Capitulo XVI
- Harry...
De imediato, ele ergueu o corpo, nitidamente preocupado.
- Estou machucando você? - murmurou, ansioso. - Você está bem?
- Sinto-me fabulosa, obrigada. - Rindo, ela sentou-se. Em seguida, tomou o rosto dele nas mãos e retribuiu o beijo. - E você, está bem? - indagou, imitando o tom de voz de Harry de forma bem-humorada.
- Claro que sim, mas tenho um pouco mais de prática, você sabe.
- Aposto que sim. Mas não vamos falar sobre as suas conquistas do passado. Eu odiaria ser forçada a lhe dar um soco no nariz quando me sinto tão amistosa.
- Eu não as chamaria de conquistas, para ser franco. Mas vamos deixar isso de lado.
- Sábia decisão.
- Deixe-me fechar as janelas. Sua pele está arrepiada por causa do frio.
- Você tem um robe?
- Não - ele murmurou, destravando as folhas da janela para fechá-la.
- Deixe para lá. - Gina notou que uma das camisas de trabalho de Harry estava jogada sobre uma cadeira próxima à cama. Pegou-a e, embora tivesse cheiro de cavalo, vestiu-a. - Eu diria que aquele chá está forte o bastante, embora já esteja frio. Quer assim mesmo?
Ela parecia... interessante vestindo aquela camisa, ele pensou. Interessante o suficiente para provocá-lo novamente.
- Quais são as minhas opções?
- Pelo meu planejamento, tomamos o chá, conversamos um pouco, e então você me seduz e vamos outra vez para a cama fazer amor antes que eu volte para casa.
- Seu plano até que não é ruim, mas acredito que possa ser melhorado.
- Oh, é mesmo? E o que você tem em mente?
- Simplesmente cortamos o chá e a conversa.
Gina passou a língua sobre o lábio superior... o gosto de Harry ainda se encontrava ali... e observou-o aproximar-se.
- Isso nos leva direto à sedução, certo?
- Esse é meu plano.
- Posso ser flexível.
O sorriso dele ampliou-se.
- Isso é muito, muito bom mesmo.
E, assim, os dois nem sequer se aproximaram do chá.
Quando Gina finalmente partiu, Harry ficou à porta vendo-a afastar-se na direção da casa principal pela trilha que passava bem no meio do jardim.
"Seu maldito idiota romântico", disse a si mesmo. Não pode mantê-la. Nunca conseguiu manter nada na vida que não pudesse ser colocado dentro de uma mochila na hora de partir .
Era uma infelicidade o fato de haver se apaixonado de verdade. Com certeza, acabaria sofrendo, sobretudo quando Gina se desse conta da situação real de ambos e o deixasse. Conseguiria superar, claro. Sentiu um aperto no coração, mas não era tolo o bastante para acreditar que aquilo fosse durar.
Então era melhor aproveitar o momento, concluiu, virando-se e fechando a porta quando Gina desapareceu envolta pela penumbra das folhagens do jardim.
Ao deitar-se na cama, sentiu o perfume dela no travesseiro. Pela primeira vez na semana dormiu profundamente e teve sonhos muito doces.
Gina sentia saudade de Harry. Era uma coisa muito estranha pegar-se pensando nele o dia todo, imaginando uma dezena de coisas que queria lhe dizer ou mostrar quando voltasse da viagem para Saratoga.
E não era a única pessoa que sentia a falta de Harry.
Durante a aula seguinte, Willy perguntou se o sr. Potter iria aparecer, para que pudesse mostrar o buraco de onde acabara de cair o dente. Ele também conquistara o coração daquele menino, e fizera isso bem rápido.
Não que ela não tivesse muito o que fazer para manter a mente ocupada. Nos dias anteriores tinha trabalhado duro, lutando contra a burocracia do serviço social, e conseguira ajeitar as contas da academia para abrir uma nova classe só para crianças carentes. E ainda desejava subsidiar mais três novos alunos.
