Capitulo VII




- Entendo. Não é interessante que eu me ache compelido a fazer exatamente o que lhe desagrada? Você também me incomoda. Talvez porque eu não goste de mulheres aristocráticas que me olham com o nariz empinado. De qualquer forma, acho que deveríamos lidar com esse impasse da melhor maneira possível.
- Eu não olho para você, nem para ninguém, com o nariz empinado.
- Isso depende do ponto de vista, não é?
Gina girou nos calcanhares, disposta a acabar com aquela discussão, e concentrou-se em medir a ração para cada animal.
- Por que não falamos sobre algo seguro? – Harry sugeriu. - Como sobre o que acho de Royal Meadows, Trabalho em fazendas e haras desde os dez anos. Ajudante de estábulo, jóquei, cavalariço... Em vinte anos vi todos os tipos de treinamento, adestramento e criação de cavalos. E, em vinte anos, nunca vi nada tão perfeito quanto Royal Meadows.
Gina fez uma pausa, esforçando-se para conter um suspiro, mas logo em seguida voltou a abastecer os recipientes de ração.
- Costumo dizer que conheço pouca gente tão digna quanto um bom cavalo. Seus pais são uma exceção à regra, são pessoas admiráveis. Não apenas pelo que têm, mas pelo que são capazes de fazer com esses recursos. Estou honrado por trabalhar para eles. E - Harry fez uma pausa até que Gina voltasse a encará-lo - acho que eles têm sorte por eu estar aqui.
Gina riu.
- E os dois, aparentemente, concordam com você...
- Mas você não tem certeza, não é? Embora, para ser franco, não acho que se interesse tanto assim pelos assuntos da fazenda.
- Não me interesso?
Harry examinou a prancheta na parede que indicava os suplementos que deviam ser adicionados a cada ração e passou a preparar uma.
- Vejo regularmente seus pais e irmãos nos estábulos e nas pistas, mas você jamais aparece.
Ela podia dizer qual o tempo e colocação de cada cavalo do haras na semana passada. Que medicações tinham recebido, quais as éguas estavam prenhas. O orgulho a manteve calada. Pelo menos Gina preferia pensar que era orgulho, e não teimosia.
- Suponho que sua escolinha a mantém bastante ocupada.
Os dentes dela ficaram cerrados, aponto de ter dificuldade para falar.
- Oh, sim, minha "escolinha" me mantém muito ocupada.
- Você é uma boa professora. – Harry foi até a baia de Teddy.
- Muito obrigada.
- Não precisa ser sarcástica. É realmente uma ótima professora. E uma dessas crianças ricas pode até se interessar de verdade por equitação depois que o entusiasmo inicial passar.
- Uma dessas crianças ricas - ela murmurou.
- Competir em torneios de equitação exige treinamento duro, habilidade... e muito dinheiro. Nunca me dediquei a isso, mas gosto de assistir a competições de vez em quando. Você pode acabar treinando um campeão para o Royal International ou o Grand Prix de Dublin. Talvez até para as Olimpíadas.
- Deixe-me ver se entendi. Crianças ricas competem em torneios de equitação e ganham os prêmios. E as que não são tão privilegiadas, fazem o quê? Tornam-se cavalariços?
- É como o mundo funciona, não é?
- Quer saber o que acho? Você é um esnobe, sr. Potter.
Ele ergueu a cabeça, aturdido.
- O quê?
- É um esnobe, e do pior tipo... o tipo que acha que tem todas as respostas. Agora que sei disso, já não me incomodo mais com você.
Para alívio de Gina, o telefone tocou justamente naquele momento. Não podia haver timing mais perfeito. Ela atendeu imediatamente, sem dar a Harry tempo para replicar.
- Academia de Equitação Royal Meadows. Aguarde um instante, por favor. - Com um sorriso amistoso, ela colocou a mão sobre o fone. - Realmente, posso terminar sozinha aqui. Estou afastando você das suas obrigações.
- Não sou esnobe - ele finalmente conseguiu dizer.
- Claro que nunca veria as coisas assim. Podemos discutir em outra ocasião? Preciso atender a este telefonema...
Irritado, Harry enfiou a pequena pá dentro do saco de ração.
- Não sou eu quem usa esses malditos diamantes nas orelhas todo dia - ele resmungou enquanto saía batendo o pé.

