corredor, os do salão de entrada também estavam dormindo. A casa toda devia estar adormecida. Seria a chance perfeita para sair, sem chamar a atenção de alguém que pudesse lhe dar um trabalho de hora extra.
Subiu os pequenos degraus da entrada e abriu as grandes portas de madeira. A luz do sol invadiu a sala, parecendo acordar alguns quadros.
-Feche essa porta, garota mal-educada - disse uma mulher roliça numa das fotografias.
-Nos deixe dormir em paz.
-Desculpem - Gina murmurou sem graça, se defendendo dos protestos.
Ela deu um pequeno passo, fazendo menção de sair, quando a porta se fechou automaticamente, na sua frente, produzindo um barulho que ecoou pelos corredores.
-Onde pensa que está indo? – disse Lúcio Malfoy, atrás de si.
Gina se vira, observando o loiro alto, tecnicamente seu “chefe”.
-Bem... Como tenho a tarde de folga eu pensei em passá-la na minha casa.
-Disse bem. Pensou.
-Por que?
-Weasley, eu acho que você não entendeu o acordo que fizemos.
-Como assim? – ela perguntou temendo, já começando a entender tudo.
-Quando eu disse que você teria que ficar aqui, eu quis dizer que você teria que permanecer aqui até o final do prazo.
-Não sou sua prisioneira. Isso é crueldade demais – disse segurando o choro, para não encher o ego do Malfoy.
-Você não vê um elfo passeando livre por aí, vê?
-Eu não sou um elfo. Sou uma pessoa.
-É apenas minha criada. E por isso terá que ficar aqui. E não ouse contrariar minhas ordens. Lembre-se que está na minha casa, e sinceramente, não tenho o costume de conversar com os empregados.
-Mas...
-Boa tarde... – ele disse se retirando.
Gina não podia acreditar. Era uma prisioneira; sim, uma prisioneira na casa dos Malfoy. Limpar, lavar, se humilhar... Isso ela podia agüentar, mas ficar presa... Isso era demais para ela. Justo ela que sempre foi livre como um pássaro. Adorava ficar entre a natureza, mas agora nada mais daquilo restava, apenas a solidão a angústia.
Sem pensar em mais nada, Gina saiu correndo da sala, atravessando os corredores extravasando os sentimentos entalados dentro do coração e molhando o rosto com lágrimas que caiam incessantemente. Não ligava nem para os protestos das pinturas. Nada importava.
Entrou no quarto, fechou a porta com força e se jogou na cama chorando. Talvez aquele choro fosse exagero para a situação, se não fosse reflexo de todo o sofrimento que sentia, não só pela ordem de Lúcio, mas por toda a vida. Ela pensava, por que sua existência era tão desgraçada? Tudo sempre acontecia com ela. Primeiro Harry a havia traído com sua melhor amiga, depois seu pai fora para Azkabam... Um dia estava deitada tranqüila em sua cama, e outro dia estava aprisionada na casa dos Malfoy, sem nenhuma companhia. Era a primeira vez que desejava que Tom a tivesse matado em seu primeiro ano. Talvez tivesse sido melhor. Mas mesmo com todos esses pensamentos ela ainda tinha algo em seu coração que lhe dizia para seguir em frente. Alguma coisa iria mudar. Sua vida iria mudar.
~*~
Draco estava entediado. Aliás, todos os seus dias eram tediantes em sua casa, principalmente depois que havia terminado Hogwarts. Lá pelo menos, as aulas o distraiam. Quando era final de semana ele ia a Hogsmead e também fazia algo com os sonserinos. Gostava de lá principalmente porque era bajulado por todos. Agora, em sua casa não lhe dão importância, a não ser Rubi, mas ela não voltaria durante um bom tempo.
Jogou-se na cama, e ficou olhando para o teto durante um bom tempo, pensando em como gostava de Hogwarts. Gostava, de caminhar pelo pátio, tomar algo no três vassouras, jogar quadribol, e também xingar o Potter cada vez que cruzasse com ele. Todo dia ele tinha algo a fazer, desde ir ás festas da meia-noite da sonserina até estragar a diversão dos outros. Se o perguntassem diria que sim, ficava satisfeito lá. Mas agora tudo estava mudado. Precisava de algo para preencher seu tempo. Precisava preencher sua vida.
