Da Fuga pelo Telhado ou do Jar

Da Fuga pelo Telhado ou do Jar



Já haviam se passado nove dias desde que Gina entrou na Mansão Malfoy. Agora já não sofria tanto. Acordava, fazia suas tarefas, lia um pouco e depois ia dormir. Começara a se acostumar com a rotina. Nunca tinha fugido de trabalho, até gostava. Começava a se sentir relaxada. Primeiro que, por mais que odiasse admitir, a mansão era um lugar muito agradável. Também não passava fome, nem sede, nem frio, o quarto era decente, e não precisava aturar os Malfoy, já que eles evitavam a criadagem. Não tinha do que se queixar. O único problema era a falta da família, mas a cada dia que passava, mas fácil era de agüentar.



Nos domingos, como hoje, Gina tinha o dia todo de folga. Já havia sem levantado e se trajado com um vestido simples que acabava nos joelhos e sandálias sem salto e estava no corredor dos quartos do casal de bruxos e de Draco. Ao chegar no corredor estranhou, pois pensava que naquela parte da mansão ficavam os quartos de hóspedes devido ao tamanho das varandas.



Lúcio havia saído logo cedo, como de costume. Narcisa, no jardim, tomava uma xícara de alguma coisa, que a ruiva imaginou ser chá. Draco nadava no lago artificial, aliás, ela percebera que ele fazia isso todos os dias. Observava tudo pela janela do corredor. Pelo vidro levemente aberto sentia o vento frio do inverno que começava a se intensificar. Era a oportunidade perfeita, e não deixaria passar. Rainbow devia estar em algum lugar no quarto de Lúcio, e ela estava disposta a recuperar a sua coruja.



O corredor era o mais escuro e sombrio da casa. Somente havia um tapete vermelho no chão e alguns poucos quadros nas paredes, nos espaços entre uma janela e outra. Não havia quarto de hóspedes, apenas dois quarto de portas duplas, dispostos um na frente do outro, deixando Gina em dúvida sobre qual quarto seria o de Lúcio. Decidiu abrir a porta da esquerda, e ao ver o quarto percebeu que não havia se enganado. O enorme aposento possuía uma cama de casal. Além disso, parecia ser grande demais para apenas uma pessoa. Era dividido em duas partes. A primeira era constituída pela cama de madeira escura, pela janela de cortinas verdes com detalhes amarelos e por armário feito pelo mesmo tipo de madeira da cama. A segunda parte era composta por um canapé, um tapete azul-esverdeado em formato de círculo, uma estante com alguns livros, uma lareira na parede e a porta que dava para o banheiro do quarto. Gina passou pouco tempo olhando o quarto e começou a vasculhá-lo por todos os cantos possíveis: embaixo da cama, atrás da estante (poderia haver algum buraco), dentro do banheiro... Estranhou o fato de não ouvir o piado do animal, mas imaginou que ela poderia ter sido calada por algum feitiço. Depois olhou dentro do armário, e o que lhe chamou a atenção foi que não havia roupas femininas, apenas masculinas. Depois viu que nas gavetas dentro do armário haviam cartas assinadas por uma mulher chamada Rubi.



-Oh, não. Entrei no quarto errado - disse se dando conta, finalmente.



Neste momento ouviu passos vindos do corredor. Sabia que era ele que vinha. Olhou desesperada pelo quarto, procurando um lugar para se esconder, até que olhou para a cama, e se jogou no chão, engatinhado para debaixo dela, e se posicionou no centro, fora do alcance da vista de quem se entra no quarto. Exatamente depois de escondida a porta se abre e Malfoy entra, molhando o chão.



Vendo as pernas do loiro perto da cama Gina se encolheu. De repente cai no chão um calção de banho, e ela vê Malfoy caminhar até o banheiro, fechando os olhos para não ver... Certas coisas. Quando ouviu a porta do banheiro se fechar ela abriu os olhos e viu que ele já havia entrado para o banho, então ela saiu rapidamente debaixo da cama e, desesperada, correu na direção da porta, mas ao tentar abri-la viu que est6a estava trancada.



-Droga – disse ficando cada vez mais apavorada.



Ficou olhando de um lado para o outro, tentando arranjar uma maneira de sair do quarto antes de ser vista por Malfoy, quando olhou para a janela de vidro cerrada. Foi até ela, abriu as cortinas e o vidro, e olhou para baixo. Estava no segundo andar. Pular era praticamente impossível. Se tentar se espatifaria no chão. A sorte é que o salão de bailes do jardim ficava bem abaixo do quarto de Draco, e poderia sair pela janela e descer pelo telhado do salão sem dificuldades, entrando de novo pela entrada da biblioteca.



