Capitulo III
O amanhecer ao lado das baias de Royal Meadows era um daqueles momentos mágicos, com o nevoeiro ainda cobrindo o chão, enquanto uma luz pálida e cinzenta começava a surgir no horizonte. A trilha sonora era constituída, de ruídos, o relinchar dos cavalos e os saltos das botas dos rancheiros batendo no chão de madeira. O perfume era o cheiro dos animais, do feno, do verão.
Harry notou que os trailers já haviam sido carregados. Os cavalos selecionados estavam separados, e Arthur Weasley deixara um capataz encarregado de todos os preparativos para a corrida daquele dia. Mas ainda havia muito trabalho para executar naquela fazenda.
Os garanhões com problemas musculares precisavam ser checados e medicados, e os estábulos deviam ser limpos. Os cavalariços tinham que fazer os animais em recuperação se exercitarem e depois escová-los. Tudo no haras parecia funcionar com a precisão de um relógio.
Harry reparou que, naquele lugar, até mesmo os detalhes eram de primeira classe. Uma sofisticação a que nem todos os donos de haras chegavam... ou estavam dispostos apagar .Os estábulos, celeiros e barracões eram bem cuidados, impecavelmente pintados de branco e com os telhados limpos. As cercas também eram brancas e em perfeito estado de conservação. Os paddocks e pastos mais pareciam o gramado de um castelo inglês, verdejantes e extremamente bem tratados.
E também havia certa atmosfera. Só um homem esperto, ou muito rico, podia ter planejado aquele projeto paisagístico. Verdadeiras muralhas de árvores frutíferas dividiam perfeitamente os pastos. Uma das árvores em especial chamou a atenção de Harry, um imponente carvalho que ficava bem no meio de um paddock, isolado por um pequeno cercado branco. À direita da sede havia um gramado imenso que dava para um belíssimo lago cercado por flores coloridas.
Ele aprovou tudo o que viu. Toda aquela beleza fazia bem para os cavalos, e para os homens também. Experiências anteriores tinham ensinado a Harry que ambos trabalhavam melhor em condições tão favoráveis. Provavelmente, fotos da fazenda dos Weasley já haviam sido publicadas em revistas elegantes.
Sobretudo fotos da casa, ele pensou, olhando, impressionado, para a construção mais uma vez. As paredes de pedra, os balcões ornamentais e as grandes janelas de aço combinavam à perfeição e produziam um efeito espetacular no espectador.
Havia uma segunda estrutura, um tipo de réplica em miniatura da casa principal, que abrigava em seu andar térreo uma enorme garagem. Toda a área da sede era cercada por jardins elaborados em estilo francês.
Mas o que mais o impressionara haviam sido os cavalos. Como os animais eram acomodados e tratados. Os estábulos, caso a proposta de emprego de Weasleyt fosse mantida, seriam sua ocupação. A vida do proprietário não lhe interessava.
- Vai querer olhar os estábulos - Arthur dissera ao recebê-lo meia hora antes. - Charlie logo chegará. Creio que nós dois poderemos responder a todas as perguntas que você quiser fazer.
Para Harry, entretanto, bastava olhar para ter as respostas. A parte interna das instalações era tão bem cuidada quanto a externa, talvez até mais. Muretas de concreto separavam as espaçosas baias, e nos portões de cada uma delas, todos de madeira maciça, havia uma pequena placa de latão indicando o nome e a ascendência de cada animal. Jovens cavalariços movimentavam-se, apressados, por todo o lugar, terminando as tarefas matinais. O cheiro de feno, linimento e cavalos era forte e doce.
Arthur parou diante de uma baía, onde uma jovem mulher refazia cuidadosamente um curativo na pata dianteira de uma égua.
- Como vai ela, Linda?
- Muito bem. Estará de volta ao pasto para causar problemas em um dia ou dois.
