Capitulo XXIV
Gina fez seus planos e escolheu o momento certo. Sabia que estava sendo calculista, mas o que havia de errado nisso? A aproximação, o método... tudo isso era essencial para uma estratégia perfeita, pensou. Aproveitar-se da hora correta, quando James estava na casa dos avós em uma noite de sex¬ta-feira e Barry estava relaxado e contente depois de faze¬rem amor como loucos, era apenas uma questão de bom senso, concluiu.
— Tenho algo para você.
— Além do que já me deu? — brincou Barry. — Ga¬nhei um jantar com vinho e fui para a cama com uma bela mulher. O que mais posso desejar?
Com uma risada tranqüila, Gina saiu da cama.
Ele gostava de observá-la se movimentar, e concluíra, há bastante tempo, que o bale deixava uma mulher com gestos graciosos. E sentia muito prazer em vê-la naquele quarto onde, até algum tempo atrás, dormia sozinho.
Estava acabando de consertá-lo depois que voltava do trabalho, à noite. As paredes tinham sido pintadas de um azul forte porque Gina gostava de cores vistosas. A madei¬ra do teto e dos móveis fora lustrada.
Pretendia começar a arrumar as tábuas do assoalho em breve. Os outros detalhes, como as cortinas, ficariam para o final.
Mas, no momento, pensou Harry, satisfazia-se só em vê-la ali, a pele dourada destacando-se contra o fundo azul das paredes, e as chamas da lareira refletindo-se e execu¬tando uma espécie de dança sobre os braços e pernas bem torneados.
Certa vez, Gina esquecera os brincos na mesinha-de-cabeceira, e Harry sentira um espanto súbito ao vê-los ali na manhã seguinte, porque deram um toque tão feminino... e sentira um desapontamento ridículo quando ela os levara embora. Não entendia o que essas sensações significavam.
Voltou a observar Gina naquele momento, vestindo sua camisa e dirigindo-se até a bolsa.
— Vou comprar-lhe uma dúzia de camisas de flanela — decidiu Harry —, porque parece gostar muito das minhas, e eu adoro vê-la andando por aí com elas, sem mais nada por baixo.
— Aceito. — Gina voltou a sentar-se na cama e colocou um envelope sobre o tórax nu de Harry. — E isto é para você.
— O que é? — perguntou ele, curioso, abrindo o enve¬lope e encontrando duas passagens de avião, o que aumen¬tou sua confusão. — Do que se trata?
— São dois assentos no vôo para Nova York na próxi¬ma sexta-feira. Um para você, outro para James.
Harry olhou o envelope e Gina, sem entender.
— Por quê?
— Porque desejo muito a presença de vocês. Já esteve em Nova York?
— Não, mas...
— Melhor ainda! Terei a honra de apresentar a cidade a vocês. O diretor de minha antiga companhia de dança tele¬fonou-me no início da semana — explicou. — Vão realizar um espetáculo especial, apenas um, no próximo sábado à noite. É para caridade. Será uma seleção de bailados apre¬sentados por diversos artistas. Ele já havia pedido que eu participasse há algum tempo, mas tinha recusado por cau¬sa da abertura de minha escola.
— Mas resolveu aceitar.
— A bailarina que ia apresentar o pas de deux da Rosa Vermelha, o primeiro bale que Davidov dançou com a espo¬sa, machucou-se. Por sorte não é nada grave, mas ficará afastada por duas semanas. Ele pediu que a substituísse. — Enquanto falava, Gina achou a própria desculpa bem plau¬sível e que não dava a Harry muita escapatória. — Dancei esse bale muitas vezes, portanto, quando telefonou, não pude recusar. Davidov pediu também que dançasse um tre¬cho de Don Quixote, e o resultado disso é que viajo na terça-feira para ter tempo de ensaiar.
Diante das últimas palavras, Harry sentiu um aperto no coração. Não queria que Gina viajasse de novo.
— Vai dançar muito bem, tenho certeza, e agradeço pelo convite, mas não posso pegar na mão de Jaames sem mais nem menos e ir para Nova York.
— Por que não?
— Bem... há o trabalho, a escola, só para começar. E o cachorrinho...
— Viajarão depois das aulas na sexta-feira, e estarão em Nova York para o jantar. Poderemos nos hospedar na casa de minha irmã. No sábado farão um passeio pela cidade, talvez levem James ao topo do Empire State Building. À noi¬te irão ao bale. No domingo faremos mais um passeio, jan¬taremos na casa de meus avós e pegaremos o último avião de volta. Na segunda-feira cedo você estará pronto para trabalhar e James para ir à escola. — Gina deu de ombros, antes de acrescentar: — Quanto a Mike, viajará com vocês, é claro.
— Levar um cachorro para Nova York?
— Claro! Meus sobrinhos irão adorar!
Harry teve a impressão de que estava dentro de uma caixa e que Gina fechava a tampa, não lhe dando espaço para escapar.
— Gina, ir para Nova York passar o fim de semana não é o tipo de coisa que pessoas como eu fazem.
— Não vai para Marte, Potter. — Gina riu, inclinando-se para beijá-lo. — Apenas você e James sairão da rotina um pouco. Será uma pequena aventura que James irá adorar e... — Gina guardara a munição pesada para o final — ... poderá ter algo para contar ao amigo Rod, depois de ouvir dezenas de vezes sobre a viagem à Disneyworld. Se Rod viu o King Kong de brinquedo, James poderá contar que foi visi¬tar o topo do prédio de onde o macaco caiu.
Foi um tiro certeiro, e Harry teve de lutar para não rir. Sentia-se como um peixe fisgado no anzol. Tentou de novo:
— Não me leve a mal, mas não gosto muito de bale.
— Não diga! — Gina sorriu, com olhar maroto. — A qual você assistiu?
— Não importa. Não gosto.
— Então pense deste jeito: terá a oportunidade de levar James a Nova York, terão dois dias inteiros para ficar juntos, contra apenas duas horas enfadonhas no teatro. Não é um mau negócio. E, além do mais, nunca me viram dançar. — Entrelaçou os dedos nos de Harry. — Ficaria muito feliz se vissem.
Harry arqueou as sobrancelhas e olhou para as passa¬gens.
— Atingiu todos os flancos, não é?
— Acho que sim. Então estamos combinados?
— Espere até James saber que viajará de avião pela pri¬meira vez na vida. Vai ficar eufórico!
Continua... A fic vai ter mais uns 8 ou 10 cap.
O brigado a todos pelos comentarios!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!