Capitulo XV




"Realmente tenho um fraco por homens de sorriso terno e bom coração", Gina pensou. Abriu as portas do terraço em seu quarto e saiu para respirar o ar noturno. Lá fora, fazia frio, e o céu estava tão límpido que as estrelas pareciam brilhar mais do que o normal. Podia sentir o aroma das flores, dominado pelo perfume das últimas rosas da estação.
A brisa fazia as folhas das árvores sussurrarem.
A lua crescente era de um dourado pálido, espargindo uma luminosidade leitosa que emprestava uma aparência quase sobrenatural aos jardins logo abaixo e aos campos na linha do horizonte. Parecia que, se ela colocasse as mãos em concha, poderia armazenar aquela luminosidade entre os dedos e bebê-la como um vinho divino.
Como alguém podia dormir numa noite perfeita como aquela?
Virou-se lentamente e olhou na direção da casa da garagem, os aposentos de Harry. As luzes estavam acesas. Ela engoliu em seco.
Minutos antes tinha dito a si mesma que, se as luzes estivessem apagadas, iria entrar e tentar dormir de novo. Mas lá estavam elas, como um farol na escuridão prontas para guiá-la.
Fechou os olhos e sentiu um arrepio de antecipação e nervosismo. Preparara-se para dar aquele passo, enfrentar uma mudança radical na vida e no próprio corpo. Não se tratava de impulso, nem de imprudência. Mas Gina se sentia impulsiva e imprudente.
Era uma mulher adulta, e a decisão era toda sua.
Voltou ao quarto e fechou a porta.