Antes de sair do quarto verificou se Narcisa ainda estava no jardim, e ao ver que não ela sentou na borda na janela, botou as pernas para fora e segurou nas bordas para pular, até sentir os pés no telhado. Já encima do salão se sentou e tirou as sandálias e jogou, para apanhá-las quando chegasse ao chão. Como o telhado era muito inclinado achou melhor descer de pouco em pouco, escorregando deitada por ele. Deitou-se, de barriga para baixo e foi descendo devagar, se agarrando nas telhas para que não caísse. Amaldiçoou o vestido por ser tão curto a ponto da roupa íntima ficar no alcance da vista de quem passasse. “Que situação”, pensou. Já estava na metade do caminho do final do telhado, quando o vestido prendeu num pedaço de telha virado para cima. “Porcaria de vestido”, pensou no momento. Desenroscou o vestido com muita dificuldade e voltou a descer. Estava à beira de um ataque de nervos, com medo de que alguém chegasse a qualquer momento. Depois de mais algum tempo de equilíbrio e cuidado escorregou um pouco, ao que o pé não encontrou mais telha, mas se segurou e cuidadosamente se suspendeu na borda do telhado e se soltou, caindo na grama. Já no jardim, correu para apanhar as sandálias, colocou-as e entrou na biblioteca, indo para o quarto em seguida.







~*~





Draco saiu do banho enrolado em uma toalha. Foi até o armário, e chegando lá sentiu um vento frio repentino, e olhou para a janela, que estava aberta.



-Estranho. Eu podia jurar que deixei esta janela fechada – disse indo até ela.



Olhou para baixo procurando por algo que nem mesmo ela sabia o que era, e depois fechou o vidro, e voltando ao armário retirou um suéter e uma calça, roupas de frio, devido ao inverno que de repente se intensificara. Vestiu-se e saiu do quarto, mas continuou a se perguntar como a janela havia se aberto, mas deixou a questão para lá. Tinha coisas mais importantes em que pensar.







~*~









Gina ficou olhando para fora, encostada na janela. Ainda se recuperava de tudo que tinha passado. O medo de ser descoberta, de cair do telhado e da decepção de não pegar sua coruja de volta. Era muito burra. Primeiro porque, depois de refletir, Lúcio jamais esconderia sua coruja num lugar tão óbvio quanto seu quarto, depois, por achar que aquele era o quarto de Lúcio só por ter uma cama de casal. Deveria imaginar que o quarto de Draco era tão grande quanto o do pai, e que, com certeza não teria uma cama de solteiro.



A noite começava a cair, e com ela uma chuva fina, que com o decorrer do tempo foi se intensificando. A chuva trazia muitas lembranças a Gina. Recordava-se que quando pequena costumava sair com seu pai e brincar na chuva. Dançavam, pulavam em poças, rolavam na grama molhada. Enfim, todo tipo de estripulia. Logo, seus irmãos vinham e se juntavam à bagunça, livres e felizes. Só sua mãe, que ficava séria, chamando todos de volta para dentro de casa antes que pegassem um resfriado, mas logo era arrastada por todos para fora. Guiada por essas lembranças, ela saiu do quarto e foi até o jardim. Chegando lá, olhou para o céu noturno e deixou as gotas de chuva rolarem sobre sua alva tez, e se imaginou ainda menina, no jardim de sua casa, acompanhada por seu pai e seus irmãos, dançando de mãos dadas, rodando e rodando cada vez mais rápido, com os pés descalços. Ela ria e se divertia outra vez na companhia de sua família. Caminhava pelo jardim, livre. Atravessou a ponte e foi até o outro lado do lago, se recordando de tudo, até perceber que tudo não passava de sonho, voltando à sua realidade. Encharcada, sentou-se no banco de relva, parte da realidade que lhe era submetida.







~*~







Draco levantou-se de sua poltrona na biblioteca, depositando o livro sobre a arte de poções de transfiguração em cima da mesinha que estava perto dele, e foi olhar o jardim traseiro da mansão pela janela de vidro, molhada pela água da chuva que caía sob o sereno céu daquela noite.



Somente havia uma luz acesa; a da luminária próxima ao lago artificial. Ao lado, o banco verde de relva era ocupado por uma bela garota ruiva, que tinha as roupas encharcadas e a face molhada por gotas de chuva, que rolavam por seus olhos até chegar a seus lábios rosados.



Ele foi à direção da porta de vidro que dava para o jardim onde ela estava. A abriu deixando alguns pingos caírem dentro do aposento. Em seguida fechou-a e sentiu o ar frio dar tocar-lhe o corpo por entre as roupas, junto com algumas gotas de água. Caminhou no caminho de pedras que dava para a pequena ponte talhada com desenhos de pequenas serpentes pintadas em verde. Atravessou-a chegando no outro lado do lago. Dirigiu-se ao banco de relva molhada, e com súbito aparecimento tentou travar conversa com Gina.



-Ora, ora, se não é a criadagem - falou em tom de deboche com os braços cruzados na altura no peito –O que houve, Weasley? Decidiu tirar um descanso de suas tarefas domésticas? Que eu saiba seu expediente só acaba à meia noite.



