Capitulo XXVII
— Têm certeza de que está certo? — Harry olhou em volta, para o grupo que se aproximava do palco. Três adul¬tos, três crianças e um cachorrinho.
— Sem dúvida — garantiu Freddie. — Gina já deu per¬missão.
Ele ainda não estava convencido, porém já descobrira que era difícil discutir com qualquer uma das irmãs Weasleys. Em especial depois de apenas cinco horas de sono.
As crianças haviam acordado assim que Gina saíra para a aula, fazendo barulho suficiente para despertar toda a ilha de Manhattan. E quem conseguisse continuar dormindo mesmo assim seria acordado aos sobressaltos, com o latido alegre de Mike.
Todos tomaram o café da manhã em uma confeitaria, para alegria de James, e depois tinham caminhado até ficar com dor nos pés. O Empire State Building, lojas de lembran¬ças; Times Square, lojas de lembranças; Central Station e... Deus! Mais lojas de lembranças.
Por fim, Harry concluiu que ir ao encontro de Gina no meio do ensaio não fora uma idéia muito má. Fazia anos que não punha os pés em um teatro.
— Boca fechada — alertou Nick ao entrarem —, ou nos mandam para fora sem dó nem piedade. E isso é para você também, sua bola peluda — acrescentou, acariciando Mike atrás da orelha.
Freddie deu a mão para o marido, comentando:
— Nada como a coxia de um teatro.
Uma mulher por trás de um balcão alto olhou por cima dos óculos de aro fino, examinou o grupo e assentiu com um gesto de cabeça.
— Prazer em vê-los, Sr. e Sra. LeBeck. Vejo que trouxe¬ram toda a família.
— Gina conseguiu a autorização? — perguntou Freddie.
— Sim. Alguma destas crianças entende russo?
— Não.
— Ótimo! Davidov já falou uma meia dúzia de impro¬périos. Pode deixar o cachorrinho comigo. Gosto de cães, e se o diretor cismar com ele lá dentro, poderá devorá-lo.
— Dia perfeito, não? — sorriu Nick, fazendo a mulher revirar os olhos, conformada, e dizer:
— Não contei nem a metade. Qual o nome do cachorro?
— Mike — respondeu James. — Ele é meu.
— Pois vou tomar conta dele muito bem.
— Certo. — James examinou a senhora, mordendo o lá¬bio. — Mas se ele chorar, me chame.
— Combinado! Agora podem ir. Conhecem o caminho. Mesmo que não conhecessem, teriam achado facilmen¬te a sala de ensaios, guiados pelos gritos que ouviam.
— Davidov — explicou Freddie. — Vamos para a frente.
— É verdade que ele come cachorros? — perguntou James em um sussurro assustado.
— Não. — Harry segurou a mão do filho. — Era brinca¬deira — acrescentou, esperando, no íntimo, que fosse mesmo.
Mas se Davidov não devorava animais, naquele momen¬to parecia predisposto a devorar os bailarinos.
Interrompeu a música com um dramático gesto de mão.
— Vocês dois — disse, apontando para o casal de baila¬rinos que ofegava, suando copiosamente. — Fora do meu palco! Molhem a cabeça na água fria! Talvez voltem daqui a uma hora, dançando de verdade. Weasley! Blackstone/ — berrou a plenos pulmões. — Já!
Andava de um lado para o outro, com passadas nervo¬sas, alto, magro e com uma cabeleira que mesclava fios dourados e prateados. O rosto era sulcado de rugas e tinha uma expressão muito severa.
— Estou com medo — declarou James.
Harry pediu silêncio, e sentaram-se em uma fileira de poltronas atrás de uma mulher que lá estava sozinha. Então Gina surgiu no palco, e Harry ficou de boca aberta.
— Olhe, pai! É Gina! E está fantasiada!
— Estou vendo. Fique quieto.
Ela tinha os cabelos soltos sobre um vestido vermelho com cintura justa e camadas de tecido formando várias saias que iam até pouco abaixo dos joelhos, mostrando parte das longas pernas e os pés com sapatilhas de ponta.
Caminhou com as mãos nos quadris, até ficar frente a frente com Davidov, e disse:
— Expulsou-me do palco. Nunca mais faça isso.
— Ordeno que entre e que saia quando bem entender. É o meu trabalho. O seu é dançar. — Olhou para o rapaz alto e louro, com uma malha branca, que surgira ao lado de Gina. — Um passo atrás. Espere!
Virou-se para a orquestra.