- Foi uma distensão? - Harry adentrou a baia acariciou o animal no pescoço. Linda olhou-o de relance, depois virou-se para Arthur, que fez um gesto positivo com a cabeça.
- Esta é Bad Betty - Linda informou. - Ela gosta de causar confusão. Teve uma distensão leve, mas isso não vai detê-la por muito tempo.
- Então você é uma encrenqueira, certo, mocinha?
- Harry colocou as mãos em cada lado da cabeça da égua e fitou-a nos olhos. Ele gostou do que viu, havia mágica naquela potranca. - Acontece que eu gosto de encrenqueiros...
- murmurou.
- Ela morde - Linda advertiu. - Sobretudo se você der as costas para ela.
- Não quer mesmo me morder, não é, menina?
Como num desafio, Betty ergueu a cabeça e relinchou.
Harry sorriu.
- Vamos nos dar bem, desde que eu lembre que você é a chefe. - Ao dizer isso, ele acariciou a potranca mais uma vez. - É, garota, você é realmente linda.
Sem perceber que estava usando o idioma gaélico, Harry começou a sussurrar palavras para a égua, enquanto Linda terminava a bandagem da pata. Betty o observava atentamente, agora com mais interesse do que desconfiança.
- Ela quer correr. - Harry deu um passo para trás, examinando a plaqueta referente à baia. - Nasceu para isso. E mais, nasceu para vencer.
- Sabe disso tudo com apenas um olhar? - Arthur perguntou.
- Está nos olhos dela. Não deve deixar que esta fique prenha logo, sr. Weasley. Ela deve voar primeiro.
Enquanto falava, Harry deu deliberadamente as costas para a potranca, mas quando esta última ameaçou erguer a cabeça, ele olhou-a com firmeza por sobre o ombro.
- Acho melhor não fazer isso - disse em voz baixa. Homem e animal trocaram olhares por alguns instantes, e então Betty mexeu a cabeça como num gesto de desalento.
Impressionado, Arthur seguiu Harry para fora da baia.
- Ela aterroriza os cavalariços.
- Faz isso porque pode, e provavelmente porque é mais esperta que a metade deles.
- Ele apontou para o box que ficava bem em frente. - E quem é aquele belo cavalheiro?
- Aquele é Prince, atualmente sem sua coroa.
- A majestade de Royal Meadows? - Havia certa reverência na voz de Harry quando ele cruzou o corredor. - Mas devo dizer que discordo, sr. Weasleyt. Quem foi rei nunca perde a majestade... é o que dizem, não? - Com gentileza, acariciou o honorável garanhão no peito.
- Eu o vi correr em Curragh quando era garoto. Nunca vi nada parecido desde então. E trabalhei com um dos filhos que ele gerou. Suas crias são fantásticas
- Sim, eu sei.
Arthur mostrou a seguir a sala de atendimento veterinário, a despensa em que ficava estocada a ração e os estábulos especiais onde eram realizados os partos das éguas. Em seguida, passaram por um pequeno paddock onde um potro recém-nascido ensaiava seus primeiros passos, e finalmente chegaram a um cercado maior, no qual um imponente garanhão negro era escovado por dois cavalariços muito jovens.
Um homenzinho de aparência nervosa que usava um boné azul para esconder os cabelos totalmente brancos virou-se assim que percebeu a aproximação dos dois. Ele segurava um cronômetro numa das mãos e uma prancheta na outra, e logo um sorriso fácil curvou-lhe os lábios.
- Então já acabou de fazer sua visita, não é? E o que achou de nossas humildes instalações?
- É uma linda fazenda. - Harry estendeu a mão. - Estou feliz por encontrá-lo outra vez, sr. Donelly.
- Eu digo o mesmo, pequeno Harry de Kerry - Charlie apertou-lhe a mão com firmeza. - Eu pedi para os rapazes segurarem Zeus até que chegasse aqui, Arthur. Achei que você e o rapaz gostariam de acompanhar a corrida matinal dele.
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