Capitulo XXV



O menino ficou mais do que contente. Quando chegou a hora de embarcar, na sexta-feira, não cabia em si de excitação.
— Pai? Não pode pedir para Mike viajar conosco? Vai ficar assustado naquela caixa.
— Já lhe disse que não é permitido. Mike ficará bem, prometo. Lembre-se que tem seus brinquedos para passar o tempo, e mais dois cães que estão viajando junto. Poderá fazer amizade.
— Sim, acho que tem razão. — Os olhos do menino es¬tavam arregalados de emoção e excitação ao entrarem na aeronave. — Olhe — sussurrou para o pai. — Ali estão os pilotos.
O comissário de bordo, experiente, logo percebeu que era a primeira viagem da criança e convidou-o a ver a apa¬relhagem de vôo. Também deu-lhe uma pequena valise da empresa aérea.
Quando chegou a hora de sentar e afivelar o cinto de segurança, James já decidira que seria piloto.
Nos cinqüenta minutos seguintes, cravou o pai de per¬guntas, sempre com o nariz pregado na janela do avião. Quando desembarcaram, Harry sentia as orelhas pegando fogo mas, precisava admitir, James estava se divertindo como nunca.
No momento, pensou Harry, só teria de enfrentar a nu¬merosa família de Gina. Aquilo, por si só, era uma dor de cabeça, além da obrigação de assistir ao bale.
O que estou fazendo aqui?, perguntou-se em pensamento, sentindo uma onda de pânico. Um fim de semana em Nova York. Um espetáculo de bale. Por todos os santos do céu, por que não estava em sua casa, fazendo planos para o tra¬balho de segunda-feira e comendo uma pizza no sábado?
Por causa de Gina, acabou admitindo, em vão tentando aplacar o desconforto. Ela conseguira mudar aquelas qua¬renta e oito horas de sua vida.
Empurrando o carrinho de bagagem com uma mão e se¬gurando James com a outra, saiu do portão de desembarque. Ordenou a si mesmo para ficar calmo. Seriam apenas dois dias. Procurou por Gina, mas ao ver um homem muito alto e louro acenar, tentou, de modo desesperado, pôr as idéias em ordem e lembrar-se de quem era. Sim, lembrou-se, ali¬viado. Era o cunhado de Gina, mas como se chamava?
Porém o gigante louro facilitou as coisas, dizendo:
— Nick LeBeck. — Pegou as malas da mão de Harry. — Vão ficar na nossa casa. Gina queria vir, mas ficou presa nos ensaios.
— Agradecemos muito pela gentileza. Poderíamos ter tomado um táxi.
— Não tem problema. Mais alguma bagagem?
— Só Mike.
— Certo. — Sorrindo, Nick apertou a mão de James. — E bom revê-lo. Max está muito animado, esperando por você. Lembra-se dele? Conheceram-se no Ano-Novo.
— Sim, e Gina disse que, como é fim de semana, pode¬rei dormir mais tarde as duas noites.
— Sim. E vamos ter um jantar especial hoje. Gosta de sopa de cabeça de tubarão?
James arregalou os olhos, surpreso, e balançou a cabeça em negativa.
— Ótimo — replicou Nick, completando a brincadeira —, porque não vamos servir isso. Agora é a vez de pegar¬mos Mike.

No fim das contas, pensou Harry, não era assim tão ter¬rível ver-se em uma cidade estranha em uma casa que não conhecia e com pessoas que só vira uma vez. James ambien¬tara-se em poucos minutos, reativando a amizade com Max, como se não o visse há apenas um dia. Mike foi a estrela absoluta, fazendo grande sucesso e, nervoso, acabou por deixar uma pequena poça no tapete da sala.
— Lamento muito — resmungou Harry. — Ele está quase treinado, mas...
— Assim como meus filhos — replicou Freddie, sorrin¬do e entregando-lhe um pano de chão. — Estamos acostu¬mados por aqui com líquidos derramados em todos os can¬tos e de todos os tipos. Pode relaxar.
E, para surpresa de Harry, acabou relaxando mesmo. Era interessante e divertido observar James interagir com uma família e com as duas crianças. Era comovente ver como brincava com a pequena Kelsey, como se estivesse treinan¬do para ser um irmão mais velho.
— Quer escapar um pouco? — perguntou Nick, fazen¬do um movimento de cabeça e deixando a sala, sem antes fingir severidade com as crianças, e ouvindo suas risadas: — Quem quebrar qualquer coisa paga.
Levou Harry para a sala de música com o piano de cau¬da e, depois de se acomodarem nas poltronas de couro, contou reminiscências.
Em seguida dirigiu-se ao bar a um canto.
— Quer cerveja?
— Sim, aceito — disse Harry.
— Viajar com crianças é muito cansativo. Vamos fazer um pequeno intervalo.
— James não parou de falar um só instante durante todo o vôo — desabafou Harry. — Acho que quebrou seu pró¬prio recorde.
— Espere até fazer uma viagem transatlântica. Fiquei nove horas trancafiado com Max e Kelsey em um avião. — Deu de ombros, conformado. — Sabe quantas perguntas podem ser feitas durante nove horas? Não. Deixe para lá. Vamos ter uma dor de cabeça dupla e pesadelos na hora de dormir, se continuarmos com esta conversa.
Nick fez um gesto e Harry voltou a sentar-se na poltro¬na confortável, comentando:
— Tem uma casa maravilhosa. Sempre que pensava em Nova York imaginava apartamentos pequenos e abafados com janelas dando para muros escuros ou arranha-céus.
— Temos isso também. Quando eu e Freddie começa¬mos a trabalhar juntos, eu vivia em cima do bar do meu irmão, no East Side. Um grande bar. E o apartamento era bom também. Mas não era o tipo de moradia em que se pensa para educar dois filhos. — Ergueu o olhar e sorriu com alegria. — Ora! Eis a prima donna que chega!
— Desculpem o atraso. — Gina apressou-se a beijar Nick no rosto e inclinou-se sobre Harry, beijando-o nos lábios de modo demorado. — Lamento, mas não pude buscá-los no aeroporto. Davidov está com uma de suas crises temperamentais. Aquele homem pode levar uma pessoa à loucura! Nick, querido, se me der um copo de vinho serei sua eterna escrava.
— Parece um bom acordo — brincou o cunhado.
— Diga a Freddie que vou descansar um pouco antes do jantar.
— Sente-se aqui — ordenou Nick, empurrando-a para a poltrona que ocupara. — Descanse seus pés de um milhão de dólares.
— Pode ter certeza que o farei — resmungou Gina, ti¬rando os sapatos enquanto Nick saía.
Harry praguejou ao ver os pés machucados e com bandagens, e apressou-se a ajoelhar-se perto dela.
— O que aconteceu?
— Dancei.
— Até o pés sangrarem?
— Sim, quando é necessário acontece. Com Davidov quase sempre é necessário.
— Ele deveria ser fuzilado!
— Bem... — Gina fechou os olhos. — Já pensei nessa pos¬sibilidade várias vezes nos últimos dias. Mas o bale não é para chorões, Potter. E pés que doem e sangram fazem parte das atribuições do bailarino.
— Ridículo!
— É verdade. — Inclinou-se e beijou-o na fronte. — Não se preocupe. Vão sarar.
`

Continua...

Nanny Black: Ta ai o cap.! E já é eles em NY!
Lua Potter: Tbm queria ir...mas só com o Harry ;DD
Nanny Black: Verdade ^^

Feliz Natal a todos! Tudo de bom xD

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