Capitulo XIII
Gina inclinou-se por sobre a porta de uma das baias e acariciou o pescoço de um cavalo como se ele fosse um animal de estimação.
- Foi justamente por isso que meus pais não me deixaram passar toda a infância no meio dos cavalos. Tive aulas de piano, e logo que comecei, decidi que seria a melhor aluna no recital. E se minha tarefa fosse limpar a cozinha depois do jantar, então a maldita cozinha teria de ficar tão brilhante aponto de você precisar de óculos escuros para fazer seu lanche noturno nela.
- É aterrador.
Reagindo à expressão aturdida dele, Gina meneou a cabeça. - Pode ser. Mas me concentrar na escola, como um objetivo único, força minha compulsão a englobar vários elementos... as crianças, os animais e a administração da academia em si. Quando a firma estiver estabelecida, poderei delegar um pouco mais, mas antes preciso aprender como tudo funciona, passo a passo. Não gosto de cometer erros. É por isso que nunca estive com um homem antes.
Harry sentiu-se desconfortável. Era como se ouvisse nitidamente as batidas aceleradas do próprio coração.
- Bem, isso... isso é muito sábio.
Harry deu um passo para trás, com a expressão de um enxadrista diante de um lance complicado.
- É interessante que isso o deixe nervoso – Gina disse, comentando o movimento dele.
- Não estou nervoso. É que... já terminei aqui. - Harry tentou outra tática, dando um passo para o lado.
- Interessante, - Gina repetiu, imitando o novo movimento dele - sobretudo quando sempre esteve... acho que posso usar o termo "dando em cima de mim" desde que nos conhecemos.
- Acredito que não seja o termo correto. – Como estava encurralado num canto, Harry decidiu que era melhor tentar enfrentar a situação. - Eu reagi de maneira natural, levando-se em conta a atração física. Mas...
- E agora que estou reagindo de maneira natural, sente que já não tem as rédeas na mão e entrou em pânico.
- Eu não estou em pânico. - Ele ignorou o terror que fazia as próprias entranhas se retorcerem e fingiu estar aborrecido. - Pare com isso, Gina.
- Não. - Com os olhos fixos nos dele, ela avançou mais. Xeque-mate.
Harry estava encostado contra a porta de uma das baias, e tinha sido coagido àquela situação por uma mulher com metade de seu peso. Era mortificante.
- Isso não fará bem para nenhum de nós. – O sangue pulsava descontrolado nas têmporas dele, e foi necessário um grande esforço para que mantivesse a voz fria e firme. - O fato é que andei repensando o assunto.
- E mesmo?
- Sim, e... pare com isso - Harry ordenou quando Gina começou a passar a palma das mãos sobre seu peito.
- Seu coração está disparado - ela murmurou. - Como o meu. Posso lhe dizer o que me passou pela cabeça, o que aconteceu com o meu corpo, quando me beijou?
- Não. – Harry mal sussurrou dessa vez. - E aquilo não vai acontecer de novo.
- Quer apostar? - Gina riu, erguendo a cabeça o bastante para beijá-lo no queixo. Por toda a vida jamais fora capaz de imaginar quão divertido era provocar um homem até o limite. -Por que não me conta a que conclusões chegou quando repensou tudo?
- Não pretendo, de forma alguma, tirar vantagem, de vo... da situação.
Isso, ela pensou, foi extremamente gentil.
- No momento, parece que eu tenho a vantagem. Desta vez você está tremendo, Harry Potter
"Claro que não, com os diabos!", ele pensou. Como poderia estar tremendo se não sentia suas próprias pernas?
- Não serei irresponsável. Não vou usar sua inexperiência. Eu não vou fazer isso. - A última frase foi pronunciada num tom exasperado; em seguida ele afastou Gina de si.
- Sou responsável por mim mesma. E acho que já provei antes que, se eu decidir que você é o escolhido, pode fazer suas orações. - Ela respirou fundo, satisfeita. - Saber disso devia ser incrivelmente lisonjeiro.
- Não é preciso muita habilidade para excitar um homem, Gina. Somos criaturas muito cooperativas quando se trata desse assunto.
Se Harry esperava arranhar o orgulho de Gina, ou mesmo detê-la, falhou miseravelmente: Ela apenas sorriu, um sorriso repleto de sabedoria feminina.
- Se existisse apenas isso entre nós, já estaríamos nus naquele monte de feno agora mesmo.
