Capitulo XIX



Gina Weasley nunca fugira de um problema em toda a vida, e não estava disposta a começar a fazer isso agora. Encilhou sua montaria, depois cavalgou pela pradaria para limpar a mente antes de enfrentar com objetividade o problema que tinha diante de si.
A cancela automática portátil estava no lugar, instalada no meio da reta do circuito oval. O ar soprava suave e frio. A coloração das folhas das árvores começava a mudar, sinal de mudança de tempo. Harry imaginava que aquilo iria acontecer em uma ou no máximo duas semanas, mas no momento estava totalmente concentrado nos cavalos.
Trabalhava com grupos de cinco, usando dois potros e três corredores experimentados em cada bateria. Aquela última fase de treinamento iria expor os novos animais a uma corrida real, dando a ele chance de observar as reações de cada um em uma simulação no circuito oval.
Precisava analisar o estilo de cada um, descobrir quais eram suas preferências, seus tiques, seus limites. Os novos animais eram apenas apostas... muito bem tratadas e instruídas, claro, mas apostas mesmo assim, pelo menos até terem um sólido currículo de vitórias em seu registro.
Harry, porém, era muito bom quando se tratava de apostar.
- Quero Tempestade na primeira raia nessa bateria. - Ele acendeu um cigarro, pois isso o ajudava a pensar. - E também The Brooder, Betty, Caramel e Giant correndo por fora.
Ao ouvir o som das patas de um cavalo se aproximando num trote, ele se virou. Gina contornava o circuito oval pelo lado de fora. Irritado, desviou o olhar e tentou fechar a porta da área incrivelmente grande que aquela mulher insistia em ocupar em sua mente.
- Não quero ver ninguém usando chicote - ele ordenou, dirigindo-se aos jovens jóqueis.
- Nem nenhum animal sendo punido. Meus cavalos não precisam de violência para correr.
A despeito da concentração no trabalho, Harry percebeu quando Gina desmontou logo atrás dele. Olhou para o cronômetro que segurava, zerou-o e girou-o várias vezes na mão enquanto os cavalos eram colocados na linha de partida.
- Não conheço aquele garanhão na primeira raia
- Gina disse num tom casual, amarrando as rédeas de Sam num dos mourões da cerca.
- Seu pai o batizou de "Tempestade num copo d'água", pois é um animal pequeno mas cheio de espírito. Você não costuma cavalgar por aqui tão cedo.
- Não, mas eu queria ver os progressos de nossa nova geração de campeões. Além disso, minha nova assistente está cuidando da papelada no escritório.
Interessado, Harry virou-se para encará-la. Gina não usava os cabelos presos nessa manhã. Os cachos ruivos caíam-lhe em uma cascata selvagem sobre os ombros, mas no rosto havia uma expressão fria e séria.
- Assistente? Quando foi que isso aconteceu?
- Ontem. Minha mãe está trabalhando comigo na escola, agora. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, eu não insisto em cuidar de todos os detalhes sozinha, quando me oferecem ajuda.
- Ainda está sentida, não é?
- Aparentemente.
- Bem, você vai ter que discutir comigo mais tarde. Estou ocupado. Jim! Segure-o firme agora! – Harry gritou quando Tempestade rebelou-se dentro do box. - Aquele lá é um verdadeiro rebelde. Isso, assim é que se faz - ele murmurou quando todos os cavalos estavam posicionados e com as portinholas dos boxes fechadas. Manteve o dedo no cronômetro, disparando-o no instante em que as portinholas se abriram em sincronia.
Os animais pareciam voar.
A largada era o momento da corrida que provocava a maior emoção em Harry. Aquele primeiro arremesso dos corpos espetaculares dos cavalos em velocidade, dominando a pista até a primeira curva.
Era o momento em que as corridas curtas se definiam, no qual era possível analisar o empenho e o talento de cada animal com maior precisão, antes que a nuvem de poeira levantada pelas patas em tropel impedisse a visão do observador.
- Betty quer a liderança desde o começo - ele murmurou. - Quer fazer os outros comerem poeira.
Hipnotizada, Gina apoiou-.se na cerca quando os cavalos faziam a primeira curva. O trovejar das patas sempre fazia seu coração disparar.
- Ela corre bem no meio dos outros. Você estava certo sobre isso. Tempestade me parece um pouco nervoso.
