Capitulo XXX




-Se não ligasse esse rádio tão alto, não seria pego de surpresa — falou Tiago Potter às suas costas.
— Gosto de trabalhar ouvindo música — respondeu Harry, mas ergueu-se e desligou o rádio, de modo obedien¬te. — Deseja alguma coisa?
Não conversavam desde a cena na cozinha dos Weasley. Os dois homens olharam-se com desconfiança.
— Tenho algo a dizer — começou Tiago.
— Então diga.
— Fiz o melhor que pude a seu respeito. Não é justo que me acuse do contrário, quando me esforcei para ser um bom pai. Talvez tenha sido severo demais, mas era um menino indisciplinado e precisava de rédeas curtas. Tinha uma fa¬mília para sustentar e fiz isso do único modo que conhecia. Talvez ache que não passei tempo suficiente com você... —
Tiago fez uma pausa e enfiou as mãos nos bolsos. — Pode ser que sim. Não tenho jeito para essas coisas, e não sei agir como age com seu filho. Mas, verdade seja dita, você tam¬bém não era uma criança tão agradável como James. Ele é a sua melhor obra. Quem sabe devesse ter dito essas coisas no passado, mas é melhor tarde do que nunca.
Harry nada disse por um longo tempo, tentando recu¬perar-se do choque que as palavras do pai tinham provoca¬do em seu íntimo. Por fim, falou, escondendo a emoção:
— Acho que foi o maior discurso que já fez em sua vida.
A expressão de Tiago endureceu.
— Bem, já acabei e vou embora.
— Pai... — Harry apoiou a furadeira a um canto. — Gostei muito de ouvi-lo.
Tiago soltou um suspiro, como se sentisse um profundo alívio.
— Então é bom terminar tudo que tenho a dizer. Quem sabe não devesse ter feito a cena que fiz outro dia, na frente do menino e da... srta. Weasley. Sua mãe me passou um sermão.
Harry encarou-o, surpreso.
— Mamãe?!
— Sim. — Tiago olhou para o chão, fingindo observar as ripas brilhantes de madeira. — Ela não costuma fazer isso, mas quando faz, parece um anjo vingador. Ainda mal fala comigo. Disse que a envergonhei.
— Gina também me passou um sermão.
— Não gosto muito de admitir isso, mas a moça tem fibra. Mantém você na linha.
— Faço isso sem a ajuda de ninguém, pai.
Tiago balançou a cabeça concordando. Sentia que um peso fora retirado de seus ombros.
— Você é um bom carpinteiro, Harry Potter.
Pela primeira vez em muitos anos, Harry sorriu com prazer para o pai.
— E você é um ótimo encanador, Tiago Potter.
— Mas me demitiu.
— Porque me irritou muito.
— Ora, rapaz! Se despedir todo homem que o irrita, como vai manter uma equipe de trabalho? — Mudou de assunto. — E a mão, como vai?
Harry ergueu os dedos e flexionou-os.
— Está bem.
— Então, já que não ficou aleijado, quem sabe possa dar um telefonema. Ligue para sua mãe e diga que esclarece¬mos um pouco as coisas entre nós dois. Ela não vai acredi¬tar se eu próprio contar, porque nos últimos dias mal olha para mim.
— Farei isso. — Harry fez uma pausa, e disse: — Pai, sei que o desapontei na vida.
— Ora, não foi bem assim.
— É verdade — continuou Harry. — Creio que também desapontei a mim mesmo. Mas tenho certeza de que fui bom para Cho e James. — Tomou fôlego e prosseguiu: — Ten¬tei ser bom marido e bom pai em parte para mostrar a você que valia alguma coisa.
— E mostrou. — Tiago não sabia muito bem como dar o primeiro passo, mas, dessa vez, agiu. Atravessou o quarto, e estendeu a mão. — Tenho orgulho de você.
— Obrigado — murmurou Harry, segurando a mão calejada do pai. — Meu próximo trabalho será reformar uma cozinha. Preciso de um bom encanador. Está interessado?
Os lábios de Tiago curvaram-se em um sorriso.
— Pode ser.


Continua...

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