Notando a mudança na expressão de Harry, ela riu, deliciada. - Já tinha pensado nesse cenário sozinho, não é? Bem, então vamos deixá-lo para outra ocasião.
Ele praguejou baixinho, passando os dedos entre os cabelos e tentando imaginar quando a perseguida se tornara perseguidora.
- Não gosto de mulheres presunçosas.
O som que saiu dos lábios dela foi um misto entre riso e grunhido, algo totalmente feminino, que acabou fazendo-o sorrir.
- Isso foi mentira, e sabe muito bem. Notei que é o tipo de homem honesto, Harry. Quando não quer dizer o que está pensando, fica calado... o que não é muito freqüente. Gosto disso em você, mesmo que tenha me irritado no começo. E, para ser franca, gosto até mesmo dessa sua autoconfiança gigantesca. Admiro sua paciência e dedicação com os cavalos, a afeição e a compreensão que tem para com eles. E nunca estive envolvida com um homem que compartilhasse os mesmos interesses que eu antes.
- Você nunca esteve envolvida com homem algum.
- Exatamente. E esse foi um dos motivos. Para continuar, apreciei a gentileza com que tratou minha mãe quando ela estava triste. E essa forma como tenta me evitar... - Ela tocou-o levemente no braço, deixando escapar um suspiro. - Se eu não o respeitasse tanto, Harry, não estaríamos tendo esta conversa, independente de quão atraída me sentisse por você.
- Sexo complica as coisas, Gina.
- Eu sei.
- Como pode saber? Você nunca fez nada.
Ela sorriu com malícia.
- Ponto para você. E então, o que acha de tentar o monte de feno? - Quando Harry abriu a boca para protestar, ela o envolveu em um abraço e beijou-o no rosto. - Estava brincando. Em vez disso, vamos até a minha casa para jantar.
- Ainda tenho trabalho.
Afastando a cabeça para trás, Gina tentou decifrar o olhar dele, mas dessa vez não conseguiu.
- Harry, nenhum de nós comeu ainda. Podemos fazer um lanche na cozinha... e caso esteja preocupado, não vamos estar sozinhos na casa, por isso não poderei colocar minhas mãos em você. Por enquanto, pelo menos.
- Essa é boa - Ele não podia resistir. Quem poderia? Com aquela mulher linda abraçando-o afetuosamente, sempre com um sorriso nos lábios, Harry sentia-se como caminhando sobre o fio de uma navalha. Tentando fazer o movimento parecer casual, ele colocou-a gentilmente de lado. - Bem, acho que estou mesmo com fome.
- Ótimo.
Gina podia tê-lo segurado pela mão, mas ele manteve as duas dentro dos bolsos. Era surpreendente e tocante quão determinado Harry estava a manter-se distante. Mas se isso só servia para aguçar-lhe ainda mais o desejo, o que ela podia fazer?
- Espero poder ir até Charles Town para assistir a alguns páreos, quando você levar Betty e os outros potros para correr - disse Gina.
- Logo ela estará pronta para isso. - A mudança súbita de assunto foi um alívio para ele. Afinal de contas, falar sobre cavalos tornava tudo mais simples. - Eu até ia dizer que Betty a surpreenderia, mas você já a montou. Sabe do que aquela boneca é capaz.
- Sim, tem as pernas fortes e longas, uma forma invejável e parece nascida para vencer. - Ela sorriu quando se aproximaram da porta da cozinha. – Parece até minha própria descrição, não é? Lembre-se, Harry, sou meio irlandesa, já nasci teimosa.
- Não vou discutir isso. Uma pessoa pode tornar o mundo um lugar mais calmo para os outros sendo passiva, mas você não aplica esse conceito a si mesma, não é?
- Vamos tentar chegar a um acordo, então: diga-me que gosta de espaguete com almôndegas.
- Acontece que esse é o meu prato favorito.
- Que bom. É o meu também. E ouvi um rumor de que será o prato principal no jantar.
- Ela aproximou-se da porta, e então pegou-o de surpresa ao beijá-lo furtivamente nos lábios. - E já que vamos nos juntar a meus pais, seria melhor se não me imaginasse nua pelas próximas duas horas.
Após dizer isso, Gina entrou na cozinha, deixando para trás um Harry aturdido e muito excitado.