- Devemos tentar uma tática diferente com ele. Ele quer sempre ficar por fora. É um garanhão forte, resistente. Quanto mais longo for o percurso, melhor se sairá. Não foi feito para corridas curtas. Mas veja Betty... ela quer ficar colada na cerca. É precisa como um raio, passa a centímetros do limite da curva!
Sem pensar, ele colocou a mão sobre a de Gina na cerca.
- Olhe para ela, está vendo? É uma campeã. Não precisa de nenhum de nós. E ela sabe disso.
Sentindo a mão firme e quente de Harry sobre a sua, Gina assistiu à parelha aparecer na última curva, vinda da reta oposta, com Betty liderando com quase um corpo de vantagem. Prazer e orgulho misturavam-se em sua mente.
Quando Harry soltou um grito entusiasmado, apertando o botão do cronômetro na chegada, ela quis se virar para abraçá-lo, reagindo a um impulso irresistível. Mas ele já estava se afastando.
- É um ótimo tempo, um tempo danado de bom. E ela pode fazer ainda melhor. - Harry murmurou, agarrando acerca com as duas mãos e mantendo os olhos fixos na pista enquanto os jóqueis se erguiam nas selas e diminuíam a velocidade de suas montarias. - Vou encontrar a corrida certa para ela, fazê-la sentir o gostinho de uma disputa real.
Depois de dar um tapinha amistoso no ombro de Gina, ele saltou a cerca sem dificuldade.
Ela o observou caminhar até os cavalos, parar, cumprimentar Tempestade e trocar algumas palavras com o jóquei do garanhão antes de ir até onde Betty se encontrava.
A égua recebeu-o como uma adolescente apaixonada, flertando com Harry e abaixando a cabeça devagar para tocar no ombro dele.
Harry estava errado, Gina concluiu. Por mais talentosa e brilhante que fosse, Betty precisava dele.
"E eu também preciso, droga”, pensou.
Depois de comemorar, cumprimentar a todos, acariciar os animais um a um e mandá-los de volta ao estábulo para serem refrescados, Harry pulou acerca outra vez e apanhou sua prancheta de anotações.
- Esperava que seu pai estivesse aqui para vê-la correr numa pista pela primeira vez.
- Tenho certeza de que ele gostaria de ver isso. Deve estar ocupado com alguma outra coisa.
Respondendo com um grunhido, ele continuou fazendo anotações.
- Bem, vou colocar outros novatos para correr pelo resto da manhã, então ele ainda vai poder ver muita coisa. Como está seu novo cavalo?
- Confortável. A febre baixou bastante. Mas vou esperar até depois de minha aula para fazer a lavagem estomacal nele. É uma coisa complicada, e não quero ter uma dúzia de crianças presentes para me atrapalhar quando estiver trabalhando.
- De fato, convém esperar até o final da tarde para fazer isso. Melhor darmos um intervalo de 24 horas entre sua última refeição e a lavagem. Posso fazer isso para você, se estiver muito ocupada.
A recusa automática estava na ponta da língua de Gina. Mas ela conseguiu se conter, literalmente mordendo a própria língua, como para puni-la.
- Na verdade, eu tinha esperança que você encontrasse algum tempo livre para dar uma olhada nele mais tarde.
- Farei isso. - Harry encarou-a com ar preocupado, nitidamente incomodado com a seriedade em seu rosto.
- O que foi? Está preocupada com ele, não é?
- Não. - Gina respirou fundo, ordenando a si mesma para relaxar. - Tenho certeza de que tudo vai dar certo. - Sim, tudo ia dar certo, de uma maneira ou de outra. - Mas vou me sentir melhor quando nosso amigão estiver correndo saudável e feliz pelo pasto dentro de alguns dias.

Gina considerou o assunto. Sentia-se melhor quando conseguia ser mais racional e definir objetivos. E aquele, afinal, não era tão complicado assim. Desejava Harry. E tinha quase certeza de que estava apaixonada por ele. Precisava de um pouco mais de tempo para ter certeza absoluta, tinha que pensar no assunto friamente.
Afinal de contas, aquele era um território novo, e, para movimentar-se nele, eram necessárias altas doses de cautela e preparação.
Mas ao menos uma coisa era certa: o que sentia por Harry era algo muito forte, não apenas uma simples atração física.