Havia feito reuniões com a psicóloga, com a agente do serviço social, com os pais e as crianças. Preencher toda a papelada em tão pouco tempo fora um trabalho insano, Gina admitia. Mas, felizmente, tudo acabara dando certo.
Um tanto encabulada, estava naquele momento lendo a matéria publicada na Washingtonian Magazine. Sabia que a publicidade a ajudaria a conseguir mais alunos ricos para a academia, auxiliando-a a subsidiar um número cada vez maior de estudantes sem recursos. As fotografias tinham ficado muito bonitas, e o texto se apoiava basicamente na história dela, sua medalha olímpica e, sobretudo, sua posição social.
Nenhum problema quanto a isso, Gina concluiu, ainda mais porque a academia tinha sido mencionada numerosas vezes na matéria.
Ela olhou para o telefone e deixou escapar um suspiro quando o aparelho tocou. Os telefonemas não paravam desde a publicação da reportagem. Já estava passando da hora em que deveria dar um pouco de folga a si mesma, contratando uma pessoa para auxiliá-la.
Mas, por enquanto, a escola dependia inteiramente dela.
- Academia de Equitação Royal Meadows, bom dia. - Seu tom frio e profissional mudou completamente quando reconheceu a voz da prima Maureen.
Quinze minutos depois as duas estavam combinando de sair para jantar e ir às corridas naquela noite. Gina tinha dito não... ou pelo menos tentado dizer não cinco ou seis vezes. Mas ninguém conseguia demover Maureen com facilidade. Ela simplesmente não aceitava um não como resposta.
Gina estava olhando para a pilha de papéis diante de si quando o telefone tocou de novo.
"Faça apenas uma coisa de cada vez", ela advertiu-se. Só assim conseguiria dar conta de tudo.
Já estava na metade do trabalho quando Arthur apareceu.
Ele parou à porta, erguendo a mão direita.
- Espere, não me diga... Eu conheço você! O rosto é bem familiar. - Enquanto ele estreitava os olhos. Gina revirava os dela. - Tenho certeza de que já a vi antes em algum lugar. Tibet? Mazetlan? À mesa de um jantar um ou dois anos atrás?
- Não faz mais que uma semana, pai. - Ela levantou-se para beijá-lo no rosto quando ele se aproximou da escrivaninha. - Mas também senti a sua falta. Tenho estado bastante ocupada por aqui.
- Ouvi dizer. – Ele folheou a revista até a página onde se encontrava a matéria sobre a academia. -Linda moça. Aposto que os pais dela devem estar muito orgulhosos.
- Espero que sim. - O telefone tocou pela milésima vez, deixando-a exasperada. Gina passou os dedos nervosamente entre os cabelos. - Vou deixar a secretária eletrônica atender. Está tocando sem parar desde domingo. Metade dos pais que ligaram nem sequer perguntou aos filhos se eles realmente querem aprender a montar. - Ela foi até o pequeno refrigerador e apanhou duas latas de refrigerante. - Muito obrigada.
- Por quê? - Arthur aceitou prontamente a bebida oferecida.
- Por estar sempre por perto.
- Não há de quê. Ouvi dizer que vou acompanhar duas lindas jovens a um jantar hoje à noite.
- Maureen pegou você também?
Ele riu, ao mesmo tempo que abria a lata de refrigerante.
- Não temos um encontro com alguém da família há muito tempo - murmurou. - Por quê? Já não me ama mais?
- Ela sempre consegue convencer qualquer um. - Gina abaixou o olhar para a ponta das velhas botas que usava. - E então... teve notícias de Rony?
- Ontem a noite. Eles devem estar de volta ainda hoje, no final da tarde, eu acho.
- Que bom. - Aquilo a fez lembrar que Harry podia ter ligado para ela pelo menos uma vez. Mandado um telegrama, até um maldito sinal de fumaça teria servido...
- Imagino que Harry está ansioso para voltar para cá.
A cabeça dela ergueu-se sem querer.
- É mesmo?