Não existe nada como um pouco de culpa para esfriar a cabeça de um homem. E foi a culpa, além da perspectiva de ótima comida e de bom vinho, que ajudaria Harry a enfrentar o jantar na cozinha dos Weasley. Dessa forma, felizmente sobraria pouco espaço para a luxúria em sua mente.
Molly o recebeu com afeto, como se quisesse dizer que seria bem-vindo para jantar sempre que ele desejasse aparecer.
Antes que percebesse, Harry estava sentado à mesa, sendo servido e indagado sobre como fora o dia. Tudo, evidentemente, na maior informalidade.
Não sabia o que fazer a respeito. Gostava daquelas pessoas, de verdade. E, mesmo assim, desejava a filha delas.
E o inferno era que também gostava de Gina; Tinha sido tão simples no começo, quando era apenas luxúria. Ou pelo menos quando ele achava que era só isso. Por algum tempo havia sido possível tolerar a idéia de estar apaixonado por ela. Mas importar-se realmente com uma mulher era algo que jamais lhe acontecera antes.
Obviamente podia tentar se convencer de que, na verdade, estava apaixonado mais pela idéia do que pela mulher. A beleza física, a classe, a inacessibilidade de Gina. Tudo aquilo era um tipo de desafio, um risco que ele gostava de correr. Mas então ela começara a se abrir, e mostrava um pouco mais a própria personalidade cada vez que estavam juntos.
A gentileza, o senso de humor, a firmeza de propósitos e a autoconfiança que ele tanto admirava.
E agora essa provocação, o flerte sexual num corpo inocente. Tudo aquilo o estava levando à loucura. E, que Deus o perdoasse, Harry gostava muito.
- Sirva-se de um pouco mais, Harry.
- Vou me arrepender se comer mais. - Apesar do que dizia, aceitou a tigela que Gina lhe oferecia. - Mas me arrependeria ainda mais se não aceitasse. É uma ótima cozinheira, sra. Weasley.
- Já lhe disse que pode me chamar apenas de Molly. E eu só cozinho há poucos anos, para dizer a verdade. Apenas depois que Hannah se aposentou... Ela era nossa governanta. Estava com Arthur há mais tempo do que eu. Quando ela se afastou, alguns anos atrás, eu simplesmente não quis outra mulher, uma estranha, você sabe, perambulando pela casa o di-a todo. Foi nessa época que decidi aprender a fazer algo além de hambúrguer e batatas fritas, ou acabaríamos todos morrendo de fome.
- E isso quase aconteceu nos primeiros seis meses - Arthur comentou, merecendo um olhar de reprovação da esposa.
- Bem, decerto a experiência serviu para que você construísse aquela churrasqueira lá fora, não é? Esse homem sempre foi muito mimado. Aposto que você sabe cozinhar, sobretudo vivendo sempre tão sozinho, Harry.
Acariciando Sheamus, que estava encostado em sua perna sob a mesa, Harry meneou a cabeça.
- Só se eu não tiver outra opção.
Ele percebeu o olhar malicioso de Gina, que esta sentada no outro extremo da mesa, e sorveu um gole de vinho. Sentiu um calor estranho. Para se defender da sensação incômoda, virou-se para Arthur.
- Ouvi dizer que gosta de jogar uma ou duas mãos de pôquer de vez em quando.
- Com certeza.
- Os rapazes estão combinando um joguinho para amanhã à noite.
- Posso aparecer por lá. Ouvi dizer que é difícil vencer você nas cartas.
- Se vai jogar cartas, devia levar Burke com você. - Molly interveio. - Então talvez Gina, Erin e eu achemos alguma coisa igualmente tola para passar a noite.
- Boa idéia. Mas vinho, Harry? - Gina ergueu a garrafa, arqueando as sobrancelhas. Sua voz era felina, quase um ronronar.
- Não obrigada. Ainda tenho trabalho para terminar.
- Vou descer com você quando estiver pronto - Arthur disse a ele. – Gostaria de dar uma olhada naquela égua que está com cólicas.
- Vocês dois podem ir. Nós cuidaremos dos pratos. Arthur sorriu como um garoto.
- Quer dizer que estou livre hoje?
- Não tem muita louça suja, você retribui o favor amanhã. - Molly levantou-se e beijou o marido na testa. - Vá em frente, sei que está preocupado com Princesa.
- Obrigado pela ótima comida, Molly – emendou Harry.
- Você é sempre muito bem-vindo.
- Boa noite, Gina.
- Boa noite, Harry. Obrigado por me ajudar hoje à tarde
Continua [...]
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