Capitulo XXIX
No meio da semana seguinte, Gina já estava ansiosa para abrir as portas da escola e receber as primeiras alunas. O salão de dança estava pronto, e tudo brilhava, do chão aos espelhos. O escritório estava arrumado e os vestiários e banheiros prontos.
Escola de Dança Weasley.
Ela parou na calçada, leu e releu a placa, tapando a boca com as mãos. Os sonhos, concluiu, às vezes se tornavam realidade. Tudo que se tinha a fazer era acreditar com força e trabalhar bastante.
— Senhorita?
Perdida em seus próprios devaneios, Gina estremeceu e voltou-se, piscando várias vezes para a mulher que atraves¬sara a rua. Com um aperto no estômago, lembrou-se de que era a mesma que vira Harry carregá-la nos ombros.
— Oh! Como vai?
— Bem, obrigada. Na verdade, ainda não nos conhece¬mos — disse a outra, retorcendo a alça da bolsa, como senão estivesse muito à vontade. — Sou Marjorie Rowan.
— Gina Weasley.
— Sei disso. Aliás, também conheço de vista o seu na¬morado. O síndico o contratou algumas vezes para fazer reparos no prédio onde moro. De qualquer modo, peguei uma brochura na loja de sua mãe sobre sua escola. Minha filha de oito anos vive pedindo para fazer aulas de bale.
Gina sentiu uma onda de alívio. Não se tratava de um sermão sobre não causar escândalos no meio da rua. Logo alegrou-se de fato, ao perceber a possibilidade de ter uma nova aluna.
— Estou às ordens para conversar com a senhora e sua filha. As primeiras aulas começarão na próxima semana. Gostaria de entrar e visitar a escola?
— Bem, para ser sincera, já andamos espiando pelas ja¬nelas, se não se importa.
— Claro que não!
— Eu disse a Audrey, minha filha, que vou pensar a respeito, mas já decidi. Quero que freqüente suas aulas para ver se tem aptidão.
— Então por que não entramos e a senhora me conta mais sobre Audrey?
— Obrigada. Ela logo voltará da escola e terá uma gran¬de surpresa. — Começou a subir a escada com Gina, as duas sentindo-se mais à vontade. — Sempre quis estudar bale quando era menina, porém minha família não tinha meios.
— E por que não realiza seu sonho agora e aprende tam¬bém?
— Agora? — repetiu Marjorie, achando graça na suges¬tão de Gina. — Oh! Estou velha demais.
— O bale é um excelente exercício físico. Aumenta a fle¬xibilidade e é divertido. Ninguém é velho demais para isso. E a senhora está em muito boa forma.
— Procuro me manter — murmurou Marjorie, olhando em volta com ar sonhador, para as barras, os espelhos enor¬mes e os posters coloridos. — Acho que seria agradável, mas não posso pagar dois cursos.
— Vamos conversar a esse respeito. No meu escritório.
Uma hora mais tarde, Gina subiu para seu apartamen¬to. Precisava compartilhar com alguém sua vitória do dia, e Harry fora o eleito. Tinha duas novas alunas, a primeira dupla de mãe e filha! E isso era um novo ângulo para a publicidade da escola.
Entrou como um raio na pequena sala de estar e parou. Em seguida começou a fazer um círculo, vagarosamente. Estava tudo pronto. Andara tão ensimesmada que nem percebera o progresso da obra. Tudo brilhava e exalava um aroma de verniz novo.
Atônita, encaminhou-se para a cozinha que reluzia. Os armários esperavam, prontos, pela louça e os mantimentos, e as prateleiras, junto à janela, clamavam por alguns vasos de flores.
Deslizou os dedos sobre o balcão que Harry insistira em colocar, dizendo que seria perfeito para o café da manhã. Sim, ele e ela haviam contribuído, juntos, para deixar o apartamento maravilhoso. Como a obra e todo o prédio, fora um trabalho de equipe.
Gina apressou-se a entrar no dormitório onde Harry, agachado, instalava as fechaduras nas portas dos armários. Sentado no chão, de pernas cruzadas, James concentrava-se em desatarraxar um parafuso com uma pequena chave de fenda. Mike ressonava feliz, no meio dos dois.
— Não há nada mais interessante do que observar dois homens trabalhando. Olá, meus lindos!
Ambos ergueram o olhar, e James disse:
— Vim ajudar o papai porque Rod e Carrie precisavam ir ao dentista. Eu já fui na semana passada e não tenho ne¬nhuma cárie.
— Que bom! — Gina olhou para Harry. — Tenho anda¬do tão envolvida com o andar de baixo que não reparei no prodígio que fez aqui em cima. Está maravilhoso! Tudo certo!
— Ainda faltam alguns detalhes. Arremates na parte de fora do prédio. Mas já pode ocupá-lo.
Entretanto, não havia o costumeiro entusiasmo na voz de Harry, que sentia-se deprimido havia vários dias.
— Adorei. — Gina agachou-se ao seu lado, enquanto Mike, cambaleando, vinha saudá-la, abanando o rabo. — E acabo de conseguir mais duas alunas. Agora, se conseguis¬se arrumar dois belos rapazes para me acompanharem em uma comemoração, o dia seria perfeito.
— Vamos! — gritou James entusiasmado.
— Filho, tem deveres de casa a fazer.
— Estava pensando em jantar cedo — disse Gina. —Hambúrgueres e fritas em uma lanchonete.
James agarrou os ombros do pai.
— Por favor, vamos?
Encurralado de novo, pensou Harry, resmungando:
— E difícil recusar um convite tão elegante.
— Ele concordou — disse James, voltando-se para Gina, e segurando-a pelo braço. — Podemos ir agora?
— Preciso terminar algumas coisas aqui em cima — res¬pondeu Harry, passando a mão nos cabelos e olhando para Gina.
Fazia muito isso nos últimos tempos, ela observou para si mesma. Desde que voltara de Nova York. Ficava olhan¬do para o seu rosto, mas de um modo diferente, como se a analisasse.
Gina sentiu um mal-estar invadi-la.
— Dentro de uma hora está bem? — perguntou Harry.
— Perfeito. Importa-se se roubar seu ajudante? Quero contar as novidades para minha mãe. Poderemos exercitar Mike.
— Claro. James, comporte-se.
- Ele quer dizer que não devo pedir brinquedos — explicou o menino para Gina, com ar confidencial. — Pai...
— Debruçou-se ao ouvido de Harry e cochichou algo
— Sim, pode.
— Voltaremos em um hora — gritou Gina da porta.
— Ótimo.
Harry esperou que fossem embora e então sentou-se no chão. Precisava tomar algumas decisões, pensou. E logo. Era um problema estar muito ligado a Gina, e o filho a adorava. Podia agüentar algumas mágoas, mas recusava-se a magoar James. A única coisa sensata a fazer era sentar e ter uma con¬versa com Gina. Era hora de pôr tudo em pratos limpos, concluiu.
Além disso, precisaria ter uma conversa com o menino e saber o que pensava e sentia.
Primeiro James, pensou Harry. Talvez seu filho visse Gina apenas como uma amiga e, ao contrário, ficasse aborrecido perante a idéia de ela tornar-se alguém muito importante em sua vida. Desde que nascera foram apenas ele e o pai. A dupla.
Harry se assustou ao perceber movimento no quarto.
Continua...
Obrigado a todos pelos comentarios! =**
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