Se era amor, precisava fazê-lo se apaixonar também. E era perfeitamente capaz de fazer concessões, se conseguisse o que queria no final.
Agradavelmente cansada depois de um longo dia de trabalho, Gina distribuiu a. ração noturna para os animais. Não tinha mais nenhuma dúvida sobre outra questão. Contar com a ajuda da mãe havia tirado um pesado fardo de seus ombros.
Seria mesmo teimosia o impulso que a fazia sempre recusar a oferta de ajuda de uma mão amiga? Achava que não. Mas era algo em que devia pensar. Queria que as pessoas que amava, e que a amavam, tivessem orgulho dela. E, por mais tolo que isso fosse, era esse o motivo que afazia ceder ao impulso de tentar ser perfeita.
Entretanto, preferia pensar nisso como assumir responsabilidades.
Justamente como estava agindo em relação a Harry agora, concluiu. Se estava apaixonada por ele, tinha que assumir a responsabilidade sobre os próprios sentimentos, E também era responsabilidade dela gerar nele o mesmo tipo de sentimento.
Se falhasse... Não, nem iria considerar essa possibilidade. Aceitar a chance de um fracasso era dar um passo para longe do sucesso.
Depois de entrar na baia do cavalo doente, Gina checou a quantidade de ração que havia na bolsa de feno.
- Está melhor, não é? - Agachou-se e checou o ferimento do joelho. Quando ouviu passos fortes soando no piso de concreto do pátio, sorriu para si mesma.
- Você o está alimentando? - Harry entrou na baia com ar jovial. - Desculpe, não pude aparecer mais cedo.
- Tudo bem. Ele agüentou a lavagem sem reclamar. É um garotão corajoso. E pode acreditar no que digo: a lavagem funcionou. - Ela se levantou sorrindo. - Pode-se notar isso pelo jeito como está comendo. Ele está se sentindo muito melhor.
- Sabe que tirou a sorte grande. - Harry examinou o ferimento rapidamente, fazendo um gesto afirmativo com a cabeça. - Tivemos um garanhão com tendinite, o que me segurou por mais tempo do que eu previa.
- São criaturas delicadas, não? - Gina passou a mão com carinho pelo flanco do cavalo. - Incrível. O tamanho deles, a velocidade e a força. Tudo isso emana poder. Mas por trás dessa aparência, a delicadeza. Podemos ser enganados quando olhamos para algo, julgando sem conhecer o que está por trás das aparências.
- É a mais pura verdade.
- Eu não sou delicada, Harry. Tenho justamente o problema oposto. Por trás da minha aparência, sou feita de aço.
Ele a encarou.
- Sei que você é forte, Gina. E, mesmo assim, parece uma rosa. - Gentilmente, ele acariciou-a no rosto com a ponta dos dedos. - Tenho mãos grandes e calejadas, por isso preciso tomar cuidado. Mas não significa que ache você fraca.
- Tudo bem.
Virando a cabeça, ele indicou o cavalo com um gesto.
- Já deu um nome a ele?
- Para dizer a verdade, dei. Nós tínhamos um cachorro em casa quando eu era pequena. Minha mãe o achou, era um cão perdido que apareceu no jardim em busca de comida. Ela o alimentou, ganhando sua confiança, e antes que meu pai percebesse, ganhamos um animal de estimação. O nome dele era Finnegan. - Ela encostou o rosto no pescoço do cavalo. - E agora é o nome deste bonitão.
- Você é bem sentimental, por baixo da camada de aço, Gina.
- Sim, eu sou. E uma romântica latente também.
- Isso é verdade? - Harry murmurou, um pouco surpreso quando ela o acariciou no peito com ambas as mãos.
- Aparentemente, sim. Não lhe agradeci por haver corrido para me salvar ontem à noite.
- Não me lembro de haver corrido. - Os lábios dele curvaram-se num sorriso quando Gina o puxou para fora da baia.
- É só uma maneira de dizer. Você ficou ofendido e defendeu minha honra. Eu estava tão preocupada com Finnegan que mal percebi o que se passava à minha volta. Mas percebi mais tarde, e quero lhe agradecer.
- Bem, aquilo não foi nada.
- Ainda não terminei meu agradecimento. – Ela ergueu a cabeça e lhe mordiscou de leve o lábio inferior. O gesto sensual fez o coração de Harry bater mais forte.
