Capitulo XXVI



— E como pretende dançar assim amanhã à noite?
— Muito bem — replicou Gina, soltando um suspiro de gratidão quando Nick voltou a entrar. — Meu príncipe! Harry acha que Davidov deve ser fuzilado.
— E pelo que ouvi várias vezes, você pensa o mesmo. — Nick olhou para os pés machucados e fez uma careta. — Deus! Que horror! Quer pôr gelo?
— Não, obrigada. Cuidarei deles mais tarde.
— Vai cuidar agora mesmo!
Assim dizendo, Harry levantou-se e ergueu-a nos braços.
— Ora, Potter! Deixe disso!
— Fique quieta — ordenou, tirando-a da sala.
Nick bebericou o resto da cerveja, murmurando entre os dentes cerrados:
— O homem não é brincadeira!

— Foi tão romântico! — Freddie continuava a suspirar com o que vira horas antes, apesar de já estar se preparan¬do para dormir. — Ele a carregou para a cozinha, com o rosto sorridente, e perguntou onde poderia encontrar uma bacia para os pés cansados de Gina.
—Já lhe disse — murmurou Nick, batendo na parede que dava para o quarto do filho, num gesto automático, pois não esperava que ele fizesse silêncio. — O homem é uma fera.
—E o modo como olha para ela, em especial quando pensa que ninguém está reparando... como se desejasse devorá-la. É demais!
Nick parou de cocar a barriga e arqueou as sobrancelhas.
— E como olho para você também.
Freddie soltou um suspiro e começou a desfazer a cama.
— Sim, até parece...
— Ei! — Nick aproximou-se e a fez girar nos calcanha¬res. — Olhe para a expressão em meu rosto. Viu?
Freddie riu.
— Está insinuando que não sou romântico? — desafiou Nick. — Está querendo dizer que o empreiteiro é melhor do que eu nesse departamento?
Freddie começou a achar a cena divertida. Com um gesto estudado, correu para a penteadeira e começou a escovar os cabelos. Só percebeu que era levantada do chão quando o marido a beijou com fúria, murmurando:
— Quer romance, minha cara? Então vamos lá...