— Abertura. Weasley, você é Carlotta. Seja Carlotta! Luzes!
Gina respirou fundo, tomando posição. A perna esquer¬da mais atrás, o pé esticado, os braços formando uma arco sobre a cabeça, delicado e feminino, o rosto erguido e orgu¬lhoso. Quando a música principiou, um único spot iluminou o palco, seguindo seus movimentos, e ela começou a dançar. Era um solo muito difícil e que exigia tudo da artista. Passos rápidos e desinibidos. Os músculos respondiam aos acordes, os pés pareciam flutuar no palco. Terminou com um gesto firme, no mesmo ponto e na mesma postura com que come¬çara. Com o coração acelerado pelo esforço, lançou a Davidov um olhar de desafio e saiu do palco, enquanto seu parceiro tomava posição.
Harry nunca vira nada igual, nem sabia que podia exis¬tir. Gina fora... mágica. Ainda pensava a respeito, quando ela voltou ao palco.
Os dois bailarinos começaram a dançar juntos dessa vez. Harry nunca pensara que o bale pudesse ser sensual, mas aquele, pelo menos, era, com uma mulher provocante e um homem arrogante.
Harry não reparou no esforço físico que ambos faziam, nos músculos das pernas que tremiam. Só via o movimento, o encanto, a magia... Estremeceu ante o grito de interrupção.
— Parem! Parem! — Davidov ergueu as mãos. — O que é isto? O que vocês dois têm nas veias? Esta é uma cena de paixão ou um passeio de domingo no parque? Onde está o fogo?
— Vou lhe dar um incêndio — sibilou Gina.
— Bom. — O diretor segurou-a pela cintura. — Comi¬go. Mostre-me.
Ergueu-a do chão, sob protestos. Dessa vez, Gina pare¬ceu incorporar a música. Davidov continuou a ser seu partner, atirando-a para o alto como se fosse uma boneca de pano e depois inclinando-a até quase tocar a cabeça no chão.
Quando terminaram, Gina lançou-lhe um olhar de raiva.
— Odeio você!
— Isso mesmo! — berrou Davidov. — Continue assim. Fique zangada! Mas não comigo. Com ele. — O diretor apontou para o parceiro de Gina, que usava a malha bran¬ca. — Música!
— O que ele quer? — murmurou Harry sem pensar. — Sangue?
A mulher na fileira da frente voltou-se e sorriu.
— Isso mesmo. É sempre assim. Davidov é um homem difícil.
— Papai está com raiva dele — disse James.
— Não é só o seu pai. — A mulher riu, virando-se mais na poltrona, enquanto a dança e os berros continuavam no palco. — E é mais severo com os melhores dançarinos. Já dancei com ele, portanto sei disso.
— Ele gritava com a senhora? — quis saber James.
— Sim. E eu com ele. Mas por causa de sua disciplina e rigidez tornei-me uma ótima bailarina. Até hoje ele conse¬gue me deixar furiosa.
— E o que fez? — continuou James. — Deu um murro no nariz dele?
— Não. Casei-me com ele. — Sorriu para Harry. — Sou Ruth Bannion. Você deve ser amigo de Gina.
— Desculpe pelo que disse — falou Harry, um tanto sem graça.
Ruth voltou a rir em surdina.
— Tudo bem. Davidov tem o dom de fazer aflorar o melhor e o pior nas pessoas. É isso que o torna tão bom no que faz. Adora Gina e ainda lamenta por ela ter deixado a companhia de bale. — Voltou a olhar para o palco. — Veja como dança e vai compreender por que ele a ama.
Do palco, Davidov respirou fundo, dizendo:
— Está bem. Chega. Vão descansar. Talvez hoje à noite possam demonstrar mais energia.
O sangue pulsava nas têmporas de Gina, e o pés ardi¬am, mas ainda tinha forças para atirar mais uma farpa.
Disse algo em voz alta, que fez Davidov arquear as so¬brancelhas.
— Acha que porque sou russo não entendo quando me chamam de coração de porco em ucraniano?
Gina ergueu o queixo.
— Eu disse cara de porco.
E saiu do palco, enquanto Davidov sorria, deliciado.
— Viu? — Na platéia, Ruth deu uma risada. — Ele a adora!
Continua...
Nanny Black: Ishii nem queira saber ;D Obrigado, pra vc tbm!
Camila: Nossa obrigado :D Mais um cap. , espero que goste!
Yumi Morticia voldemort: A mim tbm ;)
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