- Se é o que estou imaginando, pode acabar de me agradecer lá no meu quarto.
- Por que não posso simplesmente mostrar o que tenho em mente... aqui mesmo?
Antes que Harry percebesse, Gina o empurrou vagarosamente para o fundo da baia, ao mesmo tempo desabotoando-lhe a camisa.
- Aqui? - Ele riu, segurando as mãos dela com preocupação. - Acho que não é uma boa idéia.
- Aqui. - Gina reagiu, libertando as mãos e encurralando-o contra a parede. - Tenho certeza de que é uma idéia excelente.
- Não seja ridícula. - A essa altura a excitação impedia-o de respirar direito. - Pode aparecer alguém a qualquer momento.
- Viva perigosamente... não é o que dizem? - Ela fechou a porta do estábulo com um chute.
- É o que faço todo dia, desde que coloquei os olhos em você.
A voz de Gina tornou-se mais rouca.
-Por que parar agora? Seduza-me, Harry, eu o desafio.
- Sempre achei difícil resistir a um desafio. - Ele tirou uma mecha de cabelo da frente dos olhos de Gina. - Você confunde meus sentidos, princesa, como perfume. Antes que eu me dê conta, não há nada na minha mente além de você. - Colocando a mão atrás do pescoço dela, Harry puxou-a contra si. - Nada mais importa.
Os lábios dele cobriram os de Gina, suave e delicadamente, num beijo quente o bastante para derreter toda a neve do Everest. Gina tinha pedido para ser seduzida, mas não sabia que tal pedido era desnecessário.
- Eu quero você, Harry. Acordo querendo. Me beije de novo.
E a forma como seu corpo se fundiu no dele, sem falar naqueles lábios carnudos abrindo-se convidativos, fez todo o corpo de Harry vibrar como acorda de um violino.
- Não quero ser gentil desta vez. - Ele reverteu a posição em que estavam, prendendo-a contra a parede, segura pelos pulsos. Seus olhos brilhavam na penumbra como os de um predador diante da caça. – Não quero ser cauteloso, só desta vez.
As palavras provocaram uma reação imediata. Os joelhos de Gina falsearam.
- Então não seja. Não sou frágil como seus cavalos, Harry. Não se engane.
- Vou deixá-la com medo. - Harry podia ter dito aquilo como uma advertência, mas o tom era de desafio.
- Tente.
Ele abriu a camisa de Gina com violência, fazendo os botões voarem por todos os lados. Observou o olhar chocado dela por um instante e beijou-a com furor, tirando-lhe a respiração. Então suas mãos começaram a acariciá-la com força, mãos calejadas sobre a pele fina e sensível. Parte dele esperava que Gina protestasse, tentasse fugir, mas ela limitou-se a gemer, saboreando cada beijo com avidez.
Quando os joelhos de Gina finalmente entraram em colapso, segurou-a nos braços e a carregou até o monte de feno.
Tinha mostrado a ela o lado amoroso e sensível do sexo, mas agora queria revelar a essência mais animal do desejo humano. Como para corroborar aquilo, os animais nas baias começaram a bufar, criando uma atmosfera ainda mais selvagem.
Em segundos os dois estavam nus. Gina gemia baixinho, arqueando o corpo e puxando-o para si ao mesmo tempo em que o enlaçava pela cintura com as pernas longas e bem torneadas. A penetração foi rápida e lancinante, reduzindo a razão dela a uma lembrança distante e fria.
- Sou eu quem a está possuindo. - Selvagem até a medula, Harry movia-se com vigor entre as pernas de Gina. - Sou eu quem está dentro de você.
Ela ouviu um grito agudo sair sem controle dos próprios lábios. Gina se sentia poderosa, feminina, como jamais imaginara ser possível. Entorpecida, como se tivesse experimentado o néctar dos deuses e não se importasse em ficar embriagada com ele.
Seus lábios procuraram os de Harry, rápidos e sedentos. E ela o segurou, prendendo-o com as pernas e deixando o próprio corpo obedecer ao ritmo da luxúria até sentir o corpo de Harry desabar inerte, satisfeito, quente, sobre si.
- Sou... eu - Gina balbuciou então, contendo um suspiro - quem possui você. - E ainda segurando-o com força, deixou-se fundir a ele de corpo e alma.


Continua [...]

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