Do outro lado do corredor, quando as crianças finalmen¬te pegaram no sono depois de muitos protestos, Gina amar¬rou o cinto do roupão. Enfrentara dias exaustivos, quando tivera de se exercitar mais do que todos porque já não dan¬çava há algum tempo. O corpo e a mente pediam descanso.
Porém, sabendo que Harry estava a poucos metros de distância, sentia-se inquieta. Imaginou se ele iria esgueirar-se até sua porta, mas não tinha paciência para esperar.
Saiu do quarto e passou pelo das crianças, certificando-se de que todas dormiam, inclusive o cão. Satisfeita, conti¬nuou seu caminho até o quarto de Harry.
Não havia luz dentro do quarto. Bem, pensou, teria de acordá-lo. Abriu a porta devagar, na hora exata em que ele se afastava da janela.
Estivera pensando nela, é claro. Nenhuma novidade nisso, admitiu para si mesmo. Mas ficou surpreso ao vê-la entrar e fechar a porta, e permaneceu parado, só de jeans, no meio do quarto.
— Gina! Os meninos!
— Dormindo como anjos. — Comprara na véspera, na hora do almoço, o roupão que usava, uma dispendiosa ex¬travagância de seda cor de pêssego, mas percebendo o olhar de desejo de Harry, sentiu que fizera a coisa certa. — Aca¬bei de verificar. — Passou as mãos pelo tórax musculoso. — E se acordarem, um dos quatro adultos terá de tomar providências. Gostou da minha roupa?
— Linda. — Harry tomou-lhe as mãos. — Estava pen¬sando que não conseguiria dormir esta noite sabendo que estaria tão perto e não poderia tocá-la.
— Toque-me agora, e depois dormiremos como anjinhos.
Harry matutou com seus botões como conseguira resis¬tir-lhe no início. Gina era toda a sua fantasia, sonho e dese¬jo. Mas era real, assim como a boca ansiosa e sexy e os bra¬ços longos e macios.
Com Gina, todos os anos vazios e solitários tinham sido esquecidos.
Com um gesto lento, baixou as laterais do roupão que deslizou para o chão, exibindo a nudez de Gina.
Curvas e músculos, entremeados por suspiros e estre¬mecimentos. Deitaram-se na cama, no mundo íntimo que haviam criado para si. A pele perfumada e quente de Gina, os olhos cinzentos o estonteavam. Era uma mulher de per¬sonalidade forte que recusava-se a fugir de uma briga. Uma amiga de coração aberto, com um ombro onde se podia chorar e uma mão firme que sabia guiar.
Harry já não conseguia imaginar como seria sua vida sem ela. Por fim, admitindo esse fato para si mesmo, segu¬rou-a com força entre os braços.
— Harry? — Kate passou os dedos pelos cabelos pretos, sentindo a força do braço que a rodeava e quase perdendo o fôlego. — O que houve?
— Nada. — Beijou-a no pescoço e ordenou a si mesmo para não pensar. — Não é nada demais. É que a desejo muito. Anseio por você a cada instante.
Beijou-a nos lábios com fúria, apagando todos os pen¬samentos e medos. Gina respondeu com entusiasmo, cien¬te de que a força que os possuía ia além de mera atração física.
As luzes da cidade cintilavam através da janela aberta, tremeluzindo contra o céu escuro. O rumor do tráfego fa¬zia-se ouvir nas ruas, mas nada disso parecia existir no retângulo da cama, onde só os sussurros e as carícias domi¬navam.
Gina posicionou-se em cima de Harry, os longos cabe¬los ruivos caindo de modo suave sobre os corpos de am¬bos, como uma cortina discreta. Ele a penetrou com um gesto forte e inesperado, e ambos gemeram.
O prazer começou a pulsar em suas veias, e Gina arqueou o corpo, permitindo que ele a possuísse de modo pleno, os olhos fechados, perdida em um mundo de sensa¬ções e delícias. Ergueu os braços e deslizou as mãos pelos próprios cabelos ruivos, em um gesto de extrema sensuali¬dade e beleza.
Um grito abafado saiu de sua garganta, e começou a mover-se mais depressa, levando ambos à beira do clímax da paixão.
Por fim, Gina deixou-se cair para o lado, ainda abraçada a Harry, trêmula e arfante.
Com voz rouca, ele perguntou:
— Vai ficar aqui comigo? Gina fechou os olhos outra vez.
— Sim.
Ficaram quietos, abraçados, mas não conseguiram dor¬mir por um longo tempo, cada qual entregue a seus pró¬prios pensamentos.

Harry acordou e, com um gesto automático, tateou a cama procurando por Gina. Nos primeiros segundos ficou confuso por não se lembrar de onde estava. Ainda estava escuro. Zonzo, virou para o lado e viu-a vestindo o roupão.
— O que foi?
— Não quis acordá-lo. — Gina aproximou-se e beijou-o no rosto. — Preciso ir. Tenho aula.
— Está dando aulas de bale no meio da noite?
— Estou tendo aulas, seu bobo! E já é de manhã. São quase seis horas.
Harry tentou clarear as idéias, mas dormira muito pou¬co e sentia o cérebro embotado. Voltou a perguntar:
— Vai tomar aulas? Pensei que já soubesse dançar.
— Bobinho...
— Não, espere. — Segurou-a pela mão, antes que fosse embora. — E sério. Por que as aulas? E às seis da manhã?
— Bailarinas nunca param de aprender, e por certo não quando estão atuando. E a aula será às sete horas porque tenho prova de roupas às onze. Agora volte a dormir.
— Está bem — obedeceu Harry, sem se fazer de rogado.
— Nick e Freddie levarão você e James para dar uma volta mais tarde. Talvez possam passar pelo teatro.
Esperou por uma reposta que não veio e inclinou-se.
— Bem — sussurrou a Harry, que já adormecera. — Só quando está com sono é assim dócil.
Deixou-o e foi preparar-se para um dia bastante longo.


Continua...
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