Harry fechou o livro de registros do haras e esfrego os olhos cansados com as costas das mãos. Como Charlie, não costumava confiar no computador, mas estava procurando se adaptar à máquina. Três vezes por semana passava uma hora tentando usá-la, na esperança de poder gerar seus relatórios.
Diziam que o computador era ótimo para fazer gráficos, mas ele ainda olhava para ele com suspeita. Era eficiente e capaz de poupar tempo, a julgar pelo que haviam lhe dito. Bem, naquela noite estava cansado demais para passar uma hora tentando ser eficiente.
Não tivera uma noite de sono decente por toda a semana. O que não tinha nada a ver com o trabalho, Harry admitiu. E tudo a ver com a filha do chefe.
Era bom saber que logo precisaria viajar para Saratoga, concluiu ao empilhar a papelada sobre a escrivaninha e se levantar. Um pouco de distância era tudo do que precisava. Não gostava nem um pouco daquelas sensações incômodas e da preocupação que lhe apertava o coração.
Ele não era o tipo que se preocupasse por causa de uma mulher, pensou. Gostava delas, claro, e gostava quando elas se sentiam atraídas por ele, e então cada um ia para o seu lado sem arrependimentos.
Mudar de cidade sempre acabava sendo um bom plano.
Nova York, ele lembrou, estava a uma boa distância. Longe o bastante. Mas por aquela noite bastava acrescentar um pouco de uísque ao chá para acalmar os nervos. E com alguma sorte, se a bebida fizesse efeito, conseguiria colocar a cabeça no travesseiro e ter uma boa noite de sono.
Sem pensar mais nenhuma vez em Gina Weasley...
Quando ouviu abatida na porta, Harry praguejou em voz baixa. Seu primeiro pensamento foi a égua que estava com bronquite. Talvez um dos cavalariços tivesse vindo avisar que ela piorara. Ainda estava procurando as botas que acabara de descalçar, quando gritou:
-Pode entrar, a porta está aberta. É Lucy?
- Não, é Gina. - Com uma expressão tensa, ela ficou parada, recostada no batente da porta. - Mas se está esperando a tal Lucy, posso ir embora.
As botas caíram das mãos dele, estatelando-se no chão.
- Lucy é uma égua. -conseguiu dizer. - E ela não bate com freqüência na minha porta.
- Ah... aquela que está com bronquite. Pensei que já tinha melhorado.
- Está melhor. Consideravelmente. - Os cabelos de Gina estavam soltos. Por que fazia aquilo com ele? Harry cerrou os punhos com tanta força aponto de sentir dor nos nós dos dedos.
- Que bom. - Ela entrou e fechou a porta. Como se ainda não estivesse satisfeita, trancou-a. Ao notar a tensão na mandíbula de Harry, ficou incrivelmente satisfeita.
- Gina, foi um dia muito longo. Eu já estava prestes a...
- Tomar uma bebida - ela completou. Seus olhos desviaram-se por um momento para o bule de chá e a garrafa de uísque no balcão da cozinha. - Eu mesma não me incomodaria em tomar algo. - Dizendo isso, Gina caminhou resoluta até o armário com porta de vidro onde os copos eram guardados.
Estava usando um perfume diferente. Um aroma cheio de frescor, que só servia para atormentar Harry ainda mais. Ele tinha certeza de que fizera isso de propósito, com o intuito de lhe despertar a libido. E não podia negar que a estratégia havia dado certo.
- Eu não estava preparado para ter companhia...
- Não acho que pode me qualificar como companhia. - Com ar despreocupado, Gina serviu dois copos longos de uísque com chá. - E, certamente, não poderá, depois que nos tornarmos amantes.
A frase produziu nele o mesmo efeito de uma explosão atômica.
- Não somos amantes!
- Isso está prestes a mudar. - Depois de colocar os dois copos numa bandeja, ela se virou. - Gosta do seu chá com muito ou pouco uísque? Esqueci de perguntar.
- Gosto dele forte, mas posso me servir sozinho. Acho que você deve voltar para a sua casa agora.
- Também gosto forte. - Surpreendentemente, Gina pensou, não se sentia nervosa, apesar de tudo. - Que sorte, foi assim que eu preparei... Ah, e quanto a voltar para casa, creio que ainda é cedo.
- Não é assim que isso funciona. - Harry murmurou mais para si mesmo do que para ela. - É uma inconseqüência, uma loucura. Nunca imaginaria que era possível... Ei, apenas fique quieta e deixe-me pensar por um segundo.
Mas ela já estava ao lado de Harry, sorrindo, e depositou um dos copos sobre a escrivaninha.
- Se prefere me seduzir, tomar a iniciativa, vá em frente.
- Isso é exatamente o que não vou fazer. - Embora estivesse frio e as janelas do quarto se encontrassem abertas, Harry sentia a pele queimar. - Se eu soubesse que as coisas iriam tomar esse rumo, jamais teria começado isso.
Aqueles lábios, Gina pensou. Precisava sentir o gosto deles outra vez.
- Agora que ambos sabemos como são as coisas, tenho a intenção de ir até o fim. É a minha escolha.
O sangue dele parecia queimar nas veias. Era realmente doloroso.
- Você não sabe de nada. Esse é o verdadeiro problema.
- Tem medo só porque sou inexperiente?
- Pode ter certeza.
- Mas isso não o impede de me desejar. Coloque as mãos em mim, Harry. - Ela segurou-o pelo pulso, levando a mão dele até seus seios. - Quero sentir suas mãos em mim.
- Isso é um erro.
- Eu não penso assim. Toque-me.