Se levantou e foi até o guarda-roupa. Se trocou no banheiro e desceu até o jardim traseiro. Como estava um dia de sol iria aproveitar para dar uma volta pelos jardins e espairecer um pouco. Devia aproveitar enquanto o frio intenso não havia chegado e estragado-os.
~*~
Gina já não tinha lágrimas para chorar. Tudo já havia ido embora. Também chorar o dia inteiro não iria adiantar de nada. Levantou-se e pegou um pequeno espelho na mala. Estava pálida. Talvez fosse porque já não tomava sol há algum tempo. Aproveitou e penteou os cabelos, levemente bagunçados. Não podia mais ficar só se lamentando no quarto. Precisava estar viva para agüentar tudo pelos três meses combinados. Uma voz dentro de sua cabeça lhe dizia que queria ficar no quarto, mas outra lhe dizia para sair, e essa era a mais sensata. Não sabia o que fazer. Talvez não fosse uma boa idéia ficar perambulando pela casa, mas sabia que lhe faria bem. Decidiu-se. Iria descer até o jardim e tomar um pouco de sol e ar fresco. Tentaria extrair algo de bom daquilo tudo.
Ela pôs uma camisa azul com alças, uma saia branca, que ia até o joelho, e calçou sandálias pretas. Em seguida saiu do quarto e foi até o jardim.
~*~
Num bairro nobre da Londres bruxa, bem nos fundos, havia uma mansão, não tão grande quanto à dos Malfoy, e que a julgar primeiramente é totalmente normal, porém é lá que se esconde uma das mulheres mais bonitas da cidade, ou até do país. No quarto de janelas cobertas por cortinas vermelhas, da parte frontal da casa, uma jovem morena, de olhos verdes reluzentes, capazes de hipnotizar qualquer homem, e com curvas perfeitas, se admirava em frente ao espelho, enquanto dava os últimos retoques em sua maquiagem mágica, que se adaptava perfeitamente a cor da pele.
Olhar monótono, não demonstrava muito entusiasmo em receber suas visitas, que, aliás, só haviam chegado de tarde. Os Berckley não eram os bruxos mais pontuais da Grã-Bretanha.
Se levantou, jogando o cabelo para trás, e ajustou o seu vestido azul claro. Passou levemente as mãos nos cabelos e por ultimo pôs um batom rosa, mais adequado ao horário.
Abriu a porta e saiu do quarto. Dois elfos corriam com malas nas mãos. Um entrou no quarto da direita no final do corredor, e o outro, o da esquerda.
-Sabia. Parece que aqueles caras-de-pau resolveram se instalar aqui de novo - falou com desprezo.
A personalidade de Rubi não era muito diferente da dos Malfoy. Seu sarcasmo, desprezo e falsidade a marcavam. Não era muito apegada às pessoas. Sempre que se aproximava de uma, tinha um interesse. Com Draco não era diferente. Se a perguntassem, diria que gostava dele, era uma diversão, porém estava mais atraída pela sua fortuna.
Desceu as escadas e foi em direção à sala de visitas. Sentados nos sofás do aposento estavam Phill Berckley, sua mulher Cindy e sua filha, amiga de Rubi, Carolliny. Ao chegar, pôs logo o seu mais simpático sorriso na face e foi cumprimentá-los.
-Boa tarde a todos.
-Boa tarde - falaram o senhor e a senhora Berckley.
-Boa tarde, Rubi – disse Carolliny e se levantou.
-Meninas, não demorem. Tomaremos chá às 4:00- disse o senhor Wellow, pai de Rubi.
-Claro papai. Iremos comparecer.
As duas saíram do aposento e foram em direção do jardim, caminhado enquanto conversavam.
-E então? Como vão as coisas com o ricaço Malfoy?
-Não poderiam estar melhores. Está cada dia mais louco por mim – ela diz dando uma risada.
-E o que há de novo por lá?
-Nada, aquela casa é muito chata. Recentemente, uma garota foi contratada pelo Lúcio para trabalhar lá. Parece que foi um acordo.
-E ela é bonita?
-Sim.
-E não tem medo de que enquanto você estiver afastada, o Malfoy tente algo com ela?