A discussão acabou com o humor de Harry pelo resto do dia. A acusação o atingira em cheio. E não fizera nem um pouco bem para seu ego.
Esnobe? Como aquela mulher podia chamá-lo de esnobe? Sobretudo depois de ele fazer um esforço para ser amistoso e até elogiar aquela tolice de academia de equitação.
Ficou até o começo da noite checando pessoalmente os preparativos para a corrida de Hialeah. Arthur queria que ele fosse junto dessa vez, e Harry considerava um alívio poder se afastar da fazenda naquelas circunstâncias.
Sim, seria ótimo colocar alguns quilômetros de distância entre ele e Gina Weasley.
- Não devia ter olhado naquela direção nem por um segundo - murmurou, acariciando a égua que acabava de escovar. - Especialmente quando tenho a companhia de uma beleza como você, querida. Vamos passar algum tempo juntos na Flórida, o que acha? Vai ser divertido.
- Jogo de pôquer, hoje à noite - um dos cavalariços avisou quando Harry deixava os estábulos. Ele arqueou as sobrancelhas e sorriu ante o anúncio.
- Conte comigo. E será um prazer esvaziar os bolsos de vocês. - Mas, naquele momento, tinha muita papelada para cuidar.
Quando voltasse da Flórida, os potros já teriam sido separados das mães. Por um ou dois dias os filhotes iriam reclamar muito, mas acabariam se acostumando. E então começaria o treinamento. Harry teria muitas escalas para fazer, planos nos quais pensar.
E pretendia reservar uma parte preciosa de seu tempo para treinar pessoalmente Bad Betty.
Nenhuma tarefa o levou para perto do estábulo privado de Gina, mesmo assim ele acabou caminhando automaticamente para lá no final daquela tarde. Só que, e,m vez da princesa, acabou encontrando a irmã mais nova.
Luna o cumprimentou com um amplo sorriso.
- Oi. O céu está lindo, não acha? Vou aproveitar isso com uma cavalgada ao pôr-do-sol. Quer se juntar a mim?
Era tentador. Luna era sempre uma ótima companhia, além disso Harry já não montava havia alguns dias. Porém tinha trabalho a fazer
- Eu adoraria, mas tem que ser outro dia. Vai cavalgar um dos animais de Gina?
- Sim. Ela gosta que alguém sempre exercite um de seus bebês. As crianças ainda estão começando, por isso os animais se ressentem de falta de exercício. Ou ficam entediados. A única classe avançada é a de sábado.
Harry continuava caminhando ao lado dela.
- É. Acredito que uma hora de trote por semana não deve ser o bastante para os cavalos.
- Oh, mas ela os deixa soltos no pasto, e cavalga cada um dos animais sempre que pode.
- Vi parte da aula dela hoje.
- É mesmo? As crianças não são ótimas? Hoje até mesmo... Oh, sim, você viu Willy? É um rapaz magro que cavalga Teddy.
- Sim. Me pareceu ter bom potencial para cavaleiro, e estava muito à vontade com o velho Teddy.
- Agora sim. Mas era um coelhinho assustado quando chegou aqui pela primeira vez.
- Sarah parou diante do puxado onde eram guardadas as selas.
- Medo dos cavalos?
- De tudo. Não sei como alguém pôde fazer aquilo com uma criança. Nunca entendi.
- Fazer o quê?
Ela escolheu uma sela, agradecendo quando Harry a pegou para carregar.
- Feri-lo. - Seus olhos estreitaram-se diante da expressão perplexa dele. - Oh, eu pensei que, como tinha assistido à aula, Gina tivesse contado tudo sobre a escola.
- Não. - Harry escolheu uma manta para o selim. - Não chegamos a falar sobre isso. Por que você mesma não me conta?
- Claro. - Luna foi até a velha égua, começando a encilhá-la. - Esta é a minha menina...