A mão de Harry fechou-se sobre o seio perfeito. Gina era toda delicada, feminina, e por algum milagre momentâneo, era sua.
- Droga... Não importa se é ou não um erro - ele disse, desistindo completamente de resistir.
- Não vamos deixar que seja. - Ela fechou os olhos quando os dedos de Harry começaram a se mover.
- Não importa. Mas prometo que vou ser cuidadoso.
Os olhos de Gina estavam brilhando. Seus braços o envolveram e, logo depois, ela ergueu as mãos, acariciando os cabelos já desalinhados de Harry.
- Não cuidadoso demais, espero.
Quando ele se levantou da cadeira e a ergueu nos braços, Gina deixou escapar um suspiro de satisfação.
- Oh, eu esperava que fizesse isso... - Excitada, beijou-o com avidez na lateral do pescoço. – Realmente esperava que fizesse isso.
Harry mergulhou a cabeça nos cabelos dela, sentindo um perfume que lhe obscureceu os sentidos.
- Só você pode me dizer do que gosta.
Deixando a cabeça cair para trás, ela encarou-o com um olhar cheio de paixão.
- Mostre-me o que eu gosto.
Com o luar e a brisa fresca entrando pelas janelas abertas, ele colocou-a na cama. Na primeira vez que a beijara também era uma noite de luar, muito parecida com essa. Nunca esqueceu aquele momento, nem dela.
Poucos momentos em sua vida realmente importavam e haviam ficado em seu coração e em sua memória. Gina era um desses presentes divinos com que o céu às vezes premiava os pobres mortais. Harry tinha certeza de que seria inesquecível.
- Isso - ele murmurou, roçando os lábios nos dela até que estes se abrissem convidativos, cheios de expectativa.
Gina entregou-se, querendo ser tocada, experimentada... tomada. Mesmo sentindo a ânsia dela, Harry continuou agindo devagar, pacientemente, conduzindo-a em meio a um turbilhão de deliciosas sensações.
Ele a acariciou com dedos leves como o ar e explorou lugares cada vez mais secretos no corpo de Gina, apresentando-a a um universo de prazeres desconhecidos. Seus lábios viajaram sem pressa sobre sua pele sedosa, e então voltaram a encontrar os dela em uma série de beijos ardentes, incendiários.
Instintiva e avidamente, Gina arqueou o corpo contra o dele.
Harry estava murmurando palavras apaixonadas no velho idioma gaélico, e cada frase produzia nela o efeito de um beijo na própria alma. O coração de Gina flutuava. Pela primeira vez na vida, sentia as próprias asas e estava pronta para voar.
Não houve nervosismo, nenhuma dúvida, quando se entregou, enrodilhando o corpo ao redor do dele. E no momento em que Harry a despiu da blusa, com a brisa e os dedos dele tocando sua pele trêmula, sentiu-se linda.
Sua pele era sedosa, os cabelos ruivos brilhavam como fogo. Cada tremor era um presente, e cada suspiro, um tesouro. Em toda a vida, Harry jamais assistira a nenhuma cena tão adorável quanto Gina descobrindo a si mesma. E ele, por sua vez, nunca imaginara o grau de excitação provocado pelo simples pensamento de ser o primeiro amante de uma mulher tão maravilhosa.
Tantas sensações, fantásticas e desconhecidas, era nisso que ela pensava. Seu corpo era dominado por forças inexplicáveis. Podia ouvir os próprios gemidos, a respiração entrecortada, mas não conseguia controlar nada. Perder o controle de si mesma era realmente avassalador.
- Entregue-se a mim - Harry sussurrou, à beiral do abismo emocional ao notar os olhos de Gina fixos nos seus. - Seja minha.
Sem desviar o olhar, ela enlaçou-o num abraço e puxou-o para mais perto. :
Era como ficar suspensa no ar, cada movimento um novo bater de asas. O prazer levando-a a alturas cada, vez maiores, obscurecendo-lhe a mente por inteiro. Tudo o que conseguia ver eram os olhos dele, verdes e brilhantes, fixos nos seus. O corpo de Harry estava em completa sintonia com o de Gina.
Enlevada pela beleza do momento, ela ergueu a mão para acariciá-lo no rosto e murmurou seu nome.
E então Harry ficou totalmente perdido. Amor e paixão, sonhos e desejo debatiam-se em seu coração. Indefeso, deixou o rosto mergulhar mais uma vez nos cabelos de fogo e entregou-se também.

Com os olhos fechados, Gina absorveu as delícias de ser uma mulher bem-amada. Seu corpo era dominado por uma sensação gloriosa, sua mente ainda estava entorpecida. Não havia nenhum motivo para se preocupar em saber se tinha proporcionado o mesmo prazer para Harry. Vira no rosto dele e sentido o coração disparado quando repousara a cabeça contra o peito másculo, depois de fazerem amor.
Havia uma mudança interna nela. Uma nova consciência. E uma inequívoca sensação de triunfo.
Sorrindo para si mesma, acariciou-o nas costas com o dedo indicador.
- Como estão as costelas?
- O quê?
Não era maravilhoso vê-lo exausto, falando com um fio de voz, como nesse instante?
- Suas costelas. Ainda há um hematoma horrível aqui.
- Não consigo sentir nada. - A cabeça dele ainda rodava. - Que perfume é esse que você está usando?
Foi um golpe baixo...
- Apenas mais um dos meus segredos.
Harry ergueu a cabeça, começando a sorrir para ela, e voltou a ficar impressionado. A visão de Gina, o amor que sentia por ela. Num impulso, apoiou-se no cotovelo e aproximou-se, beijando-a sem pressa e com muito carinho.

Continua [...]

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