-Claro que não - disse soltando uma gargalhada – Eu sou muito mais bonita e atraente. Além disso, o Draco é louco por mim. Ele está bem aqui – aponta para a palma da mão.
-Se eu fosse você, eu não ficaria tão confiante.
-Simplesmente não tenho com o que me preocupar.
-Se você diz...
-E não é somente ele. O Lúcio também tem me olhado, muito discretamente, claro.
-Então quer dizer que também vai se aproveitar do pai?
-Não sei.
-Como não sabe? Você está com medo da Narcisa, Rubi?- falou em tom de deboche.
-Claro que não. E outra, o relacionamento deles está em crise.
-Como você sabe disso? O Draco te contou ou você tirou suas próprias conclusões?
-Eu vejo as pessoas muito bem.
-O que você está fazendo com o Lúcio?
-Eu? - fez-se de desentendida - Nada. Ele que vem até mim.
-Como você consegue essas coisas?
-Que coisas?
-Deixar os homens aos seus pés.
-Isso é beleza e esperteza.
-Gostaria de ter essas duas coisas.
-Mas infelizmente você não as tem. Esse é um privilégio para poucos, conforme-se com isso. Algumas são como eu, e outras simplesmente como você. E vamos voltar à sala, para não perdermos o chá.
-Ok.
~*~
Gina chegou no jardim traseiro da casa, o mais bonito. Não parecia ser inverno. O dia estava perfeito. O sol raiava com toda a intensidade, fazendo as águas do lago brilharem e refletirem com clareza tudo que estava mais próximo. O vento soprava um pouco e as flores se moviam como numa dança, e as copas das árvores perdiam algumas folhas. Os pássaros piavam alegres, e alguns se escondiam entre as margaridas que rodeavam uma árvore com frutos roxos, desconhecidos para Gina.
Ela andou até uma parte que era cercada por vidros transparentes, formando paredes e teto. Ao entrar, percebeu que lá a temperatura era um pouco mais baixa e que a “sala” possuía vários tipos de orquídeas, deslumbrantes e coloridas, que exalavam um odor extremamente agradável.
Ainda não acreditava que aquela era a casa dos Malfoy. Como pessoas com uma alma tão feia poderiam ter um jardim tão deslumbrante? Se não fosse a família que habitava naquela mansão, ela poderia dizer que havia achado o paraíso.
Mesmo com toda aquela beleza ela ainda se sentia sozinha e triste. Lembrou-se então de como aquele lugar se parecia com o seu lugar preferido, o Lago das Ilusões. Lembrou-se de como ela se sentia feliz e protegida, quando ela tinha algum problema, e entrava nas águas do lago e tudo desaparecia.
Na esperança de encontrar essa felicidade de volta, Gina tirou as sandálias dos pés e caminhou até a beira do lago do jardim, sem ao menos se dar ao trabalho de pôr uma roupa mais apropriada. A medida de que andava, seu corpo entrava mais nas águas, até lhe ela ficar completamente submersa.
~*~
Draco abriu a porta de vidro que ficava na parede da biblioteca, entrando no jardim, extremamente iluminado. Os raios solares incomodaram um pouco os seus olhos, e os apertou um pouco, a fim de reduzir a claridade.
Caminhou mais um pouco, parando embaixo da sombra de uma árvore, e ao abrir completamente os olhos ele pôde ver uma garota ruiva sair das águas do lago, encharcada e com a roupa molhada colada ao corpo. Seu corpo, ao entrar em choque com a claridade que provinha do sol, parecia brilhar, e seus cabelos pareciam fogo, caído sobre os ombros da jovem. Sua beleza parecia fazer parte do lugar, como se ela fosse uma flor aquática. A mais bela do jardim.
Draco se aproximou do lago, pensando estar tendo uma alucinação, e ao perceber que a garota era na verdade Gina Weasley reprovou completamente seus pensamentos, voltando ao normal em seguida.
-Tirando lodo das pedras, Weasley?
Gina reconheceu a voz e nem ao menos se virou para o loiro, dizendo apenas:
-Não sabia que gostava de espionar os criados.
O rapaz caminhou até a beira do lago, perto de onde a ruiva estava e cruzou os braços na altura do peito, olhando para ela.
-Sabia que os criados não têm permissão para nadar aí?