Gina o olhou com perceptível desprezo nos seus traços faciais.



-Não venha me encher, Malfoy.



-Ops... O que eu ouvi? Será que foi um “Malfoy”?- ele perguntou com um sorriso irônico.



-Por acaso seu nome não é esse?



-Seria, se você não fosse minha criada. Então, devido a isso, deduzo que deve me chamar de Sr. Malfoy. Percebeu o “senhor” no tratamento?



-Teria usado o “senhor” no tratamento se não houvesse na minha frente apenas uma criancinha mimada.



-Oh, oh, oh. Você é astuta, não? Até demais para meu gosto.



-Ótimo. Não tive mesmo a intenção de me comportar a seu gosto - disse se levantando para poder encará-lo.



-Então... - ele começou –Gostando daqui? Em comparação a sua... Hmm “casa”, você deve se sentir em um hotel cinco estrelas, não?



De um súbito movimento Gina avançou para Draco, pondo seu dedo indicador de frente para seus olhos.



-Nunca mais fale de minha casa. Se puder, nem fale comigo.



Ela tentou sair daquele lugar, porém Draco foi mais rápido e se pôs em sua frente para que ela não pudesse fugir dele.



-O que foi, Gina? Isso é medo?



-Medo? E por que eu teria medo de você, Malfoy?



-Não de mim, mas do que pode fazer quando está perto de mim.



-Do que você está falando?



-Não tente se enganar. O pior mentiroso é aquele que mente para si.



-Você é mesmo muito confiante. Eu nunca pensaria em ter nada com você.



-Eu não disse isso, mas se você fala quem sou eu para discutir?



Gina afastou o cabelo, que a chuva fazia questão de molhar, de seu rosto.



-Malfoy, eu tenho algo traumatizante para lhe contar. O mundo não gira ao seu redor. Se for agir como se fosse Narciso faça isso sozinho. Aproveita e se afoga no lago como ele.



Ela, pela segunda vez, tentou se retirar, porém ele puxou o seu braço e a trouxe de volta a sua frente.



-Eu acho que não.



Draco agarrou os braços de Gina para que ela não pudesse escapar, e aproximou o seu rosto ao dela, roçando-lhe o nariz gelado e depois os lábios, num ritmo que depois virou um beijo caloroso e ardente que fez desaparecer a pequena névoa que sua respiração emitia devido ao frio da noite e da chuva.



Ele fechou os olhos, ao sentir os pequenos lábios ruivos devorar-lhe a alma, e o beijo que de início era “caliente” e erótico virou um beijo romântico e cândido. Com uma mão ele ia acariciando a sua nuca e com a outra ele segurava a mão da ruivinha.



Ele jamais havia beijado uma garota daquele jeito, tão desinteressado, sem segundas intenções. Tudo que queria agora era ter aquele ser angelical perto de si, para poder lhe proteger e acariciar. Estava tomado pelo vício que era sentir os seus lábios. Tinha um gosto doce de mel ou de licor. Sua pele era como a de uma criança que acabava de sair do ventre da mãe. Seu perfume era indescritível. Tinha um aroma natural de sândalo que emanava de seus poros, direto para o nariz do mais próximo, capaz de atrair abelhas, mas de deixá-las intimidadas de furar uma pele tão delicada, e passavam apenas a sentir esse odor suave.



Como uma Weasley poderia ter o corpo de anjo, capaz de o fazer delirar de prazer como nenhuma mulher fazia? Como podia, uma Weasley faze-lo querer passar a mão por madeixas ruivas e não querer largá-las? Essas perguntas rondavam a sua cabeça a cada movimento doce e sublime de seus lábios nos dele. Sabia que não podia estar fazendo aquilo, mas não queria parar, e deixar para trás o maior momento de prazer e êxtase de sua alma durante toda a sua medíocre vida. Queria ficar ali com ela durante toda a noite, sentindo o prazer doentio que seu corpo lhe causava através de um simples beijo. Queria sentir por toda a vida o corpo molhado daquela ruiva no seu. Queria, mas não podia.



Depois do que para ele pareceram horas, Gina finalmente se separou dele, ainda olhando em seus olhos cinzentos, mas que agora pareciam ganhar um tom azulado.



Recuperando a consciência, Draco abriu os olhos, e num impulso disse:



-Você não sabe mentir...



Ao ouvir aquilo, Gina saiu correndo com os olhos molhados de lágrimas, e entrou na mansão, em direção ao seu quarto, e não pôde ouvir o quando ele falou:



-E eu gosto disso.





N/A: Oi pessoal! Desculpem a demora, mas a falta de tempo e de inspiração me impediu de escrever, mas estou novamente à ativa, e aqui está o 1º beijo do casal. Espero que tenham gostado do capítulo e continuem lendo a fic!



Abraços do ACL.

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