- Enquanto falava, ela ajeitava a manta e as correias da sela. - Não sei se o início de tudo foi por causa dos cavalos ou das crianças. Acho que aconteceu ao mesmo tempo. Gina começou comprando Estrela do Leste. Era um garanhão puro-sangue de cinco anos, mas nunca tinha brilhado nas pistas. De acordo com os proprietários. Haviam aplicado uma "bomba" nele antes de uma corrida.
- O drogaram.
- Anfetaminas. - O rosto suave de Luna tornou-se duro. - Foram apanhados, mas prejudicaram o coração e os rins do cavalo. Gina o comprou. Com a ajuda de nosso veterinário, fizemos tudo o que era possível por ele, mas o pobrezinho não durou um ano. Ainda sinto sua falta - ela murmurou.
Meneando a cabeça, terminou de encilhar sua montaria.
- Depois daquilo, foi como se Gina assumisse uma missão para si. Por isso acho que os cavalos vieram primeiro. Ela construiu este lugar e espalhou a notícia de que estava abrindo uma pequena academia. Os que podiam pagar contribuíam com uma pequena taxa para ter seus filhos treinados por ela... e posso garantir que minha irmã sempre mereceu esse salário. E o que restava do dinheiro servia para subsidiar os outros alunos.
- Que outros alunos?
- Alunos como Willy. - Luna checou as correias da sela pela ultima vez. - Crianças abandonadas, vítimas de abusos, esquecidas pelo sistema. Gina cuida delas sem ganhar nada, as auxilia, fornece todo o material e trabalha com uma psicóloga infantil. É por isso que já não tem tanto tempo para cavalgar como antes. Minha irmã não gosta de abandonar nada pela metade. Podia ter muitos alunos ricos, mas prefere manter as turmas pequenas para se concentrar em cada uma das crianças. Agora está fazendo uma campanha para que outros donos de escolas de equitação façam o mesmo que ela.
A caçula dos Weasley acariciou o pescoço da égua.
- Fico surpresa por ela não ter mencionado nada disso. Gina raramente perde uma oportunidade para envolver mais pessoas no seu projeto.
Com um sorriso nos lábios, a garota montou com destreza.
- Escute, por que não aparece para jantar? Ouvi dizer que papai está planejando um churrasco.
- Obrigado pelo convite, mas eu já tinha outros planos. Aproveite a sua cavalgada.
"Realmente tenho um plano", Harry pensou observando Luna afastar-se. Queria enfiar a cabeça na terra. Podia não ser um grande plano, mas era o único que lhe ocorria no momento.
Caminhou até o escritório de Gina e bateu. Se usasse chapéu, com certeza estaria com ele nas mãos, totalmente torcido. Ela não atendeu, então ele abriu a porta e deu uma olhada no ambiente.
Limpo, organizado, como era de esperar. O perfume dela estava presente no ar... era apenas um eco, mas inconfundível.
A atmosfera era de fato bastante profissional. Havia uma escrivaninha, com um computador que certamente era mais utilizado que o de Charlie, aparelhos de telefone e fax. Nas paredes, uma fila de arquivos, duas cadeiras giratórias e um frigobar. Curioso, Harry entrou e abriu a porta do pequeno refrigerador. Sorriu ao notar que havia um estoque de latas do refrigerante com o qual Gina Weasley parecia se alimentar.
Um rápido exame nas outras paredes e encontrou troféus, medalhas e flâmulas de competição. Havia fotografias também, nas quais ela aparecia sorridente com uniforme completo de montaria, provavelmente em competições de salto.
Mas o que mais chamou sua atenção foi uma medalha olímpica. De prata.
- Ora, ora, conseguiu mesmo agir como um idiota, Potter! - ele murmurou, emendando: - Você e sua enorme boca irlandesa.


Continua [...]

uiuiu ta começando a esquentar ;))

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.