-Deveria pôr um quadro de regras em cada canto da casa – ela disse, saindo das águas.
A água escorria por toda a garota, e suas roupas estavam grudadas ao seu corpo, revelando suas formas, e Draco não pode deixar de notar que a ruiva possuía um belo corpo.
-Eu não gosto que me olhem desse jeito, Malfoy – ela disse, reparando onde estavam os olhos do loiro.
-Não se preocupe, Weasley. Jamais me envolveria de nenhum jeito com uma Weasley pé-rapada como você – disse num tom de deboche.
-Escute aqui, Malfoy... – ela tentou dizer, porém, escorregou numa parte mais enlameada da beira do lago, e quase caiu, porém, Draco foi mais rápido e conseguiu segura-la.
Por um momento, seus olhos se encontraram, e os dois sentiram algo que não souberam explicar. Parecia que, a partir dos olhos, cada um tinha penetrado na alma do outro, se fundindo em um só, e o coração de ambos se encheram de paz e alegria. Eles aproximaram os rostos e os lábios estiveram a apenas poucos milímetros de distância, porém, de repente, eles ouviram uma voz e voltaram imediatamente ao normal.
O elfo arrogante que Gina bem conhecia corria até eles, e como se não tivesse visto a garota, parou em frente a Draco, dizendo:
-Sr. Malfoy, sua mãe o espera na sala íntima.
-Já estarei lá – disse ao elfo, pronto para sair, porém olhou novamente para Gina – Faltou um pedacinho ali – disse apontando para uma pedra cheia de musgo. Em seguida, saiu acompanhado o elfo.
Diferentemente a momentos atrás, Gina sentiu vontade de afogar Draco no lago, mas segurou seu instinto assassino. Fez um feitiço para secar sua roupa e seguiu para dentro da casa, subindo de volta ao seu quarto.
Ao entrar, ela fechou a porta e se sentou na cama, se xingando por quase ter sido deixada seduzir pelo idiota do Draco Malfoy no jardim. Como poderia ter sido tão fraca? E como ele conseguia ser tão canalha, se aproveitando dum momento de solidão dela? Ela fazia essas perguntas milhões de vezes, em sua cabeça, e sempre chegava à conclusão que a culpa era sua, por ser tão ingênua e coração mole.
Interrompendo esses pensamentos, Rainbow entra pela janela aberta, pousando na cama de Gina. Trazia na perna, amarrada a um pedaço de barbante, uma carta de letras vermelhas. Retirou o envelope da coruja e esta voou até uma tigelinha com comida, no chão. Ela tentou abrir o envelope, porém a porta do quarto se abriu e Lúcio Malfoy apareceu parado na entrada. Ele entrou no quarto, sem dizer uma palavra e estendeu a mão para Gina.
-Dê-me a carta – disse sério.
-Mas ela é minha – ela falou, assustada.
-Dê-me! – aumentou o tom de voz.
-Não – ela bradou gritando.
Lúcio arrancou a carta, violentamente, das mãos de Gina e a queimou com um feitiço.
-Minha carta – ela disse ao ver as cinzas no chão.
Ele se virou para a coruja e a pegou.
-E quanto a você... – disse pegando uma tesoura no bolso do casaco.
-Você não vai fazer nada com ela! – Gina gritou chorando, e ao ver Lúcio aproximar o objeto da coruja ela agarrou o seu braço.
Ele, sendo muito mais forte, a jogou na cama e abriu as asas da coruja com a mão, cortando as penas das pontas e algumas da parte superior das asas. Em seguida, pegou a gaiola e prendeu o animal nela e fez menção de sair com o objeto. Gina tentou impedir, mas ele a jogou novamente na cama e saiu, trancando a porta por fora.
Ela tentou sair, mas não conseguiu.
-Rainbow! – ela gritava, chorando, mas sem sucesso algum.
Gina se sentou no chão, encostada à porta, e pôs-se a chorar.
N/A: E aí, galera, beleza? Espero que tenham gostado do capítulo. Eu demorei muito para fazê-lo devido a um bloqueio e a falta de tempo. Eu particularmente achei q ficou uma caca, mas são vocês que sabem.
Eu gostaria de agradecer a todos que tem acompanhado Anjo Mau e tem mandado reviews, e breve teremos mais capítulos.
Abraços do ACL.
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