- Betty está fazendo progressos... assim como a maioria dos animais jovens. Ela anda se saindo particularmente bem nos circuitos ovais. Já está pronta para que Harry trabalhe nela em tempo integral.
- Assisti a um dos treinamentos matinais dela na semana passada. Parece estar mais forte.
- Trabalhamos muito bem na Royal Meadows. - Havia algo melancólico no tom de voz de Arthur que fez Gina arquear as sobrancelhas.
- Qual é o problema?
- Nada. - Ele encolheu os ombros e levantou-se da cadeira onde se sentara momentos antes. Parecia um tanto nervoso. - Acho que estou ficando velho, só isso.
- Não seja ridículo.
- Ontem mesmo estava carregando você nos ombros... - ele murmurou. - A casa era sempre barulhenta. Passos subindo e descendo as escadas, portas batendo. Nem sei quantas vezes acabei pisando num daqueles malditos carrinhos de brinquedo que George vivia esquecendo pela casa toda. - Ele se virou e passou os dedos entre os cabelos grisalhos. -Sinto falta daquilo. Sinto falta de todos vocês.
- Pai... - Num gesto intuitivo, Gina contornou a mesa e foi abraçá-lo.
- Creio que é assim mesmo que as coisas funcionam... Três de vocês estão na faculdade, Rony viajava sem parar para cuidar dos negócios. É o que ele quer. E você, construindo sua própria academia. Mas... sinto falta da bagunça.
- Prometo que vou bater a porta na primeira chance que tiver.
- Isso pode ajudar.
- E um sentimental, Arthur Weasley. Acho que é por isso que eu o amo tanto.
- Sorte minha. - Ele apertou-a junto ao peito por um momento, até que o telefone voltou a tocar: - Na verdade, não passei por aqui por motivos sentimentais, mas para lhe dar um pequeno conselho sobre negócios. - Ao dizer isso, deu um passo para trás. - Você precisa de mais alguém por aqui.
- Estava pensando sobre isso. Verdade – Gina emendou ao notar que o pai franzia as sobrancelhas. - Logo que eu terminar com essa papelada, vou cuidar do assunto.
- Lembro-me de que a ouvi dizer a mesma coisa seis meses atrás.
- É que ainda não era a hora certa. Eu tinha tudo sob controle. - Enquanto falava, ela bufou de irritação porque o telefone recomeçou a tocar.
- Filha, ter ajuda não significa que você não vai estar no controle. A escola continuará sendo sua.
- Eu sei, mas... não é a mesma coisa.
- Estou aqui para lhe dizer que nada permanece igual para sempre. A fazenda não era assim quando a herdei, nem será igual quando eu a passar para você e seus irmãos. Trabalhei duro e coloquei minha marca nela, isso ninguém poderá mudar.
- Acho que não vai desistir, não é?
- Já provou do que é capaz, querida. Não precisa se matar para impressionar ninguém.
- Você tem razão, mas não é fácil encontrar a pessoa certa. Tem de ser alguém que seja ao mesmo tempo bom com crianças e cavalos, que entenda de equitação e ainda possa me ajudar com detalhes administrativos quando for necessário. Deve ser confiável, para que eu possa delegar responsabilidades. E diplomático com os pais, o que é aparte mais complicada.
Arthur sorveu um longo gole do refrigerante.
- Eu posso ajudá-la a encontrar essa pessoa.
- Oh... Escute, pai, eu aprecio a sua preocupação, mas o filho de um amigo ou mesmo de um parente... Esse tipo de coisa é delicada e em geral não funciona.
- Na verdade, estava pensando numa pessoa bem mais próxima. Sua mãe.
- Mamãe? - Soltando uma risada, Gina voltou a se sentar. - Ela não ia querer essa dor de cabeça mesmo que tivesse tempo para isso.
- Não custa fazer um esforço. - Arthur terminou de beber com satisfação. - Apenas mencione o assunto diante dela... casualmente, claro. Não direi uma palavra sequer sobre isso.
Continua [...]
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